Bem estar de cães e gatos - Medicina Veterinária (2025)

Medicina Veterinária

Agrárias

Andréia de Oliveira 11/10/2024

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<p>CERES BERGER FARACO</p><p>E MEDICINA COMPORTAMENTAL</p><p>cães e gatos</p><p>BEM-ESTAR DOS</p><p>2021</p><p>BEM</p><p>-ESTA</p><p>R D</p><p>O</p><p>S CÃ</p><p>ES E G</p><p>A</p><p>TO</p><p>S E M</p><p>ED</p><p>ICIN</p><p>A</p><p>CO</p><p>M</p><p>PO</p><p>RTA</p><p>M</p><p>EN</p><p>TA</p><p>L</p><p>2021</p><p>Copyright Mars Petcare – 2021</p><p>Organizadora:</p><p>Profa. Dra. Ceres Berger Faraco</p><p>Autores:</p><p>Alexandre Bordin</p><p>Aulus Cavalieri Carciofi</p><p>Ceres Berger Faraco</p><p>Daniela Ramos</p><p>Gonçalo Pereira</p><p>Gonzalo Cháves</p><p>Guilherme Marques Soares</p><p>Joana Pereira</p><p>Leticia Dantas</p><p>Márcia de Oliveira Sampaio Gomes</p><p>Marina Snitcofsky</p><p>Marta Amat</p><p>Rubén Mentzel</p><p>Sandra McCune</p><p>Sara Fragoso</p><p>Xavier Manteca</p><p>Preparação:</p><p>Apamvet</p><p>Revisão:</p><p>Dra. Magaly Ferrari</p><p>Caique Zen | Tikinet</p><p>Revisão Técnica:</p><p>Guilherme Marques Soares</p><p>Tradução:</p><p>Dr. Cid Figueiredo</p><p>Índice remissivo:</p><p>Alexandre Develey</p><p>Caique Zen | Tikinet</p><p>Capa, diagramação e projeto gráfico:</p><p>Maurício Marcelo | Tikinet</p><p>Ilustração da capa:</p><p>Elvis Calhau Minucelli</p><p>Foto do sumário:</p><p>Dra. Sara Faraci - EUA</p><p>Fotos de miolo:</p><p>Arquivo pessoal dos autores e banco de imagens</p><p>de Royal Canin</p><p>Patrocínio:</p><p>Mars Petcare Brasil</p><p>Royal Canin Brasil</p><p>Esta publicação está disponível no QR Code.</p><p>Para adquirir a versão digital, acesse o site da Academia Paulista de Medicina</p><p>Veterinária (apamvet.publicacoes.com.br) e solicite sua cópia.</p><p>As opiniões manifestadas nos artigos publicados nesta obra são de responsabilidade</p><p>exclusiva dos respectivos autores.</p><p>DOI: 10.22491/caes-e-gatos</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP</p><p>F219 Faraco, Ceres Berger, Org.</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental / Organização de</p><p>Ceres Berger Faraco. – São Paulo: APAMVET, 2021.</p><p>352 p.; IL.</p><p>ISBN</p><p>1. Medicina Veterinária</p><p>978-65-87080-12-3</p><p>. 2. Medicina Veterinária Comportamental. 3.</p><p>Psicologia Animal. 4. Etologia Aplicada. 5. Animais Domésticos. 6.. Cães. 7</p><p>. Gatos. 8. Relacionamento Pessoas e Animais. 9. Bem-estar dos Animais no</p><p>Ambiente Doméstico. I. Título. II. Faraco, Ceres Berger, Organizadora. III.</p><p>Bordin, Alexandre. IV. Carciofi, Aulus Cavalieri. V. Ramos, Daniela. VI. Pereira,</p><p>Gonçalo. VII. Cháves, Gonzalo. VIII. Soares, Guilherme Marques. IX. Pereira,</p><p>Joana. X. Dantas, Leticia. XI. Gomes, Márcia de Oliveira Sampaio. XII.</p><p>Snitcofsky, Marina. XIII. Amat, Marta. XIV. Mentzel, Rubén. XV. McCune,</p><p>Sandra. XVI. Fragoso, Sara. XVII. Manteca, Xavier. XVIII. Associação Paulista</p><p>de Medicina Veterinária.</p><p>CDU 591.5 CDD 590</p><p>Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6</p><p>Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8</p><p>Capítulo 1 – Animal de companhia – ciclo familiar, papéis e tipos de interação . . . .10</p><p>Sandra McCune – Inglaterra</p><p>Capítulo 2 – Bem-estar animal e a Medicina Comportamental: conexões . . . . . . . . 29</p><p>Bem-estar dos cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31</p><p>Ceres Berger Faraco – Brasil</p><p>Bem-estar dos gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51</p><p>Sara Fragoso – Portugal</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65</p><p>Aulus Cavalieri Carciofi e Márcia de Oliveira Sampaio Gomes – Brasil</p><p>Capítulo 3 – Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o</p><p>desenvolvimento de filhotes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105</p><p>Gonçalo Pereira – Portugal</p><p>Capítulo 4 – Transtorno de ansiedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123</p><p>Transtorno de ansiedade em cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125</p><p>Guilherme Marques Soares – Brasil</p><p>Transtorno de ansiedade em gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137</p><p>Marina Snitcofsky – Argentina</p><p>SUMÁRIO</p><p>Capítulo 5 – Agressividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153</p><p>Agressividade em cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155</p><p>Marta Amat e Xavier Manteca – Espanha</p><p>Agressividade em gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167</p><p>Leticia Dantas – Brasil/Estados Unidos</p><p>Capítulo 6 – Comunicação: Intra e Interespécie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187</p><p>Comunicação: Intra e Interespécie em cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .189</p><p>Alexandre Bordin – Brasil/Inglaterra</p><p>Comunicação: Intra e Interespécie em gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203</p><p>Daniela Ramos – Brasil</p><p>Capítulo 7 – Hiperatividade e comportamento destrutivo em cães e gatos . . . . . . .223</p><p>Guilherme Marques Soares –Brasil</p><p>Capítulo 8 – Comportamentos repetitivos e compulsivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237</p><p>Comportamentos repetitivos e compulsivos em cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .239</p><p>Rubén Mentzel – Argentina</p><p>Comportamentos repetitivos e compulsivos em gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255</p><p>Leticia Dantas – Brasil/Estados Unidos</p><p>Capítulo 9 – Idosos: Disfunção cognitiva e necessidades especiais . . . . . . . . . . . . . . 271</p><p>Gonçalo Pereira – Portugal</p><p>Capítulo 10 – Clínica Veterinária “Friendly” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291</p><p>Adaptação para cães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .293</p><p>Joana Pereira – Portugal</p><p>Adaptação para gatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309</p><p>Gonzalo Cháves – Chile</p><p>Comunicação com o tutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325</p><p>Ceres Berger Faraco – Brasil</p><p>Sobre os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .339</p><p>Índice remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .344</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A colaboração entre veterinários comportamentalistas atuantes no</p><p>Brasil e colegas que exercem suas atividades em diferentes países permitiu</p><p>o melhor resultado, criou um elo entre experiências baseadas em mundos</p><p>aparentemente distantes, mas que se evidenciaram como complementares.</p><p>A Medicina Veterinária Comportamental voltada aos animais de</p><p>estimação ganha uma obra especial em que fica fácil reconhecer em cada</p><p>capítulo o cuidado com os conceitos e as explicações claras e ilustrativas</p><p>do que foi abordado.</p><p>A escolha das temáticas foi árdua e teve por base o que achamos ser</p><p>necessário para a formação e exercício profissional, bem como, as particu-</p><p>laridades de cada espécie nos tópicos tratados. Sabemos que o fazer pro-</p><p>fissional se nutre das mudanças científicas e compilamos em dez capítulos,</p><p>os quadros comportamentais fundamentais que acometem cães e gatos e</p><p>aspectos que afetam a percepção humana dos demais animais. Para tanto,</p><p>idealizamos compartilhar uma trajetória de conhecimentos que inicia com</p><p>a prevenção dos transtornos de comportamento, avança com os quadros</p><p>clínicos que desafiam mais frequentemente os veterinários e apresenta os</p><p>princípios preconizados para o manejo adequado dos pacientes e clientes no</p><p>contexto profissional.</p><p>8</p><p>Medicina comportamental de cães e gatos</p><p>A abrangência do texto, inclui temas que embora presentes no coti-</p><p>diano dos clínicos, ainda foram pouco tratados, com menos escritos e, de</p><p>certa forma, considerados ainda um</p><p>mente os seres humanos da família (ex.: agressividade). Esses são caracteri-</p><p>zados como severos e problemáticos. Contudo, aqueles que afetam principal-</p><p>mente o cão, como o medo e ansiedade, são ignorados.</p><p>A naturalização desses últimos comportamentos é uma prática comum</p><p>entre tutores e até entre alguns profissionais. Eles ignoram o sofrimento dos</p><p>cães e o risco de tais emoções os levarem a uma escalada para manifestações</p><p>de agressividade. Vale ressaltar que, nos casos em que o animal apresenta</p><p>medo e ansiedade, há uma maior probabilidade de comorbidade com proble-</p><p>mas de pele e outras patologias orgânicas, devido ao comprometimento do</p><p>sistema imunológico (DRESCHEL, 2010).</p><p>Portanto, a necessidade de socializar e habituar adequadamente os</p><p>cães aos diferentes estímulos é fundamental para a sua qualidade de vida e</p><p>saúde. Nessa perspectiva, acrescenta-se que esta deve ser uma prática enfa-</p><p>tizada sistematicamente pelos profissionais.</p><p>Outro elemento essencial é a oportunidade de propiciar atividades</p><p>lúdicas, de brincadeiras. Há benefícios potenciais na oferta de dispositivos</p><p>apropriados para enriquecimento ambiental, mas, convém lembrar, isto é</p><p>válido apenas para os que são valorizados pelo cão, de forma individual. Por</p><p>exemplo, a extensão em que os cães utilizam brinquedos é variável e difere de</p><p>acordo com o tipo de brinquedo. Geralmente, os brinquedos são mais utili-</p><p>zados, se forem destrutíveis e mastigáveis (PULLEN; MERRILL; BRADSHAW,</p><p>2010; GAINES et al. 2008).</p><p>46</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Soma-se como lúdica e desafiadora a rotina dos cães, ao passear dia-</p><p>riamente. Isto se verifica, porque a caminhada não só pode proporcionar</p><p>exercícios e melhorar a forma física, mas também oferecer oportunidades</p><p>para investigar, explorar e interagir com outros cães e pessoas.</p><p>O espaço nas residências pode ser um limitante para o bem-estar dos</p><p>cães. Uma forma simples de resolver essa questão é considerar as atividades</p><p>que o cão precisa realizar diariamente (descansar, correr e brincar) e asse-</p><p>gurar que o local ofereça o tamanho e a complexidade necessários para tais</p><p>atividades. Além disso, deve-se considerar que a maioria dos cães expressa,</p><p>com elevada frequência e intensidade, o comportamento exploratório. Eles</p><p>necessitam, portanto, de um ambiente seguro e livre de riscos (SIWAK; TAPP;</p><p>MILGRAM, 2001).</p><p>O plano de ações deve ter por base prioritária a observação do impacto</p><p>para o bem-estar, quando são articulados pontos críticos (variáveis) com os</p><p>domínios anteriormente indicados. Essa conexão torna prática a visualização</p><p>e a compreensão acerca do vínculo entre variável e consequência na quali-</p><p>dade de vida. Fica evidente que as estratégias, a serem pensadas para mudan-</p><p>ças, devem surgir de sínteses, como a apresentada a seguir, no Quadro 3.</p><p>Quadro 3 – Síntese das conexões entre situações características, vividas pelos cães, variáveis</p><p>presentes e possíveis consequências sobre domínios indicadores do nível de bem-estar</p><p>Categorias para cães Variável</p><p>Domínio(s) afetados positiva (+)</p><p>ou negativamente (-)</p><p>Adaptabilidade da</p><p>espécie</p><p>Adaptação canina ao</p><p>ambiente humano – cães</p><p>compreendem e respondem</p><p>aos gestos humanos</p><p>Sociabilidade – interação (+)</p><p>Proteção aos traumas e doenças (+)</p><p>Alimentação assegurada (+)</p><p>Necessidades básicas Inconsistência ou</p><p>inadequação de oferta de</p><p>recursos</p><p>Dieta inadequada (-)</p><p>Obesidade /Subnutrição (-)</p><p>Isolamento (-)</p><p>Falta de exercícios (-)</p><p>Função orgânica Estresse Cuidados de saúde precários (-)</p><p>Dor (-)</p><p>Ansiedade, medo e agressividade (-)</p><p>Associação pessoas</p><p>e cães</p><p>Controle da vida e das</p><p>preferências por humanos</p><p>Anormalidades morfológicas das raças (-)</p><p>Limitação da expressão normal de</p><p>comportamentos (-)</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>47</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A proposta desta abordagem foi oferecer um quadro de referências útil,</p><p>para a análise dos veterinários, sobre as condições de bem-estar dos cães</p><p>de companhia. Sabemos que ainda falta um corpo de estudos abrangente a</p><p>respeito deste tema, pela complexidade e diversidade dos contextos de vida</p><p>de cada animal. Além disso, os dados nacionais, no que se refere às áreas</p><p>prioritárias para os pets, ainda são incipientes.</p><p>Foram apresentadas diretrizes e recomendações mínimas, como pro-</p><p>posta norteadora, para apoio dos profissionais. Também, tratamos da impos-</p><p>sibilidade de pensar a respeito da condição da qualidade de vida canina, sem</p><p>destacar como a associação às pessoas a tem afetado desde o início dessa</p><p>convivência.</p><p>Nesta linha, a pressão e exigência sobre eles, além de sua potencia-</p><p>lidade biológica, filogenética e mental, têm provocado distresse, patologias</p><p>orgânicas e comportamentais.</p><p>O esquema, a seguir, na Figura 10, apresenta um fluxo da dinâmica</p><p>disfuncional, que é responsável por condições precárias, estabelecidas nessa</p><p>convivência, e que influencia a aquisição de habilidades, aprendizagem e</p><p>estabilidade do comportamento canino.</p><p>É fato que muitas pessoas estabelecem manejos e ambientes inade-</p><p>quados em relação às necessidades dos cães, que respondem com comporta-</p><p>mentos indesejáveis e, simultaneamente, vivenciam níveis de estresse agudo</p><p>ou crônico. A expectativa de condutas adequadas e a convivência harmônica</p><p>com pessoas são frustradas, e estas iniciam um crescente conflito, que gera</p><p>mais sofrimento aos animais. Isso significa que ficarão mais isolados, serão</p><p>doados, privados do convívio com outras pessoas e animais, ou abandonados.</p><p>É nesse cenário e preocupação que o veterinário deve atuar, nunca</p><p>ignorando, especialmente, os “anúncios” preliminares de possível desgaste</p><p>futuro dessa relação. A orientação qualificada e sistemática é a única forma</p><p>de mudar comportamentos, desfazer crenças e mitos, bem como romper com</p><p>este fluxo, reproduzido inúmeras vezes, com base em conceitos e hábitos que</p><p>se institucionalizam como inquestionáveis e verdadeiros.</p><p>48</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Cães – Estresse e</p><p>Inadequações</p><p>Cães – abandono,</p><p>punição, doação</p><p>Pessoas em</p><p>con�ito e frustraçãoPessoas</p><p>Manejo/ambiente inadequado</p><p>Culpabilização dos cães</p><p>Figura 10 – Fluxo disfuncional entre pessoas e cães</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>APPLEBY, D. L.; BRADSHAW, J. W. S.; CASEY, R. A. Relationship between aggres-</p><p>sive and avoidance behaviour by dogs and their experience in the first</p><p>six months of life. Veterinary Record, v. 150, n. 14, p. 434-8, 06, Apr., 2002.</p><p>BROOM, D. M. 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Tese (Doutorado em Psicologia) – Pontifícia</p><p>Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.</p><p>49</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>FOSTER, C. Anthropomorphism: Faulty Thinking or Useful Tool. In:</p><p>BUTTERWORTH, A. Animal welfare in a changing world. Oxfordshire,</p><p>UK: Cabi, 2018. p. 196.</p><p>GAINES; S. A., ROONEY; J. N.; BRADSHAW, W. J. The effect of feeding enrich-</p><p>ment upon reported working ability and behavior of kenneled working</p><p>dogs. J Forensic Sci., v. 53, n. 6, p. 1400-4, 2008.</p><p>GARNER, J. P; MASON, G. J. Evidence for a relationship between</p><p>cage ste-</p><p>reotypies and behavioural disinhibition in laboratory rodents.</p><p>Behavioural Brain Research, v. 136, p. 83-92, 2002.</p><p>HARDING, E. J.; PAUL, E. S.; MENDL, M. Animal behaviour: cognitive bias and</p><p>affective state. Nature, v. 427, n. 6972, p. 312, 22 Jan., 2004.</p><p>HENNESSY, M. B.; DAVIS, H. N.; WILLIAMS, M. T. et al. 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Essa</p><p>decisão, no geral, é tomada com base em expectativas irrealistas, principal-</p><p>mente a de que são autônomos, independentes e requerem poucos cuidados.</p><p>Para muitos tutores, os recursos, necessários para que tudo corra bem,</p><p>se resumem a água, alimento e caixa de areia. Por esse motivo, o ambiente</p><p>dos gatos que estão sob cuidados humanos, na maior parte dos casos, pode</p><p>ser considerado inadequado e não satisfaz às necessidades dos felinos, com-</p><p>prometendo a sua saúde física e psicológica.</p><p>A preocupação com o seu bem-estar não é recente e tem aumentado</p><p>consideravelmente, ao longo das últimas décadas. Sendo assim, este capítulo</p><p>tem como objetivo principal abordar as principais questões do bem-estar de</p><p>gatos de estimação, em particular, as implicações do bem-estar comprome-</p><p>tido e as estratégias para a sua promoção.</p><p>RESPONSABILIDADE DE QUEM?</p><p>As pessoas que têm impacto na vida dos gatos partilham a responsa-</p><p>bilidade de lhes proporcionar o melhor tipo de vida possível. Desta forma, os</p><p>profissionais têm uma responsabilidade extra, devido ao papel que desem-</p><p>penham na vida das famílias e à confiança que os tutores depositam em suas</p><p>orientações.</p><p>Com muita frequência, as questões, abordadas durante a consulta, não</p><p>vão muito além da saúde física dos gatos, o que é insuficiente. Essa aborda-</p><p>gem deverá ser complementada com outras questões relativas ao bem-estar</p><p>do animal, de forma a considerar o indivíduo em todas as suas dimensões.</p><p>Resultado: gatos mais saudáveis e felizes, e clientes mais satisfeitos –</p><p>promoção ativa do bem-estar.</p><p>AFINAL DE CONTAS, O QUE SIGNIFICA BEM-ESTAR ANIMAL?</p><p>O bem-estar de qualquer animal senciente é determinado pela per-</p><p>cepção individual do seu próprio estado físico e emocional (WEBSTER, 2005).</p><p>Então, podemos considerar o bem-estar como o resultado do equilíbrio glo-</p><p>bal entre estados emocionais positivos e negativos.</p><p>53</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>Nesta perspectiva, destaca-se que a ciência do bem-estar abrange tudo</p><p>o que afeta o estado físico e emocional. Assim, a pesquisa nesta área começou,</p><p>motivada por preocupações éticas sobre a qualidade de vida dos animais.</p><p>Três preocupações éticas, intimamente relacionadas e que se sobrepõem, são</p><p>comumente expressas em relação à qualidade de vida dos animais (FRASER</p><p>et al., 1997), quais sejam:</p><p>1) os animais devem viver de forma natural de acordo com o desenvol-</p><p>vimento e o uso de suas adaptações e capacidades naturais;</p><p>2) os animais devem sentir-se bem, estando livres de medo prolon-</p><p>gado e intenso, da dor e de outros estados negativos, bem como</p><p>experimentando estados de prazer;</p><p>3) o organismo deve ter saúde satisfatória, crescimento e funciona-</p><p>mento normal dos sistemas fisiológicos e comportamentais.</p><p>De forma esquemática, os três domínios estão representados na Figura</p><p>1, como círculos, nos quais o bem-estar ocorre dentro da área de sobreposi-</p><p>ção dos três.</p><p>Funcionamento</p><p>físico do</p><p>organismo</p><p>Estado</p><p>Mental</p><p>Comportamento</p><p>Natural</p><p>Figura 1 – Representação esquemática dos três domínios</p><p>Fonte: adaptado de Fraser et al. (1997).</p><p>Para orientar a avaliação da qualidade de vida, em 1993, a FAWC (Farm</p><p>Animal Welfare Council) publicou as Cinco Liberdades (Quadro 1), as quais</p><p>são princípios que ainda hoje norteiam as boas práticas e a legislação relativa</p><p>ao assunto. Assinala-se que muitas ferramentas atuais de bem-estar foram</p><p>desenvolvidas a partir desses princípios.</p><p>54</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 1 – As Cinco Liberdades enumeradas e o que deve ser proporcionado aos animais para</p><p>que sejam alcançadas</p><p>5 Liberdades</p><p>(o que devem ter</p><p>à disposição para</p><p>que a liberdade seja</p><p>respeitada)</p><p>Liberdade de sede, fome e nutrição inadequada</p><p>(devem ter acesso à água e alimento, adequados para manter</p><p>a sua</p><p>saúde e vigor)</p><p>Liberdade de desconforto físico e térmico</p><p>(devem ter acesso a um ambiente adequado, com condições de abrigo</p><p>e de descanso)</p><p>Liberdade de dor, lesão e doença</p><p>(deve estar garantida a prevenção, o diagnóstico rápido e o</p><p>tratamento)</p><p>Liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie</p><p>(devem ter a liberdade e condições para manifestarem</p><p>comportamentos típicos da espécie)</p><p>Liberdade de medo e de distresse</p><p>(devem ter condições e manejo que evitem sofrimento mental)</p><p>Fonte: Farm Animal Welfare Council (2009)</p><p>Embora as Cinco Liberdades sejam referências na definição e avaliação</p><p>do bem-estar animal, são verificadas algumas limitações:</p><p>� são impossíveis de serem alcançadas em todos os momentos;</p><p>� podem entrar em conflito (p. ex., ser livre de doenças, às vezes,</p><p>requer tratamento, e isto pode induzir ao desconforto);</p><p>� baseiam-se no fato de serem evitadas experiências e estados nega-</p><p>tivos para o animal, sem promover as positivas.</p><p>Atualmente, o conceito de bem-estar vai além da ausência de dis-</p><p>tresse ou sofrimento, pois inclui a qualidade de vida do animal e a forma</p><p>como vivencia a sua vida. É uma abordagem mais positiva e dinâmica, que se</p><p>importa com o que os animais gostam e preferem (WEMELSFELDER, 2007).</p><p>Distresse</p><p>Estado em que um animal, incapaz de se adaptar a</p><p>um ou mais estressores, não consegue lidar, com</p><p>sucesso, com o seu meio ambiente, e seu bem-estar</p><p>fica comprometido.</p><p>55</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>BEM-ESTAR: QUAIS AS SUAS IMPLICAÇÕES?</p><p>As consequências do ambiente, sem os recursos necessários ou</p><p>que proporcionem estimulação inadequada, são diversas, tanto no nível</p><p>físico quanto comportamental (PRYOR et al., 2001; WESTROPP et al., 2006).</p><p>Buffington et al. (2006), para avaliar o efeito do enriquecimento ambiental,</p><p>recomendaram aos tutores de gatos, sem acesso ao exterior e com cistite</p><p>idiopática felina (CIF), a aplicação de uma lista de recomendações, a MEMO</p><p>(Multimodal Environmental Modification), elaborada com o objetivo de englo-</p><p>bar as necessidades dos gatos. Os pesquisadores verificaram que o MEMO</p><p>contribuiu para a redução dos sinais clínicos no trato urinário inferior,</p><p>do medo, do nervosismo e dos sinais relativos ao trato respiratório, manifes-</p><p>tando-se também o decréscimo da agressividade. Esses resultados são um</p><p>exemplo de que as condições ambientais têm reflexo na saúde dos animais.</p><p>Intervenção reativa ou proativa?</p><p>Normalmente, as necessidades comportamentais e</p><p>ambientais frequentemente não são abordadas até que</p><p>o gato exiba sinais que atraiam a atenção do tutor. Esses</p><p>sinais mais evidentes muitas vezes só são manifestados</p><p>quando o problema já é crónico. Só então, se reconhece</p><p>que são necessárias medidas para remediar o problema.</p><p>No que se refere ao comportamento, a relação entre gatos e pessoas</p><p>pode ser prejudicada, quando os gatos manifestam determinados compor-</p><p>tamentos, que podem ser ou não, indicadores de bem-estar comprometido</p><p>(Figura 2). A agressividade e eliminação de urina em local não desejado estão</p><p>no topo das queixas mais frequentes dos tutores (FRAGOSO et al., 2014).</p><p>Sinais de dor súbita</p><p>Muitos gatos não recebem cuidados veterinários e</p><p>sofrem níveis significativos de dor e doença por não</p><p>serem reconhecidos os sinais (LUE et al., 2008). Os gatos</p><p>evitam mostrar sinais externos de debilidade, dor ou</p><p>doença. É um mecanismo de defesa e de sobrevivência</p><p>que atrasa a identificação do problema.</p><p>56</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Os comportamentos que geram conflitos podem:</p><p>� significar bem-estar comprometido, quando as necessidades não</p><p>são satisfeitas (p. ex., agressividade dirigida a pessoas);</p><p>� ser a manifestação de comportamento natural, que faz parte do</p><p>repertório natural da espécie, cuja motivação é elevada (p. ex., um</p><p>gato que arranha o sofá: este comportamento normalmente não é</p><p>bem aceito pelo tutor, embora seja previsível a sua manifestação e</p><p>dirigida aos recursos disponíveis).</p><p>Prevenção</p><p>É fundamental investir na educação dos tutores para</p><p>que providenciem o que é necessário e adequem</p><p>expectativas relativas ao comportamento do gato.</p><p>Características</p><p>da espécie e</p><p>do indivíduo</p><p>(genética, história</p><p>de vida, idade,</p><p>estado reprodutivo)</p><p>Ambiente</p><p>físico e social</p><p>NÃO ADEQUADO,</p><p>não preparado</p><p>para satisfazer</p><p>as necessidades</p><p>Comportamento</p><p>NÃO ADEQUADO,</p><p>dirigido ao alvo,</p><p>inaceitável ou</p><p>RESULTADO DE</p><p>DISTRESSE</p><p>CONFLITOS:</p><p>PERCEBIDOS</p><p>COMO</p><p>INACEITÁVEIS</p><p>Figura 2 – Comportamentos problemáticos prejudicam a relação gato-humano. Quer sejam ou</p><p>não indicadores de bem-estar comprometido, são o resultado das características inerentes ao</p><p>indivíduo e do ambiente em que vivem</p><p>Fonte: Sara Fragoso</p><p>Esses conflitos resultam do pouco conhecimento que fundamenta as</p><p>tomadas de decisão, que têm por base as perspectivas humanas – antropo-</p><p>morfismo. O que fazemos e proporcionamos deve ser refletido na forma como</p><p>o animal percebe o ambiente. As características biológicas da espécie são o</p><p>ponto de partida, no entanto as diferenças individuais dos animais devem ser</p><p>igualmente consideradas (p. ex., idade, experiência de vida, limitações físicas,</p><p>estados fisiológico e psicológico).</p><p>57</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>O QUE SIGNIFICA SER GATO? – CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DA ESPÉCIE</p><p>O conhecimento da história evolutiva do gato doméstico ajuda a com-</p><p>preender o que fazem atualmente, assim como oferece soluções para o</p><p>ambiente, tão diferente daquele em que evoluíram.</p><p>Gatos e humanos começaram a sua relação há milhares de anos, a qual</p><p>trazia vantagens para ambas as espécies – o alimento. O comportamento</p><p>natural da espécie ancestral do gato (caçar) era altamente desejável (para</p><p>controlar a população de roedores). Portanto, a relação gato-humano não</p><p>gerou grandes alterações genéticas na espécie, o que significa que o com-</p><p>portamento e as necessidades dos felinos são semelhantes atualmente. Como</p><p>tal, continuam a ser predadores solitários (e, ao mesmo tempo, presas, em</p><p>virtude da pequena estatura), mesmo quando não têm acesso ao exterior</p><p>(Quadro 2).</p><p>Diferentes formas de ver o mesmo mundo!</p><p>Os indivíduos captam informações e formam</p><p>representações particulares e subjetivas sobre o mundo</p><p>que os rodeia. Segundo Jakob von Uexküll (1982), essa</p><p>representação que se desenvolve a partir de todos os</p><p>estímulos percebidos resulta na forma como se percebe</p><p>o mundo e é denominada “umwelt” (SHAROV, 2001).</p><p>Mais recentemente, a relação gato-humano sofreu alterações bastante</p><p>significativas. No início, os gatos começaram a ser apreciados pelas suas</p><p>capacidades como caçadores, para, mais tarde, assumirem o papel de animal</p><p>de companhia. Muitos, portanto, passaram a viver, única e exclusivamente,</p><p>em casa, sem acesso ao exterior. Deixou de haver a necessidade de caçar, mas</p><p>esta motivação ainda permanece. Outras motivações e necessidades man-</p><p>têm-se, mesmo no ambiente diferente (ELLIS et al., 2013), e é fundamental</p><p>intervir nesses contextos (Quadro 2).</p><p>58</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 2 – Resumo dos comportamentos típicos da espécie, sendo comparadas três situações</p><p>possíveis: o que acontece na natureza (podemos considerar como sendo o típico da espécie),</p><p>o que ocorre, com frequência, nos lares que partilhamos e as estratégias possíveis para</p><p>satisfazer as necessidades dos gatos.</p><p>Características</p><p>comportamentais Na natureza Nos lares Estratégias</p><p>Predador Caçar: para caçar,</p><p>executa toda a sequência</p><p>de comportamento até</p><p>conseguir se alimentar.</p><p>Períodos curtos de</p><p>atividade intensa: localizar,</p><p>perseguir e apanhar a</p><p>presa.</p><p>Alimento é dado em</p><p>um prato, disponível o</p><p>dia todo ou em 1 ou 2</p><p>momentos/dia.</p><p>Resultado:</p><p>- redirigem o</p><p>comportamento para</p><p>alvos alternativos (p. ex,</p><p>atacam braços e pernas).</p><p>A motivação pode ser diri-</p><p>gida para penas ou brin-</p><p>quedos que se asseme-</p><p>lham a presas (tamanho,</p><p>forma, textura, material,</p><p>movimento etc. são fato-</p><p>res importantes para que</p><p>atraiam a sua atenção.</p><p>Refeições: só algumas</p><p>tentativas de caça são</p><p>bem sucedidas.</p><p>Cerca da</p><p>metade não tem sucesso</p><p>(ROCHLITZ, 2000).</p><p>Podem comer 10 a 20</p><p>pequenas presas/dia.</p><p>Todas as tentativas são</p><p>bem sucedidas, sem</p><p>esforço.</p><p>Resultado:</p><p>- aborrecimento</p><p>- alterações de peso</p><p>Promover várias refei-</p><p>ções pequenas ao longo</p><p>do dia, sem aumentar a</p><p>quantidade de alimento</p><p>ingerido, tornando a</p><p>obtenção de alimentos</p><p>mais difícil (p. ex., jogos</p><p>cognitivos, brinquedos,</p><p>puzzles de alimentação)</p><p>(Figuras 3 e 4)</p><p>Presa Para evitar que sejam</p><p>caçados, procuram</p><p>lugares que percebam</p><p>como sendo seguros (p.</p><p>ex., subir em árvores).</p><p>No geral, recorrem a</p><p>locais elevados de onde</p><p>conseguem controlar o</p><p>meio ao redor.</p><p>Ausência de locais onde</p><p>possam se esconder.</p><p>Especialmente, em lares</p><p>com vários gatos, cães e</p><p>crianças.</p><p>Resultado:</p><p>- medo</p><p>- agressividade</p><p>Fornecer locais segu-</p><p>ros no chão e no alto.</p><p>Os pontos altos permi-</p><p>tem monitorar o meio</p><p>ambiente e controlar</p><p>o estímulo que causa</p><p>desconforto. A caixa</p><p>de transporte pode ser</p><p>um esconderijo, tendo</p><p>ainda a vantagem de ser</p><p>portátil (Figura 5); mas</p><p>é preciso evitar as que</p><p>não permitam ocultação</p><p>(p. ex., gaiolas de arame</p><p>abertas). Solução: colocar</p><p>uma manta sobre a caixa</p><p>de transporte, para que</p><p>ele possa se esconder.</p><p>Comportamento</p><p>de Arranhar</p><p>A principal função é</p><p>comunicar-se por meio</p><p>da deposição de marcas</p><p>visuais e odoríferas, em</p><p>diferentes superfícies.</p><p>Arranha as estruturas</p><p>disponíveis: mobília.</p><p>Resultado:</p><p>- conflito com tutor</p><p>- onicectomia, para</p><p>evitar destruição</p><p>da mobília (limita</p><p>a capacidade</p><p>para expressar</p><p>comportamento, cuja</p><p>motivação é elevada)</p><p>Disponibilizar alvos</p><p>alternativos: arranhado-</p><p>res e postes com orien-</p><p>tação, material e locali-</p><p>zação adequados para o</p><p>gato e aceitáveis na pers-</p><p>pectiva do tutor.</p><p>continua...</p><p>59</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>Fatores</p><p>ambientais Na natureza Nos lares Estratégias</p><p>Interações</p><p>sociais Sistema social flexível.</p><p>Podem viver sozinhos</p><p>ou em grupos sociais.</p><p>No estado selvagem,</p><p>evitam confrontos,</p><p>dispersando ou evitando</p><p>indivíduos não familiares</p><p>ou ameaçadores.</p><p>Têm estratégias</p><p>de comunicação</p><p>(essencialmente odorífera)</p><p>que lhes permite passar/</p><p>obter informação sem</p><p>contato direto.</p><p>Quando há mais de um</p><p>gato, o espaço disponível</p><p>fica limitado, o que os</p><p>obriga ao contato direto,</p><p>para manifestarem</p><p>comportamentos naturais</p><p>e terem acesso aos</p><p>recursos.</p><p>Resultado:</p><p>- conflito social</p><p>- sem acesso a recursos</p><p>essenciais</p><p>- marcação com urina</p><p>Disponibilizar estruturas</p><p>na altura do chão e em</p><p>pontos altos que permi-</p><p>tam descansar, dormir,</p><p>esconder-se e movimen-</p><p>tar-se pela casa, evitando</p><p>o contato desnecessário</p><p>com outros animais (p..ex..</p><p>túneis, caixas, com entrada</p><p>e saída, torres de gato,</p><p>prateleiras).</p><p>Predadores solitários, não</p><p>partilham presas.</p><p>Quando há mais de um</p><p>gato, muitas vezes, são</p><p>alimentados em conjunto</p><p>(no mesmo prato ou lado</p><p>a lado).</p><p>Resultado:</p><p>- conflito social</p><p>- ingerem menos</p><p>alimento ou comem mais</p><p>rapidamente.</p><p>Disponibilizar várias esta-</p><p>ções de alimentação pela</p><p>casa, de forma a permitir a</p><p>privacidade necessária.</p><p>No habitat natural,</p><p>o contato com humanos</p><p>é opcional</p><p>Podem beneficiar-se pelas</p><p>interações regulares,</p><p>amigáveis e previsíveis</p><p>com humanos. Com</p><p>frequência, o espaço não</p><p>é respeitado, e o tipo de</p><p>interação não respeita os</p><p>sinais emitidos pelo gato.</p><p>Resultado:</p><p>- agressividade</p><p>A interação deve ser</p><p>consistente e positiva</p><p>(Figura 6). Uma ferra-</p><p>menta útil é o adestra-</p><p>mento (Figura 7). Facilita</p><p>a comunicação, torna as</p><p>interações mais previsí-</p><p>veis e menos estressantes.</p><p>Implica ainda o exercício</p><p>de competências cogni-</p><p>tivas. Pode também ser</p><p>útil no estabelecimento de</p><p>comportamentos/rotinas</p><p>desejáveis (p. ex., utilização</p><p>de caixa de transporte).</p><p>continua...</p><p>Quadro 2 – Continuação</p><p>60</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Fatores</p><p>ambientais Na natureza Nos lares Estratégias</p><p>Estímulos</p><p>odoríferos e</p><p>feromônios</p><p>(VITALE</p><p>SHREVE;</p><p>UDELL,</p><p>2017)</p><p>Depositam sinais químicos</p><p>(odores e feromônios)</p><p>em locais estratégicos</p><p>para comunicação.</p><p>Comportamentos: marcar</p><p>com urina/fezes, arranhar</p><p>e roçar focinho e corpo</p><p>em objetos ou outros</p><p>indivíduos. Assim:</p><p>- estabelecem limites</p><p>de território e passam</p><p>informação, sem</p><p>necessidade de contato</p><p>direto</p><p>- obtêm informação</p><p>de outros indivíduos</p><p>(“assinaturas odoríferas” –</p><p>perfil químico individual),</p><p>como sexo, estado</p><p>reprodutivo etc.</p><p>Ambiente químico não</p><p>controlado pelo gato.</p><p>Entrada constante de</p><p>odores e feromônios,</p><p>bem como eliminação</p><p>de informação, deixada</p><p>pelo gato (p. ex. limpar</p><p>marcas deixadas nas</p><p>paredes, quando há</p><p>marcação com o focinho,</p><p>ou lavar regularmente os</p><p>cobertores, onde o animal</p><p>gosta de descansar) –</p><p>ambiente desconfortável</p><p>Resultado:</p><p>- marcar com urina</p><p>- arranhar os móveis</p><p>Evitar interferir nos sinais</p><p>químicos (p. ex., fazer lim-</p><p>peza de espaços e objetos</p><p>alternadamente pode aju-</p><p>dar a manter a familiari-</p><p>dade do meio em que vive).</p><p>Evitar o uso de substâncias</p><p>que possam alterar, de</p><p>forma significativa, o perfil</p><p>de odores, que o associa ao</p><p>seu ambiente habitual (p.</p><p>ex. evitar produtos de lim-</p><p>peza com amoníaco).</p><p>Existem atualmente no</p><p>mercado feromônios sin-</p><p>téticos que induzem a um</p><p>estado emocional positivo.</p><p>Ao transportar o gato para</p><p>um novo local (p. ex. ida à</p><p>clínica), levar objetos que</p><p>tenham cheiros familiares</p><p>Bebedouros Procuram pontos de água</p><p>tão fresca quanto possível.</p><p>Alguns preferem água</p><p>corrente, enquanto outros,</p><p>água parada. A tendência é</p><p>beber pouca água</p><p>Pontos de água próximos</p><p>aos recursos restantes</p><p>(p. ex. caixa de areia), sem</p><p>respeitar preferências</p><p>individuais</p><p>Resultado: consumo</p><p>reduzido de água</p><p>Respeitar as preferências</p><p>individuais, oferecer várias</p><p>alternativas e distanciar os</p><p>pontos de água do restante</p><p>dos recursos</p><p>Locais de</p><p>eliminação</p><p>(urinar e</p><p>defecar)</p><p>Têm liberdade para</p><p>escolher local e substrato</p><p>Geralmente, a caixa,</p><p>areia, a localização, etc</p><p>não respeitam as</p><p>preferências individuais.</p><p>Resultado:</p><p>- eliminação em locais não</p><p>desejados</p><p>Caixas devem ser grandes,</p><p>com substrato solto (seme-</p><p>lhante à terra ou areia) e</p><p>sem odor. Oferecer mais</p><p>de uma alternativa ajuda</p><p>a perceber as preferências</p><p>individuais.</p><p>Organização</p><p>dos recursos</p><p>(alimento,</p><p>água,</p><p>locais de</p><p>eliminação,</p><p>para</p><p>arranhar,</p><p>para</p><p>brincar,</p><p>zonas de</p><p>descanso)</p><p>Distribuídos pelo território No geral, concentrados em</p><p>alguns locais da casa</p><p>Resultado:</p><p>- doenças secundárias a</p><p>estresse</p><p>- eliminação em locais</p><p>indesejados</p><p>O animal deve ter a possibi-</p><p>lidade de escolher e poder</p><p>evitar estímulos. Cada</p><p>recurso-chave deve estar</p><p>disponível em diferentes</p><p>localizações e ficar distante</p><p>dos outros recursos (p. ex.,</p><p>evitar comida perto do local</p><p>de eliminação).</p><p>Evitar disponibilizar recur-</p><p>sos essenciais em locais</p><p>ruidosos ou com muito</p><p>movimento.</p><p>Quadro 2 – Continuação</p><p>Fonte: elaborado por Sara Fragoso</p><p>61</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>DESAFIOS E GRAU DE DIFICULDADE</p><p>É importante evitar desafios que o gato não consiga resolver, porque</p><p>estes geram frustração. Aconselha-se que os primeiros desafios sejam mais</p><p>fáceis, para garantir sucesso e movimentação. Depois, aumentar gradual-</p><p>mente o grau de dificuldade. Além disso, é importante garantir que os itens</p><p>ou as atividades fornecidas sejam seguros para o gato.</p><p>Figura 3 – Dispensador de comida. Conforme o gato empurra a bola, os pedaços que estão</p><p>dentro vão caindo. No início, a tarefa deve ser mais fácil (mais furos e de maior dimensão)</p><p>e, gradualmente, o grau de dificuldade deve ir aumentando</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>Figura 4 – Outros</p><p>exemplos de estruturas</p><p>que podem ser utilizadas</p><p>para a alimentação</p><p>Fonte: acervo pessoal da</p><p>autora.</p><p>62</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Figura 5 – A caixa de transporte pode significar local seguro para o gato e ser</p><p>utilizada para descansar (à esquerda) ou para se esconder (à direita).</p><p>Fonte: foto de Patrícia Esteves (2017)</p><p>Figura 6 – Momento de interação</p><p>positiva entre gato e pessoa</p><p>Fonte: foto de Patrícia Esteves (2017)</p><p>Figura</p><p>7 – Treino, como forma de</p><p>enriquecimento social e cognitivo</p><p>Fonte: foto de Patrícia Esteves (2017)</p><p>Gatos diferentes</p><p>As informações apresentadas nos Quadros 2 e 3,</p><p>aplicam-se à generalidade dos gatos. No entanto,</p><p>é preciso prestar atenção nas possíveis limitações.</p><p>As estratégias devem ser adaptadas e respeitado o</p><p>ritmo de cada indivíduo ou grupo (p. ex. utilização de</p><p>rampas ou degraus para facilitar o acesso a recursos</p><p>aos gatos com problemas de locomoção, com gatos que</p><p>não enxergam; os obstáculos em locais inesperados</p><p>devem ser evitados e a localização dos móveis e dos</p><p>recursos não deve ser alterada).</p><p>63</p><p>O bem-estar dos gatos</p><p>OUTRAS FONTES DE INFORMAÇÃO</p><p>A abordagem científica do bem-estar é multidisciplinar, e um dos</p><p>maiores desafios, enfrentados pelos pesquisadores, é a expressão de emoções</p><p>e sentimentos nos animais de outras espécies. Como não falam, não é pos-</p><p>sível avaliar diretamente os seus estados mentais, por ser o acesso indireto.</p><p>São desenvolvidos vários tipos de estudos (MURPHY et al., 2014) e utiliza-</p><p>dos diferentes indicadores para estudar o bem-estar, e os mais utilizados são:</p><p>� as condições que o animal vive e os estímulos e eventos aos quais</p><p>está sujeito;</p><p>� a forma pela qual o animal reage ao ambiente (estado de saúde –</p><p>doenças, condição corporal, qualidade do pelo; respostas fisiológica</p><p>e comportamental).</p><p>Todos os tipos de estudo têm limitações, e um indicador isolado reve-</p><p>la-se insuficiente, já que o estudo do bem-estar implica a utilização simultâ-</p><p>nea de vários indicadores.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BUFFINGTON, C. A. et al. Clinical evaluation of multimodal environmental</p><p>modification (MEMO) in the management of cats with idiopathic</p><p>cystitis. Journal of Feline Medicine and Surgery, London, v. 8, n. 4,</p><p>p. 261- 280, Aug. 2006.</p><p>ELLIS, S.; RODAN, I.; CARNEY, H.; HEATH, S.; ROCHLITZ, I.; SHEARBURN,L.;</p><p>SUNDAHL, E.; WESTROPP, J. AAFP and ISM Feline Environmental Needs</p><p>Guidelines. Journal of Feline Medicine Surgery, v. 15, p. 219-230, 2013.</p><p>FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL. Farm Animal Welfare in Great Britain:</p><p>Past, Present and Future. FAWC. Disponível em: https://www.gov.uk/</p><p>government/uploads/system/uploads/attachment_data/file/319292/</p><p>Farm_Animal_Welfare_in_Great_Britain_-_Past__Present_and_</p><p>Future.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.</p><p>FRASER, D.; WEARY, D. M.; PAJOR, E. A.; MILLIGAN, B. N. A scientific</p><p>conception of animal welfare that reflects ethical concerns.Animal</p><p>Welfare, v.6,p. 187-205, 1997.</p><p>64</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>LUE, T. W.; PANTENBURG, D. P.; CRAWFORD, P. M. Impact of the owner-pet</p><p>and client-veterinarian bond on the care that pets receive. J Am Vet</p><p>Med Assoc, v. 232, p. 531–540, 2008.</p><p>MURPHY, E.; NORDQUIST, E. R; STAAYA, F. J.V. D. A review of behavioural</p><p>methods to study emotion and mood in pigs, Sus scrofa. Applied Animal</p><p>Behavior Science. v. 159, p. 9-28, 2014.</p><p>PRYOR, P. A.; HART, B. L.; BAIN, M.; CLIFF, K. Causes of urine marking in</p><p>cats and effects of environmental management on frequency of mar-</p><p>king. JAVMA. v. 219, n. 12, p. 1709-1713, 2001.</p><p>RAMOS, D.; RECHE-JUNIOR, A.; MILLS, D. S.; FRAGOSO, P. L.; DANIEL,A.G.T.;</p><p>FREITAS, M. F.; CORTOPASSI, S. G.; PATRICIO, G. A closer look at the</p><p>health of cats showing urinary house-soiling (periuria): a case-control</p><p>study. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 21, n. 8, p.772–779, 2019.</p><p>Doi: https://doi.org/https://doi.org/10.1177%2F1098612X18801034.</p><p>ROCHLITZ, I. Recommendations for the housing and care of domestic cats in</p><p>laboratories. Laboratory Animals. v. 34, p. 1-9, 2000.</p><p>STURGESS, K., HURLEY, K.J. Nutrition and Welfare. In: ROCHLITZ, I.</p><p>The Welfare of cats. 1ed. Netherlands: Springer, 2005, p. 227-258.</p><p>SHAROV, A. Umwelt theory and pragmatism. In: Semiotica, Toronto: De Gruyter</p><p>Mouton, v. 134, p. 211-228, 2001.</p><p>UEXKULL, von Jakob. Dos animais e dos homens. Trad. de Alberto Candeias e</p><p>Aníbal Garcia Pereira. Lisboa: Livros do Brasil, 1982.</p><p>UEXKULL, von Jakob. The Theory of Meaning. Semiotica, Copenhagen. 42-1,</p><p>1982, pp. 25-82.</p><p>VITALE SHREVE, K. R.; UDELL, M. A. R. Stress, security, and scent: The</p><p>influence of chemical signals on the social lives of domestic cats and</p><p>implications for applied settings.Applied Animal Behaviour Science,</p><p>187,69-76, 2017.Doi: https://doi.org/10.1016/j.applanim.2016.11.011.</p><p>WEBSTER, J. Animal welfare – Limping towards Eden. Oxford: Blackwell</p><p>Publishing, 2005.</p><p>WEMELSFELDER, F. How animals communicate quality of life: the qualitative</p><p>assessment of behaviour. Animal Welfare, v. 16, Suppl, p. 25-31, 2007.</p><p>WESTROPP, J. L. Feline Idiopathic Cystitis – Demystifying the Syndrome. In:</p><p>Hill’s European Symposium on Advances in Feline Medicine, Brussels,</p><p>26 -28, Abril, 2006.</p><p>https://doi.org/10.1016/j.applanim.2016.11.011</p><p>A RELAÇÃO NUTRIÇÃO E BEM-ESTAR</p><p>EM CÃES E GATOS</p><p>Aulus Cavalieri Carciofi e</p><p>Márcia de Oliveira Sampaio Gomes – Brasil</p><p>66</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO GERAL</p><p>No contexto do bem-estar de cães e gatos, a nutrição ocupa um lugar</p><p>central, ao lado de outros aspectos, como meio ambiente, manejo sanitário</p><p>e condutas do proprietário. Todos esses são aspectos básicos, necessários à</p><p>expressão de comportamentos normais, como bem-estar fisiológico e saúde,</p><p>sem os quais há evidente redução da qualidade de vida dos animais.</p><p>Apesar de ocuparem os mesmos espaços e participarem da rotina das</p><p>pessoas em uma casa, bem como da estreita interação entre pessoas e seus</p><p>cães e gatos, é necessário considerar que se tratam de espécies distintas, que</p><p>tiveram uma história natural diferente, interagiram com o meio no ecossis-</p><p>tema, onde se desenvolveram de modo diverso. Isso determina que cães e</p><p>gatos têm necessidades especiais, as quais devem ser compreendidas, res-</p><p>peitadas e supridas pelo proprietário. O atendimento dessas necessidades</p><p>representa o respeito que se espera que os proprietários tenham para com</p><p>os animais que dividem a residência com eles.</p><p>Assim, fornecer guloseimas, como bolos, bolachas, alimentos à base de</p><p>açúcares, ou a transposição de valores alimentares culturais humanos, como</p><p>vegetarianismo e veganismo para cães e gatos, não significa expressão de</p><p>sentimento de carinho, mas, falta de compreensão das necessidades alimen-</p><p>tares do animal que, fora de seu ambiente natural e encerrado no ambiente</p><p>humano, não têm condições de se defender, expondo-os à desnutrição – des-</p><p>tacando-se, dentre suas formas, a obesidade – à limitação de seu bem-estar,</p><p>da qualidade de vida e longevidade. Nesse sentido, o presente texto abordará</p><p>alguns pontos mais relevantes, cuja observância, respeitando-se as particu-</p><p>laridades alimentares e fisiológicas dessas espécies, nos permite favorecer</p><p>melhor bem-estar aos cães e gatos pela alimentação.</p><p>EVOLUÇÃO ALIMENTAR E AS PARTICULARIDADES NUTRICIONAIS DE</p><p>CÃES E GATOS</p><p>Cães e gatos pertencem à classe Mammalia e à ordem Carnivora.</p><p>Apesar desse tronco comum, essas duas espécies apresentam distinções</p><p>relevantes em seu padrão alimentar, explicado também por sua evolução e</p><p>67</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>características. Na superfamília Canoidea, encontram-se o cão doméstico</p><p>(Canis familiaris), Ursídeos (urso), procionídeos (guaxinim), com dieta onívora</p><p>– que inclui, além das presas que caçavam, carniça, matéria vegetal e inverte-</p><p>brados – e as famílias com hábitos estritamente carnívoros, como os mustelí-</p><p>deos (doninha) e uma família de hábitos herbívoros, a Ailuridae (urso panda).</p><p>Por outro lado, na superfamília Feloidea, à qual pertence o gato doméstico,</p><p>observam-se apenas espécies que apresentam hábitos alimentares estrita-</p><p>mente carnívoros no meio ambiente (CASE et al., 2010a; BRADSHAW, 2006).</p><p>A história evolutiva alimentar do cão sugere padrão de predadores</p><p>generalistas, com hábitos oportunistas. A espécie da qual os cães descendem</p><p>tinha, provavelmente, hábito de caça coletiva e cooperativa, no geral, de ani-</p><p>mais grandes. Ao obterem sucesso na caçada, consumiam de forma</p><p>rápida e</p><p>voraz, gerando competição e estando sujeito às relações de dominância entre</p><p>os membros do grupo.</p><p>Em diversos momentos, esses animais consumiam também car-</p><p>niça, vegetais, como frutas, raízes e gramíneas, insetos e pequenos répteis,</p><p>mamíferos e anfíbios (NRC, 2006a). Já a evolução do gato doméstico ocorreu</p><p>mediante padrão alimentar mais restritivo, o que resultou em menos adap-</p><p>tações alimentares e mais idiossincrasias nutricionais. Descendente de uma</p><p>espécie pequena de felino, originária do norte da África (Felis silvestres lybica),</p><p>o gato apresenta, até hoje, alguns padrões alimentares observados nessa</p><p>espécie, como o de caçar de forma individual, predar animais de pequeno</p><p>porte (como pequenos mamíferos, aves, répteis e insetos), exibir padrão lento</p><p>de ingestão alimentar e não desenvolver hábitos onívoros (BRADSHAW, 2006;</p><p>NRC, 2006a). Tais aspectos da sua evolução resultaram em particularidades</p><p>metabólicas e necessidades nutricionais específicas na espécie felina, não</p><p>observadas nos cães (CASE et al., 2010a).</p><p>De modo geral, as principais idiossincrasias dos gatos mostram ele-</p><p>vada necessidade proteica (sugere-se que aproximadamente 1/3 do que</p><p>comem seja proteína, ou 33%), relacionada ao fato de obterem energia por</p><p>gliconeogênese. Apresentam má regulação da atividade de enzimas hepáti-</p><p>cas, como transaminases e deaminases, que removem os grupos aminas dos</p><p>aminoácidos, produzindo cetoácidos, utilizados para a produção de energia</p><p>ou glicose. A arginina é o aminoácido essencial para cães e gatos, necessária</p><p>para a síntese de proteínas corporais. Nos felinos, no entanto, destaca-se</p><p>como essencial também ao ciclo da ureia, sem arginina este ciclo não ocorre,</p><p>68</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>e amônia se acumula no organismo, provocando sintomas clínicos severos</p><p>(CASE et al., 2010b).</p><p>A maioria dos mamíferos adultos sintetiza taurina a partir da metio-</p><p>nina e da cistina, porém gatos realizam essa conversão de forma limitada,</p><p>sendo este aminoácido um nutriente que deve estar presente na dieta destes</p><p>animais. Esse aminoácido é importante para a conjugação dos ácidos biliares,</p><p>o funcionamento da retina e do miocárdio, assim como para a reprodução</p><p>das gatas (CASE et al., 2010b; NRC, 2006b). De maneira semelhante, gatos</p><p>apresentam capacidade limitada para produzir ácido araquidônico a partir</p><p>do ácido linoleico, demonstrando a dependência carnívora da espécie, pois o</p><p>ácido araquidônico só é encontrado em tecidos animais, não sendo produzido</p><p>por vegetais (NRC, 2006c). Gatos são ainda incapazes de converter compostos</p><p>carotenoides na forma ativa da vitamina A, o retinol, devido à ausência da</p><p>enzima dioxigenase na mucosa do enterócito. Em função disso, a vitamina A</p><p>pré-formada, só encontrada em tecidos animais, é nutriente essencial para</p><p>gatos, não obtida dos vegetais (CASE et al., 2010c-d).</p><p>Outras idiossincrasias metabólicas incluem maior necessidade de</p><p>piridoxina (vitamina B6), que é cofator em diversas reações do metabolismo</p><p>proteico e de niacina (vitamina B3), cujo precursor, o aminoácido triptofano,</p><p>nos gatos, é desviado para neoglicogênese (CASE et al., 2010c; FASCETTI;</p><p>DELANEY, 2012; NRC, 2006d).</p><p>Agora destacamos uma particularidade comum a cães e gatos,</p><p>que os difere do ser humano: não são capazes de sintetizar 7-dehidro-</p><p>colesterol, quando a pele é exposta à radiação ultravioleta, de modo que,</p><p>mesmo tomando sol, não conseguem sintetizar a vitamina D (colecalcife-</p><p>rol) (FASCETTI; DELANEY, 2012). Em relação à necessidade de cálcio, o ser</p><p>humano é capaz de retirar o cálcio de vegetais e apresenta reduzida necessi-</p><p>dade deste macroelemento, enquanto cães e gatos absorvem melhor o cálcio</p><p>de ossos, porque mastigar ossos evolutivamente foi a sua fonte de cálcio, e</p><p>necessitam quantidades muito mais elevadas deste nutriente em suas dietas</p><p>em comparação ao ser humano.</p><p>Foge do objetivo deste texto um aprofundamento em metabolismo e</p><p>nutrição. Os pontos, aqui apresentados, de modo sucinto, foram abordados</p><p>para se estabelecer e reconhecer a forte relação que existe entre a história</p><p>evolutiva alimentar natural da espécie e as suas necessidades nutricionais e</p><p>alimentares atuais. Quando assumimos a responsabilidade de termos cães e</p><p>69</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>gatos, vivendo conosco, sob nossos cuidados, em nossa casa, conhecê-los e</p><p>respeitá-los é fundamental. A alimentação é exemplo disso, já que as neces-</p><p>sidades de nutrientes são atributos da espécie que não mudam de improviso,</p><p>nem tomam conhecimento das preferências humanas: culturais ou sociais.</p><p>AVALIAÇÃO NUTRICIONAL – O PRIMEIRO PASSO PARA PROMOÇÃO DE</p><p>BEM-ESTAR PELA NUTRIÇÃO</p><p>A definição do melhor alimento (teores de nutrientes) e do manejo</p><p>nutricional a ser adotado dependem sempre da condição de saúde e fisio-</p><p>lógica do animal. Essas informações são obtidas no inquérito alimentar e no</p><p>exame físico. É importante saber empregar, da melhor forma possível, as</p><p>tabelas nutricionais (apresentadas mais adiante) e tirar melhor proveito da</p><p>grande diversidade de produtos comerciais hoje disponíveis.</p><p>A avaliação do estado nutricional inclui, pelo menos, a determinação do</p><p>escore de condição corporal (ECC), do escore de massas musculares (EMM)</p><p>e a avaliação da condição da pele e pelos (BRUNETTO et al., 2010; CARCIOFI</p><p>et al., 2003). O ECC dará informações relevantes para se definir a densidade</p><p>energética, os teores de gordura e a fibra da dieta, bem como a quantidade de</p><p>calorias a ser fornecida, enquanto o EMM e a qualidade dos pelos informarão</p><p>sobre possíveis alterações metabólicas ou doenças que requerem alimentos,</p><p>suplementados em proteínas, minerais ou vitaminas.</p><p>Em função da relevância do inquérito alimentar e da avaliação de con-</p><p>dição nutricional do paciente durante o atendimento clínico, em julho de 2011,</p><p>a World Small Animal Veterinary Association (WSAVA) publicou, no Journal of</p><p>Small Animal Practice, o Nutritional Assessment Guidelines (Diretrizes para</p><p>Avaliação Nutricional (FREEMAN et al., 2011). Nessas diretrizes, a avaliação</p><p>nutricional do paciente é definida como o quinto sinal vital a ser obrigatoria-</p><p>mente pesquisado no exame físico e na anamnese de rotina. São apresentadas</p><p>as descrições de como realizar o inquérito alimentar e verificar quais fatores</p><p>de risco devem ser considerados, bem como os detalhes de como realizar a</p><p>avaliação física do ponto de vista nutricional.</p><p>Nesse último tópico, são apresentados o ECC em escala de 9 pontos, e,</p><p>segundo Laflamme (1997a, 1997b), sendo 1 o escore dado ao animal caquético,</p><p>70</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>5, ao animal dito em escore ideal, e 9, ao obeso; e o EMM, em escala de 0</p><p>a 3, sendo 3 atribuído ao animal com musculatura preservada, e 0, ao com</p><p>acentuada perda muscular. Os escores ou as pontuações são definidos pela</p><p>inspeção e palpação de regiões específicas do corpo. É importante considerar</p><p>que animais, com depleção muscular grave (EMM de 0, com acentuada perda</p><p>de musculatura em região parietal e frontal do crânio), demandam atenção</p><p>nutricional imediata, pois esta perda, avançada de massa muscular, sinaliza</p><p>perda concomitante de massa hepática, cardíaca e intestinal.</p><p>A obtenção do peso corporal é também necessária e servirá para se</p><p>definir a quantidade de alimento que o animal deverá receber. O regis-</p><p>tro periódico do peso corporal permite avaliar a eficácia do programa</p><p>nutricional, acompanhando-se perda, manutenção ou ganho de peso</p><p>(BRUNETTO et al., 2010). A versão gratuita do Manual WSAVA, traduzida</p><p>para o português, está disponível no link: http://www.wsava.org/guidelines/</p><p>global-nutrition-guidelines.</p><p>Por fim, o julgamento da qualidade do alimento recebido, por mais</p><p>subjetivo que seja, é importante. Pode-se considerar adequado quando</p><p>cães e gatos são predominantemente alimentados com produtos comer-</p><p>ciais de boa procedência (> 80% da dieta consumida no inquérito alimentar).</p><p>Nessa situação, admite-se que o alimento tenha balanceamento</p><p>correto e</p><p>equilíbrio de nutrientes. Animais alimentados com quantidade relevante</p><p>de dieta caseira ou petiscos (> 20% do que recebem) ou que recebem ali-</p><p>mentos comerciais de qualidade duvidosa, devem ser considerados como</p><p>potencialmente desnutridos, mesmo que alterações detectáveis não estejam</p><p>presentes no exame físico e bioquímico de rotina. O risco nutricional do</p><p>fornecimento de dietas caseiras (ditas, inapropriadamente, como “natu-</p><p>rais”) é grande, como será exposto mais adiante. A menos que esses alimen-</p><p>tos tenham sido balanceados por nutricionista habilitado, cães e gatos que</p><p>recebem esse tipo de alimento devem ser classificados como em elevada</p><p>probabilidade de desnutrição!</p><p>A ESCOLHA DO ALIMENTO</p><p>A escolha do alimento é um processo individualizado, na qual são con-</p><p>siderados três pontos fundamentais, conforme Fascetti e Delaney (2012).</p><p>http://www.wsava.org/guidelines/global-nutrition-guidelines</p><p>http://www.wsava.org/guidelines/global-nutrition-guidelines</p><p>71</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>� o animal em questão;</p><p>� o alimento em si;</p><p>� a presença de fatores externos que possam influenciar nessa esco-</p><p>lha, além de como e com o que o animal possa ser alimentado.</p><p>Quanto ao animal, como já abordado anteriormente, integram-se</p><p>informações sobre idade, raça, status sexual, ECC, EMM, aspecto da pele e</p><p>pelos, grau de atividade física, risco prévio de desnutrição (tipo e qualidade</p><p>do alimento rotineiramente recebido) e preferências alimentares do indi-</p><p>víduo. Também, é útil saber como é a interação do animal com o alimento,</p><p>se este é glutão ou tem apetite seletivo, se ingere rapidamente ou tem difi-</p><p>culdade e demora para ingerir o necessário etc. A presença de alterações</p><p>de saúde é bastante relevante, visto que muitas doenças requerem mudan-</p><p>ças alimentares, com emprego de alimentos, com características especiais,</p><p>podendo ser necessário o aumento ou a redução da energia, proteína, gor-</p><p>dura, fibra ou minerais.</p><p>Dentre os fatores externos, consideram-se aqueles relacionados ao</p><p>meio ambiente, como o local em que o animal vive (interno ou externo à casa),</p><p>a presença e o número de convivas animais e humanos, bem como as con-</p><p>cepções e filosofias alimentares do tutor, o qual pode apresentar orientação</p><p>cultural para dietas específicas. A disponibilidade financeira para a aquisição</p><p>do alimento é também um critério relevante. A partir da integração de todas</p><p>essas questões, o profissional da nutrição, o médico veterinário ou o zootec-</p><p>nista poderão definir:</p><p>1) o perfil de nutrientes mais adequado para o alimento do animal;</p><p>2) o seu tipo ou forma de apresentação (comercial seco, comercial</p><p>úmido, caseiro etc.).</p><p>Desta forma, o primeiro passo será sempre determinar a melhor com-</p><p>posição de nutrientes que atenda o indivíduo em questão, e, como já comen-</p><p>tado, este é um processo individualizado, não existindo uma solução única.</p><p>Cães e gatos necessitam de aproximadamente 45 nutrientes, que devem ser</p><p>consumidos por dia para adequado funcionamento de células, tecidos e do</p><p>organismo, como um todo (NRC, 2006).</p><p>A Federação Europeia da Indústria de Alimentos para Animais de</p><p>Estimação (FEDIAF, 2019) publica recomendações de nutrientes mínimos para</p><p>72</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>alimentos completos e balanceados para cães (Tabela 1) e gatos (Tabela 2).</p><p>O correto emprego dessas tabelas depende de algumas considerações impor-</p><p>tantes: a) tratam-se dos teores mínimos, sugeridos para indivíduos saudá-</p><p>veis da espécie e fase fisiológica em questão, o que não significa que sejam</p><p>teores ótimos para todos os animais; b) situações especiais, como desvios na</p><p>necessidade energética, obesidade, diabetes mellitus e outras endocrinopa-</p><p>tias, neoplasias, alterações renais, cardíacas, hepáticas, intestinais, cutâneas</p><p>ou outras que podem tornar necessárias alterações substanciais nos teores</p><p>propostos. Essas são reconhecidas, de forma adequada, por médicos veteri-</p><p>nários após conveniente diagnóstico da presença de tais alterações de saúde.</p><p>Tabela 1 – Teores de nutrientes, recomendados para cães – unidades por 100 g de matéria seca</p><p>(MS) do alimento</p><p>Nutriente UNID.</p><p>Mínimo recomendado Máximo</p><p>Adulto -</p><p>considerando</p><p>NEM de</p><p>Crescimento</p><p>inicial (</p><p>alimento</p><p>Nutriente UNID.</p><p>Mínimo recomendado Máximo</p><p>Adulto -</p><p>considerando NEM</p><p>de Crescimento</p><p>e Reprodução</p><p>(L) = Limite legal da EU</p><p>(N) = Nutricional75 kcal/</p><p>kg0,67</p><p>100 kcal/</p><p>kg0,67</p><p>Proteína* G 33,30 25 28 / 30 -</p><p>Arginina* G 1,30 1 1,07 / 1,11 Crescimento: 3,50 (N)</p><p>Histidina G 0,35 0,26 0,33 -</p><p>Isoleucina G 0,57 0,43 0,54</p><p>Leucina G 1,36 1,02 1,28</p><p>Lisina* G 0,45 0,34 0,85</p><p>Metionina* G 0,23 0,17 0,44 Crescimento: 1,30 (N)</p><p>Metionina + cistina* G 0,45 0,34 0,88</p><p>Fenilalanina G 0,53 0,40 0,50</p><p>Fenilalanina + tirosina* G 2,04 1,53 1,91</p><p>Treonina G 0,69 0,52 0,65</p><p>Triptofano* G 0,17 0,13 0,16 Crescimento: 1,70 (N)</p><p>Valina G 0,68 0,51 0,64</p><p>Taurina (alimento</p><p>úmido)*</p><p>G 0,27 0,20 0,25</p><p>Taurina (alimento seco)* G 0,13 0,10 0,10</p><p>Gordura* G 9 9 9</p><p>Ácido linoleico (ω-6) * G 0,67 0,50 0,55</p><p>Ácido araquidônico (ω-6) Mg 8 6 20</p><p>Ácido alfa-linolênico</p><p>(ω-3) *</p><p>G - - 0,02</p><p>EPA + DHA (ω-3) * G - - 0,01</p><p>Minerais</p><p>Cálcio* G 0,79 0,59 1</p><p>Fósforo G 0,67 0,50 0,84</p><p>Relação Ca / P 1/1 Crescimento:</p><p>Adulto:</p><p>1,5/1 (N)</p><p>2/1 (N)</p><p>Potássio G 0,80 0,60 0,60</p><p>Sódio* G 0,10a 0,08 a 0,16 a</p><p>Cloro G 0,15 0,11 0,24 2,25 (N)</p><p>Magnésio G 0,05 0,04 0,05</p><p>continua...</p><p>76</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Nutriente UNID.</p><p>Mínimo recomendado Máximo</p><p>Adulto -</p><p>considerando NEM</p><p>de Crescimento</p><p>e Reprodução</p><p>(L) = Limite legal da EU</p><p>(N) = Nutricional75 kcal/</p><p>kg0,67</p><p>100 kcal/</p><p>kg0,67</p><p>Microelementos*</p><p>Cobre* Mg 0,67 0,50 1,00 2,80 (L)</p><p>Iodo* Mg 0,17 0,13 0,18 1,10 (L)</p><p>Ferro* Mg 10,70 8,00 8,00 142 (L)</p><p>Manganês Mg 0,67 0,50 1,00 17 (L)</p><p>Selênio* µg 40,00 30,00 30,00 56,80 (L)b</p><p>Zinco* Mg 10,00 7,50 7,50 22,70 (L)</p><p>Vitaminas</p><p>Vitamina A* UI 444,00 333,00 900,00 Adulto e</p><p>crescimento:</p><p>Reprodução:</p><p>40.000,00</p><p>(N)</p><p>33.333,00</p><p>(N)</p><p>Vitamina D* UI 33,30 25,00 28,00 227,00 (L)</p><p>3.000,00 (N)</p><p>Vitamina E* UI 5,07 3,80 3,80</p><p>Tiamina Mg 0,59 0,44 0,55</p><p>Riboflavina* Mg 0,42 0,32 0,32</p><p>Ácido pantotênico Mg 0,77 0,58 0,57</p><p>Vitamina B6</p><p>(Piridoxina)*</p><p>Mg 0,33 0,25 0,25</p><p>Vitamina B12 µg 2,35 1,76 1,80</p><p>Niacina Mg 4,21 3,20 3,20</p><p>Ácido fólico µg 101,00 75,00 75,00</p><p>Biotina* µg 8,00 6,00 7,00</p><p>Colina Mg 320,00 240,00 240,00</p><p>Vitamina K* µg - - -</p><p>a. Dados científicos mostram que os teores de sódio de até 1,5% MS são seguros para gatos saudáveis.</p><p>Valores mais altos ainda podem ser seguros, mas não existem dados científicos disponíveis.</p><p>b. Para o selênio orgânico, considera-se o teor máximo de suplementação de 22,73µg de Se orgânico/100g</p><p>MS (0,20mg de Se/kg de alimento completo, com um teor de umidade de 12%)</p><p>Fonte: adaptado de FEDIAF (2019)</p><p>Tabela 2 – Continuação</p><p>77</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>Respondendo à questão 1 (o perfil de nutrientes mais adequado para</p><p>o alimento do animal, para cães ou gatos adultos, em manutenção), sepa-</p><p>ram-se as recomendações para animais de baixa necessidade energética (75</p><p>kcal/kg0,67/dia, para gatos; e 95 kcal/kg0,75/dia, para cães) ou necessidade</p><p>energética normal (100 kcal/kg0,67/dia, para gatos; e 110 kcal/kg0,75/dia, para</p><p>cães). Nota-se que indivíduos, com baixa necessidade energética, em função</p><p>de consumirem pouco alimento, necessitam de rações com maior concentra-</p><p>ção de aminoácidos, vitaminas e minerais. Não se trata de maior necessidade</p><p>desses nutrientes per si, mas de correção, com base na expectativa de inges-</p><p>tão de matéria seca ou alimento. A maioria dos indivíduos, por estar castrada</p><p>e restrita ao domicílio, com pouca prática de exercício, deve receber alimen-</p><p>tos com composição adequada aos animais de baixa necessidade energética.</p><p>Mas, além desses teores mínimos de nutrientes, uma nutrição ótima</p><p>pode ser melhor conseguida integrando-se os três fatores, discriminados no</p><p>início: os relativos ao animal, os externos e os relativos ao alimento. A seguir,</p><p>são apresentadas sugestões práticas (Tabelas 3 a 6), que podem ser encaradas</p><p>como ponto de partida para a seleção da composição de nutrientes.</p><p>Antes de se decidir por empregar estas sugestões, é importante consi-</p><p>derar as suas limitações. São acomodações práticas, oriundas da experiên-</p><p>cia dos autores, nem sempre referendadas por estudos científicos. Foram</p><p>construídas, integrando-se valores práticos de nutrientes pretendidos para o</p><p>animal, com o que é rotineiramente praticado no mercado, presente nos ali-</p><p>mentos comerciais, disponíveis, na atualidade, em nosso país. Assim, outros</p><p>nutricionistas podem apresentar sugestões diferentes, o que é normal, con-</p><p>siderando-se a plasticidade que a nutrição animal apresenta.</p><p>78</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Tabela 3 – Classificação dos alimentos quanto ao teor de energia metabolizável e sugestões de</p><p>uso para animais adultos</p><p>Energia metabolizável do</p><p>alimento</p><p>Para quê? Para quem? ex:</p><p>Cães e gatos</p><p>Muito baixa 4,2 kcal/g</p><p>Ganho de peso ou</p><p>manutenção</p><p>Animais com elevada</p><p>necessidade energética</p><p>E</p><p>Exemplos: a – tratamento da obesidade, manutenção do peso em animais com necessidade energética muito</p><p>baixa; b – tratamento da obesidade, manutenção do peso em animais com necessidade energética baixa,</p><p>algumas endocrinopatias; c – animais não obesos, com necessidade energética típica, que não fazem muito</p><p>exercício físico; d – animais com condição corporal normal ou baixa, com necessidade energética elevada,</p><p>que fazem muito exercício físico ou com doenças que levam ao hipermetabolismo e caquexia; e – animais</p><p>abaixo do peso ou que estão emagrecendo, com necessidade energética muito elevada, que fazem muito</p><p>exercício físico ou com doenças que levam ao hipermetabolismo e caquexia.</p><p>Fonte: Serviço de Nutrição Clínica de Cães e Gatos. Hospital Veterinário da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal.</p><p>Tabela 4 – Classificação dos alimentos quanto ao teor de proteína e sugestões de uso para</p><p>animais adultosio-=ujh</p><p>Teor de proteína do</p><p>alimento</p><p>Para quê? Para quem?</p><p>Cães</p><p>Restrito 33% Manutenção de cães Animais que necessitam repor perdas</p><p>adicionais de proteína, tratamento da</p><p>obesidade, algumas neoplasias</p><p>continua...</p><p>79</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>Teor de proteína do</p><p>alimento</p><p>Para quê? Para quem?</p><p>Gatos</p><p>Restrito 43% Manutenção de gatos Animais que necessitam repor perdas</p><p>adicionais de proteína, tratamento da</p><p>obesidade, algumas neoplasias</p><p>Fonte: Serviço de Nutrição Clínica de Cães e Gatos. Hospital Veterinário da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal.</p><p>Tabela 5 – Classificação dos alimentos quanto ao teor de gordura e sugestões de uso para</p><p>animais adultos</p><p>Teor de gordura do</p><p>alimento</p><p>Para quê? Para quem?</p><p>Cães e gatos</p><p>Restrito</p><p>Doença com</p><p>hipermetabolismo leve.</p><p>Muito alta > 20% Manutenção ou ganho</p><p>de peso</p><p>Animais não obesos ou que</p><p>estão perdendo peso, com alta</p><p>necessidade energética. Doença com</p><p>hipermetabolismo evidente.</p><p>Fonte: Serviço de Nutrição Clínica de Cães e Gatos. Hospital Veterinário da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal.</p><p>Tabela 4 – Continuação</p><p>80</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Tabela 6 – Classificação dos alimentos quanto ao teor de fibra bruta e sugestões de uso para</p><p>animais adultos</p><p>Teor de fibra bruta do</p><p>alimento</p><p>Para quê? Para quem?</p><p>Cães e gatos</p><p>Baixa 7,0%</p><p>(podendo</p><p>ser > 10%)</p><p>Alimentos de baixa</p><p>digestibilidade</p><p>Tratamento da obesidade, animais com</p><p>muito baixa necessidade energética ou</p><p>com hiperlipidemia.</p><p>Fonte: Serviço de Nutrição Clínica de Cães e Gatos. Hospital Veterinário da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal.</p><p>Definidas as metas para os nutrientes, ou seja, o perfil nutricional</p><p>desejado para o alimento do animal, parte-se para a questão 2 “tipo ou forma</p><p>de apresentação”: comercial seco, comercial úmido, caseiro etc. Nunca é</p><p>demais reforçar que, se o profissional não souber, com clareza, que perfil de</p><p>nutrientes deseja para o alimento daquele animal ou não tiver segurança que</p><p>todos os teores mínimos dos 45 nutrientes essenciais, constantes das Tabelas</p><p>1 e 2, sejam atendidos, ele não saberá como locomover-se para a definição da</p><p>alimentação do indivíduo!</p><p>A classificação comercial dos alimentos segue a Instrução Normativa</p><p>n. ° 30, de 05 de agosto de 2009, do Ministério da Agricultura, Pecuária e</p><p>Abastecimento (BRASIL, 2009). Nela são estabelecidos critérios e procedi-</p><p>mentos para o registro, a rotulagem e a propaganda de produtos, destinados</p><p>à alimentação de animais de companhia. Dentre as categorias, as que nos</p><p>interessam, neste texto, são:</p><p>� Alimento completo – aquele, capaz de atender integralmente às</p><p>necessidades nutricionais, podendo possuir propriedades especí-</p><p>ficas ou funcionais;</p><p>� Alimento coadjuvante – aquele, destinado, de forma exclusiva à</p><p>alimentação de animais com distúrbios fisiológicos ou metabóli-</p><p>cos, capaz de atender integralmente às necessidades nutricionais</p><p>81</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>específicas, cuja formulação é incondicionalmente privada de qual-</p><p>quer agente farmacológico ativo;</p><p>� Alimento específico – tem a finalidade de agrado, prêmio ou recom-</p><p>pensa e não se caracteriza como alimento completo, podendo pos-</p><p>suir propriedades específicas.</p><p>No tocante ao modo de fabricação e ingredientes empregados, estes</p><p>podem ser classificados em alimentos secos, semiúmidos ou úmidos:</p><p>1) Alimentos secos apresentam até 12% de umidade, sendo este o seu</p><p>principal meio de conservação. Mais de 99% dos alimentos secos</p><p>são produzidos por processo de extrusão termoplástica de médio</p><p>cisalhamento (PACHECO et al., 2018; ROKEY; PLATTNER; SOUZA,</p><p>2010), sendo uma pequena proporção, produzida por assamento</p><p>em forno, tecnologia similar à dos biscoitos para o ser humano.</p><p>Existe uma grande variação na composição química desse tipo de</p><p>alimento, com teores de proteína, amido, gordura, minerais e fibra</p><p>muito diferentes. Não é possível fazer uma média das composições</p><p>químicas desses alimentos, e o profissional deve sempre interpre-</p><p>tar o rótulo para compreendê-lo.</p><p>Muitas vezes, atribui-se elevado teor de amido a essa categoria, mas</p><p>existem, disponíveis no mercado formulações com baixo amido, elevada pro-</p><p>teína ou elevada fibra. De maneira típica, apresentam fontes de proteína de</p><p>origem animal e vegetal; fontes de amido, como cereais, tubérculos ou legu-</p><p>minosas; fontes de gordura de origem animal e vegetal, com diferentes fontes</p><p>de fibra, que podem apresentar solubilidades em água e taxas de fermenta-</p><p>ção pelos microrganismos intestinais, muito distintas. Saber interpretar os</p><p>ingredientes é tão importante como saber avaliar a composição nutricional</p><p>do alimento!</p><p>Alimentos secos são muito convenientes e seguros no aspecto nutri-</p><p>cional. Sua segurança, praticidade, menor custo relativo, frente aos outros</p><p>tipos de alimento, boa palatabilidade e digestibilidade tornaram essa catego-</p><p>ria bastante popular, representando provavelmente mais de 90% das calorias,</p><p>comercializadas dentre os alimentos comerciais. No entanto, há alguns pon-</p><p>tos a serem desmistificados: a) alimentos secos não têm muitos conservan-</p><p>tes, pois a sua conservação é principalmente baseada na desidratação e na</p><p>82</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>embalagem apropriada. Antioxidantes são empregados, mas estes podem ser</p><p>naturais e são usados em doses seguras, sendo os mesmos que os utilizados</p><p>em alimentos para o ser humano, que fazem parte rotineira de nossa mesa,</p><p>como bolachas, margarina, óleos, bebidas etc.; b) a farinha de vísceras de aves</p><p>é matéria prima nutritiva, de boa digestibilidade e palatável.</p><p>Ossos e vísceras fazem parte da dieta natural de carnívoros, de modo</p><p>ser o ingrediente bastante adequado para os cães e gatos. Além de proteínas</p><p>e ácidos graxos, são ricos em macroelementos, como cálcio, fósforo e mag-</p><p>nésio, além de apresentar vários microelementos, essenciais aos carnívoros.</p><p>Apresenta, por fim, balanço ecológico ou pegada de carbono muito favorável,</p><p>beneficiando a ecologia alimentar e industrial, com aproveitamento sinérgico</p><p>de recursos alimentares entre o ser humano, os gatos e os cães.</p><p>2) Alimentos semiúmidos apresentam entre 14 e 50% de umidade. São</p><p>produzidos por extrusão, no mesmo equipamento que os alimen-</p><p>tos secos. Empregam também os mesmos ingredientes que os ali-</p><p>mentos secos. As diferenças são relativas aos açúcares e amidos,</p><p>os quais são mais elevados nos alimentos semiúmidos. O xarope</p><p>de glicose, glicerol, sacarose, xarope de milho, com alta frutose, e</p><p>outros açúcares são empregados como umectantes ou sequestran-</p><p>tes de água para o produto não mofar.</p><p>Desta forma, são contraindicados para animais obesos, idosos ou dia-</p><p>béticos. Apresentam igualmente acidificantes e antifúngicos, a fim de contro-</p><p>lar o possível crescimento de bactérias e fungos, ingredientes para os quais</p><p>alguns proprietários apresentam ressalvas. Para cães, devido à elevada umi-</p><p>dade e aos açúcares, podem apresentar boa palatabilidade.</p><p>3) Alimentos úmidos são aqueles com elevada umidade, com teores</p><p>de água que geralmente variam entre 70% a 82%. Destacam-se,</p><p>na atualidade, dois processamentos principais para os alimentos</p><p>úmidos.</p><p>3.1) Os alimentos completos e balanceados, produzidos por esterili-</p><p>zação em autoclave industrial, embalados em latas ou pouchs. São</p><p>alimentos tradicionais, cuja tecnologia de produção é antiga, ante-</p><p>rior mesmo à extrusão. Apesar de apresentarem reduzido espaço</p><p>comercial no Brasil, ocupam lugar expressivo dentre os alimentos</p><p>comerciais para felinos na Europa e nos Estados Unidos. Esse tipo</p><p>83</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>de processamento é mais adequado para os ingredientes com ele-</p><p>vada umidade, com carnes, vísceras, peixes, já que a sua base de</p><p>ingredientes é muito diversa daquela dos secos e semiúmidos.</p><p>Devido à composição dessas matérias-primas, sua composição quí-</p><p>mica geralmente inclui elevada proteína e gordura, com reduzido amido e</p><p>fibra. Isto, porém, não é uma regra, e algumas formulações podem ser ricas</p><p>em amido ou fibra. Novamente, o profissional deve sempre interpretar o</p><p>rótulo para compreendê-lo. Para avaliar a composição química dos alimen-</p><p>tos úmidos, é necessário remover a influência da água, por meio da trans-</p><p>formação dos teores nutricionais para a base seca (nutriente, na base seca =</p><p>[nutriente, na base úmida1 *100]/[100-teor de</p><p>umidade]).1 = nutriente na base</p><p>úmida é o valor constante na embalagem.</p><p>Alimentos úmidos são completos e balanceados, seguros no aspecto</p><p>nutricional. Sua segurança, praticidade e boa palatabilidade tornaram essa</p><p>categoria popular, como petisco, agrado e mesmo palatabilizante, visto que</p><p>misturá-lo a alimentos secos pode aumentar a aceitação destes. Assinalamos</p><p>alguns pontos relevantes:</p><p>a) alimentos úmidos esterilizados (latas e pouchs) não apresentam</p><p>conservantes, como antioxidantes ou antifúngicos, a sua conserva-</p><p>ção é garantida pela esterilização em autoclave e pela embalagem a</p><p>vácuo e metalizada;</p><p>b) são completos e balanceados e podem ser fornecidos como alimen-</p><p>tação única para o animal;</p><p>c) são a única forma segura de aumentar a ingestão de água pelos</p><p>felinos, e inúmeros estudos demonstraram que adicionar água a</p><p>alimentos secos não resulta necessariamente em diluição urinária,</p><p>mas alimentar gatos exclusivamente com dietas úmidas resulta em</p><p>aumento expressivo da ingestão total de água e produção de urina</p><p>(CARCIOFI et al., 2005);</p><p>d) alimentos úmidos não promovem mastigação, diferentemente do</p><p>verificado com os alimentos secos, de modo que o proprietário deve</p><p>buscar alternativas, como a escovação dental para melhorar a saúde</p><p>oral dos animais.</p><p>84</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>3.2) Dietas caseiras (por questões de marketing, inapropriadamente</p><p>denominadas, na atualidade, “naturais”), é uma categoria de ali-</p><p>mento úmido, com interesse crescente em nosso país. Trata-se do</p><p>emprego de ingredientes, produzidos para alimentação humana,</p><p>que são utilizados para cães e gatos. Seu processamento é por cozi-</p><p>mento atmosférico ou assamento (alguns itens) em sistema con-</p><p>vencional, como no preparo de refeições para pessoas. O fato de o</p><p>tutor ter “controle” da compra, seleção e preparo dos ingredientes</p><p>e da refeição cria a sensação de se estar seguro quanto à qualidade</p><p>alimentar.</p><p>Infelizmente, a realidade é oposta a isto!!! São raras as dietas casei-</p><p>ras que se apresentam de forma completa e balanceada, sendo a grande</p><p>maioria delas desbalanceada, expondo cães e gatos a doenças nutricionais,</p><p>menor imunidade, piora do curso de doenças clínicas, comprometimento</p><p>da qualidade dos pelos, com limitação do bem-estar e saúde dos animais</p><p>(LARSEN et al., 2012; HEINZE; GOMEZ; FREEMAN, 2012; STREIFF et al., 2002;</p><p>REMILLARD, 2008; NIZA; VILELA; FERREIRA, 2003; DOBENECKER, 1998).</p><p>Desta forma, no inquérito alimentar, animais que recebem dietas caseiras ou</p><p>proporção importante de dietas caseiras (> 40% da ingestão alimentar) devem</p><p>ser classificados como sob forte risco de desnutrição (PEDRINELLI; GOMES;</p><p>CARCIOFI, 2017).</p><p>Mais adiante, neste texto, no item “Práticas nutricionais que podem</p><p>resultar no comprometimento do bem-estar de cães e gatos”, os riscos, asso-</p><p>ciados ao emprego de dietas caseiras, serão discutidos em maior profundi-</p><p>dade. Exceção se faz para formulações que foram desenvolvidas por nutri-</p><p>cionistas habilitados, médicos-veterinários ou zootecnistas que demonstram,</p><p>em seus currículos, treinamento e habilitação consistentes, para executar</p><p>corretamente o balanceamento nutricional dos 45 nutrientes, essenciais para</p><p>cães e gatos!</p><p>Alguns pontos relevantes:</p><p>a) formulações, estabelecidas por nutricionista habilitado, devem vir</p><p>acompanhadas da composição nutricional provável de todos os</p><p>nutrientes, listados nas Tabelas 1 e 2. A soma desses nutrientes pode</p><p>advir das matérias-primas e suplementos empregados;</p><p>85</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>b) os valores de energia, proteína, gordura, fibra e minerais empre-</p><p>gados devem estar claros e cientificamente coerentes, bem como</p><p>compatíveis com as necessidades nutricionais do cão ou gato em</p><p>questão;</p><p>c) o emprego de suplementos vitamínico-minerais é praticamente</p><p>obrigatório, porque formulações práticas – que têm, por isto</p><p>mesmo, por base ingredientes cultivados e produzidos para o ser</p><p>humano – não atingem os teores mínimos de minerais e vitami-</p><p>nas, se não forem complementados com suplementos minerais e</p><p>vitamínicos comerciais, adequados e especificamente balanceados</p><p>para complementarem dietas caseiras. A ausência de vísceras espe-</p><p>cíficas, como intestino, cérebro, olho, pele, fígado e ossos, tornam</p><p>necessários esses suplementos. Cereais, legumes, verduras, frutas</p><p>e tecido muscular (carne, podendo ser de qualquer espécie: frango,</p><p>bovino, peixes etc.) não fornecem os minerais e as vitaminas que</p><p>cães e gatos necessitam, em função de sua história evolutiva ali-</p><p>mentar, como discutido no início deste texto;</p><p>d) tutores mudam as receitas e tornam a dieta desbalanceada, incom-</p><p>pleta e com perfil nutricional inadequado para o animal! Em um</p><p>estudo que entrevistou 59 proprietários que receberam formulação</p><p>adequada de alimento caseiro, após seis meses de uso, haviam sido</p><p>realizadas mudanças importantes no tipo e na proporção de ingre-</p><p>dientes, com supressão de óleos, sal, suplemento vitamínico-mineral</p><p>e das fontes de fibra, havendo aumento das carnes, bem como redução</p><p>dos cereais e legumes etc. (OLIVEIRA et al., 2014). Assim, o acompa-</p><p>nhamento nutricional, a longo prazo, é necessário e deve fazer parte</p><p>do planejamento de emprego de formulações caseiras. Proprietários</p><p>podem não compreender exatamente a função de cada item, alteram</p><p>a dieta e colocam os seus animais sob elevado risco alimentar;</p><p>e) esse tipo de alimento compete diretamente com a alimentação do</p><p>ser humano, apresenta elevada pegada de carbono, custos ambien-</p><p>tais e financeiros diretos elevados, aumentando, de maneira signi-</p><p>ficativa, o impacto dos animais domésticos e do próprio ser humano</p><p>no planeta (SWANSON et al., 2013; OKIN, 2017). Nesse quesito, o ali-</p><p>mento seco extrusado segue sendo a melhor opção alimentar, com</p><p>balanço ecológico muito mais favorável.</p><p>86</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>QUANTO E QUANDO FORNECER O ALIMENTO</p><p>Escolhido o alimento, a dieta pode ser estabelecida, respondendo a</p><p>mais estas duas questões: “quantas gramas oferecer e qual o horário e quan-</p><p>tidade em cada refeição”. Para os fins deste texto, define-se “dieta” como</p><p>aquilo que o animal consome em um período de 24 horas. Com isto, o esta-</p><p>belecimento da dieta inclui duas decisões importantes – o alimento em si e a</p><p>quantidade a ser fornecida.</p><p>Nesse contexto, a definição da quantidade de alimento é etapa impor-</p><p>tante. De modo ideal, as calorias, necessárias para a manutenção do indivíduo,</p><p>devem ser tomadas no inquérito alimentar: a soma das calorias, correspon-</p><p>dentes a cada um dos itens alimentares consumidos, representa a ingestão</p><p>energética de manutenção do animal. Portanto, se o animal recebe diaria-</p><p>mente determinada quantidade de ração seca, algumas fatias de presunto,</p><p>determinada quantia de pão francês e uma fruta, o nutricionista determina</p><p>as calorias de cada um destes alimentos, multiplica pela quantidade ingerida,</p><p>e a soma destas corresponde às calorias diárias da dieta deste animal.</p><p>Este deve ser o esforço principal do inquérito alimentar, apesar de</p><p>laborioso, sem dúvida, é o modo mais correto de se estimar a necessidade de</p><p>calorias do indivíduo. Uma ressalva: pelo procedimento, avalia-se a ingestão</p><p>de calorias, mas isto não significa que esta seja a ideal. Animais, com desvios</p><p>no ECC para menos ou para mais, estarão ingerindo, respectivamente, menos</p><p>calorias ou mais calorias que o necessário, e isto deve, então, ser corrigido na</p><p>proposição de energia que o nutricionista irá fazer.</p><p>Na ausência de dados seguros ou suficientes no inquérito alimentar,</p><p>a proposição de calorias pode ser arbitrária. Esta é realizada por meio de</p><p>fórmulas que estimarão a “provável” necessidade de calorias do indivíduo,</p><p>com base em seu peso corporal e fatores subjetivos, tomados na anamnese.</p><p>Pode-se empregar para animais adultos, como ponto de partida:</p><p>Cães > Necessidade de energia (kcal/dia) = (Peso Corporal, kg)0,75 x fator k*</p><p>Gatos > Necessidade de energia (kcal/dia) = (Peso Corporal, kg)0,67 x fator k</p><p>pouco espinhosos para inserção na</p><p>prática veterinária, como o bem-estar dos animais no ambiente domés-</p><p>tico, facetas da relação humano-animal e a comunicação como estratégia</p><p>clínica essencial.</p><p>Ao ler esta obra, você vai sair mais informado, mais instrumentalizado</p><p>para a prática clínica, mais intrigado e com certeza se perguntando sobre</p><p>mais assuntos do que antes imaginava. Boa leitura!</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>Tenho uma imensa gratidão a todas as pessoas que, de uma forma ou</p><p>outra, contribuíram para a concretização deste livro.</p><p>Sem sombra de dúvida, a primeira pessoa a quem agradeço, por sua</p><p>dedicação e generosidade é ao Dr. Alexandre Develey, representante da</p><p>Academia Paulista de Medicina Veterinária nesta jornada, que tem sido um</p><p>parceiro incrível.</p><p>À Royal Canin e à Mars Petcare, em especial, por sua compreensão</p><p>sobre a relevância do tema, encorajamento e o inestimável apoio que permi-</p><p>tiu a este livro se tornar uma realidade e algo de que todos nós nos orgulha-</p><p>mos em oferecer à classe veterinária.</p><p>Aos autores dos diferentes capítulos, convidados com base em sua</p><p>sólida formação clínica e profundo conhecimento da Etologia aplicada aos</p><p>cães e gatos e suas interfaces, um imenso agradecimento.</p><p>Elaborar um livro é uma tarefa árdua e só foi possível graças a ajuda na</p><p>revisão técnica dos capítulos pelo MV Guilherme Soares, na revisão ortográ-</p><p>fica por Magaly Ferreira e na tradução pelo MV Cid Figueiredo.</p><p>Agradeço finalmente à minha família – Felipe e Rafael – e aos meus</p><p>amigos por estarem longe ou perto, mas ao meu lado.</p><p>ANIMAIS DE COMPANHIA:</p><p>CICLO FAMILIAR, PAPÉIS E TIPOS DE INTERAÇÃO</p><p>Capítulo 1</p><p>Sandra McCune – Reino Unido</p><p>12</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>O PAPEL DO VETERINÁRIO NAS INTERAÇÕES ANIMAL DE COMPANHIA:</p><p>FAMÍLIA HUMANA</p><p>A relação com o animal de companhia, também chamado como animal</p><p>de estimação, é uma das grandes alegrias da vida. É crescente o número de</p><p>pesquisas que têm demonstrado que esses animais também trazem benefí-</p><p>cios para a saúde e o bem-estar de todos, além de serem excelentes facilita-</p><p>dores sociais, criando novos vínculos entre pessoas. Cientistas, ao estudarem</p><p>esse relacionamento tão especial, descobriram que os tutores e os animais</p><p>são muito beneficiados, principalmente quando a ligação entre ambos é forte.</p><p>A firmeza desse vínculo se constrói com o cuidado e o amor que o tutor tem</p><p>pelo seu animal e com o amor e o suporte recebidos, como retorno. Desta</p><p>forma, os veterinários possuem um papel decisivo não apenas na proteção da</p><p>saúde e na promoção do bem-estar dos animais, como também, na configu-</p><p>ração das expectativas do tutor, em sua compreensão sobre o cuidado diário</p><p>com o animal, para garantir que laços fortes entre eles sejam desenvolvi-</p><p>dos, o que pode ser mutuamente compensador. De acordo com a American</p><p>Veterinary Medical Association (Associação Médico-Veterinária Americana), o</p><p>papel do veterinário, nesse contexto, é “maximizar o potencial da relação</p><p>entre as pessoas e os animais e, em especial, promover a saúde e o bem-estar</p><p>de ambos” (AVMA, 2018).</p><p>Quanto à guarda responsável de cães e gatos, esta é definida como “a</p><p>responsabilidade do tutor fornecer um bom cuidado em relação às necessi-</p><p>dades do seu gato/cão por toda a vida dele” (MARS PETCARE; PET BRANDS,</p><p>2018, on line). Isso inclui criar melhores condições para que cão ou gato</p><p>seja feliz, saudável e bem-socializado, e desfrute de um estado positivo de</p><p>bem-estar. Tais aspectos enriquecem a vida das famílias, da sociedade como</p><p>um todo e minimizam riscos potenciais que possam representar para os</p><p>grupos sociais, para outros animais ou o ambiente. Além das implicações</p><p>para o bem-estar dos animais de companhia, a posse irresponsável pode</p><p>gerar consequências negativas para a sociedade, como animais perambu-</p><p>lando nas ruas, provocando perturbação por latidos, sujeira ou mordeduras.</p><p>No Quadro 1, a seguir, são apresentadas as razões pelas quais as pessoas têm</p><p>um animal de estimação.</p><p>13</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>Quadro 1 – Por que ter um animal de estimação? Argumentação teórica</p><p>Hipótese da Biofilia Os humanos possuem uma tendência inata</p><p>para procurar conexões com a natureza e as</p><p>outras formas de vida.</p><p>Teoria do Suporte Social A necessidade humana de ser amada,</p><p>valorizada e de ter pertencimento, ser</p><p>indispensável.</p><p>Teoria do Apego Um vínculo emocional profundo e duradouro</p><p>que conecta uma pessoa a outro animal</p><p>(mediado pelo hormônio ocitocina).</p><p>Neotenia Retenção das características juvenis que</p><p>acionam a tendência humana de atração por</p><p>faces semelhantes às dos bebês.</p><p>Fonte: adaptado de Julius (2013) e Beck (2014)</p><p>AJUDAR OS TUTORES PARA O DESENVOLVIMENTO DE VÍNCULOS</p><p>FORTALECIDOS COM OS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO</p><p>A melhor relação inicia-se quando são consideradas as característi-</p><p>cas particulares do animal em harmonia com as necessidades da família, do</p><p>seu estilo de vida e do contexto doméstico. Uma boa combinação significa</p><p>que as necessidades de saúde e bem-estar animal podem ser alcançadas e,</p><p>desta forma, a família obterá muitos benefícios.</p><p>No que diz respeito aos criadores de cães e gatos, as más práticas</p><p>devem ser identificadas e evitadas, o que reduzirá os riscos dos problemas</p><p>de comportamento e de saúde. Esses problemas podem ter impacto, a longo</p><p>prazo, na qualidade da relação do animal com a família adotante. No Quadro 2,</p><p>estão listados os aspectos a serem considerados na adoção de animais.</p><p>14</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 2 – Aspectos a serem considerados nos locais de comércio dos cães e gatos</p><p>Pontos de verificação Notas</p><p>Compra em pet shops ou pela</p><p>Internet</p><p>Avaliar o estado de saúde e de bem-estar pode ser difícil.</p><p>Condições de acasalamento Avaliar os padrões de acasalamento.</p><p>Saúde geral de filhotes Verificar as condições gerais e o peso, sinais clínicos,</p><p>parasitas, pele e orelhas, comportamento, locomoção etc.</p><p>Socialização precoce (˂8 semanas) Considerar a exposição a outros animais* (espécies</p><p>diferentes), a grupos diversos de seres humanos, ambientes</p><p>variados (p. ex., ruídos altos, ambientes domésticos).</p><p>Histórico de saúde Verificar vacinações, everminações e outras medidas</p><p>preventivas.</p><p>Histórico parental Conhecer a mãe (de preferência também o pai),</p><p>para avaliar a saúde e o bem-estar, bem como o</p><p>temperamento (sinais de medo, agressividade ou</p><p>de ser amistosa e segura): preferencialmente na</p><p>companhia de filhotes, para observar a qualidade</p><p>do cuidado parental.</p><p>* Filhotes não vacinados só devem ser expostos a cães conhecidos e vacinados.</p><p>Fonte: Sandra Mc Cune</p><p>CÃES E GATOS, PROVENIENTES DE CENTROS DE RESGATE (ABRIGOS)</p><p>Adotar um cão ou um gato, proveniente de centros de resgate, pode</p><p>ser gratificante. Dependendo do manejo dos animais no abrigo, este pode</p><p>ser um local importante, para encontrar cães e gatos castrados, vacinados e</p><p>treinados, que podem ser excelentes animais de estimação. O abrigo ideal é</p><p>aquele que prepara o animal para a futura transição ao seu novo lar e dispõe</p><p>do tempo necessário para identificar e trabalhar os potenciais problemas</p><p>comportamentais, se existirem (TUBER, 1999).</p><p>Muitos abrigos buscam afinidades para indicar o animal de esti-</p><p>mação para cada família, a fim de maximizar as possibilidades de adoção</p><p>bem-sucedida. Isso pode envolver o preenchimento de um questionário,</p><p>uma visita à casa dos futuros tutores e o encontro com animais já residentes</p><p>em território neutro, para assegurar a compatibilidade. Alguns desses locais</p><p>oferecem aulas de adestramento, a fim de reduzir o risco de o gato ou cão</p><p>retornar ao abrigo.</p><p>15</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>PONTOS CHAVE DE INTERAÇÃO ENTRE O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO E A</p><p>SUA FAMÍLIA ADOTANTE</p><p>1. Ambiente doméstico</p><p>Uma das ações que pode ajudar a reduzir o estresse e fazer com que</p><p>o animal enfrente os desafios é oferecer a ele certo grau de controle do</p><p>ambiente físico e interações sociais.</p><p>Logo que introduzidos em um</p><p>*Este “fator k” é estabelecido em experimentos, podendo variar largamente entre indivíduos, em função da</p><p>raça, sexo, condição corporal, estado reprodutivo, castração, ambiente, idade, atividade física, composição</p><p>da dieta, época do ano, doenças e muitos outros aspectos.</p><p>87</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>Percebe-se, assim, que a equação proposta apresenta um fator objetivo,</p><p>o peso ou massa corporal, tomado em balança, e um fator bastante subjetivo,</p><p>dependente da interpretação e experiência prática do nutricionista. Logo, sem-</p><p>pre que empregadas tais equações, estas devem ser consideradas apenas como</p><p>um ponto de partida! É necessário acompanhar posteriormente o peso corporal</p><p>do indivíduo por algumas semanas, verificando se este mantém o peso corporal</p><p>saudável. Caso ocorram alterações não desejáveis, a quantidade fornecida deve</p><p>ser reajustada. Sugestões de fatores k são apresentados na Tabela 7.</p><p>Tabela 7 – Sugestões de fatores “k” para estimativa da necessidade energética de manutenção</p><p>de cães e gatos</p><p>Fator proposto (sugestão!) Para quê? Para quem (exemplos)?</p><p>Cães</p><p>Muito baixa</p><p>necessidade</p><p>170 Manutenção, evitar</p><p>perda de peso</p><p>Animais muito ativos que fazem muito</p><p>exercício, algumas raças muito ativas,</p><p>doenças com hipermetabolismo</p><p>Gatos</p><p>Muito baixa</p><p>necessidade</p><p>110 Manutenção, evitar</p><p>perda de peso</p><p>Animais ativos não castrados, machos,</p><p>com acesso à rua, doenças com</p><p>hipermetabolismo</p><p>Exemplo - gato macho, não castrado, não obeso, com livre acesso à rua, pesando 5kg.: necessidade</p><p>energética = (5)0,67 x 100 = 2,94 x 100 = 294 kcal por dia.</p><p>Fonte: Serviço de Nutrição Clínica de Cães e Gatos. Hospital Veterinário da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal.</p><p>88</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Estimada a necessidade energética por qualquer um desses dois meios,</p><p>pelo inquérito alimentar ou emprego das equações, a quantidade total de ali-</p><p>mento poderá ser conseguida, dividindo-se a necessidade estimada de quilo-</p><p>calorias pela quantidade de quilocalorias de energia metabolizável (EM), por</p><p>grama do alimento selecionado. Para alimentos comerciais secos, semiúmi-</p><p>dos ou úmidos, apesar de não ser informação obrigatória de rótulo, empresas</p><p>mais técnicas costumam informar estes valores na embalagem, panfletos ou</p><p>materiais técnicos impressos ou eletrônicos. No exemplo da Tabela 7, por se</p><p>tratar de gato ativo não obeso, sugere-se alimento de alta energia (Tabela 3):</p><p>Quantidade de alimento por dia =</p><p>necessidade de energia ÷ energia metabolizável do alimento</p><p>Quantidade de alimento por dia =</p><p>294 (kcal/kg/dia) ÷ 4 (kcal EM/g de alimento)</p><p>Quantidade de alimento por dia = 73,5 ou 74 gramas por dia.</p><p>Pode ocorrer de a empresa não fornecer informação da quantidade de</p><p>energia metabolizável do alimento, a qual pode ser estimada com base em</p><p>sua composição química. Foge ao escopo deste texto pormenorizar esse pro-</p><p>cedimento, que se encontra detalhado nas Diretrizes Nutricionais da FEDIAF</p><p>(2019) para alimentos completos e complementares para cães e gatos. Essa</p><p>publicação é gratuita, e o procedimento está descrito no item VIII – Anexos,</p><p>subitem 2 – Energia. A versão, gratuita em português, pode ser conseguida</p><p>em www.cbna.com.br (site do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal).</p><p>A quantidade total de alimento, estimada conforme a rotina de proce-</p><p>dimentos descrita, pode ser fornecida em uma ou mais refeições, e isto deve</p><p>ser estabelecido em conjunto com o tutor. Do ponto de vista fisiológico, cães</p><p>apresentam elevada capacidade de ingerir alimentos por refeição, podendo,</p><p>desta forma, receber uma única refeição ao dia. Isto resulta de seus hábi-</p><p>tos ancestrais, quando caçavam, em conjunto, animais maiores e, logo após</p><p>o abate, ingeriam, com voracidade, de maneira rápida, uma grande refei-</p><p>ção. Entretanto, tutores podem considerar inapropriado fornecer uma única</p><p>alimentação ao dia, e, apesar da grande maioria de cães adaptar-se perfei-</p><p>tamente a este manejo, preferem dividir esta quantidade em duas ou mais</p><p>http://www.cbna.com.br</p><p>89</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>refeições. Na realidade, existe flexibilidade na frequência de oferta alimentar,</p><p>que pode seguir as preferências da família ou acomodar-se às particularida-</p><p>des de cada animal em relação à sua interação com o alimento.</p><p>Gatos, de maneira distinta, acomodam-se melhor à realização de</p><p>pequenas refeições ao longo do dia e da noite (FITZGERALD; TURNER, 2000;</p><p>BRADSHAW, 2006; NRC, 2006a). Seu hábito ancestral de caçar pequenas pre-</p><p>sas e as consumir devagar ainda permanece em boa parte dos gatos domés-</p><p>ticos. É frequente realizarem entre 15 e 25 pequenas refeições, no período de</p><p>24 horas. Nem todos os gatos, contudo, seguem este padrão, e boa parte dos</p><p>indivíduos é glutona, consome rapidamente o alimento no espaço de pou-</p><p>cas horas e desenvolve comportamentos de “mendicância”, solicitando mais</p><p>comida.</p><p>É importante reconhecer que mais de 50% dos gatos estão em condição</p><p>de sobrepeso e 30% são obesos (ÖHLUND; PALMGREN; HOLST, 2018), e que a</p><p>prevalência do sobrepeso e obesidade, na população felina, pode variar entre</p><p>11,5 a 63% (TARKOSOVA et al., 2016). O surgimento de obesidade é favorecido</p><p>pela castração, confinamento, com mínima possibilidade de exercício e for-</p><p>necimento ad libitum (RUSSELL et al., 2000; ROWE et al., 2015) de rações de</p><p>alta energia (> 3,8 kcal/g, > 15% de gordura).</p><p>A obesidade é uma situação metabólica grave em felinos, que resulta</p><p>em expressivo aumento da ocorrência de diabetes mellitus, problemas loco-</p><p>motores, distúrbios hepáticos e má qualidade da pele (ÖHLUND; PALMGREN;</p><p>HOLST, 2018). Esse problema se caracteriza por estado inflamatório crônico,</p><p>associado a alterações na sinalização intracelular da insulina e expressão de</p><p>transportadores de glicose na membrana celular. Com o tempo, se estabe-</p><p>lece resistência insulínica, glicotoxicidade e diabetes mellitus tipo 2 nos gatos</p><p>(VERBRUGGHE et al., 2012). Destaca-se que o médico-veterinário e o nutri-</p><p>cionista têm um papel fundamental na prevenção, no controle e no trata-</p><p>mento dessa doença.</p><p>É imperioso, assim, estabelecer a necessidade de calorias do animal e</p><p>respeitá-la, não fornecendo mais alimento do que o necessário para que este</p><p>mantenha peso corporal saudável. Sugere-se, para isto, que a quantidade</p><p>total diária calculada seja dividida em duas ou três refeições, de acordo com</p><p>as preferências do tutor, e estas sejam disponibilizadas ao animal para con-</p><p>sumo. Se o gato ingerir toda a quantidade fornecida, deverá aguardar até o</p><p>horário da próxima refeição, não devendo receber mais alimento ou petiscos,</p><p>90</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>mesmo que expresse comportamentos insistentes de mendicância, caso con-</p><p>trário, o resultado será ganho de peso, obesidade, má qualidade de vida e</p><p>comprometimento do bem-estar do animal.</p><p>CONTROLE E ACOMPANHAMENTO</p><p>Após instituído o plano nutricional, as avaliações periódicas devem ser</p><p>realizadas. A efetividade da prescrição em atender às necessidades</p><p>especí-</p><p>ficas do indivíduo deve ser acompanhada. Para animais saudáveis, o atingi-</p><p>mento de peso corporal ideal (com ECC entre 4 e 5, para cães e 5 para gatos,</p><p>EMM 3); boa qualidade da pele e pelos; teores bioquímicos, como glicose,</p><p>albumina, triglicérides e colesterol; e valores de hemograma dentro da faixa</p><p>de normalidade são aspectos que dão indícios de adequada competência</p><p>nutricional. Animais, com doenças específicas ou obesidade, terão outros cri-</p><p>térios e metas de acompanhamento, mas estes fogem ao escopo do presente</p><p>texto. As limitações desse procedimento, no entanto, devem ser consideradas</p><p>com clareza:</p><p>� muitos nutrientes apresentam reservas orgânicas que demoram, às</p><p>vezes, meses para serem consumidas;</p><p>� consequências clínicas de doenças nutricionais podem ser discretas</p><p>e de difícil percepção;</p><p>� o sistema imune é bastante acometido pela desnutrição, e os sinto-</p><p>mas, apresentados pelo animal, podem decorrer de infecções e não</p><p>serem considerados consequentes ao alimento;</p><p>� o meio de se avaliar o status orgânico dos nutrientes inclui dosagens</p><p>bioquímicas e exames muito específicos, que, além de caros, não</p><p>estão facilmente disponíveis.</p><p>Com isto, é importante considerar a seguinte mensagem: uma</p><p>aparente normalidade ao exame físico, hemograma e bioquímica sérica</p><p>básica, de modo algum, garante que o animal esteja corretamente nutrido</p><p>e saudável!</p><p>Reajustes na quantidade, para que o peso corporal seja mantido cons-</p><p>tante, podem ser simples e diretos, reduzindo ou aumentando, em 5 ou 10%, a</p><p>91</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>quantidade de calorias fornecida. Sugere-se, de início, que o processo ocorra</p><p>a cada 2 ou 3 semanas e não, menos que 1 vez ao mês.</p><p>Pode-se examinar, também, a produção e a qualidade das fezes. A qua-</p><p>lidade das fezes pode ser avaliada, com base no seguinte sistema de escore</p><p>fecal, segundo Carciofi et al. (2008):</p><p>0 = fezes líquidas;</p><p>1 = fezes pastosas e sem forma;</p><p>2 = fezes macias, mal formadas e que assumem o formato do recipiente</p><p>de colheita;</p><p>3 = fezes macias, formadas e úmidas, que marcam o piso;</p><p>4 = fezes bem formadas e consistentes e que não aderem ao piso;</p><p>5 = fezes bem formadas, duras e secas.</p><p>Fezes, em escore 4, são consideradas ideais, enquanto escores inferiores</p><p>indicam má absorção ou excesso de fibra, e escore 5, fezes ressecadas.</p><p>PRÁTICAS NUTRICIONAIS QUE PODEM RESULTAR NO</p><p>COMPROMETIMENTO DO BEM-ESTAR DE CÃES E GATOS</p><p>Utilização de dietas caseiras</p><p>Fornecer dieta, nutricionalmente adequada, ou seja, completa (com os</p><p>45 nutrientes essenciais) e balanceada (com todos os nutrientes nas quan-</p><p>tidades necessárias e em equilíbrio), faz parte dos cuidados diários com os</p><p>animais e é essencial para manter a saúde, promover o bem-estar e a longevi-</p><p>dade. Recentemente, tem-se percebido uma tendência ao uso de dietas casei-</p><p>ras no Brasil, as quais, na maior parte das vezes, infelizmente, não cumprem</p><p>com os requisitos de segurança alimentar, como já anteriormente abordado</p><p>no item “3.2) Dietas caseiras”.</p><p>Algumas das motivações que poderiam explicar essa tendência são:</p><p>a) incapacidade de compreender os rótulos dos alimentos comerciais</p><p>para animais de estimação;</p><p>b) preocupação com a presença de conservantes, corantes alimentares</p><p>e outros aditivos ou ingredientes de baixa qualidade;</p><p>92</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>c) desejo de cozinhar para os seus animais de estimação, como forma</p><p>de aumentar o vínculo humano-animal;</p><p>d) informações fantasiosas, desprovidas de base científica, dispo-</p><p>nibilizadas em grande quantidade na mídia sensacionalista e</p><p>mesmo por colegas veterinários, os quais apontam malefícios de</p><p>rações (PEDRINELLI; GOMES; CARCIOFI, 2017; MICHEL, 2006;</p><p>REMILLARD, 2008).</p><p>Tutores, no entanto, nem sempre reconhecem que as dietas caseiras</p><p>são mais caras, demandam preparação mais complexa e laboriosa, necessi-</p><p>tam de ingredientes e suplementos específicos, para torná-las completas e</p><p>devem ser formuladas por médico veterinário ou zootecnista, devidamente</p><p>treinado e qualificado para este fim (PEDRINELLI; GOMES; CARCIOFI, 2017;</p><p>MICHEL, 2006; REMILLARD, 2008). Além disso, possuem balanço ecológico</p><p>desfavorável, aumentando o impacto da sociedade no meio ambiente (OKIN,</p><p>2017).</p><p>A grande disponibilidade de receitas de alimentos para pets, acessíveis</p><p>a qualquer pessoa via Internet, é uma preocupação permanente dos profissio-</p><p>nais que atuam nessa especialidade. Mesmo as dietas assinadas por médicos</p><p>veterinários, sem treinamento correto, mostram-se inadequadas, com múl-</p><p>tiplas deficiências nutricionais.</p><p>Em um levantamento feito por Pedrinelli, Gomes e Carciofi (2017), que</p><p>incluiu 106 receitas, cuja composição nutricional foi estimada e comparada</p><p>com as recomendações nutricionais de cães (Tabela 1) e gatos (Tabela 2). Em</p><p>outro artigo (FEDIAF, 2014), constatou-se que todas as dietas tinham, pelo</p><p>menos, um nutriente abaixo das recomendações, e todos os nutrientes inves-</p><p>tigados eram, no mínimo, deficientes em uma dieta.</p><p>Chamou atenção, nessa pesquisa (FEDIAF, 2014), a elevada incidência de</p><p>deficiência (valor na dieta abaixo do mínimo necessário) de muitos nutrien-</p><p>tes: a deficiência de cálcio ocorreu em 73,2% das formulações; de potássio, em</p><p>58,5%; de sódio, em 40,2% (sódio é nutriente essencial para cães!); de zinco,</p><p>em 75,6%; de cobre, em 85,4%; de ferro, em 68,3%; de vitamina B1, em 39%;</p><p>de ácido pantotênico, em 48,8%; de vitamina B12, em 61%; de vitamina D, em</p><p>74,4%; de vitamina E, em 82,9%; e de colina, em 85,4% das receitas.</p><p>Os autores concluíram que a situação é preocupante e que essas</p><p>receitas expõem os animais a múltiplas deficiências nutricionais, sendo de</p><p>93</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>suma importância conscientizar os tutores sobre os riscos, associados ao seu</p><p>fornecimento.</p><p>Outro risco, associado ao uso dessas dietas, também já abordado no</p><p>item “3.2) Dietas caseiras”, é a flexibilidade que elas conferem durante o seu</p><p>preparo e fornecimento, tendo sido verificado que, entre 30 e 60% dos tuto-</p><p>res, que utilizaram dietas caseiras, alteraram os ingredientes e/ou suas pro-</p><p>porções (OLIVEIRA et al., 2014; HALFEN et al., 2017).</p><p>Essas alterações resultam no desbalanceamento nutricional das dietas,</p><p>que podem tornar-se inapropriadas para os animais. Desta forma, o profis-</p><p>sional da nutrição deve sempre acompanhar, com muito cuidado, a saúde</p><p>de indivíduos alimentados com dietas caseiras, e não é muito enfatizar a</p><p>atenção que se deve ter ao item “Alguns pontos relevantes”, destacados ante-</p><p>riormente na seção “3.2) Dietas caseiras”.</p><p>Por fim, os produtos, chamados “alimentos naturais”, comercializa-</p><p>dos por empresas, também entendidas como dietas de “boutique”, podem</p><p>apresentar os mesmos inconvenientes das dietas preparadas em casa. Um</p><p>estudo, realizado por Di Donato, Hudson e Gomes (2019), que incluiu 47 pro-</p><p>dutos, alegados completos e balanceados para cães adultos, comercializados</p><p>na cidade de São Paulo por 20 empresas diferentes, identificou que 100% dos</p><p>produtos possuíam, pelo menos, uma não conformidade com a rotulagem e</p><p>que 23% destes nem mesmo apresentavam todas as informações obrigatórias,</p><p>segundo a IN n.° 30 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento</p><p>(MAPA) (BRASIL, 2009).</p><p>As dietas foram analisas em laboratório e, quando comparadas com</p><p>as recomendações para cães adultos da FEDIAF (2018), os teores de cálcio,</p><p>fósforo, gordura e proteína estavam deficientes em 52%, 21%, 20% e 6,5% das</p><p>dietas, respectivamente.</p><p>As análises laboratoriais do estudo não se estenderam a aminoácidos,</p><p>microelementos, ácidos graxos e vitaminas, mas, em função dos erros gros-</p><p>seiros detectados na composição centesimal, é de se supor que muitas outras</p><p>deficiências pudessem estar presentes.</p><p>Como conclusão, ressalta-se que, embora as dietas caseiras sejam uma</p><p>opção possível para uso na alimentação de cães e gatos, a sua indicação deve</p><p>ser feita com critérios, quais sejam:</p><p>a) estar apoiada por profissionais devidamente qualificados em</p><p>nutrição;</p><p>94</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>b) ter segurança de que se trata de formulação completa e balanceada,</p><p>com todos os 45 nutrientes essenciais;</p><p>c) garantir que o tutor esteja devidamente informado e consciente de</p><p>como prepará-la e servi-la;</p><p>d) que o tutor esteja consciente e aceite os riscos nutricionais aos</p><p>quais os cães e gatos podem estar expostos.</p><p>FALTA DE CONTROLE DA INGESTÃO DE CALORIAS</p><p>A obesidade é definida como um excesso de gordura corporal, sufi-</p><p>ciente para prejudicar as funções fisiológicas do organismo (FREEMAN et al.,</p><p>2006; PEÑA et al., 2008; GERMAN et al., 2010; MAO et al., 2013; ALONSO et al.,</p><p>2017). Na atualidade, é a doença nutricional de maior incidência na rotina clí-</p><p>nica de cães e gatos, e estima-se que 55% dos cães e 53% dos gatos, no mundo</p><p>todo, apresentam sobrepeso (SKINKE; JANUSKEVICIUS, 2018; MCGREEVY et</p><p>al., 2005; GERMAN, 2006; ZORAN, 2010; ALONSO et al., 2017).</p><p>É reconhecido que a obesidade é condição patológica multifatorial, que</p><p>compromete as funções orgânicas normais do indivíduo, e o seu impacto é</p><p>variável para cada animal e proporcional ao grau de obesidade e ao tempo</p><p>em que este permanece obeso (LARSEN; VILLAVERDE, 2016; GERMAN, 2006).</p><p>As alterações, associadas à obesidade, incluem aumento da ocorrência</p><p>de osteoartrites, diabetes mellitus tipo II em felinos, alterações respiratórias,</p><p>com dificuldade de ventilação pulmonar, e trocas gasosas em cães, distúrbios</p><p>urinários e reprodutivos, além de hiperlipidemia, afecções orais, pancreatite,</p><p>dermatites não alérgicas e alguns tipos de neoplasias (GERMAN, 2006; LUND</p><p>et al., 2006; BACH et al., 2007; CAVE et al., 2012; TARKOSOVA et al., 2016;</p><p>PEREIRA NETO et al., 2018).</p><p>Chamam a atenção em cães as alterações osteoarticulares e expres-</p><p>siva redução da capacidade respiratória (PEREIRA NETO et al., 2018). Cães</p><p>obesos normalmente apresentam-se cansados, ofegantes, e sua tensão de</p><p>O2 arterial é menor. É notório como a perda de peso resolve esses sintomas,</p><p>assim como melhora o bem-estar e a qualidade de vida de cães. Um estudo</p><p>em cães, bastante emblemático, também demonstrou que animais obesos</p><p>vivem, em média, 15% menos, o que pode significar algo como 1,5 a 2 anos de</p><p>vida (KEALY et al., 2002).</p><p>95</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>Em felinos, um dos pontos negativos mais relevantes é a associação</p><p>entre obesidade e diabetes mellitus, como já destacado no item “Quanto e</p><p>quando fornecer o alimento”, na parte de gatos. O fenômeno inicial, no sur-</p><p>gimento do diabetes, parece ser a resistência periférica à ação da insulina,</p><p>processo desencadeado nos gatos pelo excesso de tecido adiposo que leva à</p><p>inflamação crônica (VERBRUGGHE et al., 2012). Essa condição foge ao objetivo</p><p>deste texto, porém ela requer uma revisão mais extensa.</p><p>Os tutores podem contribuir, de forma significativa, para o ganho de</p><p>peso inconveniente em seus animais, seja devido às dificuldades de ajustes</p><p>individuais das necessidades alimentares, por não identificarem a presença</p><p>de sobrepeso e obesidade em seu animal, pela oferta indiscriminada de</p><p>petiscos e restos de mesa, ignorando o seu valor energético, pelo estímulo ao</p><p>comportamento de súplica por alimento, erroneamente considerado forma</p><p>“normal” de interação humano-animal e, por fim, por não oportunizarem</p><p>uma prática suficiente de exercícios físicos (BLAND et al., 2010; MUNOZ-</p><p>PRIETO et al., 2018).</p><p>Foi constatado que tutores subestimam em 20% ou 30% a presença de</p><p>sobrepeso em seus cães (SINGH, et al., 2002). Da mesma maneira, foi encon-</p><p>trada uma relação significativa entre o grau de sobrepeso de cães e o índice</p><p>de massa corporal de seus donos (MCGREEVY et al., 2005). No Brasil, não</p><p>existem muitas publicações específicas, mas acredita-se que a obesidade</p><p>esteja associada ao consumo de ração, mais alimento caseiro e/ou petiscos.</p><p>A ração permanece sempre disponível, ad libitum, e, no horário das</p><p>refeições da família, o animal também recebe alimento caseiro, o que conduz</p><p>a um superconsumo de calorias. Fatores internos, como endocrinopatias,</p><p>podem corresponder à pequena fração dos casos de obesidade, devendo ser</p><p>investigados.</p><p>Fica claro, então, que o profissional da nutrição, médico veterinário</p><p>ou zootecnista têm como uma de suas funções conscientizar os proprietários</p><p>dos malefícios da obesidade, ensiná-los e treiná-los a reconhecer a condição</p><p>corporal dos animais, por meio do emprego do ECC e estabelecer, junto com</p><p>estes protocolos alimentares eficientes, a prevenção ou corrigir esta condi-</p><p>ção. Para isto, destacam-se os itens “Avaliação nutricional”, “A escolha do ali-</p><p>mento” e “Quanto e quando fornecer o alimento”, anteriormente abordados.</p><p>Animais, com baixa necessidade energética ou tendência à obesidade, devem</p><p>receber alimento de baixas calorias e gorduras, com elevada proteína e fibra e</p><p>96</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>na quantidade correta para manterem o peso corporal constante. Essas metas</p><p>devem estar claras tanto para o profissional da nutrição como para o tutor.</p><p>UTILIZAÇÃO DE DIETAS VEGETARIANAS E VEGANAS</p><p>Escolhas alimentares têm forte influência cultural, social e filosófica no</p><p>ser humano. Dentro de nossa diversidade individual e coletiva, muitas vezes</p><p>orientada para a complicação, necessitamos atender às exigências emocio-</p><p>nais, de valores éticos, filosóficos ou religiosos. Assim, definir com o que nos</p><p>alimentarmos passa bem longe de uma lógica puramente científica e técnica.</p><p>Escolhas, orientadas para forte consumo de carne ou veganismo, vegetais</p><p>crus ou fast food, convivem, às vezes, na mesma família.</p><p>Por vezes, observam-se situações nas quais cães e gatos passam a ser</p><p>“vítimas” das escolhas ideológicas de seus tutores. Empregamos o termo</p><p>“vítima”, pois, no contexto em que vivem, confinados no espaço de uma</p><p>família humana, na realidade, os animais pouco podem expressar os seus</p><p>comportamentos alimentares naturais e definir o que comer. Por uma coin-</p><p>cidência, os dois autores deste texto são médicos veterinários vegetarianos</p><p>há décadas! Isto não significa, porém, que esses valores culturais, filosóficos</p><p>ou mesmo religiosos, válidos para o ser humano, sejam transferíveis para os</p><p>carnívoros domésticos.</p><p>Questões, como respeito às diversidades e particularidades do metabo-</p><p>lismo e anatomia de cães e gatos, brevemente abordadas no tópico “Evolução</p><p>alimentar e as particularidades nutricionais de cães e gatos”, dispõem sobre</p><p>a necessidade de respeitá-los, tanto quanto possível, em sua história natu-</p><p>ral, preferências alimentares (que são claramente carnívoras, em ensaios de</p><p>palatabilidade) e particularidades metabólicas e nutricionais.</p><p>Uma especial atenção deve-se ter quanto à proteína, cálcio, vitamina D,</p><p>vitamina A, ácido araquidônico, ácido eicosapentaenoico, ácido docosaexae-</p><p>noico, taurina, metionina, arginina, triptofano, glicose, niacina e piridoxina.</p><p>É fato que as suas necessidades nutricionais e comportamentais são mais</p><p>facilmente atendidas quando, além dos vegetais, significativa quantidade de</p><p>tecidos animais, como gorduras, músculos, vísceras e ossos, são incluídos.</p><p>Um estudo recente explorou os motivos de uso e compreensão dos</p><p>tutores a respeito de dietas vegetarianas e veganas (DODD et al., 2019).</p><p>97</p><p>A relação nutrição e bem-estar em cães e gatos</p><p>Os autores discutem o impacto de diferentes concepções ideológicas nas</p><p>decisões alimentares dos animais. Enquanto o debate filosófico continua,</p><p>muitas publicações indicam insuficiência nutricional de dietas, baseadas em</p><p>vegetais, tanto em produtos comerciais (GRAY; SELLON; FREEMAN, 2004;</p><p>WAKEFIELD et al., 2006; KANAKUBO; FASCETTI; LARSEN, 2015; ZAFALON</p><p>et al., 2020) quanto em formulações caseiras (WAKEFIELD et al., 2006).</p><p>Como exemplo, no estudo realizado por Zafalon et al. (2020), foram</p><p>examinados quatro alimentos comerciais veganos, disponíveis no mercado</p><p>brasileiro. Os autores analisaram os produtos em relação à composição de</p><p>macronutrientes, perfil de ácidos graxos, aminoácidos</p><p>e minerais essenciais,</p><p>comparando os resultados obtidos com as recomendações nutricionais para</p><p>cães e gatos adultos da Fédération Européenne de L’industrie des Aliments pour</p><p>Animaux Familiers (FEDIAF) (2019) e da Association of American Feed Control</p><p>Officials (AAFCO) (2019).</p><p>Apesar da composição de macronutrientes ter sido adequada, com cál-</p><p>cio, fósforo, sódio, metionina, arginina e taurina, entre outros nutrientes,</p><p>apresentaram concentrações menores que o recomendado em, pelo menos,</p><p>um dos produtos. Teores de zinco e cobre excessivos, acima do limite seguro</p><p>máximo, foram também verificados. Frente aos desequilíbrios nutricionais</p><p>observados, os autores concluíram que essas rações não devem ser recomen-</p><p>dadas para a alimentação de cães e gatos, visto que as inadequações encon-</p><p>tradas conferem riscos à saúde desses animais.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Neste texto, são apontados os princípios da avaliação da competência</p><p>nutricional de cães e gatos e como planejar a sua alimentação, incluindo cri-</p><p>térios para seleção da composição nutricional e tipo de alimento, quantidade</p><p>a ser fornecida e frequência de fornecimento. São ainda sugeridos critérios</p><p>de acompanhamento da suficiência alimentar. Práticas desaconselháveis, que</p><p>podem expor cães e gatos ao aumento das chances de desnutrição, são tam-</p><p>bém brevemente revisadas. Evidencia-se, em todo o processo, a participa-</p><p>ção fundamental da nutrição na expressão de comportamentos saudáveis e</p><p>no bem-estar de cães e gatos.</p><p>98</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AAFFCO - Association of American Feed Control Officials. 2019 AAFCO</p><p>Annual Meeting Committee Reports. University of Kentucky. Regulatory</p><p>Services of Agriculture, Food and Environment, August 5-7, 2019.</p><p>ALONSO, J. A.; BAUTISTA-CASTAÑO, I.; PEÑA, C.; SUÁREZ, L.; JUSTE, M. C.;</p><p>TVARIJONAVICIUTE, A. Prevalence of canine obesity, obesity-related</p><p>metabolic dysfunction, and relationship with owner obesity in an obe-</p><p>sogenic region of Spain. Frontiers in Veterinary Science, v. 4, n. 59, p.2-5,</p><p>2017.</p><p>BACH, J. F.; ROZANSKI,E. A.; BEDENICE,D.; CHAN,D. L; FREEMAN,L. M;</p><p>LOFGREN,J. L. S; OURA,T. J; HOFFMAN; A. M. 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Por esse motivo, a comunidade veteri-</p><p>nária tem o dever ético de educar a sociedade e promover a proteção animal,</p><p>bem como ter, na prevenção desses problemas, uma prioridade. É preciso</p><p>não esquecer que a prevenção é uma das melhores formas de fazer uma ver-</p><p>dadeira Medicina.</p><p>DESENVOLVIMENTO CEREBRAL APÓS O NASCIMENTO</p><p>O processo de mielinização (responsável pelo aumento da velocidade</p><p>da condução elétrica dentro do neurônio e entre neurônios) dos nervos, asso-</p><p>ciados às funções básicas de alimentação, equilíbrio e ajuste de postura, tem</p><p>o seu início logo após o nascimento (OVERALL, 2013). No entanto, a deposição</p><p>de mielina, na maioria dos restantes circuitos neuronais, faz-se de forma</p><p>progressiva, coincidindo também com as progressivas alterações de com-</p><p>portamento, típicas de cada etapa do desenvolvimento do animal (FOX, 1971).</p><p>A mielinização do córtex cerebral progride mais rapidamente após</p><p>esse período. Por volta das oito semanas, por exemplo, o cérebro de um</p><p>filhote produz padrões de eletroencéfalograma já semelhantes aos de um</p><p>cão adulto. Mas, a partir da décima semana, esse processo de mielinização</p><p>começa a abrandar, tornando-se relativamente estável por volta das 14-20</p><p>semanas (FOX, 1971; OVERALL, 2013).</p><p>PERÍODOS DE DESENVOLVIMENTO COMPORTAMENTAL</p><p>Os períodos de desenvolvimento comportamental de cães e gatos,</p><p>embora variem em sua duração, seguem a mesma sequência de eventos em</p><p>107</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>todos os indivíduos (LANDSBERG; HUNTHAUSEN; ACKERMAN, 2013). Assim,</p><p>durante o desenvolvimento intrauterino, começam a ser moldados os padrões</p><p>comportamentais do indivíduo. Apesar de não existirem muitos dados relativos</p><p>a cães, as evidências científicas alertam para a necessidade de se assegurar um</p><p>ambiente adequado ao animal gestante, para que o desenvolvimento da ninhada</p><p>possa ser equilibrado. Vários estudos em seres humanos demonstraram que a</p><p>exposição da mãe a situações de estresse, que originam níveis elevados de cor-</p><p>tisol durante o desenvolvimento embrionário, afetarão o futuro temperamento</p><p>do bebê, assim como a sua capacidade cognitiva e padrão comportamental</p><p>(BERGMAN; SARKAR; O’CONNOR; MODI; GLOVER, 2007; DAVIS et al., 2007).</p><p>Logo após o nascimento, durante o denominado “período neonatal”,</p><p>o recém-nascido deverá receber contato humano direto e gentil, de forma</p><p>a ficar habituado e familiarizado a ele, o que resultará não apenas em um</p><p>animal mais confiante e curioso, mas também, com uma maior capacidade</p><p>de aprendizagem e emocionalmente mais estável (SELEY, 1952; FOX, 1968;</p><p>GAZZANO, MARITI, NOTARI, SIGHIERI; MCBRIDE, 2008). Pelo contrário, a</p><p>falta de estimulação, nessa fase, poderá levar os filhotes a uma reatividade</p><p>aumentada, sobretudo, a estímulos tácteis, como o toque (OVERALL, 2013).</p><p>Durante a fase seguinte, no de transição, inicia-se a interação do</p><p>filhote com outros indivíduos, começando, assim, a construir os padrões</p><p>de comportamento social do futuro adulto (HOUPT, 2011). Já, nesse período,</p><p>os filhotes não apenas serão beneficiados pela exposição a novos estímulos</p><p>auditivos e visuais, como também, pelo contato com outros cães, sempre</p><p>de forma controlada, positiva, gradual e por curtos períodos de tempo</p><p>(LANDSBERG et al., 2013; OVERALL, 2013).</p><p>Depois, entra-se em um período importantíssimo, chamado de</p><p>“período de socialização” pela maioria dos autores. No geral, conhecido</p><p>como um “período crítico”, é, na verdade, mais corretamente denominado</p><p>“período sensível” (OVERALL, 2013). Para Overall (2013), o termo “sensí-</p><p>vel” apresenta algumas vantagens, tais como: (1) não implica uma rigidez</p><p>temporal, uma vez que se leva em consideração a variabilidade individual</p><p>– diferentes indivíduos poderão ser beneficiados por uma exposição mais</p><p>precoce e outros, por uma exposição mais tardia; (2) não é exclusivo, uma</p><p>vez que a não exposição a outros animais, nessa fase, não significa neces-</p><p>sariamente um impedimento à aprendizagem em uma exposição mais tar-</p><p>dia, nem o aparecimento de uma doença comportamental no futuro; e (3)</p><p>108</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>engloba tanto o processo de socialização quanto o de habituação. Uma vez</p><p>que, nesse período, o córtex cerebral se encontra suficientemente desen-</p><p>volvido, já poderão começar a associar estímulos específicos às emoções</p><p>negativas, secundárias ao medo. Além disso, o filhote começa a memorizar</p><p>as experiências que absorve como negativas e que poderão influenciar o seu</p><p>futuro comportamento social (FOX, 1971; FOX; BEKOFF, 1975). Entretanto,</p><p>esse é um mecanismo de aprendizagem normal que promove a adapta-</p><p>ção do animal ao ambiente (OVERALL, 2013). Portanto, quando, do ponto</p><p>de vista neurológico, o filhote se torna apto a responder a um determi-</p><p>nado estímulo, beneficia-se da exposição a este. Pelo contrário, se não for</p><p>exposto ao estímulo, terá uma maior predisposição para o desenvolvimento</p><p>de problemas comportamentais, relacionados a esse estímulo (SCOTT, 1963;</p><p>BACON; STANLEY, 1970; SERPELL; JAGOE, 1995; OVERALL, 2013). Contudo,</p><p>o acesso aos novos estímulos deve estar assegurado e ser realizado de uma</p><p>forma controlada e associada a algo positivo. Tal associação positiva deverá</p><p>ser feita para todo o tipo de estímulos com que o animal terá de se relacio-</p><p>nar na vida</p><p>futura. Na ausência de uma exposição a esses estímulos, poderá</p><p>desenvolver-se um inadequado comportamento de brincadeira, medo do</p><p>desconhecido (neofobia), sobretudo de sons (hipersensibilidade aos sons),</p><p>de pessoas e/ou de outros animais (OVERALL, 2013). Uma vez que o medo</p><p>está na base da maioria dos problemas de agressividade (LEY; COLEMAN;</p><p>HOLMES; HEMSWORTH, 2007), conseguir-se-á prevenir ambos os proble-</p><p>mas comportamentais . Então, pode-se concluir que esse período sensível é</p><p>uma fase de desenvolvimento de padrões de comportamento social (SCOTT;</p><p>FULLER, 1965), sendo, por isto, de extrema importância.</p><p>Em suma, o comportamento do animal pode ser visto como a interação</p><p>de três fatores principais: o processo contínuo de aprendizagem (o animal</p><p>está sempre aprendendo); o ambiente ou o contexto em que está inserido; e</p><p>a variação individual que explica porque determinados indivíduos poderão</p><p>ser sensíveis a estímulos específicos e outros não, mas uma possível predis-</p><p>posição para desenvolverem diferentes respostas comportamentais perante</p><p>esse mesmo estímulo (DUFFY; HSU; SERPELL, 2008; SACHSER et al., 2013;</p><p>ZOVKIC et al., 2013).</p><p>No Quadro 1, abaixo, podem ser vistos os estágios de desenvolvimento do</p><p>filhote canino. Mas é preciso lembrar sempre que há variações individuais que</p><p>fogem ao padrão apresentado e que as mesmas idades não se aplicam aos gatos.</p><p>109</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>Quadro 1 – Estágios de desenvolvimento do filhote canino</p><p>Idade Características</p><p>Período Neonatal</p><p>0 a 2 semanas</p><p>Olhos e ouvidos fechados</p><p>Contato íntimo com a mãe</p><p>Período de transição</p><p>2 a 4 semanas</p><p>Início da interação com o</p><p>mundo</p><p>Aumento de mobilidade</p><p>Período de socialização</p><p>4 a 12 semanas</p><p>Aprendizados marcantes</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>110</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>PREVENÇÃO</p><p>Socialização, habituação e estimulação em cachorros</p><p>Muitos tutores e (infelizmente) profissionais da Veterinária têm a</p><p>ideia errônea de que o processo de socialização, realizado pelos novos</p><p>responsáveis, só deverá ter início, quando terminado o programa de vaci-</p><p>nação. No entanto, é do interesse do animal e da sociedade, em geral, que</p><p>as práticas ativas de socialização sejam iniciadas muito antes do final do</p><p>esquema de imunização. Importa garantir as condições higienico-sanitá-</p><p>rias do ambiente em que se inserem, assim como o estado de vacinação</p><p>dos outros animais, envolvidos nesse processo (AVSAB, 2008). Uma das</p><p>formas mais fáceis e adequadas de promover uma correta socialização</p><p>e habituação nessa fase é a participação dos filhotes, até as 14 semanas,</p><p>em “aulas de socialização para filhotes” (DUXBURY et al., 2003; AVSAB,</p><p>2008; SEKSEL, 2008; YIN, 2009; LANDSBERG et al., 2013). Todavia, é fun-</p><p>damental que essas aulas sejam orientadas por profissionais, podendo</p><p>estar estruturadas de diferentes maneiras. O mais importante é que os</p><p>animais sejam expostos, de forma gradual e continuada, a outras pessoas,</p><p>a objetos (escova, cortadores de unhas, coleira, guia, brinquedos, entre</p><p>outros) e os filhotes tenham idade semelhante, porém tudo isto em um</p><p>ambiente controlado, adequado e sempre positivo. Deverá ser aproveitada</p><p>essa oportunidade para ajudar os tutores a ensinar as regras básicas de</p><p>convivência em sociedade aos seus cachorros. Alguns profissionais optam</p><p>por uma primeira aula apenas para tutores (se possível, até mesmo antes</p><p>da aquisição do filhote), podendo, assim, tranquilamente transmitir toda</p><p>as informações relevantes nessa fase. A seguir, nas Figuras de 1 a 8, são</p><p>apresentadas as formas de exposição a objetos e pessoas.</p><p>111</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>Figura 1</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 2</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 3</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 4</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 5</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 6</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>112</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Figura 7</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Figura 8</p><p>Fonte: foto de autoria de Maridée Cervantes</p><p>Outra vantagem das aulas de socialização para filhotes é que estas</p><p>são também uma oportunidade para detectar comportamentos que sejam o</p><p>indício do desenvolvimento de problemas comportamentais no futuro. Por</p><p>exemplo, um cachorro que se apresente extremamente tímido e medroso,</p><p>mesmo com uma exposição gradual a diferentes estímulos e não apresente</p><p>melhorias em sua resposta, deverá ser referenciado para acompanha-</p><p>mento por um especialista em Medicina Comportamental, para que se faça</p><p>um diagnóstico e se prepare um plano terapêutico adequado para o caso</p><p>(OVERALL, 2013).</p><p>Além dessas aulas, o treino de comportamentos básicos deveria ser</p><p>uma prioridade para todos os tutores, uma vez que faz parte do conjunto</p><p>de medidas de prevenção de problemas comportamentais (SEKSEL, 2008).</p><p>Usando técnicas e metodologias adequadas de treino (recorrendo a reforço</p><p>positivo, claro e consistente), estabelece-se uma via de excelência e única</p><p>de comunicação entre tutor e animal, conseguindo sobrepor-se à maioria</p><p>dos estímulos (BENNET; ROHLF, 2007). Pelo treino adequado, consegue-se</p><p>um maior controle do comportamento do cão e, tão ou mais importante,</p><p>permite que o cão aprenda um conjunto de comportamentos simples, com</p><p>respostas previsíveis, que poderão ser empregadas em qualquer situação.</p><p>Além disso, em momentos de maior insegurança, caso tenha sido usado</p><p>sempre reforço positivo, ao solicitar uma determinada resposta simples</p><p>e previsível, pode-se mudar o estado emotivo do animal, conseguindo,</p><p>portanto, ajudá-lo a ultrapassar essa situação. Também, fortalece o vínculo</p><p>entre cão e humano (MARSTON; BENNETT, 2003).</p><p>113</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>Finalmente, ressalta-se que todos os animais necessitam de um</p><p>ambiente estimulante durante as diferentes fases de sua vida, que preencha</p><p>tanto as necessidades de exercício físico como os estimule a fazer as suas</p><p>próprias escolhas, recorrendo a desafios mentais (SEKSEL, 2008). Quando,</p><p>em ambientes monótonos e pouco estimulantes, por promoverem abor-</p><p>recimento ou frustração, têm uma maior predisposição para desenvolver</p><p>comportamentos indesejados, tais como destruição ou excessiva vocalização</p><p>(LANDSBERG et al., 2013; OVERALL, 2013) Assim, se evitarmos problemas de</p><p>comportamento e aumentarmos o vínculo entre o tutor e o seu cão, consegui-</p><p>remos diminuir a probabilidade de abandono deste (BENNETT. ROHLF, 2007).</p><p>Socialização, habituação e estimulação em gatos</p><p>Ao contrário do que se pensava há alguns anos, que os gatos eram con-</p><p>siderados carnívoros associais, que preferiam estar sozinhos e não tinham</p><p>necessidade de companhia, hoje, pelo contrário, sabemos que é uma espécie</p><p>social, que interage regularmente com coespecíficos e contata frequente e</p><p>efetivamente com humanos (VOITH; BORCHELT, 1986; CROWELL-DAVIS,</p><p>2005). Entretanto, a socialização dos gatos, tanto com pessoas quanto com</p><p>coespecíficos, é influenciada por muitos fatores, tais como falhas na socia-</p><p>lização precoce, como exposição a outros gatos e a seres humanos, além da</p><p>influência genética (MCCUNE; MCPHERSON; BRADSHAW, 1995; CROWELL-</p><p>DAVIS; CURTIS. KNOWLES, 2004). Os resultados, apresentados por McCune</p><p>(1995), claramente demonstraram que a manipulação precoce produz dife-</p><p>renças significativas na afabilidade dos gatos em relação a pessoas e que este</p><p>manejo dos gatinhos torna-os adultos mais amigáveis. Também, os descen-</p><p>dentes de pais que toleravam bem os humanos eram mais afáveis e ficavam</p><p>menos ansiosos quando tocados por pessoas. No entanto, crias, cujos proge-</p><p>nitores eram menos afáveis e não socializados, apresentavam mais posturas</p><p>de agachamento, de sibilos e de se esconder, bem como expressões de agres-</p><p>sividade</p><p>(BOWEN; HEATH, 2005), quando próximos de uma pessoa.</p><p>Os benefícios, quando se aumenta a socialização em idade precoce dos</p><p>gatinhos, são salientados também por Casey e Bradshaw (2008) em um estudo</p><p>realizado em abrigos, cujos resultados demonstraram o seguinte: os que</p><p>receberam socialização adicional eram, de forma evidente, menos medrosos</p><p>114</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>do que os que passaram por uma interação normal com os tratadores. Além</p><p>disso, concluíram que os gatos, socializados mais cedo, criavam vínculos mais</p><p>fortes com os seus tutores.</p><p>Apesar de serem criticadas por alguns comportamentalistas, devido</p><p>ao possível estresse, causado pela aceitação de outros gatos ou indivíduos de</p><p>espécies diferentes, as “aulas de socialização para gatinhos” poderão ser um</p><p>processo de aprendizagem especial a ser levado em consideração. Ao expô-</p><p>-los a vários estímulos não ameaçadores, poder-se-á melhorar a sua sociali-</p><p>zação (SEKSEL; MAZURSKI; TAYLOR, 1999; SEKSEL, 2008). Nessas aulas, des-</p><p>critas por Seksel (2008), permite-se que os gatinhos brinquem entre eles e</p><p>sejam expostos a pessoas de diferentes idades e gêneros. Essa exposição, em</p><p>conjunto com o reforço positivo, ajuda os gatinhos a adaptarem-se melhor</p><p>a possíveis mudanças que possam ocorrer, tornando o gato mais preparado</p><p>para aceitar, sem medo, novos ambientes e experiências (RODAN et al., 2011).</p><p>Ainda, nessas aulas, os tutores podem não somente aprender o significado</p><p>do comportamento dos gatos, mas também fazer exercícios com eles, como</p><p>treino e brincadeiras. Tendo em vista ser comum encontrar gatos adultos</p><p>com agressividade predatória dirigida a pessoas, este é o melhor momento</p><p>para prevenir e ensinar os tutores a brincarem adequadamente com o seu</p><p>gatinho (que crescerá e saberá que mãos ou pés dos tutores não são presas).</p><p>Tal como muitos outros mamíferos, os gatos precisam ter experiên-</p><p>cias com os seus coespecíficos, para desenvolverem comportamentos sociais</p><p>espécie-específicos apropriados. Não há qualquer dúvida de que, quando</p><p>se adota um gatinho, e este é mantido sozinho em uma casa, perderá uma</p><p>aprendizagem do comportamento social, que poderá estar na origem de</p><p>falhas, quando adulto, na forma de interagir com outros gatos, apresen-</p><p>tando agressividade e outros problemas comportamentais, se houver uma</p><p>tentativa de introduzir outro gato no mesmo ambiente (CROWELL-DAVIS</p><p>et al., 2004). Ainda, uma vez que tanto gatos de colônias ferais como domés-</p><p>ticos distinguem os membros do seu grupo de estranhos, rupturas sérias</p><p>da organização social poderão ocorrer, se um novo gato se juntar ao grupo</p><p>(CROWELL-DAVIS, 2005). Desta forma, a ausência de mecanismos de recon-</p><p>ciliação pós-conflito e de um repertório comportamental para aumentar a</p><p>distância entre indivíduos fará com que eles evitem desconhecidos. Por isto,</p><p>sugere-se que seja feita uma distribuição espacial e padrões de partilha do</p><p>espaço em tempos alternados, o que permitirá tolerar a presença de outros</p><p>115</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>gatos no grupo, limitando as suas interações e reduzindo, consequente-</p><p>mente, os comportamentos agonísticos (VAN DEN BOS, 1998; ROCHLITZ,</p><p>1999; BOWEN; HEATH, 2005). No entanto, se os recursos, disponíveis para</p><p>cada indivíduo, forem insuficientes, poderão surgir conflitos devido à com-</p><p>petição. É essencial, então, garantir que haja recursos suficientes, disponí-</p><p>veis para todos os gatos, seguindo habitualmente a regra de “N+1”, em que</p><p>N corresponde ao número de gatos. Essa regra deverá ser aplicada a todos</p><p>os recursos, isto é, comedouros, bebedouros, caixa de areia , arranhadores,</p><p>locais de descanso e esconderijos. É preciso ainda considerar a localização</p><p>de todos esses recursos, que deverão não só estar espalhados pelo território,</p><p>como ainda, separados uns dos outros.</p><p>Há, entretanto, uma variedade de vínculos e estilos de interações entre</p><p>pessoas e gatos. Para alguns gatos, os tutores são apenas a origem da comida;</p><p>outros cumprimentam-nos quando estes regressam à casa; e alguns compar-</p><p>tilham um passeio. Essa variedade de comportamentos depende da robustez</p><p>do vínculo entre os tutores e os seus animais (por exemplo, a necessidade de</p><p>estar ao lado um do outro), da qualidade da ligação que têm (relacionada à</p><p>sensação de segurança e proteção que cada um oferece ao outro em casos de</p><p>situações estressantes) e das atividades que fazem juntos (interações e rituais</p><p>comportamentais que desenvolvem) (BERNSTEIN; FRIEDMANN, 2014). Um</p><p>estudo, realizado pela equipe liderada por Edwards (2007), demonstrou que</p><p>os gatos passam mais tempo em locomoção e exploração, quando o tutor está</p><p>presente do que quando ficam sozinhos ou com um desconhecido. Uma vez</p><p>que, nos gatos, a locomoção é um indicador de vinculação e quietude, bem</p><p>como de estresse, estes resultados mostram que há um vínculo entre o gato e</p><p>os seus tutores (CARLSTEAD et al., 1992; KESSLER; TURNER, 1997; KESSLER;</p><p>TURNER, 1998; EDWARDS et al., 2007) e que, embora apresentem níveis de</p><p>destruição menores que os cães, também podem sofrer de problemas, rela-</p><p>cionados à separação (EDWARDS et al., 2007). Apesar da existência clara desse</p><p>vínculo com os tutores, tal como entre ambos, as interações são poucas em</p><p>número e duram menos de um minuto. São as pessoas quem se aproximam</p><p>mais frequentemente dos gatos, do que o contrário, e, quando é o gato que</p><p>aborda o humano, a interação é mais longa (MERTENS, 1991).</p><p>Uma das interações mais comuns que os humanos têm com os seus</p><p>gatos é o afago (BERNSTEIN; FRIEDMANN, 2014). Os tutores identificam par-</p><p>tes específicas do corpo e também locais na casa, onde os gatos preferem</p><p>116</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>ser afagados (BERNSTEIN, 2000). Alguns expõem certas áreas do corpo,</p><p>para serem acariciadas, e mostram claramente respostas positivas e nega-</p><p>tivas, de acordo com a área que está sendo afagada (BERNSTEIN, 2000;</p><p>SOENNICHSEN; CHAMOVE, 2002). Porém, um problema de comportamento</p><p>comum é a agressividade dos gatos nesses momentos. Por um lado, o des-</p><p>conhecimento dos tutores sobre essas atitudes dos gatos leva a não com-</p><p>preenderem os sinais negativos de desconforto pelo local onde estão sendo</p><p>tocados. Por outro lado, fazem uma incorreta interpretação do comporta-</p><p>mento do gato. Por exemplo, quando se movimentam e expõem o abdômen,</p><p>um comportamento natural que visa ao cumprimento, é, muitas vezes, inter-</p><p>pretado, de forma errônea, como se estivesse pedindo carícias na barriga,</p><p>podendo originar uma resposta de agressividade.</p><p>CONCLUSÃO</p><p>A prevenção de problemas comportamentais começa pela educação</p><p>dos tutores. Em resposta à ampla promoção de (des)informação desatuali-</p><p>zada e prejudicial para o bem-estar dos animais veiculada por vários meios</p><p>de comunicação social, torna-se fundamental que os médicos veterinários</p><p>forneçam aos seus clientes informações de qualidade, atualizadas e práticas</p><p>a respeito da melhor forma de promover a saúde física, emocional e mental</p><p>dos animais (SEKSEL, 2008).</p><p>Assim, é preciso que os profissionais dessa área estejam preparados,</p><p>disponibilizando um serviço de aconselhamento aos tutores que conte-</p><p>nha: a) lista de material informativo (folhetos, livros, websites, DVDs, entre</p><p>outros); b) locais de aquisição; c) características mais apropriadas do ani-</p><p>mal, de acordo com o seu ambiente futuro (espécie, raça, gênero, idade etc.);</p><p>d) cuidados básicos como o novo animal (comida, cama, exercício físico,</p><p>estimulação mental, brinquedos, cuidados médicos, necessidades de super-</p><p>visão etc.); e) obrigações legais conforme o local de residência (microchip,</p><p>inscrição nas autoridades competentes, vacinação); f) acessórios apropria-</p><p>dos coleiras, peitorais, focinheiras ; g) treino (básico, importância do reforço</p><p>positivo); h) socialização e habituação; e i) noções básicas de comportamento</p><p>(comportamento normal, de acordo com a idade e como identificar potenciais</p><p>comportamentos problemáticos)</p><p>(SEKSEL, 2008; MARDER; DUXBURY, 2008;</p><p>117</p><p>Prevenção de problemas de comportamento: orientação sobre o desenvolvimento de filhotes</p><p>OVERALL, 2013; LANDSBERG et al., 2013).O resultado do impacto da forma-</p><p>ção, adequada e qualificada aos tutores, promovendo uma interação saudável</p><p>e uma diminuição de problemas comportamentais, já está comprovado por</p><p>estudos que mostram a sua importância (GAZZANO; MARITI; ALVARES et al.,</p><p>2008). Por isso, no futuro, aposta-se sempre na formação dos profissionais</p><p>que, depois, irão transmitir informações importantes aos tutores. Esse será</p><p>o caminho não somente em nome da prevenção dos problemas de compor-</p><p>tamento, mas também, do bem-estar animal. No Quadro 2, apresenta-se um</p><p>material útil, para aconselhamento de tutores.</p><p>Quadro 2 – Material para aconselhamento de tutores</p><p>� lista de material informativo (folhetos,</p><p>livros, websites, DVDs, entre outros); locais</p><p>de aquisição;</p><p>� características mais apropriadas do ani-</p><p>mal, de acordo com o seu ambiente futuro</p><p>(espécie, raça, gênero, idade etc.);</p><p>� cuidados básicos como novo animal</p><p>(comida, cama, exercício físico, estimula-</p><p>ção mental, brinquedos, cuidados médicos,</p><p>necessidades de supervisão etc.);</p><p>� obrigações legais (microchip, inscrição nas</p><p>autoridades competentes, vacinação);</p><p>� acessórios apropriados (coleiras, peitorais,</p><p>focinheiras etc.);</p><p>� treino (básico, importância do reforço</p><p>positivo);</p><p>� socialização e habituação;</p><p>� noções básicas de comportamento (com-</p><p>portamento normal, de acordo com a idade</p><p>e como identificar potenciais comporta-</p><p>mentos problemáticos)</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AVSAB. 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Usa-se erroneamente esse termo</p><p>para designar aspectos que perturbam o bem-estar e o sossego do indivíduo.</p><p>Mas, na verdade, o estresse é uma resposta fisiológica, cujo objetivo é manter o</p><p>indivíduo vivo e capaz de reagir aos revezes ambientais. Na presença do estres-</p><p>sor (este sim é o responsável por perturbar o equilíbrio do meio interno do</p><p>organismo), os indivíduos reagem, ativando três vias de resposta: a divisão sim-</p><p>pática do sistema nervoso autônomo, a liberação de adrenalina (que potencializa</p><p>e somatiza a primeira resposta) e a liberação de glicocorticóides (em humanos e</p><p>cães, libera-se o cortisol). Tais respostas são totalmente involuntárias e deixam</p><p>o indivíduo pronto para enfrentar seu estressor, portanto têm, como propósito,</p><p>manter o indivíduo vivo. Porém, se o referido processo não finda, leva o indi-</p><p>víduo aos efeitos colaterais dessa resposta. Quando isso acontece, o estresse é</p><p>classificado como nocivo e pode trazer uma série de problemas à saúde do indi-</p><p>víduo. Os principais vilões, nesse caso, são a adrenalina, que provoca alterações</p><p>cardiovasculares significativas, e o cortisol, que bloqueia diversas vias metabóli-</p><p>cas de síntese proteica, para manter a glicemia alta, levando o indivíduo à hiper-</p><p>glicemia e à carência de uma série de proteínas, inclusive anticorpos, o que o</p><p>predispõe ao surgimento de uma série de doenças secundárias ao estresse.</p><p>Medo, pânico e ansiedade são “versões” do estresse que se diferenciam</p><p>pela intensidade e pelo tipo de estressor (Figura 1). O medo é uma resposta</p><p>de estresse imediata e compatível com o estímulo estressor, ou seja, o indi-</p><p>víduo percebe (com seus sentidos) a presença do estressor e reage a isso.</p><p>O pânico também é uma resposta de estresse, contudo, de altíssima intensi-</p><p>dade e totalmente desproporcional ao estressor. É, por exemplo, o que ocorre</p><p>quando uma pessoa tem taquicardia e taquipneia por estar em um lugar de</p><p>pequenas dimensões, como um elevador, e a resposta de estresse é despro-</p><p>porcional à remotíssima probabilidade de o elevador cair ou de o oxigênio se</p><p>extinguir. Portanto, quando um cão pula um muro alto ou destrói um portão</p><p>de madeira maciça, quando tenta fugir por ter medo de fogos ou trovoadas,</p><p>na verdade, o animal apresenta um ataque de pânico, e, com a repetição,</p><p>classifica-se o quadro como um transtorno fóbico.</p><p>127</p><p>Transtornos de ansiedade e medo em cães</p><p>Bocejo, lambedura de</p><p>focinho, salivação</p><p>moderada, sapateios</p><p>Tremores,</p><p>agressividade,</p><p>tentativa de fuga,</p><p>vocalização excessiva</p><p>Resposta proporcional</p><p>à ameaça</p><p>Presente</p><p>Ausente</p><p>Ansiedade</p><p>Pânico/Fobia</p><p>Medo</p><p>Estressor</p><p>Figura 1 – Diferenciação entre a ansiedade, o pânico/fobia e o medo</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>Já a ansiedade poderia ser definida como o medo do que ainda não acon-</p><p>teceu. Na ansiedade, o indivíduo tem as vias de estresse, ativadas pela amígdala,</p><p>uma estrutura do encéfalo, que funciona como memória adaptativa, guardando,</p><p>por instinto ou ontogenia, o que possa ser lesivo ao organismo. Logo, na ansie-</p><p>dade, a resposta de estresse ocorre sem o estressor presente. Grenier et al.</p><p>(2005) explicam que os distúrbios de ansiedade são como intolerâncias às incer-</p><p>tezas ou às ambiguidades. Por ser uma manifestação de estresse, a ansiedade</p><p>pode ser definida, segundo Overall (1997), como antecipação apreensiva de um</p><p>“perigo” futuro, acompanhada de disforia e/ou alterações somáticas de tensão</p><p>(hipervigilância, hiperatividade autonômica, aumento de atividade motora e</p><p>tensão. Infere-se que mais de 50% dos cães têm problemas de ansiedade ou</p><p>medo, a partir do estudo japonês de Kurachi et al. (2017).</p><p>De maneira geral, a ansiedade se manifesta frequentemente com alguns</p><p>comportamentos, como vocalizações (choros, latidos ou ganidos), movimen-</p><p>tos de sapateios (alternância de apoio entre os membros anteriores), lambe-</p><p>duras repetidas do focinho, bocejos frequentes (Figura 2) e, em casos mais</p><p>intensos, tremores musculares. Podem ser percebidas alterações fisiológicas,</p><p>como midríase, taquicardia e taquipneia. Nos transtornos fóbicos, a manifes-</p><p>tação de medo é bem mais evidente, caracterizada pelo posicionamento da</p><p>cauda entre os membros posteriores, pelos tremores musculares intensos e</p><p>pelo corpo contraído, com perfil agachado (Figura 3). Os transtornos fóbicos e</p><p>de ansiedade impactam significativamente o bem-estar dos cães, contudo, de</p><p>forma negativa, podendo acelerar sinais de envelhecimento, como o embran-</p><p>quecimento dos pelos (KING et al., 2016).</p><p>128</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Figura 2 – Sinais</p><p>de ansiedade:</p><p>bocejo (à esquerda)</p><p>e lambedura de</p><p>focinho (à direita)</p><p>Fonte: foto de autoria</p><p>de Clenir Calleya</p><p>Figura 3 – Postura</p><p>característica de medo</p><p>Fonte: foto de autoria de André</p><p>Nunes Martinez</p><p>ANSIEDADE POR SEPARAÇÃO</p><p>A síndrome de ansiedade por separação em animais (SASA) é um dos</p><p>distúrbios comportamentais mais comuns em cães. Caracteriza-se pela</p><p>exibição de comportamentos “desagradáveis”, quando afastados da figura de</p><p>vínculo. O mais comum é que esses comportamentos se manifestem, quando</p><p>o cão fica sozinho em casa. Os comportamentos mais característicos da sín-</p><p>drome são: vocalização</p><p>novo lar, os gatos precisam sentir-se</p><p>seguros e protegidos. É importante restringir o seu acesso a um único</p><p>aposento e, de forma gradual, ampliar o espaço acessível, para ajudá-lo a</p><p>se familiarizar com o ambiente. O espaço para descanso deverá ser con-</p><p>fortável, localizado onde não fique sujeito a estímulos que causem medo.</p><p>E, inclua enriquecimentos, como algo para esconder-se, por ex. uma caixa</p><p>de papelão (DEFRA, 2013).</p><p>Recursos, como comedouros e bebedouros, caixas de areia e áreas</p><p>para repouso, podem se tornar pontos de conflito, particularmente em casas</p><p>com muitos animais. O ambiente deve estar higienizado, haver distancia-</p><p>mento entre os animais, a possibilidade de usarem diferentes locais, bem</p><p>como uma caixa de areia e um bebedouro adicionais ao número total de gatos</p><p>residentes. O manejo dos comedouros deve respeitar a estrutura social e as</p><p>interações entre os animais, mas deve haver monitoramento da ingestão de</p><p>alimento por cada animal, levando-se em consideração o peso e os escores</p><p>de condição corporal, disponíveis adiante neste texto. Todos esses aspectos</p><p>apontados respeitam as tendências naturais dos animais, aumentam o acesso</p><p>a todo o ambiente e reduzem os conflitos potenciais.</p><p>É preciso considerar também que gatos e cães avaliam seus terri-</p><p>tórios primeiramente pelo olfato. A marcação (por feromônios secretados</p><p>na face e nas patas) tranquiliza e promove sensação de segurança. Sendo</p><p>assim, os tutores devem ser aconselhados a evitar a utilização de substân-</p><p>cias de limpeza que eliminem esses cheiros característicos, bem como de</p><p>produtos com base na amônia, já que o cheiro deste produto pode esti-</p><p>mulá-los a urinar naquela área. Feromônios sintéticos, comercialmente</p><p>disponíveis, também podem ser prescritos.</p><p>16</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Assinala-se ainda que cães e gatos desenvolvem interações positivas,</p><p>consistentes e previsíveis com as pessoas e outros animais residentes. Logo,</p><p>a compreensão das preferências específicas dos animais de companhia pode</p><p>fomentar uma relação mutuamente compensadora.</p><p>Ressalta-se também que os tutores necessitam entender que o gato,</p><p>quando está tranquilo e desejando interagir, ele comunica por meio de sua</p><p>linguagem corporal que inclui piscar lentamente, ronronar, friccionar a face,</p><p>permanecer próximo, assim como, pode rolar calmamente em direção a quem</p><p>está interagindo. (ELLIS et al., 2013; MCCUNE, 1995) (Figura1). No caso dos cães,</p><p>os sinais de tranquilidade e aceitação de interação social incluem a cauda em</p><p>posição neutra, a postura corporal relaxada, a boca ligeiramente aberta e as</p><p>orelhas erguidas (dependendo da raça) (Figura 2).</p><p>São necessárias instruções que expliquem, de forma cuidadosa, como</p><p>introduzir um novo animal na residência, onde já existam outros. A coexis-</p><p>tência harmoniosa entre múltiplos gatos ocorrerá, adotando-se animais com</p><p>parentesco ou com vínculos sociais.</p><p>Figura 1 – Linguagem corporal felina</p><p>relaxada</p><p>Fonte: Sandra McCune</p><p>Figura 2 – Linguagem corporal canina</p><p>relaxada</p><p>Fonte: Sandra McCune</p><p>2. Socialização precoce</p><p>Socialização é um processo pelo qual o filhote estrutura o comporta-</p><p>mento social necessário para se desenvolver de forma a estar bem integrado</p><p>e seguro no grupo familiar (MCCUNE et al., 1995). A socialização adequada</p><p>os ajuda a relaxar e a ter resiliência, para enfrentar a grande variedade de</p><p>experiências e eventos com os quais vão se deparar ao longo de suas vidas.</p><p>17</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>As primeiras semanas de vida são muito importantes para a sua</p><p>socialização (MCCUNE et al., 1995). Existe uma fase específica de socializa-</p><p>ção, denominada “período sensível”, para a formação de elo com pessoas.</p><p>Durante esse período, eles aprendem a aproveitar a companhia de outros</p><p>gatos e cães, bem como de pessoas. Determinados eventos, durante essa</p><p>fase, poderão afetar o comportamento dos animais quando forem adultos e</p><p>suas relações subsequentes (Quadro 3).</p><p>Quadro 3 – Período sensível conforme a espécie canina e felina</p><p>Gato Cão</p><p>2-7 semanas 3-12 semanas</p><p>Nota: Como esses períodos, no geral, terminam antes da chegada ao novo lar, é fundamental estar atento</p><p>para os locais de origem e habilidades dos animais (ver abaixo).</p><p>Fonte: McCune et al. (1995)</p><p>Quadro 4 – Habilidades e atributos chave que ajudam o cão ou o gato a enfrentar os desafios da vida</p><p>Ter confiança</p><p>Lidar com surpresas e aceitar a manipulação</p><p>Ter autocontrole e tolerar frustração</p><p>Acalmar-se</p><p>Aprender a lidar com as expectativas</p><p>Responder a solicitações e comandos, por exemplo, “senta”, “deita”, “fica”, “para trás” e</p><p>memorizar os comandos, ações estas que são importantes para a sua segurança</p><p>Ter boas maneiras</p><p>Fazer as escolhas corretas em situações diferentes</p><p>Fonte: Zulch e Mills (2012)</p><p>3. Alimentação</p><p>Fornecer nutrição adequada é responsabilidade essencial do tutor.</p><p>Portanto, as necessidades nutricionais, específicas caninas e felinas, devem</p><p>ser respeitadas e a quantidade apropriada de calorias deve ser seguida ao</p><p>longo da vida, o que irá auxiliar na prevenção de futuros problemas de saúde.</p><p>É fundamental também que seja fornecida uma dieta completa e</p><p>equilibrada, de alta qualidade e realizadas avaliações nutricionais regulares</p><p>(ALEXANDER et al, 2012 a; GRANDJEAN et al, 2012).14,15 Neste sentido, as dire-</p><p>trizes do Comitê de Nutrição Global da Associação Mundial Veterinária de</p><p>18</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Pequenos Animais (World Small Animal Veterinary Association Global Nutrition</p><p>Comittee) podem ser encontradas no site: http://www.wsava.org/Guidelines/</p><p>Global-Nutrition-Guidelines.</p><p>As necessidades nutricionais variam com o estilo de vida e a faixa etá-</p><p>ria do animal (GRANDJEAN et al., 2012; ALEXANDER et al., 2012 b). O ponto</p><p>principal, em relação à necessidade do monitoramento nutricional cons-</p><p>tante, está na provisão de calorias que devem ser equivalentes às necessi-</p><p>dades individuais. Onde a prevalência de animais obesos ou com sobrepeso</p><p>estiver entre 40 e 59% (GERMAN et al., 2016) e ocorra dificuldade de perda</p><p>de peso, há o risco significativo do gasto de energia não estar adequado. Para</p><p>auxiliar no controle do peso, existe o Escore de Condição Corporal (WSAVA,</p><p>2013) (Figuras 3 e 4), para ser utilizado no monitoramento do peso, conforme</p><p>a etapa de vida do cão ou do gato. O acesso permanente à água também é</p><p>extremamente importante.</p><p>http://www.wsava.org/Guidelines/Global-Nutrition-Guidelines</p><p>http://www.wsava.org/Guidelines/Global-Nutrition-Guidelines</p><p>19</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>ES</p><p>C</p><p>O</p><p>R</p><p>E</p><p>D</p><p>E</p><p>C</p><p>O</p><p>N</p><p>D</p><p>IÇ</p><p>ÃO</p><p>C</p><p>O</p><p>R</p><p>P</p><p>O</p><p>R</p><p>AL</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s,</p><p>c</p><p>o</p><p>lu</p><p>n</p><p>a</p><p>e</p><p>o</p><p>ss</p><p>o</p><p>s</p><p>p</p><p>é</p><p>lv</p><p>ic</p><p>o</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>v</p><p>is</p><p>ív</p><p>e</p><p>is</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>a</p><p>to</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>e</p><p>lo</p><p>c</p><p>u</p><p>rt</p><p>o</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>m</p><p>u</p><p>it</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>re</p><p>it</p><p>a</p><p>.</p><p>P</p><p>e</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>n</p><p>a</p><p>q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>ú</p><p>sc</p><p>u</p><p>lo</p><p>s.</p><p>S</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>l</p><p>n</p><p>a</p><p>ca</p><p>ix</p><p>a</p><p>t</p><p>o</p><p>rá</p><p>ci</p><p>ca</p><p>.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>se</p><p>ve</p><p>ra</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>a</p><p>to</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>e</p><p>lo</p><p>cu</p><p>rt</p><p>o</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>m</p><p>u</p><p>it</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>re</p><p>it</p><p>a</p><p>.</p><p>P</p><p>e</p><p>rd</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>a</p><p>ss</p><p>a</p><p>m</p><p>u</p><p>sc</p><p>u</p><p>la</p><p>r.</p><p>S</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>l</p><p>n</p><p>a</p><p>ca</p><p>ix</p><p>a</p><p>t</p><p>o</p><p>rá</p><p>ci</p><p>ca</p><p>.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>m</p><p>u</p><p>it</p><p>o</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>a</p><p>to</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>e</p><p>lo</p><p>c</p><p>u</p><p>rt</p><p>o</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>P</p><p>e</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>n</p><p>a</p><p>q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>ã</p><p>o</p><p>v</p><p>is</p><p>ív</p><p>e</p><p>is</p><p>m</p><p>a</p><p>s</p><p>sã</p><p>o</p><p>f</p><p>a</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>s.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>M</p><p>ín</p><p>im</p><p>a</p><p>q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>ã</p><p>o</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>m</p><p>a</p><p>s</p><p>sã</p><p>excessiva (choro, uivo, latidos ou ganidos), compor-</p><p>tamento destrutivo e eliminação inapropriada. Além desses, como parte do</p><p>escopo da síndrome, o cão pode apresentar sialorreia, diarreia, comporta-</p><p>mentos compulsivos (que são abordados em outro capítulo deste livro) ou</p><p>depressão (APPLEBY; PLUIJMAKERS, 2003). Os comportamentos normal-</p><p>mente ocorrem de forma cíclica, a cada intervalo de tempo, que dura em</p><p>torno de 25 minutos (LUND; JORGENSEN, 1999). Quando a manifestação clí-</p><p>nica se dá por vocalizações, estas se iniciam, quando o cão perde a referência</p><p>olfativa da presença da figura de vínculo e podem ser constantes durante</p><p>todo o tempo em que o cão estiver sozinho em casa e cessarem, quando o cão</p><p>retoma a referência olfativa da figura de vínculo. Tal fato faz com que as pes-</p><p>soas que convivem com o cão na mesma residência não o escutem vocalizar,</p><p>129</p><p>Transtornos de ansiedade e medo em cães</p><p>pois ele começa depois que elas já estão a certa distância e para antes de</p><p>poder ser ouvido. Por isso, no geral, a queixa de vocalizações excessivas vem</p><p>dos vizinhos que se incomodam com o barulho.</p><p>Os comportamentos destrutivos são mais frequentemente direciona-</p><p>dos às rotas de fuga (imediações de portas, janelas ou portões) ou a objetos ou</p><p>locais que tenham forte referência olfativa da figura de maior vínculo (toalha</p><p>de banho ou rosto, roupas, travesseiros, almofadas ou o local em que a pessoa</p><p>se senta no sofá, por exemplo). Alguns cães quebram dentes ou unhas durante</p><p>a destruição desses objetos.</p><p>As micções e defecações em locais inapropriados ocorrem próximas</p><p>aos lugares onde o cão fica esperando o retorno das pessoas, com mais fre-</p><p>quência, nos locais com forte referência olfativa das pessoas (camas e sofás,</p><p>por exemplo) ou próximos às rotas de fuga (perto da porta).</p><p>Os quadros depressivos são os mais difíceis de identificar, já que não</p><p>incomodam as pessoas. Os animais ficam quietos o tempo todo, entretanto</p><p>sabe-se que o seu estado emocional é preocupante. Esses animais, enquanto</p><p>estão sozinhos, não comem (mesmo que seja um petisco bastante apetitoso),</p><p>não brincam, não bebem água, não defecam nem urinam.</p><p>Assinala-se ainda que a casuística de SASA varia bastante. Na litera-</p><p>tura internacional, varia de 14% a 40% (OVERALL, 2001; SEKSEL; LINDEMAN,</p><p>2001), e, no Brasil, os dados, até agora coletados, variam de 17% a 59% (SOARES</p><p>et al., 2010; SOARES et al., 2015).</p><p>Nos casos de SASA, os comportamentos manifestados ocorrem quando</p><p>os animais estão sozinhos, e estas são as queixas principais das consultas</p><p>comportamentais (exceto nos casos depressivos). Sendo assim, no histórico,</p><p>o humano responsável deixa claro o incômodo e os inconvenientes, causados</p><p>pelo cão. Para o diagnóstico (Quadro1), é necessário caracterizar o animal como</p><p>hipervinculado, porque a hipervinculação (ou hiperapego – do inglês hyper-at-</p><p>tachment) é a chave para diferenciar SASA de outros problemas, como o tédio, a</p><p>mastigação infantil e os problemas de eliminação diversos (MCCRAVE, 1991). O</p><p>cão hipervinculado é aquele que tenta acompanhar a figura de vínculo (pode ser</p><p>uma única pessoa, um grupo de pessoas ou um animal). No geral, o cão hiper-</p><p>vinculado procura manter-se a cerca de um metro, ou menos, da figura de</p><p>vínculo, demonstrando sinais de ansiedade, quando a pessoa vai ao banheiro,</p><p>por exemplo. Além disso, alteram o seu comportamento, quando percebem</p><p>que a figura de vínculo se prepara para sair, visto que já conhecem a sua rotina.</p><p>130</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Alguns cães tentam impedir a saída das pessoas, chamando atenção, roubando</p><p>itens ou, até mesmo, agindo de forma agressiva ou simplesmente se recolhem</p><p>em um canto, como se alguém tivesse lhes dado uma bronca. Os cães hipervin-</p><p>culados também têm o comportamento exacerbadamente efusivo no momento</p><p>em que as pessoas chegam de volta à residência.</p><p>Como os comportamentos indesejados ocorrem, enquanto o cão está</p><p>sozinho em casa, torna-se difícil que as pessoas descrevam, com precisão,</p><p>a alteração comportamental. Sendo assim, é de grande ajuda que se instale</p><p>uma câmera no cômodo, ocupado pelo cão, para que se possa observar o seu</p><p>comportamento no período em que não há pessoas olhando. O cão com SASA</p><p>irá apresentar, além dos sinais relatados acima, sinais de ansiedade, como,</p><p>por exemplo, excitação, ofegação, hipervigilância e sapateios.</p><p>É relevante lembrar que a SASA pode se manifestar em algumas condi-</p><p>ções específicas e em outras não. Por exemplo, é possível que o cão só mani-</p><p>feste os sinais, quando os tutores quebram a rotina. Durante a semana, o</p><p>cão fica sozinho sem problemas, mas, no final de semana, quando a rotina é</p><p>alterada, apresenta os sinais de SASA, ao ficar só.</p><p>No Quadro 1, apresenta-se a relação dos comportamentos que caracte-</p><p>rizam a SASA, e, para o diagnóstico, é importante que sejam identificados três</p><p>comportamentos de hipervinculação e um dos comportamentos, quando está</p><p>sozinho. No entanto, é importante salientar que há variações individuais que</p><p>podem não estar contempladas na proposta de diagnóstico do quadro abaixo.</p><p>Quadro 1 – Relação dos comportamentos, característicos da SASA</p><p>Quando está com as pessoas em casa</p><p>(hipervinculação)</p><p>Quando está sozinho</p><p>� Tenta seguir as pessoas o tempo todo</p><p>� Modifica o comportamento, quando as</p><p>pessoas se preparam para sair</p><p>� Recepção bastante efusiva</p><p>� Demonstra sinais de ansiedade, quando</p><p>fica afastado da figura de vínculo</p><p>� Chora, late ou uiva</p><p>� Urina ou defeca em locais inapropriados</p><p>� Destrói objetos pessoais dos membros</p><p>humanos da família</p><p>� Destrói itens próximos a possíveis rotas de</p><p>fuga, como portas, portões ou janelas</p><p>� Saliva excessivamente (a pessoa percebe o</p><p>cão bastante molhado ao retornar)</p><p>� Tem diarreia (só quando fica sozinho)</p><p>� Lambe-se ou morde (percebe-se as lesões</p><p>ou membros molhados)</p><p>� Fica quieto o tempo todo (não come, não</p><p>bebe água, não urina nem defeca)</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>131</p><p>Transtornos de ansiedade e medo em cães</p><p>O tratamento para a SASA envolve a combinação de terapia compor-</p><p>tamental e medicamentosa e tem uma duração variável entre 2 e 12 meses. A</p><p>terapia comportamental baseia-se nos seguintes aspectos: as pessoas podem</p><p>ignorar o cão na hora em que se preparam para sair e, assim que retornarem</p><p>ao lar, não devem dar punições retrospectivas (ou seja, não devem brigar</p><p>com o cão pelo que foi destruído ou pela urina ou fezes encontrados fora do</p><p>lugar); é preciso trabalhar, no sentido de realizar exercícios de relaxamento</p><p>(como o comando “fica” e suas variações, por exemplo); e dessensibilizar o</p><p>cão para gatilhos, como a rotina de saída de casa, por exemplo. Nesse último</p><p>processo, por exemplo, a pessoa se arruma, vai até a porta e não sai, volta e</p><p>senta-se no sofá. O cão será recompensado com petiscos ou carinho, quando</p><p>não mais reagir a esse exercício. Depois desse passo, a pessoa repete o ritual,</p><p>abre a porta, sai, fica do lado de fora por um minuto e volta. Assim, aumen-</p><p>ta-se o tempo e a distância progressivamente até que o cão fique sozinho,</p><p>sem apresentar problemas</p><p>No tocante à terapia medicamentosa, destaca-se que esta acelera o pro-</p><p>cesso, melhora a qualidade de vida do cão durante o tratamento e aumenta a</p><p>adesão das pessoas que, no geral, desistem do tratamento, por ser demorado</p><p>e trabalhoso. Podem ser usados antidepressivos tricíclicos (principalmente a</p><p>Clomipramina 1-2mg/kg/12h) ou inibidores seletivos de recaptação de seroto-</p><p>nina (p. ex. Fluoxetina 1-2mg/kg/24h). Uma opção interessante, como apoio, é</p><p>o uso do análogo sintético do feromônio intermamário canino, que tem efeito</p><p>ansiolítico e não apresenta efeitos colaterais.</p><p>Não há cura para a SASA, mas o tratamento visa à remissão dos sinais,</p><p>o que pode ser duradouro ou não. Se houver mudanças na rotina, os sinais</p><p>podem voltar, e o tratamento volta à “estaca zero”.</p><p>ANSIEDADE EM SITUAÇÕES ESPECÍFICAS</p><p>O cão pode manifestar sinais de ansiedade em qualquer situação com a</p><p>qual não tenha familiaridade</p><p>ou com as quais tenha tido experiências ambíguas</p><p>(em um momento, prazerosas e, em outro, estressantes). Desta forma, qualquer</p><p>contexto pode gerar sinais de ansiedade, se o cão for predisposto a isso. Porém,</p><p>alguns contextos são bastante comuns: na presença de visitantes à residência;</p><p>nos ambientes de banho e tosa e nas salas de espera das clínicas veterinárias.</p><p>132</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>VISITAS</p><p>Quando o cão, no seu período de socialização primária (até aproxima-</p><p>damente 12 semanas de vida), não foi socializado de forma apropriada, com</p><p>pessoas diferentes, facilmente se mostrará ansioso com as pessoas que não</p><p>fazem parte do seu convívio, ao frequentarem a sua residência. Isso ocorre</p><p>por diversas razões nesse contexto: nem todos gostam de cães e podem apre-</p><p>sentar posturas que estes entendem como ameaça; assim como pessoas que</p><p>não respeitam a linguagem corporal do cão, fazendo aproximações abrup-</p><p>tas (para o cão), assustando-o; a família deixa de dar atenção ao cão nesse</p><p>período além disso, muitas vezes, ele fica preso, e, quando tenta interagir com</p><p>as visitas, seus tutores brigam com ele; e ele pode não reconhecer essas pes-</p><p>soas diferentes como amigos. Como ele não sabe o que esperar, fica ansioso.</p><p>Alguns cães já começam a se agitar, quando a campainha ou o interfone toca.</p><p>Não há diagnóstico diferencial, pois a situação é pontual.</p><p>BANHO, TOSA E CLÍNICAS VETERINÁRIAS</p><p>Os ambientes, usados para procedimentos de estética canina, e a sala</p><p>de espera de uma clínica veterinária são lugares estressantes por si só. Outros</p><p>cães, que vieram antes, já deixaram no local várias substâncias olfativas e fero-</p><p>mônios de alerta. Para o cão, é como se entrasse em um “trem fantasma”. Além</p><p>disso, nesses locais, ele é manipulado por pessoas que não fazem parte do seu</p><p>convívio e que o submetem a procedimentos dos quais ele não gosta (corte</p><p>de unha, limpeza de ouvido, vacinas, aferição de temperatura, palpação, con-</p><p>tenção, exposição ao secador e ao soprador). Com isso, é muito comum o cão</p><p>demonstrar ansiedade nesses lugares, e alguns se tornam até agressivos.</p><p>Para o tratamento de qualquer contexto de ansiedade, é importante que</p><p>ele passe pelo processo de dessensibilização ou contracondicionamento, e,</p><p>em alguns casos, que se recorra ao apoio medicamentoso. Benzodiazepínicos,</p><p>antidepressivos tricíclicos e inibidores seletivos de recaptação de serotonina</p><p>são indicados.</p><p>Como já mencionado anteriormente, um apoio terapêutico de grande</p><p>ajuda é o uso do análogo sintético do feromônio apaziguador de cães, que</p><p>pode ser colocado como difusor elétrico, deixando o ambiente menos</p><p>133</p><p>Transtornos de ansiedade e medo em cães</p><p>estressante. O referido procedimento já foi realizado em sala de espera de</p><p>clínica veterinária (MILLS et al., 2006) e em ambiente de estética canina</p><p>(SOARES etal., 2012), com resultados positivos.</p><p>MEDO DE BARULHOS (FOGOS E TROVOADAS)</p><p>Diversos cães têm transtornos fóbicos, relacionados a barulhos for-</p><p>tes, como fogos de artifício e tempestades com trovoadas. Reagem de forma</p><p>desproporcional à “ameaça” e podem se machucar gravemente em tentati-</p><p>vas de fuga ou, a longo prazo, desenvolver cardiopatias, devido ao estresse.</p><p>Os episódios são pontuais, ou seja, ocorrem sempre que há tempestades ou</p><p>queimas de fogos. Em relação às trovoadas, os cães são capazes de anteci-</p><p>par as tempestades e começam a reagir, quando o vento começa a ficar mais</p><p>forte, por exemplo.</p><p>O diagnóstico é simples, basta entender o comportamento do animal</p><p>durante o episódio que o desencadeia, o que normalmente é feito pelas pes-</p><p>soas que convivem com o cão e fazem o relato durante a consulta.</p><p>O tratamento se baseia na combinação de terapia comportamental</p><p>(dessensibilização e contracondicionamento) e no apoio medicamentoso</p><p>(benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos ou inibidores seletivos de</p><p>recaptação de serotonina), que pode ser combinado com feromonioterapia,</p><p>baseada no análogo do feromônio intermamário da cadela.</p><p>MEDO DE PESSOAS</p><p>Alguns cães desenvolvem transtornos fóbicos, direcionados a alguns</p><p>indivíduos ou a grupos de pessoas que tenham um certo padrão (étnico,</p><p>sexual ou ocupacional), como, por exemplo, os que têm medo de homens, mas</p><p>não, de mulheres. Outros têm medo de pessoas que vistam roupas brancas,</p><p>o que é popularmente chamado de “síndrome do jaleco branco”. Há outros</p><p>que têm medo de entregadores de pizza. Alguns animais latem muito, outros</p><p>se escondem, e outros tornam-se agressivos. Há quem confunda o quadro</p><p>como agressão territorial, porém, no caso do transtorno fóbico, a postura de</p><p>medo é pronunciada.</p><p>134</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Esse contexto de transtorno fóbico consiste na potencialização da</p><p>ansiedade pela presença de visitas que já fora descrita anteriormente, neste</p><p>mesmo capítulo.</p><p>Para o tratamento, deve-se seguir os mesmos princípios dos demais</p><p>transtornos fóbicos e combinar terapia comportamental, baseada em des-</p><p>sensibilização e contracondicionamento, com os mesmos medicamentos,</p><p>descritos acima, e feromonioterapia.</p><p>PREVENÇÃO</p><p>A grande chave para a prevenção de transtornos fóbicos e de ansiedade</p><p>é um correto processo de socialização do filhote dentro do período de socia-</p><p>lização primária (até aproximadamente 12 semanas). Cães bem socializados</p><p>aprendem a não temer barulhos fortes ou pessoas fora de um estereótipo</p><p>familiar. No terceiro capítulo deste livro, esse tema é abordado e aprofundado.</p><p>Quadro 2 – Tratamento básico para transtornos fóbicos e de ansiedade em cães</p><p>Terapia comportamental Apoio medicamentoso</p><p>Habituação</p><p>Dessensibilização</p><p>Contracondicionamento</p><p>Inibidores seletivos de recaptação de</p><p>serotonina (p. ex. Fluoxetina 1-2mg/kg/24h)</p><p>Antidepressivos tricíclicos (p. ex.,</p><p>Clomipramina 1-2mg/kg/12h)</p><p>Serotoninérgicos (p. ex. Buspirona 1-4mg/</p><p>Kg/12h)</p><p>Fonte: elaborado pelo autor.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>APPLEBY, D.; PLUIJMARKES, J. Separation anxiety in dogs: The function of</p><p>homeostasis in its development and treatment. Veterinary Clinics of</p><p>North America: Small Animal Practice, v. 33, n. 2, p.321-344, 2003.</p><p>GRENIER, S.; BARRETE, A.; LADOUCEUR, R. Intolerance of Uncertainty and</p><p>Intolerance of Ambiguity: Similarities and differences, Personality and</p><p>Individual Differences, v. 39, n. 3, p. 593-600, 2005.</p><p>135</p><p>Transtornos de ansiedade e medo em cães</p><p>KING, C.; SMITH, T.J.; GRANDIN, T.; BORCHELT, P. Anxiety and impul-</p><p>sivity: Factors associated with premature graying in young dogs.</p><p>Applied Animal Behaviour Science, v. 185, p. 78-85, December, 2016.</p><p>Doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2016.09.013.</p><p>KURACHI, T.; IRIMAJIRIB, M.; MIZUTAA, Y.; SATOHA, T. Dogs predis-</p><p>posed to anxiety disorders and related factors in Japan. Applied</p><p>Animal Behaviour Science, v. 196, p. 69-75, November, 2017. Doi:</p><p>http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2017.06.018.</p><p>LUND, J. D.; JORGENSEN, M. C. Behaviour patterns and time course of activity</p><p>in dogs with separation problems. Applied Animal Behaviour Science,</p><p>v. 63, p. 219-236, 1999.</p><p>MCCRAVE, E. A. Diagnostic criteria for separation anxiety in the dog. Veterinary</p><p>Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 21, p. 247-256, 1991.</p><p>MILLS, D. S. ;Ramos, D. ; Estelles, M. G. ; Hargrave, C. A triple blind place-</p><p>bo-controlled investigation into the assessment of the effect of Dog</p><p>Appeasing Pheromone (DAP) on anxiety related behaviour of problem</p><p>dogs in the veterinary clinic. Applied Animal Behaviour Science, v. 98,</p><p>n. 1-2, p. 114-126, 2006</p><p>OVERALL, K. L. Clinical behavioral medicine for small animals. St. Louis –</p><p>Missouri: Mosby – Year Book, 1997. 544p.</p><p>SEKSEL K.; LINDEMAN, M. J. Use of clomipramine in treatment of obsessive-</p><p>-compulsive disorder, separation anxiety and noise phobia in dogs:</p><p>A preliminary, clinical study. Australian Veterinary Journal, v.79, n. 4,</p><p>p. 252-256, 2001. Doi:10.1111/j.1751-0813.2001.tb11976.x</p><p>SOARES, G. M.; PEREIRA, J. T.; PAIXÃO, R. L. Estudo exploratório da sín-</p><p>drome de ansiedade de separação</p><p>em cães de apartamento. Ciência</p><p>Rural, Santa Maria, v. 40, n. 3, p. 548-553, 2010.</p><p>SOARES, G. M.; LUZ, F. R. P.; DIEL,L.B.K; PAIXÃO, R. L. Nota preliminar sobre</p><p>o uso de feromônio para reduzir sinais de ansiedade e medo nos cães</p><p>em ambiente de banho e tosa. A Hora Veterinária, n. 186, p. 24-28, 2012.</p><p>SOARES, G. M.; VASCONCELOS, N. M.; FERNANDES P. H. S.; FERNANDES,</p><p>B. C. T. M. Síndrome de ansiedade de separação em cães atendidos</p><p>na clínica veterinária da Universidade Severino Sombra. Archives of</p><p>Veterinary Science, v. 20, n. 2, p. 95-102, 2015.</p><p>https://www.sciencedirect.com/science/journal/01681591/185/supp/C</p><p>http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2016.09.013</p><p>http://dx.doi.org/10.1016/j.applanim.2017.06.018</p><p>https://www.researchgate.net/journal/0005-0423_Australian_Veterinary_Journal</p><p>https://www.researchgate.net/deref/http%3A%2F%2Fdx.doi.org%2F10.1111%2Fj.1751-0813.2001.tb11976.x</p><p>TRANSTORNO DE ANSIEDADE EM</p><p>FELINOS DOMÉSTICOS:</p><p>MEDO, FOBIA E ANSIEDADE</p><p>Marina Snitcofscky – Argentina</p><p>138</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Os comportamentos defensivos são reações normais, desencadeadas</p><p>por estímulos ameaçadores, provenientes do ambiente (animado ou inani-</p><p>mado), sejam estes reais ou percebidos, e têm como finalidade incrementar</p><p>a probabilidade de sobrevivência ou reprodução do indivíduo (BLANCHARD;</p><p>BLANCHARD, 2008).</p><p>Pertencem ao padrão de comportamento antipredatório e são desen-</p><p>cadeados a partir de uma emoção normal, o medo, que permite ao indivíduo</p><p>adaptar-se. Dispara uma resposta fisiológica de estresse agudo, que desen-</p><p>cadeia mecanismos neuroendócrinos e autonômicos para a sobrevivência, os</p><p>quais estão resumidos na Figura 1.</p><p>Núcleo trato solitário</p><p>(Tenda cerebral)</p><p>Modulação energético e imune</p><p>Resposta Neuroendócrina</p><p>(+)</p><p>(–)</p><p>(+)</p><p>(+)</p><p>(+)</p><p>Aprendizagem - Memória</p><p>Tomada de decisão</p><p>Emoções/medo</p><p>Resposta Autônoma</p><p>Luto/Fogo/Paralisia</p><p>Núcleo paraventricular</p><p>(Hipotálamo)</p><p>Tálamo</p><p>Córtex</p><p>Frontal</p><p>ROSTRAL:</p><p>Aferência de</p><p>estressores</p><p>emocionais:</p><p>- Sociais</p><p>- Medo</p><p>- Novidade</p><p>CAUDAL: Aferências de</p><p>estressores físicos:</p><p>- In�amação</p><p>- Injúria</p><p>- Dor</p><p>- Alteração metabólica</p><p>Hipó�se</p><p>anterior</p><p>Hipó�se</p><p>posterior SNA-Simpático SNA-Parasimpático</p><p>NX</p><p>Cortex</p><p>adrenalGlândula adrenal</p><p>Cortisol</p><p>ACTH</p><p>CRH</p><p>VP</p><p>Adrenalina</p><p>Medula</p><p>adrenal</p><p>Hipocampo Amígdala</p><p>(+) Circuitos Excitat[orios? estimulam a resposta ao estresse. Transmissão glaumatérgica, catecolamínica,</p><p>neuropeptídica; (–) Circuitos inibitórios: inibem a resposta de estresse. Transmissão garbaérgia e</p><p>serotoninérgica.</p><p>Observações: SNA: sistema nervoso autônomo. CRH: hormônio liberador de corticotrofina. VP: vasopressina.</p><p>ACTH: hormônio adrenocorticotrófico. NV: nervo vago.</p><p>Figura 1 – Resposta fisiológica (neuroendócrina e autônoma) ao estresse agudo</p><p>Fonte: acervo da autora</p><p>Os felinos domésticos podem ser classificados como espécie</p><p>“presa” (ainda que também sejam predadores), e certos estímulos, que se</p><p>139</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>assemelhem ao possível predador, também poderão disparar alguma das</p><p>respostas defensivas. Os estímulos ameaçadores naturais podem incluir,</p><p>além da presença real de predadores (ou indivíduos que lhes pareçam),</p><p>estímulos associados, como odores ou sons, e o ataque de coespecíficos</p><p>(agressão competitiva) ou ainda situações perigosas do ambiente (ambiente</p><p>enevoado, incômodo, ruídos fortes etc.).</p><p>Os comportamentos de defesa podem ser agrupados, de forma geral,</p><p>em três categorias, conhecidas como “os 3 F”, por suas iniciais em inglês,</p><p>“Fight, Flight ou Freeze” (Lutar, Fugir ou Imobilizar-se). A expressão de uma</p><p>dessas alternativas de resposta diante da ameaça depende da interação entre</p><p>uma tríade de fatores (Figura 2).</p><p>� O indivíduo “vítima”: segundo seu temperamento e experiências</p><p>anteriores;</p><p>� O estímulo ameaçador: perigo real ou potencial, nível de intensi-</p><p>dade do perigo;</p><p>� O contexto da apresentação: distância entre o estímulo ameaçador e</p><p>a vítima (distância defensiva ou de fuga), bem como a possibilidade</p><p>ou não, de escape.</p><p>Possibilidade de escape</p><p>Agressão defensiva</p><p>AmeaçaAmeaça</p><p>6 65 54 43 32 21 10</p><p>35</p><p>30</p><p>25</p><p>20</p><p>15</p><p>10</p><p>5</p><p>0</p><p>Escape Imobilização</p><p>Distância estímulo ameaçante x vítima (em metros)</p><p>In</p><p>te</p><p>ns</p><p>id</p><p>ad</p><p>e</p><p>do</p><p>e</p><p>st</p><p>ím</p><p>ul</p><p>o</p><p>à</p><p>am</p><p>ea</p><p>ça</p><p>Sem possibilidade de escape</p><p>O comportamento defensivo de ratos selvagens frente a uma ameaça que se aproxima é modulado pelo</p><p>contexto, a intensidade do estímulo e a distância do predador-presa.</p><p>Figura 2 – Resposta comportamental de estresse agudo, segundo o indivíduo, estímulo e</p><p>contexto</p><p>Fonte: adaptação de Livitin (2008)</p><p>140</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Os transtornos de comportamento relacionados ao medo, serão tra-</p><p>tados em conjunto neste capítulo, destacando-se as suas particularidades e</p><p>diferenças, uma vez que compartilham a base neurobiológica e se desenvol-</p><p>vem a partir dos mesmos processos etopatológicos* (Quadro 1), além de possuir</p><p>sinais (Quadros 2 e 3) e tratamento semelhantes.</p><p>DEFINIÇÕES E QUADROS CLÍNICOS</p><p>Medo</p><p>Define-se o medo como uma resposta emocional desagradável a situa-</p><p>ções ou estímulos desconhecidos, intensos e/ou ameaçadores, com sequên-</p><p>cias características, e tem como finalidade a proteção e adaptação do indiví-</p><p>duo (BLANCHARD; BLANCHARD, 2008).</p><p>Enfatiza-se ainda que há uma resposta inata de medo, por exem-</p><p>plo, frente a exposição a um possível predador ou o ambiente enevoado.</p><p>Sem dúvida, o medo também tem um componente aprendido, cuja memó-</p><p>ria se forma e armazena principalmente na amígdala e em suas conexões</p><p>com o hipocampo, o chamado “medo condicionado”. Essa memória aver-</p><p>siva, base neurobiológica do estresse pós-traumático, se consolida diante</p><p>de situações desagradáveis, que serão associadas ao contexto da apresen-</p><p>tação original e evocadas, quando houver exposição ao mesmo contexto</p><p>ou a um semelhante.</p><p>Apesar de o medo ser uma emoção normal, ao se mostrar em excesso,</p><p>produz impacto negativo sobre o bem-estar físico e emocional do indivíduo,</p><p>especialmente se permanecer no tempo, o que pode gerar, assim, um estado</p><p>de distresse (estresse crônico ou patológico).</p><p>* A palavra “etopatológico”, proposta pelo Dr. Rubén Mentzel (comunicação pessoal), substituirá,</p><p>neste texto, o termo “psicopatológico”. Os processos patológicos elementares, descritos pelo</p><p>Dr. Patrick Paget (1998), são mecanismos (endógenos ou exógenos), que modificam as respostas</p><p>comportamentais: sensibilização, previsão emocional, inibição patológica, instrumentalização,</p><p>involução, cuja combinação dá lugar a um estado patológico elementar (estado fóbico, estado</p><p>ansioso, estado depressivo, estado distímico e estado de instrumentalização).</p><p>141</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>Fobia</p><p>Se define como o medo extremo, desencadeado por um estímulo</p><p>(ou grupo de estímulos) específico, presente no ambiente, e sem perigo real,</p><p>o qual não se abranda espontaneamente, nem permite a adaptação, além de</p><p>interferir no comportamento normal.</p><p>Classificação nosológica (PAGEAT, 1998)</p><p>� Fobia específica: aquela que se desencadeia diante de um estí-</p><p>mulo (ou grupo de estímulos relacionados). Identificável, mas,</p><p>sem perigo real, e que não desaparece espontaneamente ao ces-</p><p>sar o estímulo desencadeante. O tipo mais frequente é a fobia</p><p>aos ruídos fortes (trovões ou fogos de artifício). Desenvolve-se</p><p>durante a etapa juvenil, sem que haja ocorrido algum evento</p><p>negativo ou traumático específico (ou, pelo menos, não é identi-</p><p>ficável). Estariam envolvidos, em sua manifestação, alguns fato-</p><p>res genéticos, experiências ambientais precoces e déficits do</p><p>desenvolvimento.</p><p>� Síndrome de privação sensorial: agrupa as fobias ontogênicas, cuja</p><p>origem consiste em um desequilíbrio da homeostasia sensorial</p><p>durante o desenvolvimento, o que gera uma resposta fóbica frente a</p><p>estímulos e interações ambientais e sociais com as quais não tenha</p><p>tido contato durante o seu período sensível.</p><p>� Fobia pós-traumática: apresenta-se a partir</p><p>da exposição a um estí-</p><p>mulo, evento ou experiência traumática e pode se manifestar em</p><p>qualquer idade. A mais frequente nos gatos é a fobia ao consultório</p><p>veterinário.</p><p>Etiopatogenia: falta de habituação e socialização aos estímulos físicos</p><p>e sociais. Também, é considerada a exposição a estímulos aversivos durante</p><p>etapas precoces do desenvolvimento.</p><p>Etopatologia, conforme Pageat (1998), devem ser considerados os</p><p>aspectos que seguem, ver Quadro 1:</p><p>� Sensibilização: perante um estímulo, sem perigo real, produz uma</p><p>resposta desorganizada que não permite adaptação;</p><p>142</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>� Instrumentalização do comportamento de evitação;</p><p>� Antecipação emocional: manifestação de comportamentos defensi-</p><p>vos antes da apresentação do estímulo, pela presença de estímulos</p><p>heterogêneos, associados temporariamente, que carecem de ava-</p><p>liação cognitiva. Por exemplo, dia nublado ou chuva em animais</p><p>fóbicos a trovões.</p><p>� Generalização: manifestação da resposta defensiva de evitação em</p><p>relação a estímulos similares, porém distantes em tempo e espaço</p><p>daquele que originalmente produzia o estado fóbico. Por exemplo,</p><p>estrondos em animais fóbicos a trovões.</p><p>Sinais de medo e fobias: Os sinais que acompanham a emoção de</p><p>medo respondem a uma ativação autonômica e neuroendócrina de estresse</p><p>agudo, que compreendem tanto sinais físicos (Quadro 2) como comporta-</p><p>mentais (Quadro 3).</p><p>Ansiedade</p><p>A ansiedade patológica é definida como um estado reacional, com</p><p>manifestações comportamentais, semelhantes às do medo, em resposta a</p><p>um estímulo que não é identificável, mas do qual o animal não pode esca-</p><p>par ou controlar. Existe uma desorganização dos autocontroles, sendo</p><p>esta irreversível, sem valor adaptativo, além de haver uma interferência</p><p>na expressão de comportamentos normais e na interação com o entorno.</p><p>Desta forma, considera-se um estado de perda das capacidades adaptativas,</p><p>com resposta de antecipação exagerada, por uma percepção de ameaças</p><p>que é desproporcional à situação real (OVERALL, 1997; PAGEAT, 1998; OHL;</p><p>ARNDT; VAN DER STAAY, 2008).</p><p>De acordo com Pageat (1998), a classificação nosológica é descrita</p><p>abaixo.</p><p>� Ansiedades inespecíficas</p><p>a) Ansiedade paroxística ou transtorno de pânico: crises de</p><p>curta duração, com predominância de manifestações físicas</p><p>(neurovegetativas).</p><p>b) Transtornos de Ansiedade Generalizada (TAG)</p><p>143</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>� Intermitente: apresenta-se por períodos (intercalados, com perío-</p><p>dos de remissão dos sinais), com manifestações neurovegetativas</p><p>e de conduta, entre as quais se destacam a agressão por medo e</p><p>irritativa.</p><p>� Permanente: apresenta-se de maneira contínua, sem períodos</p><p>de remissão, com menor quantidade de sinais neurovegetativos</p><p>e predomínio de sinais comportamentais, como a inibição do</p><p>comportamento exploratório e a apresentação de atividades de</p><p>substituição.</p><p>� Ansiedades inespecíficas felinas (DEHASSE, 1997; PAGEAT, 1998, )</p><p>a) Ansiedade de coabitação: alteração do comportamento social,</p><p>com comprometimento cognitivo e emocional, entre gatos que</p><p>convivem na mesma casa.</p><p>b) Ansiedade de desterritorialização: alteração do comportamento</p><p>territorial e/ou social, com comprometimento cognitivo e emo-</p><p>cional, em gatos que passam por mudança no seu ambiente</p><p>(mudanças, reformas etc.).</p><p>c) Ansiedade por ambiente fechado: alteração do comportamento</p><p>territorial e/ou social, com comprometimento cognitivo e emo-</p><p>cional, em gatos que não têm acesso ao exterior (em geral,</p><p>quando antes o tinham).</p><p>A etiopatogenia compreende certa predisposição genética (vulnera-</p><p>bilidade emocional, intolerância a novidades e à frustração); alterações do</p><p>desenvolvimento comportamental; experiências precoces inadequadas, aver-</p><p>sivas, traumáticas e ansiogênicas; ambiente pobre ou privações sociais; inte-</p><p>rações sociais ambíguas; frustração; exposição crônica a fatores estressores</p><p>incontroláveis e imprevisíveis; e alterações neurobioquímicas. Nos felinos,</p><p>relacionam-se, principalmente, aos componentes ambientais (físico e social).</p><p>A etopatologia (Quadro 1) é a alteração no funcionamento no sis-</p><p>tema cerebral de defesa e produz desequilíbrio entre os sistemas moti-</p><p>vacionais e alteração do pensamento cognitivo da informação. Deriva-se</p><p>dos processos patológicos elementares (PAGEAT, 1998) de sensibilização</p><p>(em particular, por alteração da transmissão noradrenérgica) e antecipa-</p><p>ção, como consequência da hiperviligância permanente (por falta de regu-</p><p>lação do sistema dopaminérgico).</p><p>144</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Já a fisiopatologia está relacionada aos transtornos de ansiedade e</p><p>baseia-se na resposta fisiológica de estresse (tanto neuroendócrina quanto</p><p>neurovegetativa e de condução), no entanto manifesta-se de forma exage-</p><p>rada, prolongada, sem regulação, mal adaptativa, fora de contexto e/ou sem</p><p>estímulo disparador identificável.</p><p>Os sinais clínicos: são os sinais físicos (Quadro 2) e comportamentais</p><p>(Quadro 3), que correspondem a uma resposta de estresse hipertrofiada,</p><p>sem sinal de parada. Observa-se excitação comportamental ou psicomotora,</p><p>agitação emocional, tensão permanente, hipermotricidade, hipervigilância,</p><p>hiper-reatividade, irritabilidade e aumento da atenção. Além disso, costuma</p><p>apresenta-se por meio da eliminação inadequada e pelo aumento da mar-</p><p>cação territorial (urinária e/ou fecal, facial e ungueal). Pode haver também</p><p>atividades de substituição: alopecia ou dermatite por lambedura, potomania</p><p>(mania de ingerir líquidos com frequência e em quantidades exageradas), ata-</p><p>ques, perseguição à cauda, entre outras.</p><p>Quadro 1 – Resumo da neurobiologia dos transtornos de comportamento que se baseiam na</p><p>emoção do medo (transtornos de ansiedade e fobias)</p><p>Patologias</p><p>Comportamentais</p><p>Região</p><p>neuroanatômica</p><p>subjacente</p><p>Principal sistema de</p><p>neurotransmissão envolvido</p><p>Processo</p><p>etopatológico</p><p>envolvido</p><p>Medo excessivo</p><p>Fobias</p><p>Amígdala, hipotálamo</p><p>medial</p><p>GABA Sensibilização</p><p>Generalização</p><p>Ansiedade</p><p>paroxística ou</p><p>ataque de pânico</p><p>Substância cinzenta</p><p>periaquedutal (PAG)</p><p>dorsal</p><p>GABA, Serotonina Sensibilização</p><p>Transtornos de</p><p>Ansiedade</p><p>Amígdala, septo,</p><p>tálamo, hipotálamo</p><p>e hipófise, Locus</p><p>Coeruleus, núcleos da</p><p>base da estria terminal</p><p>(BNST), hipocampo,</p><p>PAG ventral, núcleos</p><p>dorsais da rafe (NDR)</p><p>e o córtex frontal e</p><p>pré-frontal</p><p>Noradrenalina, Dopamina,</p><p>Serotonina GABA,</p><p>Neuropeptídeos (Vasopressina,</p><p>CRH ou urocortina,</p><p>Colecistoquinina, Peptídeo</p><p>Intestinal vasoativo,</p><p>Substância P, Neuropeptídeo</p><p>Y), Prolactina, opioides e</p><p>endorfinas, endocanabinoides</p><p>Antecipação</p><p>emocional</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>145</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>Quadro 2 – Resumo dos sinais físicos neurovegetativos em transtornos de comportamento que</p><p>se baseiam na emoção do medo (fobias e transtornos de ansiedade)</p><p>Sistema noradrenérgico</p><p>Taquicardia, taquipneia, midríase, tremores e fasciculações</p><p>musculares, sudorese palmar/plantar, hiper-reatividade, síncope</p><p>(reflexo vagovagal), secreção glândulas anais</p><p>Sistema dopaminérgico</p><p>Diarreias mucosas (com ou sem hematoquezia), micções</p><p>dispersas, ptialismo, dispepsia, vômitos e hiporexia</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>Quadro 3 – Resumo dos sinais comportamentais agrupados, segundo padrão comportamental</p><p>de associação para transtornos de comportamento que se baseiam na emoção do medo</p><p>(transtornos de ansiedade e fobias)</p><p>Padrão</p><p>comportamental</p><p>Transtorno de comportamento relacionado ao medo</p><p>Ansiedade Fobias</p><p>Alimentar Polifagia</p><p>Compulsão por alimento/Bulimia</p><p>Apetite seletivo ou caprichoso</p><p>Pica</p><p>Hiporexia</p><p>Apetite seletivo ou caprichoso</p><p>(ingesta noturna ou quando está só)</p><p>Eliminatório Eliminação inadequada</p><p>Polaciúria</p><p>Marcação com urina e/ou fecal</p><p>Micção emocional (excitação)</p><p>Eliminação inadequada</p><p>Enurese/encoprese</p><p>Micção emocional (por medo)</p><p>Sono Ansiedade pré-hipnagógica</p><p>Desorganização de fases</p><p>Falta de descanso e dissonias</p><p>(hipossonia)</p><p>Hipossonia ante contexto</p><p>fóbico</p><p>Exploratório Aumento</p><p>Hipervigilância – hipermotricidade</p><p>Exploração em estrela (hiperapego)</p><p>Mastigação destrutiva</p><p>Destrutividade</p><p>Escapes</p><p>Diminuição ou ausência</p><p>Inibição comportamental</p><p>Imobilidade tônica</p><p>Exploração estática</p><p>Lúdico Aumentado (especialmente noturno)</p><p>Agressão em brincadeiras</p><p>Diminuído ou ausente</p><p>Sexual Aumentado: monta, marcação,</p><p>vocalizações</p><p>Diminuído ou ausente</p><p>Maternal Pode estar aumentado: indiferença materna, canibalismo</p><p>Agressão maternal</p><p>Territorial Agressão territorial</p><p>Marcação urinária e/ou fecal,</p><p>ungueal e facial</p><p>Pode estar aumentado, se houver</p><p>fobia social</p><p>Diminuição da marcação facial</p><p>continua...</p><p>146</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Padrão</p><p>comportamental</p><p>Transtorno de comportamento relacionado ao medo</p><p>Ansiedade Fobias</p><p>Agonístico Agressão defensiva (por medo),</p><p>agressão irritativa, agressão por</p><p>carícias</p><p>Agressão defensiva (por medo),</p><p>ameaças e vocalizações (bufos,</p><p>miados, grunhidos, sons guturais)</p><p>Cuidado Aumento, atividade de substituição</p><p>(autolambedura excessiva)</p><p>Diminuição, falta de asseio da</p><p>pelagem</p><p>Social Hiperapego</p><p>Aumento do ritual de saudação</p><p>Aumento de vocalizações</p><p>Hiperapego</p><p>Fobia social (intra ou interespecífica)</p><p>Evitação (esquiva)</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>DIAGNÓSTICO</p><p>Como em todos os transtornos de comportamento, tanto para as</p><p>fobias quanto para os transtornos de ansiedade, o diagnóstico é clínico</p><p>e realizado pela exploração semiológica da conduta e pelo Exame Clínico</p><p>Etológico (anamnese e observação do paciente). Considera-se, como cri-</p><p>tério diagnóstico, a presença das manifestações de medo ou de ansiedade</p><p>não somente comportamentais, como também físicas, e são utilizados os</p><p>critérios de necessidade e suficiência para cada um dos transtornos des-</p><p>critos (OVERALL, 1997).</p><p>Assinala-se que existem alguns parâmetros semiológicos mensuráveis,</p><p>realizados por meio de métodos complementares, como o eletroencefalo-</p><p>grama (atividade cerebral cortical), eletrocardiograma (frequência cardíaca,</p><p>pulso), eletromiograma (movimentos dos músculos faciais), condutância dér-</p><p>mica (sudorese palmar/plantar), cujas variações podem reforçar o diagnós-</p><p>tico presuntivo. Alguns marcadores biológicos também podem ajudar a esta-</p><p>belecer o diagnóstico, tais como frequência cardíaca e respiratória, pressão</p><p>arterial, concentração de cortisol, ACTH e prolactina. É preciso lembrar que</p><p>esses valores podem não refletir as possíveis variações individuais, cíclicas</p><p>ou circunstanciais.</p><p>Quadro 3 – continuação</p><p>147</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS</p><p>Diferenciar de qualquer enfermidade física que provoque dor e de</p><p>outros transtornos de comportamento, como ansiedade de separação,</p><p>demência senil, diferencial entre ansiedade e fobias simples e transtornos</p><p>compulsivos. Comportamentos não patológicos, tais como chamado de aten-</p><p>ção, rituais, marcação urinária ou eliminação inadequada por aversão/prefe-</p><p>rência de localização da bandeja sanitária ou de substrato.</p><p>PROGNÓSTICO</p><p>Depende do tempo de evolução até o momento do diagnóstico, do</p><p>estado (intermitente ou permanente), da idade do animal, da presença de</p><p>atividades de substituição e do compromisso do grupo familiar na adesão</p><p>ao tratamento.</p><p>A melhora dos sinais é possível, mas a completa recuperação,</p><p>menos provável.</p><p>TRATAMENTO</p><p>Há diferentes estratégias terapêuticas:</p><p>COMPORTAMENTAL: são técnicas de modificação de comporta-</p><p>mento ou tratamento cognitivo-comportamental, como brincadeiras</p><p>estruturadas, tanto individuais como sociais, controlados e exercícios</p><p>físicos (superfícies elevadas); tutor tem iniciativa da interação e ignora</p><p>demandas de atenção; técnicas de relaxamento; reforço de comporta-</p><p>mento tranquilo (alimento, carícias, atividades de higiene); dessensibi-</p><p>lização sistemática, contracondicionamento e exposição controlada aos</p><p>estímulos ansiogênicos; e não punir.</p><p>- Medo excessivo: para evitar ou minimizar esta resposta de medo,</p><p>por exemplo, no consultório veterinário, existem algumas estratégias de</p><p>manejo, incluídas no chamado “manejo friendly” (cat friendly practice),</p><p>que compreendem, entre outras: usar análogo sintético de feromônios</p><p>faciais (Feliway classic®); cobrir a caixa de transporte com toalha ou manta,</p><p>148</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>para diminuir os estímulos visuais; prescrever um ansiolítico ou tranquili-</p><p>zante antes do transporte; preparar previamente o consultório (luz suave,</p><p>minimizar os sons, eliminar feromônios de alarme de pacientes anteriores);</p><p>usar reforço positivo e/ou elementos de distração (brinquedos com catnip,</p><p>brinquedos que ficam suspensos como varas com penas, alimentos apeti-</p><p>tosos); e usar elementos de contenção (manta ou toalha, focinheiras para</p><p>gatos ou máscara).</p><p>- Fobias: utiliza-se a dessensibilização sistemática ao estímulo fóbico,</p><p>exposição controlada e contracondicionamento.</p><p>- Ansiedade por coabitação: sugere-se destinar áreas de isolamento</p><p>separadas (residências distintas ou setores da casa para cada gato, em</p><p>que o outro não possa acessar) e distribuir os recursos para cada um</p><p>(comida, bandeja sanitária, arranhador). Também, é necessário estabele-</p><p>cer um terceiro setor ou área neutra, à qual cada gato tenha acesso sozi-</p><p>nho, ou de forma alternada com o outro, uma vez que tenham se adaptado</p><p>e normalizado o seu comportamento em suas respectivas áreas. Faz-se a</p><p>dessensibilização sistemática dos animais entre si, colocando-os juntos</p><p>na área neutra, mas, com certa distância entre eles, dentro de caixas</p><p>transportadoras, ou ainda separados por alguma barreira que permita</p><p>a visão ou com peitorais e correia durante sessões diárias. A distância</p><p>será aquela que permita observarem-se, sem se alterar nem manifestar</p><p>agressão. Gradualmente, e, diante da falta de reação de ambos, encur-</p><p>ta-se a distância que os separa ao longo de vários dias, até que estejam</p><p>bem próximos.</p><p>- Contracondicionamento: enquanto os gatos ficam em uma distância</p><p>segura para não haver agressões, associam-se jogos ou estímulos gratifican-</p><p>tes. Finalmente, quando se tolerarem todo o tempo, estando próximos, dei-</p><p>xá-los juntos, sem restrições.</p><p>Nunca se deve castigá-los, já que tal ato apenas gerará mais medo ou</p><p>dor, e tais sentimentos agravarão o conflito e a ansiedade.</p><p>- Ansiedade por desterritorialização: Inserir o gato no ambiente:</p><p>colocar o gato em ambiente pequeno, fechado, com todos os seus elemen-</p><p>tos à disposição (comedouro e bebedouro à distância de pelo menos um</p><p>metro da bandeja sanitária, do arranhador, de elementos para descanso e</p><p>refúgio). Esse ambiente deve ser tranquilo e com pouco trânsito, para per-</p><p>mitir que o gato esteja isolado e relaxado. Uma vez que o gato explora esse</p><p>149</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>ambiente sem inibições, permite-se que explore o resto da casa, porém</p><p>deve-se manter este espaço como área de isolamento. Quando o gato já</p><p>explorou, normalmente, toda a casa, pode-se realocar os seus elementos,</p><p>segundo a conveniência.</p><p>AMBIENTAL: É necessário que sejam tomadas algumas medidas em</p><p>relação ao ambiente dos gatos, como as apresentadas nesta sequência.</p><p>� Segurança para: impedir fuga, impedir agressão;</p><p>� Evitar ou controlar estímulos, disparadores e estressores, criar</p><p>ambiente físico e social estável, seguro, tranquilo e previsível (ter-</p><p>ritório e grupo estáveis);</p><p>� Enriquecimento ambiental: colocar caixas, proporcionar locais ele-</p><p>vados e esconderijos, agregar brinquedos suspensos e os que rolem.</p><p>Colocar arranhadores e torres forradas com material rugoso para</p><p>brincadeiras. Permitir acesso ao exterior ou sacadas, janela etc.</p><p>Também, é possível utilizar enriquecimento ocupacional (brinque-</p><p>dos com alimento no interior, jogos para estímulo cognitivo), nutri-</p><p>cional (esconder petiscos, para que o gato os localize) e sensorial</p><p>(aromas que agradem ao gato, como plantas agradáveis, lavanda,</p><p>valeriana etc.).</p><p>FARMACOLÓGICOS: Podem ser utilizados os seguintes psicofármacos:</p><p>� Benzodiazepínicos,</p><p>como Alprazolam (0,05-0,25 mg/kg/8-12 horas,</p><p>via oral), Clorazepato Dipotássico (0,5-1 mg/kg/12-24 horas via oral)</p><p>ou Clonazepam (0,15 mg/kg/6-24 horas via oral);</p><p>� Betabloqueadores, como Propanolol (1-2,5 mg/kg/12 horas via</p><p>oral), quando predominarem os sinais neurovegetativos sobre os</p><p>comportamentais;</p><p>� Ansiolíticos inespecíficos, como Buspirona (0,5-1 mg/kg/8-12-24</p><p>horas via oral);</p><p>� Antidepressivos tricíclicos, como Clomipramina ou Amitriptilina</p><p>(0,5 mg/kg/24 horas via oral);</p><p>� Antidepressivo antagonista e inibidor da receptação da serotonina</p><p>(ISRS), como Trazodona (50-100 mg/gato uma vez ao dia, via oral,</p><p>90 minutos antes da consulta ou 0,5 mg/kg/8 horas via oral);</p><p>� Anticonvulsivantes, como Gabapentina (3-5 mg/kg/12-24 horas via</p><p>oral ou duas horas antes da consulta) ou Fenobarbital (2-3 mg/kg via</p><p>oral duas horas antes da consulta);</p><p>150</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Há igualmente tratamentos com Feromônios, conforme Pageat (2003).</p><p>� Feromônios faciais felinos: fração F3 (Feliway clasic® spray, difusor);</p><p>� Feromônios de apaziguamento felino de origem intermamária</p><p>(Feliway Friends ou Multicat® spray ou difusor).</p><p>PREVENÇÃO</p><p>Para prevenir o medo, a ansiedade são propostas algumas recomen-</p><p>dações importantes.</p><p>� Respeitar o momento ideal de separação materno-filial (8 semanas);</p><p>� Período de lactação em ambiente adequadamente estimulante (nem</p><p>hipo nem hiper);</p><p>� Habituação a estímulos inanimados durante o período sensível;</p><p>� Socialização com outras espécies durante o período sensível;</p><p>� Habituação, durante o período sensível e a etapa juvenil, ao uso da</p><p>caixa de transporte, elementos de controle (guia e coleira), para sair</p><p>à rua e viajar em automóvel, e às manobras de contenção, manipu-</p><p>lação e semiológicas;</p><p>� Ambiente físico e social estável e previsível.</p><p>CONCLUSÕES</p><p>Conhecer as manifestações e a base neurofisiológica dos comporta-</p><p>mentos defensivos dos felinos permitem prevenir e manejar situações poten-</p><p>cialmente perigosas tanto para o paciente quanto para o veterinário clínico e</p><p>o entorno, as quais podem se apresentar na clínica diária.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BLANCHARD, D. C, BLANCHARD, R. J. Chapter 2.4 Defensive behaviors, fear,</p><p>and anxiety. Handbook of Behavioral Neuroscience, v. 17, p. 63–79, 2008.</p><p>Doi: 10.1016/s1569-7339(07)00005-7.</p><p>151</p><p>Transtorno de ansiedade em felinos domésticos</p><p>DEHASSE, J. Feline urine spraying. Applied Animal Behaviour Science, v. 52,</p><p>n. 3-4, p. 365-371, 1997.</p><p>LITVIN, Y.; PENTKOWSKI, N. S.; POBBE, R. L.; BLANCHARD, D. C.;</p><p>BLANCHARD, R. J. (2008). Unconditioned models of fear and anxiety.</p><p>In R. J. Blanchard, D. C. Blanchard, G. Griebel & D. J. Nutt (Eds.),</p><p>Handbook of anxiety and fear. Amsterdam: Elsevier academic press.</p><p>OHL, F.; ARNDT, S. S.; VAN DER STAAY, F. J. Pathological anxiety in animals.</p><p>The Veterinary Journal, v. 175, n. 1, p. 18-26, 2008.</p><p>Overall, K. L. Clinical behavioral medicine for small animals. St. Louis –</p><p>Missouri: Mosby – Year Book, 1997. 544p.</p><p>PAGEAT,P.; GAULTIER, M. Current research in canine and feline pheromones.</p><p>Vet Clin North Am Small Anim Pract, Mar; v. 33, n. 2, p. 187-211, 2003.</p><p>Doi:10.1016/s0195-5616(02)00128-6.</p><p>PAGEAT, P. Pathologie du comportement du chien. Maisons-Alfort: Éd. du Point</p><p>vétérinaire, 1998.</p><p>https://www.sciencedirect.com/science/journal/01681591</p><p>https://www.sciencedirect.com/science/journal/01681591/52/3</p><p>https://www.sciencedirect.com/science/journal/01681591/52/3</p><p>https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=Pageat+P&cauthor_id=12701508</p><p>https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=Gaultier+E&cauthor_id=12701508</p><p>https://doi.org/10.1016/s0195-5616(02)00128-6</p><p>AGRESSIVIDADE</p><p>Capítulo 5</p><p>Marta Amat e Xavier Manteca – Espanha</p><p>COMO LIDAR COM AGRESSIVIDADE</p><p>CANINA DIRECIONADA A PESSOAS</p><p>156</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Os problemas de agressividade direcionada às pessoas são muito fre-</p><p>quentes na Medicina canina. Além de ser uma questão de saúde pública, têm</p><p>um impacto negativo no bem-estar dos cães. Para identificar o tipo de agres-</p><p>sividade, podemos nos focar no alvo (pessoas familiares ou desconhecidas),</p><p>no contexto em que ocorre (quando o cão está sendo manipulado, enquanto</p><p>está comendo etc.) e na postura do cão durante episódios agressivos (defen-</p><p>sivos, ofensivos ou ambivalentes – Figuras 1a e 1b).</p><p>Figura 1a – Postura ofensiva</p><p>Fonte: Amat et al. (2016)</p><p>Figura 1b – Postura defensiva</p><p>Fonte: Amat et al. (2016)</p><p>Considerando que algumas doenças podem contribuir para o surgi-</p><p>mento de problemas comportamentais, um exame médico deve ser incluído</p><p>no protocolo de diagnóstico (Figura 2 – Diagrama). Além disso, uma avaliação</p><p>de risco deve ser feita para analisar se é apropriado começar com o trata-</p><p>mento ou, pelo contrário, se o risco de viver com o cão agressivo é muito alto</p><p>e se o cão deve ser realojado ou eutanasiado. A presença de crianças, familia-</p><p>res com doenças físicas ou mentais, tutores amedrontados, cães de grande</p><p>porte e cães com agressividade impulsiva (ou seja, aqueles que mordem sem</p><p>sinais de alerta) aumentam o risco (Quadro 1).</p><p>157</p><p>Como lidar com agressividade canina direcionada a pessoas</p><p>Quadro 1 – Situações de maior risco</p><p>Situações de maior risco</p><p>Aspectos referentes ao tutor Aspectos referentes aos cães</p><p>Presença de crianças ou idosos Cães de grande porte</p><p>Membros da família com doenças Alguns tipos de agressividade (p. ex.,</p><p>predatória)</p><p>A falta de consciência dos tutores sobre o</p><p>problema</p><p>Cães impulsivos</p><p>Tutores muito amedrontados Contextos imprevisíveis</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>Problema de agressividade</p><p>Entrevista com o tutor</p><p>Informação sobre:</p><p>- Queixa do tutor</p><p>- Comportamento do cão</p><p>- Ambiente em que o cão vive</p><p>- Manejo pelo tutor</p><p>Diagnóstico presuntivo</p><p>(ver quadros com os</p><p>critérios principais)</p><p>Observação do cão/cães</p><p>Teste adicional</p><p>(p. ex., gravação de vídeo)</p><p>+</p><p>Check-up médico</p><p>Diagnóstico �nal</p><p>Avaliação de riscos</p><p>Nenhum risco ou</p><p>risco aceitável</p><p>TRATAMENTO</p><p>Alto risco</p><p>Realojamento</p><p>(eutanásia em alguns casos)</p><p>Figura 2 – Diagrama – Protocolo de diagnóstico nos problemas de agressividade canina</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>Existem várias classificações de comportamento agressivo em cães, e</p><p>todas elas se baseiam na proposta de Moyer (1968), que reconhece sete tipos</p><p>158</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>continua...</p><p>de comportamento agressivo. Neste capítulo, propõe-se uma classificação</p><p>muito prática, cuja base está na postura do cão, no contexto dos episódios de</p><p>agressão e no alvo da agressividade.</p><p>Os tipos mais comuns de agressividade direcionada às pessoas são:</p><p>� Agressividade direcionada a pessoas conhecidas</p><p>à Agressividade competitiva</p><p>� agressividade pela competição por recursos;</p><p>� agressividade relacionada à frustração.</p><p>à Agressividade relacionada ao medo;</p><p>à Agressividade maternal;</p><p>à Agressividade predatória (direcionada a crianças);</p><p>à Agressividade relacionada à dor.</p><p>� Agressividade contra pessoas desconhecidas</p><p>à Agressividade territorial;</p><p>à Agressividade relacionada ao medo;</p><p>à Agressividade predatória;</p><p>à Agressividade maternal;</p><p>à Agressividade relacionada à dor.</p><p>Quadro 2 – Principais critérios de diagnóstico para os tipos de agressividade mais frequentes</p><p>Critérios diagnósticos para a agressividade competitiva, direcionada aos membros da família</p><p>ALVO Membros da família</p><p>POSTURA Variável</p><p>Ofensiva: corpo rígido e ereto; pelos eriçados na região torácica dorsal;</p><p>cauda levantada que poderá estar balançando; orelhas para a frente;</p><p>contato visual direto (olhar fixo); lábios franzidos; dentes incisivos e</p><p>caninos à mostra; latidos e/ou grunhidos</p><p>Defensiva: superfície corporal reduzida; pelos eriçados nas regiões</p><p>torácica dorsal e lombar; cauda vertida sobre o períneo e entre as</p><p>pernas; orelhas para trás ou para baixo; dentes pré-molares e molares</p><p>à mostra, latidos e/ou grunhidos</p><p>Ambivalente: sinais ofensivos e defensivos ao mesmo tempo.</p><p>CONTEXTO Contextos competitivos (o cão compete</p><p>por recurso ou tenta</p><p>defendê-lo)</p><p>A vítima tira algo da boca do cão</p><p>A vítima toca o cão ou interage com ele</p><p>PERFIL DO CÃO Mais frequente em machos</p><p>Mais comum em algumas raças (como Cocker Spaniel Inglês)</p><p>159</p><p>Como lidar com agressividade canina direcionada a pessoas</p><p>Critérios diagnósticos para a agressividade competitiva, direcionada aos membros da família</p><p>FATORES</p><p>DESENCADEANTES</p><p>Recursos de alto valor</p><p>Tipo de recurso (alimento seco versus ossos)</p><p>Recurso nem sempre disponível</p><p>Competição pelo recurso</p><p>O manuseio inconsistente pode levar à frustração</p><p>Tolerância baixa à frustração (desmame precoce)</p><p>Critérios diagnósticos para a agressividade por medo, direcionada às pessoas</p><p>ALVO Pessoas conhecidas ou desconhecidas</p><p>POSTURA Defensiva: superfície corporal reduzida; pelos eriçados nas regiões</p><p>torácica dorsal e lombar; cauda vertida sobre o períneo e entre as</p><p>pernas; orelhas para trás ou para baixo; dentes pré-molares e molares</p><p>à mostra, latidos e/ou grunhidos</p><p>CONTEXTO Quando o tutor pune o cão, ou há manipulação que o desagrade (p. ex.,</p><p>escovação)</p><p>Em alguns casos, a aproximação ou a visão da pessoa já desencadeia a</p><p>reação agressiva defensiva</p><p>INÍCIO DO</p><p>PROBLEMA</p><p>Período de desenvolvimento devido à socialização inadequada ou após</p><p>experiência aversiva</p><p>Em clínica veterinária, como consequência de experiências negativas</p><p>Devido às condições dolorosas</p><p>Critérios diagnósticos para a agressividade maternal, direcionada às pessoas</p><p>ALVO Pessoas conhecidas ou desconhecidas</p><p>POSTURA Ofensiva: corpo rígido e ereto; pelos eriçados na região torácica dorsal;</p><p>cauda levantada que poderá estar em movimento pendular; orelhas</p><p>para a frente; contato visual direto (olhar fixo); lábios franzidos; dentes</p><p>incisivos e caninos à mostra ; latidos e/ou grunhidos</p><p>CONTEXTO Quando uma pessoa se aproxima da fêmea que está com sua ninhada</p><p>PERFIL DO CÃO No final da gestação, durante a lactação ou com pseudociese</p><p>Critérios diagnósticos para agressividade territorial, direcionada às pessoas desconhecidas</p><p>ALVO Pessoas desconhecidas (ou pessoas que não residem com o cão)</p><p>POSTURA Ofensiva: corpo rígido e ereto; pelos eriçados na região torácica</p><p>dorsal; cauda levantada que poderá estar balançando; orelhas para</p><p>a frente; contato visual direto (olhar fixo); lábios franzidos; dentes</p><p>incisivos e caninos à mostra; latidos e/ou grunhidos</p><p>CONTEXTO A vítima se aproxima do território que o cão considera ser sua propriedade</p><p>INÍCIO DO PROBLEMA A partir dos 6 meses de idade. Em geral, piora com a idade</p><p>PERFIL DO CÃO Mais frequente em machos</p><p>continua...</p><p>Quadro 2 – Continuação</p><p>160</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Critérios diagnósticos para a agressividade predatória, direcionada às pessoas</p><p>ALVO Crianças ou adultos em movimento, conhecidas e desconhecidas</p><p>POSTURA Típicas da sequência de predação. O cão fica tenso, pronto para o</p><p>ataque, olhar fixo para a vítima, orelhas posicionadas para a frente,</p><p>silencioso</p><p>CONTEXTO Pessoas em movimento (correndo, pedalando...)</p><p>CARACTERÍSTICAS O único tipo de agressividade que parece ser gratificante para o cão.</p><p>Portanto, ao longo do tempo, o problema se agrava</p><p>Critérios diagnósticos para agressividade direcionada às pessoas e relacionada à dor</p><p>ALVO Pessoas conhecidas ou desconhecidas (veterinários)</p><p>POSTURA Defensiva: superfície corporal reduzida; pelos eriçados nas regiões</p><p>torácica dorsal e lombar; cauda vertida sobre o períneo e entre</p><p>as pernas; orelhas para trás ou para baixo; dentes pré-molares e</p><p>molares à mostra, latidos e/ou grunhidos.</p><p>Em alguns casos, o cão pode reagir com impulsividade (sem sinais</p><p>de alerta)</p><p>CONTEXTO Manipulação de área dolorosa</p><p>Alguns cães podem reagir com agressividade, se anteciparem uma</p><p>manipulação dolorosa (mesmo que a condição dolorosa já tenha sido</p><p>resolvida)</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO PARA AGRESSIVIDADE DIRECIONADA</p><p>ÀS PESSOAS</p><p>Medidas gerais</p><p>Melhorar o manejo pelo tutor</p><p>1) Não reforçar o comportamento agressivo, pois a situação poderá se</p><p>agravar. Há reforço quando:</p><p>� o cão rosna ou manifesta outros sinais de agressividade, e o tutor</p><p>se afasta;</p><p>� o cão mostra sinais de agressividade, e o tutor tenta o acalmar ou</p><p>distrair (por exemplo, oferecendo algo para comer).</p><p>Quadro 2 – Continuação</p><p>161</p><p>Como lidar com agressividade canina direcionada a pessoas</p><p>2) Não punir o cão que apresenta comportamento agressivo, porque</p><p>isto pode aumentar a sua ansiedade e provocar reação agressiva</p><p>defensiva.</p><p>3) Evitar situações de conflito: inicialmente, o tutor deve evitar as</p><p>situações nas quais o cão já tenha demonstrado agressividade. Se</p><p>isso não for possível (por exemplo, porque o cão já está em um local</p><p>inapropriado/inacessível), o tutor deve:</p><p>� Chamar o cão à distância, oferecendo-lhe um pedaço de sua</p><p>comida favorita. Isso deve ser feito antes de o cão exibir sinais</p><p>agressivos (ou seja, dentes expostos, rosnados etc.);</p><p>� Utilizar um comando, como “senta”, quando o cão se aproxima</p><p>espontaneamente. Assim que o cão responder de forma ade-</p><p>quada, o tutor deve recompensá-lo.</p><p>4) Estabelecer regras consistentes para manejo: todos os membros da</p><p>família devem concordar sobre as rotinas diárias. Por exemplo, se</p><p>permitem que o cão durma na cama ou descanse no sofá. Todos</p><p>devem aplicar as mesmas regras.</p><p>5) Tentar diminuir o valor de recurso específico, caso a agressividade</p><p>esteja associada a isto (por exemplo, se é por alimento, adotar o</p><p>regime ad libitum).</p><p>Melhore o comportamento do cão</p><p>1) Plano para modificação do comportamento: estabelecer exercícios</p><p>de dessensibilização e contracondicionamento, com o objetivo de</p><p>habituar gradualmente o cão às situações de conflito (Quadros 2,</p><p>3 e 4 para alguns exemplos). Esses exercícios devem se basear em</p><p>reforço positivo e são a principal parte do tratamento. Em alguns</p><p>casos, exercícios adicionais são necessários para habituar o cão a</p><p>outros estímulos (por exemplo, campainha) associados ao estímulo</p><p>aversivo (pessoas).</p><p>Não são recomendadas estratégias, baseadas no tutor se comportando como “dominante”</p><p>em relação ao cão, já que isto pode colocar em risco e causar um efeito negativo sobre o</p><p>bem-estar do cão.</p><p>162</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 3 – Habituação à tigela de comida ao ser retirada</p><p>Habituação à tigela de comida ao ser retirada</p><p>Este exercício deve ser feito em um lugar diferente daquele em que o cão geralmente come</p><p>Um comedouro vazio deve ser usado inicialmente</p><p>Um comedouro diferente do habitual deve ser utilizado</p><p>Quando o cão se aproxima do comedouro, o tutor o encoraja a se afastar a uma certa</p><p>distância, usando a técnica de luring, para atrair a sua atenção (tutor com comida na mão</p><p>atrairá o cão, para que se afaste do comedouro)</p><p>Com a outra mão, o comedouro é removido. Um pedaço de comida deve ser colocado em seu</p><p>lugar (para evitar uma reação de frustração, ao não encontrar nada). Tendo o cão comido a</p><p>recompensa, o comedouro é recolocado no lugar</p><p>Esse exercício deve ser repetido várias vezes</p><p>Mais tarde, o exercício é repetido, colocando-se alimentos dentro do comedouro, começando</p><p>com alimentos de baixo valor (p. ex., alimentos secos) e substituindo-se, gradualmente,</p><p>por um alimento mais valioso (p. ex., frango)</p><p>Este exercício deve ser repetido várias vezes</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>Quadro 4 – Habituação à escovação</p><p>Habituação à escovação</p><p>Dar um comando ao cão (p. ex., senta), enquanto segura a escova com uma mão</p><p>Assim que o cão sentar, dar uma recompensa comestível. Esse exercício deve ser repetido 2-3</p><p>vezes por dia, durante 3 dias</p><p>Se o cão permanece relaxado, então o exercício deverá ser repetido, mas agora, com a escova</p><p>mais visível. Esse exercício deve ser repetido 2-3 vezes por dia durante 3 dias</p><p>Posteriormente, o exercício deverá ser repetido, mas, desta vez, escovando o cão e usando o</p><p>lado oposto às cerdas. Este exercício deve ser repetido 2-3 vezes por dia, durante 3 dias</p><p>O exercício será, então, repetido, mas, desta vez, escovando o</p><p>cão na área mais agradável</p><p>para ele. Esse exercício deve ser repetido 2-3 vezes por dia, durante 3 dias</p><p>Finalmente, o exercício será repetido, porém, desta vez, escovando todo o corpo do cão</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>163</p><p>Como lidar com agressividade canina direcionada a pessoas</p><p>Quadro 5 – Habituação para cães com medo de pessoas</p><p>Habituação para cães com medo de pessoas</p><p>O primeiro objetivo é mudar a percepção do cão, combinando a presença de pessoas com</p><p>uma recompensa. Os tutores podem colocar pedaços de comida ao alcance do cão e sair do</p><p>local, para que o cão coma, quando quiser</p><p>Depois de algum tempo, o cão deixa de ver a pessoa como uma ameaça em potencial e, em</p><p>vez disso, começa a associá-la a um estímulo positivo (comida ou petisco)</p><p>Enquanto o cão ainda tem medo, é preciso evitar fazer movimentos repentinos, falar em voz</p><p>alta ou olhar para o cão</p><p>Uma vez que o cão vai se habituando à presença de uma determinada pessoa, esta deve</p><p>recompensá-lo quando se aproximar dele. Por exemplo, ela pode sentar-se no chão (para</p><p>parecer menos ameaçadora) e jogar um petisco a certa distância dele, jogar o segundo mais</p><p>próximo e assim por diante</p><p>A última recompensa sempre deve ser jogada ainda a uma certa distância da pessoa.</p><p>Esse exercício deve ser repetido por vários dias até que o cão adquira confiança na pessoa.</p><p>O próximo passo é treinar o cão, para tolerar o contato direto</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>2) Terapia farmacológica: os inibidores seletivos de recaptação da</p><p>serotonina (por exemplo, Fluoxetina) podem ser úteis, quando o</p><p>cão reage com impulsividade, uma vez que baixos níveis de seroto-</p><p>nina estão associados à impulsividade (Quadro 5). Antidepressivos</p><p>tricíclicos (p. ex., Amitriptilina), agonistas α2 adrenérgicos (p. ex.,</p><p>Clonidina) ou o antagonista e inibidor da recaptação da serotonina</p><p>(p. ex., Trazodona) podem ser administrados, quando o medo e a</p><p>ansiedade estão envolvidos (Quadro 5).</p><p>Um exame médico deve ser feito antes de iniciar um tratamento</p><p>farmacológico, incluindo hemograma completo e perfil bioquí-</p><p>mico. Algumas associações medicamentosas devem ser evitadas,</p><p>tais como:</p><p>� Antidepressivos tricíclicos + inibidor de monoaminoxidase;</p><p>� Antidepressivos tricíclicos + antagonista e inibidor de recepta-</p><p>ção da serotonina;</p><p>� Antagonista e inibidor de receptação da serotonina + inibidor de</p><p>monoaminoxidase.</p><p>164</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 6 – Doses</p><p>Doses</p><p>Amitriptilina 1-2 mg/kg a cada 12 horas (administrar com alimentos)</p><p>Fluoxetina 1-2 mg/kg a cada 24 horas (administrar pela manhã, com algum alimento)</p><p>Fonte: elaborado pelos autores</p><p>3) Castração: pode ser considerada nos machos, quando eles mos-</p><p>tram agressividade ofensiva (agressividade competitiva), embora</p><p>não apresente alta eficácia. Em alguns casos, um implante de des-</p><p>lorelina*, um agonista de hormônio liberador de gonadotrofina,</p><p>poderia ser usado como alternativa à castração cirúrgica. Os efei-</p><p>tos da deslorelina são reversíveis, e os machos tratados recuperam</p><p>a sua fertilidade em seis meses. O comportamento agressivo pode</p><p>aumentar temporariamente após o implante ser colocado. A castra-</p><p>ção de fêmeas agressivas não é recomendada.</p><p>4) Outras medidas (dietas, nutracêuticos, feromônios, exercícios</p><p>físicos): existem vários produtos com propriedades ansiolíticas</p><p>que podem ser úteis, quando o cão mostra altos níveis de ansie-</p><p>dade e/ou medo. Feromônios sintéticos, suplementos nutricionais</p><p>e dietas, que contêm suplementos nutricionais ansiolíticos, são</p><p>alguns exemplos. O exercício físico também é muito benéfico, pois</p><p>aumenta os níveis de serotonina e endorfinas.</p><p>Medidas específicas</p><p>Além das estratégias descritas anteriormente, existem algumas reco-</p><p>mendações adicionais para alguns tipos de problemas de agressividade.</p><p>Medidas específicas para a agressividade direcionada às pessoas, quando a frustração</p><p>está envolvida</p><p>Por exemplo, pode-se mostrar um pedaço de comida ao cão. Quando o</p><p>cão tentar pegá-lo, dizer “NÃO” e imediatamente dar um pedaço de comida</p><p>* Nota dos Organizadores – A Deslorelina inibe competitivamente os receptores de GnRH, com</p><p>consequente efeito inibidor na produção de testosterona. No Brasil, não há apresentação</p><p>comercial para uso em cães.</p><p>165</p><p>Como lidar com agressividade canina direcionada a pessoas</p><p>com a outra mão. Gradualmente, o tempo entre o “NÃO” e a recompensa</p><p>aumentará.</p><p>Medidas específicas para a agressividade maternal, direcionada às pessoas</p><p>1) Reduzir o contato com os filhotes pelo menos durante os primei-</p><p>ros dias;</p><p>2) Se um exame dos filhotes for essencial, deixar a fêmea em uma</p><p>sala, com alguma recompensa (p. ex., brinquedo dispensador de</p><p>alimento) enquanto os filhotes são examinados. Usar luvas e, uma</p><p>vez terminado o exame, esfregar uma toalha, impregnada com o</p><p>odor da fêmea nos filhotes.</p><p>Medidas específicas para a agressão predatória, direcionada às pessoas</p><p>O tratamento desse tipo de agressividade é muito difícil. Uma vez que</p><p>a motivação do cão não pode ser eliminada, a única medida eficaz é melhorar</p><p>o controle sobre o cão.</p><p>1) Melhorar o controle do cão durante as caminhadas;</p><p>2) Usar uma focinheira durante as caminhadas;</p><p>3) Confinar o cão, se o problema aparecer, quando ele estiver em casa.</p><p>Medidas específicas para a agressividade relacionada à dor e direcionada às pessoas</p><p>1) Tratar adequadamente a dor;</p><p>2) Não tocar na área dolorida;</p><p>3) Uma vez que a condição dolorosa tenha sido tratada, habituar o cão</p><p>a ser tocado/manipulado na área previamente dolorida, usando</p><p>exercícios de dessensibilização e contracondicionamento.</p><p>166</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>AMAT, M.; CAMPS, T.; LE BRECH, S.; TEJEDOR, S. Manual práctico de etología</p><p>clínica del perro. Multimédica Ediciones Veterinarias, 2016.</p><p>ARHANT, C., BUBNA-LITTITZ, H., BARTELS, A., FUTSCHIK, A., TROXLER,</p><p>J. Behaviour of smaller and larger dogs: Effects of training methods,</p><p>inconsistency of owner behaviour and level of engagement in activities</p><p>with the dog. Appl. Anim. Behav. Sci. v. 123, p. 131-142, 2010.</p><p>BAIN, M. Aggression towards unfamiliar people and animals. In: HORWITZ,</p><p>D. F.; MILLS, D. S. BSAVA Manual of Canine and Feline Behvaioural</p><p>Medicine. 2 ed. Gloucester, UK. v. 18, p. 211-222, 2009.</p><p>BEAVER, B. V. Canine Social Behavior. In: BEAVER, B. V (ed). Behavior Insights</p><p>and Answers. 2 ed. St. Louis: Saunders Elsevier. 4: 133-192, 2009.</p><p>BOWEN J., HEATH, S. Canine aggression problems. In: Bowen, J; HEATH, S.</p><p>(eds) Behaviour problems in small animals, practical advice for the veteri-</p><p>nary team. Philadelphia: Elsevier Saunders, v. 11, p. 117-140, 2005.</p><p>BRADSHAW, J. W. S; BLACKWELL, E. J.; CASEY, R. A. Dominance in domestic</p><p>dogs – useful construct or bad habit? Journal of Veterinary Behavior:</p><p>Clinical Applications and research, v. 4, p. 135-144, 2009.</p><p>LANDSBERG, G.; HUNTHAUSEN, W.; ACKERMAN, L. Canine aggression.</p><p>In: LANDSBERG, G. HUNTHAUSEN; W.; ACKERMAN, L. (eds). Handbook</p><p>of behavior problems of the dog and cat. 2 ed. Philadelphia: Elsevier</p><p>Saunders, pp. 385-426, 2003.</p><p>LUESCHER, A. U.; REISNER, I. R. Canine aggression toward familiar people:</p><p>a new look at an old problem. Veterinary Clinics of the North America</p><p>Small Animal Practice, v. 38, p. 1107-1130, 2008.</p><p>MOYER, K. E. Kinds of aggression and their physiological basis.</p><p>Communications in Behavioral Biology, v. 2, p. 65-87, 1968.</p><p>OVERALL, K. L. Abnormal canine behaviors and behavioral pathologies invol-</p><p>ving aggression. In: Clinical Behavioral Medicine for dogs and cats. 2 ed.</p><p>St. Louis: Elsevier pp. 6: 172-230, 2013.</p><p>REISNER, I. An overview of aggression. In: HORWITZ, D., MILLS, D., HEATH,</p><p>S. (eds). BSAVA Manual of Canine and Feline Behavioural Medicine.</p><p>Gloucester: British Small Animal Veterinary Association, v. 19,</p><p>p. 181-194, 2002.</p><p>Leticia Mattos de Souza Dantas – Brasil/EUA</p><p>AGRESSIVIDADE EM GATOS</p><p>168</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Vivenciar medo e ansiedade provoca</p><p>efeitos prejudiciais à saúde e</p><p>redução no tempo de vida de pacientes veterinários, assim como de pacientes</p><p>humanos (DRESCHEL, 2010). O tratamento médico de distúrbios mentais e</p><p>comportamentais deve fazer parte da Medicina Veterinária moderna e inte-</p><p>grada, uma vez que os hormônios relacionados ao estresse, afetam negati-</p><p>vamente não somente o cérebro, mas também, vários outros órgãos a curto</p><p>e longo prazo (WESTROPP; KASS; BUFFINGTON, 2006). Nesse sentido, gatos</p><p>são, no geral, propensos ao desenvolvimento de doenças crônicas após serem</p><p>expostos ao estresse agudo e crônico (STELLA; CRONEY; BUFFINGTON, 2013;</p><p>WAGNER; KASS; HURLEY, 2012). Em termos comportamentais, dependendo</p><p>do desenvolvimento cerebral durante a gestação, a genética e todos os fato-</p><p>res, associados ao ambiente e ao aprendizado (epigenética), alguns pacien-</p><p>tes felinos podem vir a expressar o seu estresse e emoções negativas (medo,</p><p>ansiedade, frustração etc.) na forma de agressividade. Assinala-se que o com-</p><p>portamento agressivo é uma questão de saúde pública, quando direcionado a</p><p>pessoas, pode dificultar a integração de novos gatos ao domicílio e facilita a</p><p>transmissão de doenças entre gatos e entre gatos e humanos (OVERALL, 2013c).</p><p>Entretanto, antes de entender e tratar as causas que levam ao compor-</p><p>tamento agressivo, é necessário compreender os aspectos abaixo destacados</p><p>(BRADSHAW, 2016; DANTAS et al., 2011).</p><p>� O comportamento agressivo não é uma entidade ou diagnóstico único;</p><p>� A agressividade faz parte do repertório comportamental normal de</p><p>todas as espécies e é parte intrínseca de seu comportamento social;</p><p>� O comportamento agressivo é resultado da neurofisiologia e neu-</p><p>roendocrinologia de cada indivíduo;</p><p>� Vários neurotransmissores e hormônios, que agem no cérebro,</p><p>estão envolvidos na gênese da agressividade, e os tipos de com-</p><p>portamento agressivo envolvem diferentes receptores e áreas do</p><p>cérebro;</p><p>� Algumas formas de agressividade indicam quadro patológico cere-</p><p>bral grave, enquanto outras têm bom prognóstico, se tratadas e</p><p>manejadas de forma correta;</p><p>� Os processos neurofisiológicos, envolvidos no estresse, medo e ansie-</p><p>dade, são a causa mais comum do comportamento agressivo em gatos.</p><p>169</p><p>Agressividade em gatos</p><p>COMPREENSÃO DA NEUROBIOLOGIA E NEUROANATOMIA DO</p><p>COMPORTAMENTO AGRESSIVO</p><p>O cérebro é o órgão que centraliza e desencadeia a cascata fisiológica</p><p>e endocrinológica do estresse. Uma vez que este órgão detecta informações</p><p>internas ou externas, identificadas ou aprendidas como sinais de “perigo”,</p><p>o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é ativado (MCEWEN, 2017).</p><p>Em termos neurais, os sistemas serotoninérgico e dopaminérgico</p><p>são cruciais para o controle do comportamento agressivo. O sistema sero-</p><p>toninérgico é afetado em diferentes doenças e também em síndromes de</p><p>ansiedade, de humor e na agressividade. Nesse contexto, o receptor 5-HT2A</p><p>foi identificado como especialmente disfuncional em casos de agressividade</p><p>impulsiva (COCCARO, 1992; PEREMANS et al., 2003). Enfatiza-se também que</p><p>a correlação negativa entre níveis baixos de serotonina no soro e níveis altos</p><p>de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol, com o comporta-</p><p>mento agressivo foi identificada em várias espécies. Essa correlação é ainda</p><p>mais pronunciada em pacientes que apresentam agressividade impulsiva</p><p>(ROSADO et al., 2010).</p><p>Em termos de neuroanatomia, a agressividade defensiva é gerada,</p><p>quando há estimulação do hipotálamo medial e da área cinza periaque-</p><p>ductal do mesencéfalo. Essa ativação é mediada por receptores para GABA</p><p>e serotonina (5-HT1; GABAA). Em contraste, a gênese do comportamento</p><p>predatório e do consequente comportamento agressivo está situada</p><p>na ativação do hipotálamo lateral. Essas duas áreas hipotalâmicas pos-</p><p>suem ligação anatômica, regulada por receptores GABAA. Igualmente,</p><p>outras estruturas do sistema límbico têm importante função reguladora</p><p>(CHEU; SIEGEL, 1998; HAN; SHAIKH; SIEGEL, 1996; SHAIKH; SIEGEL,</p><p>1990). Neurotransmissores excitatórios, como a substância P, catecolami-</p><p>nas, colecistocinina, vasopressina e serotonina (por meio de receptores</p><p>5-HT2), potenciam o comportamento agressivo. Já os neurotransmissores</p><p>inibitórios, como GABA, encefalinas e serotonina (por meio de receptores</p><p>5-HT1), inibem a agressividade. Outras substâncias, como citoquinas (p.</p><p>ex., IL-1β e IL-2), modulam o comportamento agressivo pela sua interação</p><p>com receptores para serotonina (5-HT2), GABA(GABAA) e receptores NK1</p><p>(SIEGEL; BHATT; BHATT; ZALCMAN, 2007).</p><p>170</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>É importante lembrar que outros hormônios, considerados importan-</p><p>tes na regulação do comportamento agressivo, como a oxitocina e vasopres-</p><p>sina, ainda não foram estudados com aplicação clínica no gato doméstico.</p><p>Entretanto, sabe-se que esses hormônios regulam o comportamento afilia-</p><p>tivo e agressivo em outras espécies (MCLEAN et al., 2017).</p><p>Resultados de pesquisas em neuroanatomia e neuroendocrinologia têm</p><p>permitido aos especialistas clínicos fazerem escolhas mais específicas quanto</p><p>à seleção de drogas para tratar a agressividade. A tendência da Psiquiatria</p><p>Animal ou “Medicina do Comportamento” na Medicina Veterinária, assim</p><p>como da Psiquiatria Humana é basear os seus diagnósticos e protocolos de</p><p>tratamento em achados e evidências neurocientíficas, ao invés de direcionar</p><p>um olhar externo ao comportamento animal, como feito historicamente no</p><p>passado (CROWELL-DAVIS; MURRAY, 2006).</p><p>OUTROS FATORES ENVOLVIDOS NA GÊNESE DA AGRESSIVIDADE</p><p>No cão, vários genes, relacionados aos sistemas serotoninérgico e</p><p>dopaminérgico (entre outros), foram associados à predisposição à agressivi-</p><p>dade (VAGEL et al., 2010). Embora haja falta de estudos nessa área para o gato</p><p>doméstico, verifica-se que fatores genéticos (por exemplo, histórico familiar</p><p>e raça) influenciam a manifestação do comportamento agressivo. Animais</p><p>que apresentam autocontrole deficiente e histórico de reações de medo, exci-</p><p>tação e estresse excessivo, e/ou de distúrbios de ansiedade, são pacientes</p><p>em maior risco para o desenvolvimento de comportamento agressivo (SHIN;</p><p>LIBERZON, 2010).</p><p>A separação precoce do filhote da mãe, a negligência e o abuso afe-</p><p>tam negativamente o desenvolvimento cerebral dos animais. Isso também é</p><p>fato para a privação nutricional e exposição a doenças e a fatores ambientais</p><p>deletérios nos primeiros meses de vida. Esses tipos de experiências, quando</p><p>o cérebro ainda está em desenvolvimento, predispõe ao estresse crônico,</p><p>à agressividade e aos distúrbios de humor e ansiedade, devido às mudanças</p><p>epigenéticas no cérebro (KUNDAKOVIC; CHAMPAGN, 2015).</p><p>Finalmente, fatores ambientais, como viver em um ambiente caótico,</p><p>sem estrutura e rotina, com conflito entre gatos, com falta ou com problemas</p><p>durante o processo de socialização, e a utilização de punição positiva, causam</p><p>171</p><p>Agressividade em gatos</p><p>estresse agudo e crônico e predispõe o animal ao desenvolvimento do com-</p><p>portamento agressivo (OVERALL, 2013a).</p><p>AVALIAÇÃO INICIAL DO PACIENTE</p><p>Exclusão e diagnóstico de possíveis complicações médicas</p><p>É comum no gato doméstico que a exposição aguda e crônica ao estresse</p><p>leve ao desenvolvimento de doenças complexas que podem afetar diversos</p><p>sistemas. Alguns exemplos comuns são a cistite intersticial felina, a doença</p><p>intestinal crônica, problemas dermatológicos e infecções recorrentes (STELLA;</p><p>CRONEY; BUFFINGTON, 2013; WAGNER; KASS; HURLEY, 2012). O detalhamento</p><p>dos sintomas clínicos, do diagnóstico e do tratamento de doenças, associadas</p><p>ao estresse, ultrapassa o escopo deste capítulo. No entanto, é importante que o</p><p>médico veterinário realize uma avaliação global do paciente, para ter certeza de</p><p>que, além do problema comportamental ou mental em questão, não haja outro</p><p>processo patológico concomitante (OVERALL, 2013c).</p><p>Exame físico e exames laboratoriais</p><p>Os primeiros passos para a avaliação do paciente felino que apresenta</p><p>problemas emocionais, mentais ou comportamentais são o exame</p><p>físico e</p><p>os exames laboratoriais básicos (exame de sangue completo, bioquímica e</p><p>exame de urina). O exame físico neurológico é essencial, uma vez que proble-</p><p>mas neurológicos estão entre os principais diagnósticos de exclusão. Além de</p><p>excluir outras causas para o problema, é importante que se tenha um quadro</p><p>básico completo antes de o gato começar a receber medicação psicotrópica</p><p>(OVERALL, 2013b).</p><p>Histórico comportamental</p><p>Na Psiquiatria Animal ou “Medicina do Comportamento”, um histó-</p><p>rico detalhado é fundamental, a fim de que sejam conhecidos os detalhes</p><p>172</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>importantes, como a gênese e o desenvolvimento do problema; os estímulos</p><p>ou os gatilhos externos; os processos de aprendizado envolvidos; os proble-</p><p>mas de saúde (extra cerebrais), não notificados ou diagnosticados; o papel do</p><p>ambiente; de outros animais e dos proprietários etc. Livros especializados e</p><p>diversos websites possuem modelos de históricos que podem ser baixados e</p><p>utilizados por médicos veterinários (OVERALL, 2013a).</p><p>DIAGNÓSTICO, AVALIAÇÃO DE RISCO E PROGNÓSTICO</p><p>Apesar da terminologia diversa empregada por vários autores em</p><p>Medicina Veterinária, em termos de diagnóstico, os passos necessários são</p><p>(OVERALL, 2013c):</p><p>� Determinar a causa/etiologia do comportamento (distúrbio de</p><p>ansiedade, processos relacionados ao estresse agudo e crônico,</p><p>outros processos patológicos etc.);</p><p>� Diferenciar a agressividade defensiva (quando o gato responde a um</p><p>estímulo ameaçador externo) da impulsiva (agressividade sem pro-</p><p>vocação, com ataques impulsivos e explosivos, sem comportamento</p><p>de ameaça antecedente e sem estímulo externo);</p><p>� Identificar os estímulos externos que podem ser controlados ou</p><p>manejados (resposta a indivíduos específicos, fatores ambientais etc.).</p><p>A agressividade defensiva em gatos é comumente secundária ao medo</p><p>e ansiedade, dor, aos problemas relacionados aos recursos, como comida e</p><p>caixa sanitária (geralmente, direcionada a outros gatos), à proteção pessoal e</p><p>territorial (tipicamente direcionada aos gatos que não fazem parte do grupo</p><p>residente) e é, com frequência, multifatorial e secundária aos distúrbios de</p><p>ansiedade (como a ansiedade generalizada e fobias específicas). A agressivi-</p><p>dade impulsiva geralmente se manifesta ou como comportamento predatório</p><p>(direcionado a animais menores, que são presas típicas de felinos) ou como</p><p>agressividade patológica, que não se apresenta em resposta a um estímulo</p><p>nem é previsível. Assinala-se que o único estímulo externo, nesses casos, é a</p><p>presença da vítima (OVERALL, 2013c).</p><p>Quando a avaliação de risco e prognóstico, bem como a diferenciação</p><p>entre agressividade defensiva (que possui melhor prognóstico, uma vez que a</p><p>173</p><p>Agressividade em gatos</p><p>cascata de estresse e os distúrbios de ansiedade podem ser tratados) e impul-</p><p>siva (que possui prognóstico reservado a desfavorável uma vez que é difícil ou</p><p>impossível prever os ataques), deve-se levar em consideração outros fatores,</p><p>relacionados às vítimas dos ataques (crianças e idosos x adultos; gatos que</p><p>moram no domicílio x gatos no entorno do domicílio), intensidade dos ata-</p><p>ques e grau de autocontrole do gato (tipo e localização das mordidas, uso ou</p><p>não, das unhas) e quanto o gato é capaz de ameaçar antes de atacar. Quanto</p><p>mais longo, detalhado e extensivo o comportamento de ameaça (expressão</p><p>facial, vocalizações, comportamento de escape etc.) que precede os ataques</p><p>(se há mordidas ou arranhaduras), maior o grau de socialização do gato e</p><p>mais segurança haverá, para manejar o animal durante o tratamento. A idade</p><p>do animal, longevidade do problema e complicações médicas também afetam</p><p>o prognóstico (OVERALL, 2013c).</p><p>TRATAMENTO</p><p>Os objetivos primordiais, ao se tratar um gato agressivo, devem ser:</p><p>evitar novos ataques (especialmente que levem ao contato físico do gato</p><p>com a vítima); tratar o processo neural por trás dos ataques/etiologia (medo,</p><p>ansiedade, dor etc.); e ensinar comportamentos funcionais ao gato (que pode-</p><p>rão evitar o agravamento do caso e futuros problemas) pelo manejo e terapia</p><p>comportamental (OVERALL, 2013c).</p><p>Educação do proprietário</p><p>É importante não só para que sejam obtidos bons resultados com a</p><p>terapia comportamental e o novo manejo, mas também para a segurança de</p><p>quem vive com o gato que os proprietários aprendam a compreender a lin-</p><p>guagem corporal e expressão facial de seus gatos. É mais fácil interromper</p><p>e redirecionar agressividade antes que a excitação, o processo de estresse</p><p>e a ativação autonômica do animal estejam avançadas (detalhes abaixo, em</p><p>Terapia comportamental).</p><p>Quando submetido ao estresse, gatos apresentam sinais de agitação</p><p>no rosto, no corpo e no tipo de comportamento que, gradualmente, se torna</p><p>174</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>mais intenso. As Figuras 1, 2 e 3 mostram um gato calmo e com sinais de com-</p><p>portamento afiliativo (rosto relaxado; olhos semicerrados ou abertos, sem</p><p>estarem arregalados; pupilas de tamanho normal; orelhas eretas e relaxadas,</p><p>olhando para um ponto, mas, sem encarar; cauda ereta e com a ponta em</p><p>forma de ponto de interrogação, quando de pé, e relaxada, quando deitado).</p><p>Gatos que procuram contato afiliativo geralmente se aproximam com postu-</p><p>ras e expressão facial semelhante, buscando contato com o nariz (em inglês,</p><p>nose touch), contato sutil com a cauda (tail wrapping) e esfregando a lateral</p><p>da face ou do corpo (rubbing ou bunting). Esses sinais afiliativos podem ser</p><p>direcionados a humanos ou a outros gatos (CAFAZZO; NATOLI, 2009; CURTIS,</p><p>KNOWLES; CROWELL-DAVIS, 2003; SARAH; BRADSHAW, 2014).</p><p>Nas Figuras 4, 5, 6 e 7, podem ser observados sinais de tensão no rosto</p><p>e no corpo do animal: orelhas flexionadas lateralmente ou para trás, dilatação</p><p>pupilar, agitação da cauda, pelo arrepiado, tensão muscular (especialmente,</p><p>na musculatura maxilar), vocalizações, como o rosnar, gritar ou bufar são</p><p>condutas típicas. Quando encurralados, os gatos tendem a arquear as costas e</p><p>a atacar com as patas da frente. A maior parte dos pacientes felinos apresenta</p><p>alguns ou vários desses sinais antes de qualquer tentativa ativa de arranhar</p><p>ou morder (a não ser que o problema em questão seja agressão impulsiva,</p><p>que é rara em gatos comparados aos cães). Comportamentos de escape (evi-</p><p>tar o contato visual ou olhar diretamente, pressionar o corpo contra o chão,</p><p>recuar, fugir, se esconder, pular para ou escalar locais elevados) são respostas</p><p>frequentemente observadas em gatos, já que esta é uma espécie que evoluiu</p><p>com padrões comportamentais não só de predador, como também, de presa</p><p>(BRADSHAW; CASEY; BROWN, 2012).</p><p>Outra parte a ser destacada da biologia comportamental do gato é o</p><p>uso dos comportamentos de marcação (com urina, unhas, rosto e corpo), para</p><p>evitar conflitos e sinalizar o estresse. É comum que pacientes felinos, os quais</p><p>vivenciam ansiedade, tenham aumento de todos ou alguns comportamentos</p><p>de marcação (MACDONALD; YAMAGUCHI; KERBY, 2000).</p><p>175</p><p>Agressividade em gatos</p><p>Figura 2 – Gato deitado, sem exposição da região abdominal. Linguagem corporal e</p><p>expressão facial relaxadas (rosto relaxado, olhos abertos, sem estarem arregalados,</p><p>olhando sem encarar e com pupilas de tamanho normal, orelhas eretas e relaxadas, cauda</p><p>descansando ao longo do corpo)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>Figura 1 – Gato em pé. Linguagem</p><p>corporal e expressão facial relaxadas, com</p><p>sinais de comportamento afiliativo (rosto</p><p>relaxado, olhos abertos, sem estarem</p><p>arregalados, olhando sem encarar e com</p><p>pupilas de tamanho normal, orelhas eretas</p><p>e relaxadas, cauda ereta e com a ponta em</p><p>forma de ponto de interrogação)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>176</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Figura 3 – Gato deitado lateralmente,</p><p>com exposição da região abdominal.</p><p>Linguagem corporal e expressão</p><p>facial relaxadas (rosto relaxado, olhos</p><p>semicerrados, pupilas de tamanho</p><p>normal, orelhas eretas e relaxadas,</p><p>cauda relaxada)</p><p>o</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>.</p><p>V</p><p>is</p><p>ta</p><p>d</p><p>e</p><p>c</p><p>im</p><p>a</p><p>,</p><p>a</p><p>c</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>é</p><p>b</p><p>e</p><p>m</p><p>d</p><p>e</p><p>fi</p><p>n</p><p>id</p><p>a</p><p>.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>m</p><p>u</p><p>it</p><p>o</p><p>l</p><p>e</p><p>ve</p><p>.</p><p>B</p><p>e</p><p>m</p><p>p</p><p>ro</p><p>p</p><p>o</p><p>rc</p><p>io</p><p>n</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>ã</p><p>o</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>m</p><p>a</p><p>s</p><p>sã</p><p>o</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>s.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>P</p><p>e</p><p>q</p><p>u</p><p>e</p><p>n</p><p>a</p><p>q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>ti</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>le</p><p>ve</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>s</p><p>o</p><p>b</p><p>e</p><p>sp</p><p>e</p><p>ss</p><p>a</p><p>c</p><p>a</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>a</p><p>u</p><p>se</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>D</p><p>is</p><p>te</p><p>n</p><p>sã</p><p>o</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>ó</p><p>b</p><p>vi</p><p>a</p><p>.</p><p>A</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>e</p><p>m</p><p>c</p><p>o</p><p>m</p><p>g</p><p>ra</p><p>n</p><p>d</p><p>e</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>ó</p><p>si</p><p>to</p><p>s</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>so</p><p>b</p><p>c</p><p>a</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>s</p><p>ã</p><p>o</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>n</p><p>ã</p><p>o</p><p>v</p><p>is</p><p>ív</p><p>e</p><p>l.</p><p>L</p><p>e</p><p>ve</p><p>d</p><p>is</p><p>te</p><p>n</p><p>sã</p><p>o</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>so</p><p>b</p><p>c</p><p>a</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>s</p><p>ã</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>d</p><p>if</p><p>íc</p><p>il</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>a</p><p>çã</p><p>o</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>p</p><p>o</p><p>u</p><p>co</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>S</p><p>e</p><p>m</p><p>r</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l.</p><p>A</p><p>b</p><p>d</p><p>ô</p><p>m</p><p>e</p><p>n</p><p>a</p><p>rr</p><p>e</p><p>d</p><p>o</p><p>n</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>o</p><p>co</p><p>m</p><p>m</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>ra</p><p>d</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>p</p><p>ó</p><p>si</p><p>to</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>.</p><p>M</p><p>U</p><p>IT</p><p>O</p><p>M</p><p>A</p><p>G</p><p>R</p><p>O</p><p>ID</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>A</p><p>C</p><p>IM</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>P</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>I</p><p>D</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>S</p><p>O</p><p>B</p><p>R</p><p>E</p><p>P</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>O</p><p>B</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>O</p><p>g</p><p>a</p><p>to</p><p>e</p><p>st</p><p>á</p><p>n</p><p>o</p><p>p</p><p>e</p><p>so</p><p>i</p><p>d</p><p>e</p><p>a</p><p>l?</p><p>G</p><p>A</p><p>T</p><p>O</p><p>S</p><p>Fi</p><p>gu</p><p>ra</p><p>3</p><p>–</p><p>T</p><p>ab</p><p>el</p><p>a</p><p>de</p><p>c</p><p>on</p><p>di</p><p>çã</p><p>o</p><p>co</p><p>rp</p><p>or</p><p>al</p><p>p</p><p>ar</p><p>a</p><p>ga</p><p>to</p><p>s</p><p>Fo</p><p>nt</p><p>e:</p><p>R</p><p>oy</p><p>al</p><p>C</p><p>an</p><p>in</p><p>®</p><p>20</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>C</p><p>Ã</p><p>E</p><p>S</p><p>ES</p><p>C</p><p>O</p><p>R</p><p>E</p><p>D</p><p>E</p><p>C</p><p>O</p><p>N</p><p>D</p><p>IÇ</p><p>ÃO</p><p>C</p><p>O</p><p>R</p><p>P</p><p>O</p><p>R</p><p>AL</p><p>O</p><p>c</p><p>ã</p><p>o</p><p>e</p><p>st</p><p>á</p><p>n</p><p>o</p><p>p</p><p>e</p><p>so</p><p>i</p><p>d</p><p>e</p><p>a</p><p>l?</p><p>M</p><p>U</p><p>IT</p><p>O</p><p>M</p><p>A</p><p>G</p><p>R</p><p>O</p><p>ID</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>A</p><p>C</p><p>IM</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>P</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>I</p><p>D</p><p>E</p><p>A</p><p>L</p><p>S</p><p>O</p><p>B</p><p>R</p><p>E</p><p>P</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>O</p><p>B</p><p>E</p><p>S</p><p>O</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s,</p><p>c</p><p>o</p><p>lu</p><p>n</p><p>a</p><p>l</p><p>o</p><p>m</p><p>b</p><p>a</p><p>r</p><p>e</p><p>o</p><p>ss</p><p>o</p><p>s</p><p>p</p><p>é</p><p>lv</p><p>ic</p><p>o</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>.</p><p>S</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>l.</p><p>A</p><p>lg</p><p>u</p><p>m</p><p>a</p><p>s</p><p>p</p><p>ro</p><p>e</p><p>m</p><p>in</p><p>ê</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>s</p><p>ó</p><p>ss</p><p>e</p><p>a</p><p>s</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>à</p><p>d</p><p>is</p><p>tâ</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>.</p><p>P</p><p>e</p><p>rd</p><p>a</p><p>m</p><p>ín</p><p>im</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>a</p><p>ss</p><p>a</p><p>m</p><p>u</p><p>sc</p><p>u</p><p>la</p><p>r.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>e</p><p>p</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>s</p><p>e</p><p>r</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>is</p><p>s</p><p>e</p><p>m</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>l.</p><p>A</p><p>p</p><p>ó</p><p>fi</p><p>se</p><p>d</p><p>a</p><p>c</p><p>o</p><p>lu</p><p>n</p><p>a</p><p>l</p><p>o</p><p>m</p><p>b</p><p>a</p><p>r</p><p>vi</p><p>sí</p><p>ve</p><p>l,</p><p>o</p><p>ss</p><p>o</p><p>s</p><p>p</p><p>é</p><p>lv</p><p>ic</p><p>o</p><p>s</p><p>se</p><p>to</p><p>rn</p><p>a</p><p>m</p><p>p</p><p>ro</p><p>e</p><p>m</p><p>in</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>s.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>e</p><p>r</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>s.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s,</p><p>c</p><p>o</p><p>lu</p><p>n</p><p>a</p><p>l</p><p>o</p><p>m</p><p>b</p><p>a</p><p>r,</p><p>o</p><p>ss</p><p>o</p><p>s</p><p>p</p><p>é</p><p>lv</p><p>ic</p><p>o</p><p>s</p><p>e</p><p>t</p><p>o</p><p>d</p><p>a</p><p>s</p><p>p</p><p>ro</p><p>e</p><p>m</p><p>in</p><p>ê</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>s</p><p>ó</p><p>ss</p><p>e</p><p>a</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>v</p><p>is</p><p>ív</p><p>e</p><p>is</p><p>à</p><p>d</p><p>is</p><p>tâ</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>.</p><p>N</p><p>ã</p><p>o</p><p>s</p><p>e</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>c</p><p>o</p><p>rp</p><p>o</p><p>ra</p><p>l.</p><p>P</p><p>e</p><p>rd</p><p>a</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>d</p><p>e</p><p>m</p><p>a</p><p>ss</p><p>a</p><p>m</p><p>u</p><p>sc</p><p>u</p><p>la</p><p>r.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>fa</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>co</p><p>m</p><p>m</p><p>ín</p><p>im</p><p>a</p><p>c</p><p>a</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>.</p><p>C</p><p>in</p><p>tu</p><p>ra</p><p>f</p><p>a</p><p>ci</p><p>lm</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>n</p><p>o</p><p>ta</p><p>d</p><p>a</p><p>q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>d</p><p>o</p><p>v</p><p>is</p><p>ta</p><p>p</p><p>o</p><p>r</p><p>ci</p><p>m</p><p>a</p><p>.</p><p>R</p><p>e</p><p>e</p><p>n</p><p>tr</p><p>â</p><p>n</p><p>ci</p><p>a</p><p>a</p><p>b</p><p>d</p><p>o</p><p>m</p><p>in</p><p>a</p><p>l</p><p>e</p><p>vi</p><p>d</p><p>e</p><p>n</p><p>te</p><p>.</p><p>C</p><p>o</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s</p><p>p</p><p>a</p><p>lp</p><p>á</p><p>ve</p><p>is</p><p>s</p><p>e</p><p>m</p><p>ca</p><p>m</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>d</p><p>e</p><p>g</p><p>o</p><p>rd</p><p>u</p><p>ra</p><p>e</p><p>m</p><p>e</p><p>x</p><p>ce</p><p>ss</p><p>o</p><p>.</p><p>Q</p><p>u</p><p>a</p><p>n</p><p>d</p><p>o</p><p>v</p><p>is</p><p>ta</p><p>p</p><p>o</p><p>r</p><p>ci</p><p>m</p><p>a</p><p>,</p><p>a</p><p>ci</p><p>n</p><p>tu</p><p>ra</p><p>p</p><p>o</p><p>d</p><p>e</p><p>s</p><p>e</p><p>r</p><p>o</p><p>b</p><p>se</p><p>rv</p><p>a</p><p>d</p><p>a</p><p>a</p><p>tr</p><p>á</p><p>s</p><p>d</p><p>a</p><p>s</p><p>co</p><p>st</p><p>e</p><p>la</p><p>s.</p><p>A</p><p>b</p><p>d</p><p>ô</p><p>m</p><p>e</p><p>n</p><p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(2012)</p><p>4. Atividade física</p><p>O exercício é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento dos</p><p>gatos e cães, para manter o peso corpóreo ideal e a massa muscular magra,</p><p>bem como estimulá-los mentalmente, o que é essencial para uma boa saúde.</p><p>Ressalta-se que a atividade física tem especial importância para raças de cães</p><p>bastante ativos ou de trabalho.</p><p>Contudo, é necessário que o tipo e a quantidade de exercício sejam</p><p>adequados ao animal e as suas especificidades. Por exemplo, os níveis de</p><p>exercício de filhotes devem ser monitorados, com cuidado, até que tenham o</p><p>crescimento completo, uma vez que níveis excessivos podem causar proble-</p><p>mas articulares no futuro. Alguns animais e raças são intolerantes ao exercí-</p><p>cio ou mais sensíveis ao calor e outros fatores ambientais.</p><p>As brincadeiras são igualmente formas de promover bem-estar e</p><p>estreitar os laços entre o tutor e o animal. Fornecem estímulos mentais e, por</p><p>meio destas atividades, os animais podem expressar comportamentos natu-</p><p>rais e aprender o que é socialmente aceitável, a inibir mordeduras e como</p><p>manejar a agressividade durante as interações sociais (HOUPT.; SEKSEL,</p><p>1997). Quanto aos gatos, as suas brincadeiras lembram o comportamento</p><p>predatório natural, o que inclui ficar abaixado na espreita, lutar, flexionar o</p><p>pescoço, arquear-se e atacar. Brinquedos para animais, disponíveis no mer-</p><p>cado, facilitam também as atividades lúdicas (Quadro 6).</p><p>22</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 6 – Cinco sugestões importantes para brincadeiras divertidas e seguras</p><p>Brincar nos horários apropriados: quando bem descansado e procurando a interação com as</p><p>pessoas</p><p>Ser prazerosa e motivadora – tornar a</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>Figura 5 – Gato com expressão facial de</p><p>estresse e medo (orelhas lateralizadas,</p><p>evitando olhar diretamente)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>Figura 6 – Gato com expressão facial</p><p>de estresse e medo (olhos forçosamente</p><p>cerrados, tensão na musculatura maxilar)</p><p>e com comportamento de escape</p><p>(escondendo-se)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>Figura 4 – Gato com expressão facial</p><p>tensa (pupilas moderadamente dilatadas,</p><p>olhar fixo, tensão na musculatura maxilar)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>177</p><p>Agressividade em gatos</p><p>Figura 7 – Gato apresentando linguagem corporal</p><p>de estresse e medo, já escalando para possível</p><p>agressividade defensiva (tensão facial e corporal,</p><p>costas arqueadas, cauda ereta e agitada, pelagem</p><p>arrepiada, vocalizando)</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>MEDIDAS DE SEGURANÇA E O MANEJO AMBIENTAL</p><p>Ao ser detalhado o histórico do animal, deve-se identificar todos</p><p>os estímulos externos que desencadeiam ou contribuem para a apresen-</p><p>tação do comportamento agressivo. Ruídos altos ou repentinos, gatos no</p><p>entorno do domicílio e visitas de pessoas ou pessoas com animais são alguns</p><p>exemplos. Sempre que possível, estímulos externos devem ser eliminados e</p><p>minimizados, pelo menos, no início do tratamento. O gato precisa ter várias</p><p>opções de esconderijo ou escape, para poder ter a escolha de se retirar ao</p><p>invés de se sentir acuado (detalhes em Enriquecimento e modificação ambien-</p><p>tal). Se o comportamento agressivo é direcionado aos gatos que vivem no</p><p>domicílio, os animais precisam ser separados imediatamente e apenas, após</p><p>o tratamento inicial, reintroduzidos, com um cuidadoso protocolo de des-</p><p>sensibilização e contracondicionamento. Gatos que apresentam agressivi-</p><p>dade contra humanos não devem ter contato com crianças; pessoas idosas,</p><p>imunocomprometidas ou com deficiências mentais ou de aprendizado que</p><p>não permitam a compreensão do risco e da maneira apropriada de se portar;</p><p>com um animal com problemas. O ambiente pode ser manejado com barrei-</p><p>ras físicas (portas de vidro, de tela ou basculantes ou portões internos, por</p><p>exemplo) (OVERALL, 2013c).</p><p>178</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Assinala-se que, dentre um conjunto de medidas importantes, há algu-</p><p>mas que nem sempre são discutidas com tutores em termos de medida de</p><p>segurança, e uma delas é a suspensão imediata de qualquer método punitivo.</p><p>Borrifar o gato com água, gritar, jogar objetos etc. são métodos de puni-</p><p>ção que assustam o animal, aumentam a probabilidade de a agressividade</p><p>se intensificar e agravam o estresse, o medo e os distúrbios de ansiedade.</p><p>É necessário considerar que gatos são especialmente predispostos a apre-</p><p>sentar agressividade “redirecionada” (agressividade direcionada à vítima ou</p><p>ao objeto mais próximo), quando o grau de estresse e excitação passarem de</p><p>um certo limite (CROWELL-DAVIS; BARRY; WOLFE, 1997).</p><p>Terapia comportamental</p><p>Técnicas em terapia comportamental têm como objetivo modificar</p><p>processos emocionais e padrões comportamentais disfuncionais e, ao mesmo</p><p>tempo, ensinar e reforçar respostas emocionais e comportamentais funcionais</p><p>e adaptativas. Além disso, intervenções terapêuticasdevem ser prescritas para</p><p>cada indivíduo e situação específica, levando em consideração todos os fato-</p><p>res individuais, ambientais e relacionados aos proprietários e ao domicílio.</p><p>Um exemplo é a combinação da aplicação de dessensibilização com contra-</p><p>condicionamento (eficiente no tratamento de fobias); e técnicas de exposição,</p><p>baseadas no aprendizado por condicionamento clássico. Essas técnicas podem</p><p>ser combinadas com intervenções, baseadas no aprendizado por condicio-</p><p>namento operante. Dessa forma, comportamentos funcionais, incompatíveis</p><p>com o comportamento agressivo, podem ser ensinados e reforçados. O uso de</p><p>petiscos de alta palatabilidade é fundamental, para otimizar o aprendizado e</p><p>ativar receptores que regulam o sistema de reforço do cérebro.</p><p>A terapia comportamental também pode ajudar os gatos que têm medo</p><p>das visitas ao médico veterinário, e a agressividade é comum nesse contexto.</p><p>Visitas positivas (quando o gato vai à clínica apenas para receber petiscos),</p><p>contracondicionamento à caixa de transporte e desensibilização/contracon-</p><p>dicionamento a equipamentos e ao exame veterinário são exemplos de inter-</p><p>venções terapêuticas, para tratar esse tipo de fobia.</p><p>A publicação do “Manual of Clinical Behavioral Medicine for Dogs and</p><p>Cats” (OVERALL, 2013a) (livro texto mais atualizado em Psiquiatra Animal/</p><p>179</p><p>Agressividade em gatos</p><p>Medicina do Comportamento no momento) apresenta diversos modelos de</p><p>protocolos de terapia, detalhados e desenvolvidos para problemas específi-</p><p>cos, como a reintrodução de gatos que têm conflito entre si e o tratamento</p><p>de fobias específicas.</p><p>Prescrição de drogas psicotrópicas</p><p>O tratamento com drogas psicotrópicas em gatos continua sendo</p><p>tema controverso. Ainda não existem estudos controlados com nenhuma</p><p>medicação ou para nenhum problema específico de saúde mental no gato</p><p>doméstico, incluindo a agressividade. Contudo, publicações de casos e</p><p>séries clínicas, juntamente com as pesquisas neurocientíficas, têm ilu-</p><p>minado o caminho para escolhas terapêuticas pertinentes que possam</p><p>ajudar os pacientes felinos. As drogas mais utilizadas para tratar ansie-</p><p>dade e modular o estresse em gatos são os medicações serotoninérgicas</p><p>(p. ex. Fluoxetina, Sertralina, Trazodona e Clomipramina), ansiolíticos</p><p>(p. ex. Benzodiazepínicos e Buspirona) e, mais recentemente, a Gabapentina</p><p>(anticonvulsivante, estruturalmente relacionado ao neurotransmissor</p><p>GABA). A classe de medicamentos agonistas alfa 2, que vem revolucionando</p><p>o tratamento de cães, ainda não foi utilizada nem tem doses estabelecidas</p><p>na Medicina Felina. Antipsicóticos ou hipnóticos (p. ex. Acepromazina) são</p><p>contraindicados. Esses medicamentos não tratam ansiedade e podem agra-</p><p>var ou causar fobias. Deve-se ter cuidado ao prescrever benzodiazepínicos,</p><p>evitando-se drogas dessa classe que produzem metabólitos ativos (p. ex.</p><p>Alprazolam e Diazepam).</p><p>Ao serem prescritas medicações psicotrópicas, é preciso estar atento</p><p>(e educar o proprietário sobre) para o caráter experimental do tratamento, os</p><p>possíveis efeitos colaterais, a interação com outros medicamentos (problema</p><p>mais comum com o uso de antidepressivos tricíclicos) e a propensão para</p><p>tolerância e síndrome de abstinência, com tratamento a longo prazo.</p><p>Para detalhes em Psicofarmacologia, mecanismo de ação, doses e</p><p>precauções na prescrição de psicotrópicos, sugere-se a consulta aos auto-</p><p>res Crowell-Davis e Murray (2006), bem como a Overall (2013b). A Tabela 1</p><p>apresenta algumas drogas, mais comumente prescritas, para o tratamento</p><p>da saúde mental felina.</p><p>180</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Tabela 1 – Exemplos de medicamentos psicotrópicos, comumente prescritos para pacientes felinos</p><p>Nome genérico do</p><p>medicamento</p><p>Classe farmacologia Dose para pacientes felinos</p><p>Fluoxetina Inibidor seletivo da recaptação</p><p>de serotonina</p><p>0.5-1.5 mg/kg PO q24h</p><p>Sertralina Inibidor seletivo da recaptação</p><p>de serotonina</p><p>0.5-1.0 mg/kg q24h</p><p>Clonazepam Benzodiazepínico 0.015-0.2 mg/kg PO q8-24h</p><p>Lorazepam Benzodiazepínico 0.03-0.08 mg PO q12-24h</p><p>Gabapentina Anticonvulsivante 3-10 mg/kg PO q8-24h</p><p>Clomipramina Antidepressivo tricíclico 0.25-1.0 mg/kg PO q24h</p><p>Buspirona Ansiolítico 0.5-1.0 mg/kg q8-24h ou 2.5-5</p><p>mg/gato</p><p>Fonte: Crowell-Davis e Murray (2006); Overall (2013b)</p><p>Tratamento nutricional</p><p>Modernamente, há algumas dietas, formuladas de forma espe-</p><p>cial para tratamento em saúde mental, como, por exemplo, Royal Canin</p><p>Calm, Royal Canin Multifunction Urinary + Calm, Hill’s C/D Multicare Stress</p><p>e Hill’s Metabolic + Urinary Stress, que estão disponíveis nos Estados Unidos,</p><p>mas ainda não são comercializadas no Brasil até a data da publicação deste livro.</p><p>Enriquecimento e modificação ambiental</p><p>Há décadas, pesquisas em várias espécies (incluindo gatos domésticos)</p><p>vêm demonstrando os benefícios que técnicas de enriquecimento ambien-</p><p>tal apropriadas podem gerar ao bem-estar e à saúde mental (DANTAS et al.,</p><p>2016; ELLIS, 2009). Em 2013, a American Association of Feline Practitioners,</p><p>juntamente com a International Society of Feline Medicine, publicaram</p><p>um manuscrito, intitulado “AAFP and ISFM Feline Environmental Needs</p><p>Guidelines” (ELLIS et al., 2013)*. Nesse documento, achados científicos sobre</p><p>* Material disponível em português no site AAFP/ISFM. https://catvets.com/guidelines/</p><p>practice-guidelines/environmental-needs-guidelines</p><p>181</p><p>Agressividade em gatos</p><p>enriquecimento ambiental para gatos foram apresentados em termos de</p><p>necessidades ambientais. O Website da AAFP oferece não só o documento</p><p>original, mas também, um panfleto resumido para a educação de clientes</p><p>que pode ser baixado por médicos veterinários e pelo público em geral. Em</p><p>resumo, esse documento salienta a importância de se oferecer refúgios para</p><p>os gatos dentro do domicilio; áreas elevadas para descanso e refúgio; múl-</p><p>tiplas áreas com recursos básicos, no caso de residências com mais de um</p><p>gato (comedouros, bebedouros, arranhadores, áreas para descanso e refúgio,</p><p>brinquedos e caixas sanitárias); oportunidades para o exercício de comporta-</p><p>mento lúdico e predatório; interações positivas, diárias e previsíveis, com os</p><p>proprietários, promoção de um ambiente que respeite a capacidade olfatória</p><p>(com diretrizes específicas para a manutenção e limpeza da caixa sanitária)</p><p>do gato e uma rotina previsível. Mudanças na rotina e no ambiente devem ser</p><p>graduais, quando possível. Tais medidas não somente diminuem o nível de</p><p>estresse do gato, como também promovem uma sensação de controle sobre</p><p>o ambiente e as suas interações, ajudando-o a lidar com estímulos estressan-</p><p>tes, quando presentes.</p><p>Cirurgia para esterilização</p><p>A gonadectomia de gatos machos pode diminuir a presença, frequência</p><p>e intensidade de comportamentos, regulados pela testosterona. Nesse caso,</p><p>brigas entre machos, principalmente quando há acesso ao ambiente externo,</p><p>diminuem de forma significativa. Já a ovariohisterectomia tem ação princi-</p><p>pal na agressividade de fêmeas em relação à proteção de filhote. No entanto,</p><p>independente da causa do comportamento agressivo, a cirurgia de esterili-</p><p>zação é recomendada para machos e fêmeas, devido ao caráter genético da</p><p>agressividade e porque a chance de marcação com urina, em razão do estresse,</p><p>é diminuída (HART; BARRET, 1973; HART; COOPER, 1984; NEILSON, 2003).</p><p>Outros produtos disponíveis</p><p>O mercado pet oferece uma diversidade de produtos que prometem</p><p>ajudar ou mesmo solucionar problemas de comportamento (“análogos” de</p><p>182</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>feromônios, homeopatia, florais, óleos essenciais etc.). Entretanto, não há</p><p>estudos controlados com metodologia científica rigorosa sobre a segurança</p><p>e a eficácia de nenhum produto não farmacológico para o tratamento da</p><p>maioria dos problemas comportamentais em gatos (FRANK, BEAUCHAMP;</p><p>PALESTRINI, 2010). Além disso, a ANVISA e o FDA americano (importante,</p><p>uma vez que muitos desses produtos, disponíveis no Brasil, são impor-</p><p>tados) têm regras mais simplificadas para a fabricação e divulgação de</p><p>informação por bula de produtos não médicos. Tendo em vista esses fato-</p><p>res, esses produtos não são usados pela autora nem foram incluídos neste</p><p>capítulo. A autora também não recomenda nenhum produto que interfira</p><p>no comportamento de lambedura (como vestes “calmantes”) e que possa</p><p>causar dor ou medo ao animal.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BRADSHAW, J. W. S. Sociality in cats: a comparative review. Journal of</p><p>Veterinary Behavior, v. 11, n.1, p. 113-124, 2016.</p><p>BRADSHAW, J. W. S.; CASEY, R. A.; BROWN, S. L. Communication. In:</p><p>BRADSHAW, J. W. S.; CASEY, R. A.; BROWN, S. L. The behaviour of the</p><p>domestic cat. 2 ed. Oxfordshire, OX: CABI, p. 91-112, 2012.</p><p>CAFAZZO, S.; NATOLI, E. 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Nem sempre estes indivíduos são</p><p>da mesma espécie, o que aumenta a complexidade, pois podem contar com</p><p>diferentes sinais para se comunicarem, e a incapacidade de entenderem e</p><p>responderem adequadamente viabiliza ter resultados negativos, pelo menos</p><p>para uma das partes envolvidas (CASEY et al., 2014).</p><p>A sociedade humana confia no sucesso da comunicação. Porém, não</p><p>só os humanos estão sujeitos às pressões originadas deste mundo complexo</p><p>que eles moldaram. Muitas espécies confiam no cuidado e na supervisão das</p><p>pessoas para prover seu bem-estar e suas necessidades (WOOD et al., 2017).</p><p>Ao focar os tutores dos animais de estimação, se verifica que os cães domés-</p><p>ticos representam a espécie mais comumente mantida nessa condição em</p><p>muitos países (GFK, 2016). Todavia, mesmo atualmente, a capacidade para</p><p>as pessoas entenderem a comunicação canina é limitada (KERSWELL et al.,</p><p>2009). Essa dificuldade pode comprometer o bem-estar dos cães e, potencial-</p><p>mente, de outras espécies, caso os sinais da comunicação falhem em passar</p><p>a mensagem correta, dando abertura para emoções negativas (Kuhne et al.,</p><p>2014) ou, o emissor do sinal, precise mudar sua forma de comunicar(CASEY</p><p>et al., 2014).Tudo isso pode levar a comportamentos indesejáveis, como episó-</p><p>dios de agressividade (CAMPBELL,2016). Portanto, o entendimento humano</p><p>da comunicação canina é fundamental para níveis adequados de bem-es-</p><p>tar e a manutenção do vínculo positivo humano-animal (PAYNE; BENNETT;</p><p>MCGREEVY, 2015).</p><p>Para compreendermos a comunicação canina, primeiramente, deve-</p><p>mos entender os principais aspectos da teoria de comunicação. Em qual-</p><p>quer comunicação, são importantes duas classes de indivíduos: os sinali-</p><p>zadores (emissores) e os receptores (BRADBURY; VEHRENCAMP, 1998). Os</p><p>sinalizadores são os indivíduos que geram a informação; os receptores, os</p><p>que estão detectando a informação. No modelo simples de comunicação, o</p><p>sinalizador enviará um sinal para o receptor; e este, quando receber esta</p><p>informação, pode decidir entre oferecer uma resposta ao sinal ou procurar</p><p>ignorá-la (LINDSTROM; KOTIAHO, 2002). Tanto o sinal inicial quanto a res-</p><p>posta irão depender da motivação dos indivíduos, envolvidos no processo</p><p>191</p><p>Um animal que não fala pode se comunicar? Guia para compreender a comunicação canina</p><p>de comunicação. Nesse sentido, a motivação é, por si própria, um fenômeno</p><p>muito complexo, porque existem inúmeros fatores subjacentes que motivam</p><p>o animal a responder de uma forma ou de outra. Em termos básicos, os fato-</p><p>res mais relevantes nesse caso são o contexto e o estado fisiológico do indi-</p><p>víduo (LAURENT; BALLEINE; WESTBROOK, 2018).</p><p>O contexto pode referir-se a diferentes aspectos do ambiente, tais</p><p>como condições climáticas, presença de parceiros da mesma espécie ou</p><p>sociais de outras espécies, ruídos altos ou outros estímulos que possam afe-</p><p>tar o comportamento do animal (SCHEIFELE et al., 2016). A condição fisio-</p><p>lógica relaciona-se ao estado de equilíbrio orgânico (homeostase), que pode</p><p>ser alterado por hormônios, pelo metabolismo, pela dor ou até pela flora</p><p>microbiana: existem excelentes pesquisas sobre como as bactérias intesti-</p><p>nais afetam situações de ansiedade nos indivíduos (ANNADORA et al., 2018;</p><p>VACHON-PRESSEAU, 2017; HOBAN et al., 2017). A Figura 1 ilustra os diferentes</p><p>aspectos envolvidos na comunicação em escala simplificada.</p><p>MOTIVAÇÃO</p><p>RESPOSTA</p><p>Sinalizador</p><p>Sinal</p><p>Contexto Estado</p><p>Fisiológico</p><p>Receptor</p><p>Figura 1 – Modelo simplificado da comunicação nos animais</p><p>Fonte: elaborado pelo autor.</p><p>192</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Uma variável que impacta a comunicação é a forma como o sinal comu-</p><p>nicativo é transmitido (LAIDRE; JOHNSTONE, 2013). Ou seja, se o indivíduo</p><p>utiliza de meios visuais, químicos, acústicos, táteis ou multimodais para fazer</p><p>chegar sua mensagem para outros indivíduos.</p><p>Essa particularidade é impor-</p><p>tante, visto que a fisiologia natural dos sentidos humanos permite que sinais,</p><p>via canais específicos, sejam melhor recebidos e processados do que outros,</p><p>independentemente da experiência prévia com cães. Por exemplo, há uma</p><p>variedade de feromônios e odores, envolvidos na comunicação de um cão com</p><p>outro, mas estes são menos importantes para os humanos, devido a nossa inca-</p><p>pacidade de notá-los e interpretá-los (DZIECIOL et al., 2012). Assim, embora</p><p>exista esse canal de comunicação, o foco deve ser direcionado aos canais em</p><p>que nossas capacidades sensoriais possam auxiliar na compreensão das inte-</p><p>rações entre cães e destes com outras espécies (KERSWELL et al., 2009).</p><p>A comunicação canina tem sido estudada minuciosamente (BÁLINT</p><p>etal., 2017) e, ficou evidenciado que os humanos diferenciam com eficiência</p><p>os diversos tipos de latidos e suas intenções (PONGRACZ et al., 2005). Neste</p><p>sentido, uma pesquisa demonstrou que as pessoas conseguem diferenciar o</p><p>latido agressivo do que sinaliza brincadeiras, independente de ter experiência</p><p>anterior ou não com cães (MOLNAR; PONGRACZ, P.; MIKLOSI, 2010). O resul-</p><p>tado mostra a capacidade para obter informação sobre a emoção e intenção</p><p>do que foi comunicado, sem ter necessariamente contato anterior com aquele</p><p>indivíduo. Portanto, os sinais olfativos não significam muito para humanos</p><p>e, ao contrário, alguns padrões de vocalizações são facilmente interpretados.</p><p>Diante disto, parece que a falha em compreensão eficaz dos sinais originados</p><p>da linguagem corporal canina ocorre pela necessidade de esforço adicional</p><p>para sua leitura e interpretação.</p><p>Muitas espécies utilizam a linguagem corporal como forma de comu-</p><p>nicação (SIEGMAN; FELDSTEIN, 2009) e humanos e cães não são diferentes.</p><p>Talvez a linguagem corporal nos humanos seja mais facilmente percebida</p><p>quando estes estão tentando descobrir as necessidades de crianças pequenas,</p><p>que ainda não falam. As pessoas podem ler igualmente a linguagem corporal</p><p>de outras espécies, desde que evitem certos mal-entendidos (DALLA COSTA</p><p>et al., 2014). Os humanos, no geral, tendem a atribuir sentimentos e emo-</p><p>ções a outras espécies animais, e este ato é chamado de “antropomorfismo”</p><p>(ARBILLY; LOTUM, 2017). Antropomorfizar comportamentos e ações dos ani-</p><p>mais é a principal causa de erros na interpretação da sua linguagem corporal.</p><p>193</p><p>Um animal que não fala pode se comunicar? Guia para compreender a comunicação canina</p><p>Esse modo antropomórfico de interpretar não auxilia a leitura da linguagem</p><p>corporal, porque comportamentos semelhantes em humanos e em outras</p><p>espécies podem representar funções e emoções diferentes (MARÉCHAL et al.,</p><p>2017). Como exemplo, citamos o sorriso nos humanos que é, geralmente, um</p><p>comportamento empregado para reduzir a distância entre indivíduos e está</p><p>associado a emoções positivas (p. ex., felicidade); já, nos macacos, o mesmo</p><p>comportamento é expresso para aumentar a distância e está associado a</p><p>emoções negativas (p. ex., medo e agressividade).</p><p>Para melhorar o entendimento e interpretação da linguagem corporal</p><p>dos cães, tanto nas interações entre os próprios cães quanto com outras espé-</p><p>cies, deve-se observar a linguagem corporal canina como um todo. Apesar</p><p>de regiões do corpo dos cães estarem sendo consideradas isoladamente, é</p><p>em conjunto que elas estarão transmitindo, no mínimo, duas mensagens</p><p>principais: a necessidade de aumento ou diminuição na distância entre os</p><p>indivíduos, ou seja, sinalizam a interrupção ou a continuidade da interação</p><p>(BEAVER, 2009). Cabe lembrar que, a linguagem corporal não é estática, ela</p><p>varia com o tempo, da mesma forma que uma pessoa altera o conteúdo e a</p><p>emoção de seu discurso na medida que a conversa prossegue.</p><p>Outro fator relevante para a compreensão da linguagem corporal é a</p><p>morfologia canina. Os cães apresentam ampla variedade de tamanhos, for-</p><p>mas e particularidades anatômicas, em virtude da variedade de raças que</p><p>existem hoje em dia (DREGER et al., 2016). Essas diferenças raciais podem</p><p>significar que algumas das partes do corpo, aqui descritas, podem apresentar</p><p>uma função comunicativa prejudicada, por não poder modificar a sua con-</p><p>formação, por exemplo, erguer as orelhas nas raças Cocker e Basset Hound ou</p><p>apresentar tensão muscular ao redor da face nas raças Pug e Buldogue. Além</p><p>disso, determinados procedimentos cirúrgicos podem prejudicar a eficiên-</p><p>cia comunicativa dos cães (p. ex., conchectomia e caudectomia). Portanto,</p><p>os referidos procedimentos só devem ser realizados por motivos de saúde</p><p>(BOND, 2007).</p><p>O primeiro indicador a ser notado na comunicação canina é a tensão</p><p>corpórea e, seu principal aspecto, é a diferença entre músculos tensos e rela-</p><p>xados. Esses serão mais facilmente visíveis ao redor da boca e dos olhos, bem</p><p>como na parte superior do pescoço e do dorso (BEAVER, 2009). O cão, com</p><p>músculos relaxados, está confortável com o que acontece em seu entorno. A</p><p>postura corpórea relaxada também significa que o cão está confortável ao ser</p><p>194</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>manipulado ou em outras interações. Entretanto, a postura corpórea tensa,</p><p>no geral, ocorre quando o cão não está mais confortável com uma interação</p><p>e comunica que necessita de espaço ( JACOBS et al., 2017). Caso as intera-</p><p>ções ou a manipulação prossigam na presença de músculos tensos, prova-</p><p>velmente, haverá exibição de sinais de agressão iminente (p. ex., rosnar ou</p><p>morder). Também é indicador corpóreo, especialmente nas interações em</p><p>que há maior proximidade, a direção na qual o cão inclina o seu peso. Os cães</p><p>mostram-se confiantes ou felizes com interações, quando desviam o seu peso</p><p>em direção a alguém, indicando que desejam que a interação continue. Da</p><p>mesma forma, se um cão quiser se desvencilhar de uma interação, ele des-</p><p>viará o seu peso para trás ou para fora de algo, sinalizando desejar que a inte-</p><p>ração pare e aumente a distância (WORMALD et al., 2017). Assinala-se ainda</p><p>que o desvio do peso é muito importante para cães que estão contidos, acua-</p><p>dos ou tenham os seus movimentos restritos. Essa sinalização é muito sutil,</p><p>e, por conseguinte, pode ser bastante relevante. À medida que a incapacidade</p><p>de se movimentar continua, o cão pode demonstrar comportamentos agres-</p><p>sivos, para tentar recuperar algum controle do espaço (SHEPHERD, 2009).</p><p>Somando-se a isso, o posicionamento das orelhas pode auxiliar a deci-</p><p>frar as mensagens comunicativas gerais dos cães. Orelhas, colocadas em ele-</p><p>vação e para a frente, significam que o cão está confiante e simplesmente</p><p>alerta para o entorno. Orelhas, mantidas lateralmente, significam que o cão</p><p>está prestando atenção em outros estímulos acústicos; às vezes, também</p><p>ocorre nos casos de medo. Orelhas ambivalentes, ou seja, em posições dife-</p><p>rentes, quando uma está dirigida para frente e a outra, para um dos lados</p><p>ou para trás, podem significar que o cão apresenta emoções conflitantes,</p><p>existindo tanto o desejo de reduzir ou de aumentar a distância de outro cão</p><p>ou do outro animal. Orelhas, voltadas completamente para trás, geralmente</p><p>são sinal de medo, mas podem ser um sinal de apaziguamento (HORWITZ;</p><p>MILLS, 2009).</p><p>Os sinais de apaziguamento são representados por um conjunto de</p><p>comportamentos que permitem ao cão expressar que está desconfortável</p><p>com determinada interação e que não deseja expandir aquela interação para</p><p>o conflito. Os sinais, típicos de apaziguamento, incluem o lamber dos lábios,</p><p>movimentar rapidamente a língua, piscar, olhar ao longe e mover-se para</p><p>fora do local (FIRNKES et al., 2017). Infelizmente, muitos tutores atribuem</p><p>esses sinais a uma expressão de culpa por parte dos seus cães. Tal falha na</p><p>195</p><p>Um animal que não fala pode se comunicar? Guia para compreender a comunicação canina</p><p>interpretação se deve à antropomorfização, e o problema é que os huma-</p><p>nos podem até culpar os animais, elevar as suas vozes e envolverem-se em</p><p>outros comportamentos que promovem mais medo e ansiedade nos “cães</p><p>tidos</p><p>como culpados” (HOROWITZ, 2009). A melhor forma para lidar quando</p><p>aparecem esses comportamentos, é oferecer ao cão o distanciamento estra-</p><p>tégico; se as interações ainda continuarem a acontecer, espalhar comida nas</p><p>imediações pode ser eficaz como distração. Recentemente, foi publicada</p><p>uma pesquisa, sugerindo que a lambedura dos lábios também pode ocorrer,</p><p>quando os cães se defrontam com humanos que sentem emoções negativas</p><p>(ALBUQUERQUE et al., 2018).</p><p>A cauda igualmente revela riqueza de informação. Até pouco tempo,</p><p>as pessoas sabiam que a cauda abanando era sinal de que o cão estava feliz</p><p>e relaxado. Uma pesquisa recente revelou que o lado para o qual a cauda</p><p>abana reflete o estado emocional do cão (SINISCALCHI; STIPO; QUARANTA,</p><p>2013). A cauda, abanando para o lado direito, significa que o cão está sentindo</p><p>emoções positivas, ao passo que a cauda, abanando para o lado esquerdo,</p><p>está relacionada a emoções negativas. Mesmo que inicialmente seja difícil de</p><p>serem notados os sinais, com paciência e treinamento, essa tarefa se tornará</p><p>mais fácil. A movimentação da cauda significa que o cão está confiante ou</p><p>ansioso. No geral, com a cauda erguida, os cães também apresentam piloere-</p><p>ção; a cauda baixa representa a situação normal para a maior parte das raças</p><p>e a cauda entre as pernas é sinal de medo (STELLATO et al., 2017).</p><p>Os olhos também trazem informações sobre o estado emocional do</p><p>cão. Quando um cão está olhando fixamente para os olhos de um outro cão</p><p>desconhecido, esta atitude pode ser percebida pelo outro animal, como uma</p><p>ameaça, desta forma deve-se falar com tom de voz agudo e alto, o que aju-</p><p>dará a comunicar para aquele cão que não existe risco iminente (ANDICS</p><p>etal., 2014). Se uma parte substancial da esclera (parte branca do olho) estiver</p><p>visível, isto significa que o cão está tentando interromper o contato visual,</p><p>transmitindo o seu sentimento de desconforto e necessitando de distancia-</p><p>mento. O mesmo é possível dizer quando o animal desvia o olhar ativamente</p><p>(HORWITZ; MILLS, 2009). Caso o cão esteja olhando para outro animal e não</p><p>haja interrupção do contato visual, além de apresentar uma musculatura</p><p>tensa ao redor dos olhos e da face, além de uma postura corporal poten-</p><p>cialmente rígida, pode-se entender estes sinais que o cão está transmitindo</p><p>como um aviso de estar preparado para o conflito (SHEPHERD, 2009).</p><p>196</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Por fim, deve-se olhar para os lábios e os músculos ao redor da boca</p><p>do animal. Na comunicação de cão para cão ou de cão para outras espécies,</p><p>caso os músculos ao redor dos lábios estejam relaxados, os cães dão sinais</p><p>de que estão confortáveis e a relaçao geralmente é de natureza brincalhona</p><p>(BEAVER, 2009). Assim, se um cão estiver utilizando a sua boca para interagir</p><p>com outras espécies de forma brincalhona e relaxada, não apenas os mús-</p><p>culos ao redor dos lábios estarão relaxados, como também, os lábios estarão</p><p>geralmente puxados e encobriram os dentes para proteger de eventual dano</p><p>o outro indivíduo (KERNS, 2008). Por outro lado, se houver tensão nos mús-</p><p>culos ao redor da boca, e os lábios estiverem puxados para expor os dentes,</p><p>isto geralmente significa que existe intenção de provocar danos. As mordidas</p><p>que se seguem depois desses sinais provavelmente são incontroláveis e lesi-</p><p>vas (SHEPHERD, 2009).</p><p>Resumindo, independente de o cão estar interagindo com outros cães</p><p>ou com outras espécies, o relaxamento corporal, a ausência de compor-</p><p>tamentos de apaziguamento e cães que desviam o olhar ou olham para os</p><p>outros cães e pessoas nas interações, são os que estão expressando estar</p><p>felizes nesse momento. Entretanto, se os cães estiverem tensos, apresen-</p><p>tando comportamentos de apaziguamento e tentando desviar o olhar ou evi-</p><p>tar interações, são animais comunicando que estão incomodados com essas</p><p>interações. Como fora referido no início deste texto, interpretar e responder</p><p>a esses sinais são atitudes que permitem uma comunicação bem-sucedida,</p><p>o que é importante para relacionamentos positivos entre cães, e entre cães e</p><p>outros animais. O Quadro 1 resume o que deve ser observado nesse contexto</p><p>e quando interromper ou permitir interações com cães e outros animais.</p><p>197</p><p>Um animal que não fala pode se comunicar? Guia para compreender a comunicação canina</p><p>Quadro 1 – Sinais de comunicações a serem observados e quando intervir no caso de os cães</p><p>estarem interagindo com outros animais</p><p>Sinais de</p><p>Comunicação</p><p>O que é</p><p>desejável?</p><p>Quando ter</p><p>cautela?</p><p>O que fazer se estiverem</p><p>combinados?</p><p>Músculos,</p><p>especialmente</p><p>ao redor da boca,</p><p>olhos, pescoço e</p><p>alto da cabeça</p><p>1. Relaxamento 2. Tensão 1,3,5,7, 9, 11</p><p>O cão está feliz, e interações</p><p>podem ser realizadas</p><p>Desvio do peso</p><p>corporal</p><p>3. Para frente ou na</p><p>direção do outro</p><p>animal/indivíduo</p><p>4. Para trás ou para</p><p>distanciar-se</p><p>Orelhas 5. Para frente ou</p><p>normal</p><p>6. Para trás 2,3,5,7,10</p><p>Comportamentos agressivos</p><p>são prováveis. Interações</p><p>devem ser imediatamente</p><p>interrompidas, e os</p><p>indivíduos, separados</p><p>Cauda 7. Elevada ou em</p><p>posição normal</p><p>8. Entre as pernas</p><p>Boca (lábios e</p><p>dentes)</p><p>9. Relaxada, lábios</p><p>cobrindo os dentes</p><p>ao interagir</p><p>10. Tensão, lábios</p><p>expondo os dentes,</p><p>ao interagir</p><p>2,4,6,8,12</p><p>O cão necessita de espaço,</p><p>interações devem ser</p><p>suspensas, mas podem</p><p>potencialmente continuar</p><p>após algum tempo.</p><p>Se novamente os mesmos</p><p>sinais aparecerem, é preciso</p><p>interromper e separar os</p><p>indivíduos</p><p>Sinais de</p><p>apaziguamento</p><p>11. Não</p><p>demonstrados</p><p>12. Demonstrados.</p><p>Especialmente, se</p><p>a frequência for</p><p>alta (p. ex., mais de</p><p>cinco no período</p><p>de 30 segundos)</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>AGRADECIMENTOS</p><p>O autor gostaria de agradecer à Bethan Jeffreys pelo auxílio na redação</p><p>deste texto.</p><p>198</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALBUQUERQUE, N.; GUO, K.; WILKINSON, A.; RESENDE, B.; MILLS, D. 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Os gatos parecem acei-</p><p>tar melhor as residências pequenas e as longas horas sozinhos, não exigem</p><p>passeios diários e, salvo raras exceções, são naturalmente “treinados” para</p><p>o uso da caixa de areia. O trabalho árduo de treinar, uma das essências de</p><p>se viver em grande proximidade com um animal de estimação, é, no geral,</p><p>dispensável quando se possui um gato. Além disso, os gatos domésticos têm</p><p>certas características especiais, como esfregar o corpo nas pessoas, uma</p><p>relativa facilidade para serem colocados no colo e habilidades de escalada</p><p>que lhes permitem alcançar a altura do rosto humano. Todos esses atributos</p><p>contribuem para a construção de relações únicas entre os gatos e as pessoas</p><p>(DOWNEY; ELLIS, 2008).</p><p>A independência e a resiliência dos felinos são provavelmente suas</p><p>características-chave, responsáveis por adaptá-los tão bem às socieda-</p><p>des modernas. Entretanto, o seu bem-estar e o impacto deste nas relações</p><p>homem-gato dependem do cuidado e da atenção dispensados pelos humanos</p><p>a eles (TURNER; BATESON, 2000).</p><p>Apesar da flexibilidade</p><p>comportamental felina (notória em sua capa-</p><p>cidade de ajuste às diferentes personalidades, modos e estilos de interação</p><p>humanos (TURNER; BATESON, 2000), os gatos, por certo, enfrentam desafios</p><p>no seu dia a dia. Isso pode levar ao estresse que passa, muitas vezes, desper-</p><p>cebido ou é manifestado na forma de comportamentos problemáticos e/ou</p><p>doenças físicas (STELLA; LORD; BUFFINGTON, 2011).</p><p>Compreender, portanto, o comportamento do gato e, em particular,</p><p>aprender a lidar com ele (p. ex., como devemos nos comunicar com gatos</p><p>e como os gatos se comunicam conosco) antes de possuir um parece ser</p><p>um requisito importante para uma relação homem-gato verdadeiramente</p><p>harmoniosa.</p><p>205</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>COMPORTAMENTO SOCIAL E TERRITORIALIDADE FELINA</p><p>O comportamento comunicativo felino faz jus à sua natureza semi-</p><p>-social e ao seu uso perspicaz do espaço, de modo que analisá-lo, levando-se</p><p>em consideração as habilidades comunicativas de outras espécies, tais como</p><p>as do cão, que diferem do gato em termos de socialidade e territorialismo,</p><p>seria um grande equívoco.</p><p>Socialidade felina</p><p>Ao contrário do que muitos pensam, os gatos não são estritamente</p><p>solitários, porém, são sociais, com limitações (CROWELL-DAVIS et al., 2004).</p><p>Ainda que não sejam tidos considerados os melhores amigos do homem e que,</p><p>na maioria das vezes, sejam vistos sozinhos ou em pequenos grupos, é errônea</p><p>a afirmação de que gatos são animais antissociais ou associais. Nesse sen-</p><p>tido, há diversos relatos de comportamentos sociais felinos (BEAVER, 2005;</p><p>CROWELL-DAVIS et al., 2004; BBC HORIZON, 2013), resultantes de estudos</p><p>de monitoramento (tanto envolvendo gatos ferais quanto domiciliados), nos</p><p>quais foram identificados diversos comportamentos afiliativos felinos, tais</p><p>como fêmeas auxiliando no parto de outras fêmeas, gatos que se debilitam</p><p>diante da morte de um companheiro, gatos de uma mesma vizinhança, que</p><p>sincronizam horários para o uso não conflituoso de áreas compartilhadas</p><p>e, até mesmo, os encontros noturnos de gatos de uma mesma vizinhança</p><p>(Figura 1). Assim, ainda que de uma forma mais distanciada, os gatos também</p><p>se relacionam amigavelmente uns com os outros e com os humanos que com</p><p>eles compartilham o ambiente.</p><p>Na natureza, os gatos ferais se organizam em um matriarcado. Ou seja,</p><p>vivem em grupos coordenados pelas mães, tias e avós. É uma grande família,</p><p>marcada por esfregamentos e lambeduras recíprocas. Esses grupos, também</p><p>denominados “colônias”, são compostos principalmente por fêmeas e filho-</p><p>tes, com apenas um ou dois machos em cada grupo de 10 a 20 indivíduos.</p><p>Os machos jovens se dispersam a partir dos seis meses de idade e partem</p><p>para a busca de um novo grupo que os aceite, após, é claro, muita hostilidade.</p><p>O mesmo não ocorre com as filhas que podem, salvo exceções, permanecer</p><p>com a mãe por mais tempo e até por toda a vida. Isso acontece principalmente</p><p>206</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>se houver comida e abrigo abundantes na área. Nesse caso, elas costumam</p><p>se alimentar, caçar e brincar juntas, limpar-se mutuamente, compartilhar</p><p>cuidados com os filhotes e até defendê-los de invasores (BEAVER, 2005;</p><p>CROWELL-DAVIS et al., 2004).</p><p>No entanto, quando existe superpopulação, escassez de recursos ou</p><p>mesmo quando o ambiente ou a interferência humana não permitem o típico</p><p>afastamento felino, a competição se acirra, e os comportamentos agonísti-</p><p>cos prevalecem. Nesses casos, eles costumam até eleger alguns gatos como</p><p>párias (“indivíduos sem classe social ou pertencentes à classe social infe-</p><p>rior”), os quais serão excluídos e desprezados por todos. O curioso é que</p><p>alguns gatos domiciliados costumam fazer o mesmo com gatos habitantes</p><p>da mesma residência. Sem motivo aparente (uma vez que, em nossos domi-</p><p>cílios, os recursos, no geral, são abundantes), os gatos comportam-se de</p><p>forma agressiva com um indivíduo “pária”. Em oposição aos “párias”, muitas</p><p>vezes, identificamos indivíduos tidos como “déspotas”, tanto na vida livre</p><p>quanto domiciliados. Esses costumam ser os agressores, os quais investem</p><p>contra a maioria e mantêm poucos ou nenhum relacionamento amigável</p><p>dentro do grupo.</p><p>Figura 1 – Encontros noturnos de gatos de uma vizinhança</p><p>constituem-se em um exemplo da socialidade felina</p><p>Fonte: adaptado de Beaver (2005)</p><p>207</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>Com os humanos ou os animais de outra espécie, os gatos também</p><p>podem conviver de forma amigável, já que a independência não significa</p><p>necessariamente relação conflituosa ou ausência de apego (POTTER; MILLS,</p><p>2015). Uma vez que tenha sido bem socializado (especialmente entre a segunda</p><p>e a sétima semana de vida) com esses indivíduos, o gato pode desenvolver um</p><p>relacionamento positivo com eles. A personalidade, mais ou menos amigável</p><p>do felino com o humano, dependerá também de outros fatores, tais como</p><p>o tempo de convivência com a mãe e irmãos de ninhada e a natureza das</p><p>experiências, vividas com humanos nesse início de vida. Além disso, é funda-</p><p>mental que o humano respeite a personalidade de cada gato, aproximando-se</p><p>quando o felino mostra-se receptivo ou ele mesmo se aproxima do humano,</p><p>que deve acariciá-lo apenas onde ele gosta e pelo tempo que ele aprecia o</p><p>toque (ELLIS et al., 2015).</p><p>Tendo esse modelo de socialidade felino em mente, a comunicação</p><p>felina fará a ele, ou seja, para o gato doméstico, é relevante comunicar-se,</p><p>mesmo quando se vive em distanciamento ou isolamento, assim como com-</p><p>preender aquilo que é comunicado pelo outro a distância. Além disso, como</p><p>espécie que preza o distanciamento, ainda que momentâneo, sinais comuni-</p><p>cativos claros de aproximação e afastamento são essenciais.</p><p>Territorialidade felina</p><p>A velha crença errônea de que “os gatos se apegam ao ambiente e não, às</p><p>pessoas da casa” ainda se perpetua, a despeito dos inúmeros exemplos e algu-</p><p>mas pesquisas, as quais constatam o comportamento afiliativo dos gatos em</p><p>relação às pessoas (TURNER; BATESON, 2000; POTTER; MILLS, 2015). De fato,</p><p>existe uma interação especial dos gatos com o ambiente em que vivem, e uma</p><p>característica marcante dos gatos é que eles apreciam a expansão e a conquista</p><p>de territórios, conhecem os territórios em detalhes e neles depositam cada</p><p>uma de suas marcas. Contudo, o perfil territorial do felino não os impede de</p><p>se relacionar e de se apegar aos indivíduos que vivem nesses ambientes, até</p><p>porque o territorialismo felino diz mais respeito à detalhada ocupação que o</p><p>gato faz de seu espaço do que à defesa, de fato, de si próprio.</p><p>Todos os gatos costumam explorar muito bem o espaço em que vivem,</p><p>e o ferais têm as suas áreas muito extensas, chegando a abranger Km 2,</p><p>208</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>especialmente no caso de machos (BEAVER, 2005). De uma forma previsível</p><p>e metódica, eles fazem o reconhecimento da propriedade, rastreiam e patru-</p><p>lham cada cantinho, deixam suas marcas através da deposição de urina (às</p><p>vezes, fezes) e também marcas visuais e odoríferas, resultantes de arranha-</p><p>duras e esfregamentos.</p><p>É fácil notar essa territorialidade felina inclusive nos nossos gatos</p><p>domiciliados. Gatos que não são acostumados a sair de casa e precisam ser</p><p>retirados de seus territórios por motivo de mudança ficarão assustados e</p><p>retraídos, querendo, a todo custo, voltar para casa. O gato, colocado em um</p><p>ambiente novo, age como se não aceitasse a nova propriedade (e aí que estão</p><p>os riscos de se perder o gatinho durante uma mudança), mas, na verdade, o</p><p>que ocorre é a ausência de reconhecimento do novo, visto que a nova resi-</p><p>dência não apresenta nenhum sinal de familiaridade para o gato, pois ele</p><p>não faz ideia de onde estão os seus recursos ou quais são as rotas de acesso</p><p>a eles, e nenhuma de suas marcas está presente. Com o tempo (que pode</p><p>representar horas, dias, semanas ou até meses), ele, então, passará por uma</p><p>fase de exploração, e isto vai melhorar sua inserção nesse novo ambiente.</p><p>Cada cantinho da nova residência será explorado de forma detalhada e devi-</p><p>damente marcado.</p><p>Ressalta-se que a questão da territorialidade felina é ainda mais com-</p><p>plexa: o território, na verdade, é apenas uma parte de uma região total, ocu-</p><p>pada pelo gato, cujas áreas são denominadas “zonas territoriais” (BEAVER,</p><p>2005). A área domiciliar constitui-se na área total, percorrida pelo gato.</p><p>Compreende todas as “zonas territoriais” juntas. Já as homesites são subdivi-</p><p>sões dessa área domiciliar e áreas específicas, destinadas a propósitos espe-</p><p>ciais, tais como caça, brincadeiras, reprodução, descanso e isolamento em</p><p>caso de debilidade física, bem como eliminação (micção e defecação). Um gato</p><p>pode, por exemplo, permitir a presença de outro gato, enquanto está em uma</p><p>homesite, destinada à brincadeira, mas não, na homesite de caça, atividade que</p><p>costuma praticar sozinho. Por fim, temos o território, que é uma área restrita</p><p>da área domiciliar e que costuma ser pequena o suficiente para o gato poder</p><p>patrulhá-la, defendê-la de adversários e, inclusive, expandi-la. Os machos</p><p>costumam ser mais tolerantes à aproximação e permanência de fêmeas em</p><p>seu território (BEAVER, 2005).</p><p>Considerando que as áreas domiciliares felinas podem ser muito</p><p>grandes, em áreas urbanas, altamente ocupadas por gatos, há intersecções</p><p>209</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>entre as propriedades de diferentes gatos, e estes poderão utilizá-las, de</p><p>forma consecutiva, por horas e nunca se encontrarem. Isso ocorre gra-</p><p>ças à marcação territorial feita principalmente pela deposição de urina,</p><p>arranhaduras e esfregamentos. Um gato detecta, pelas marcações, a pre-</p><p>sença do outro a alguns metros dali e, desta forma, evita um encontro.</p><p>Entretanto, caso o gato não mantenha um distanciamento, ultrapassando,</p><p>assim, uma distância considerada crítica ou, principalmente, alcançando</p><p>homesites de isolamento ou de reprodução, onde o outro o utiliza com</p><p>exclusividade, a coexistência deixa de ser pacífica, e embates podem ocor-</p><p>rer. É importante notar que as marcas territoriais não são depositadas</p><p>de maneira aleatória. Os limites das homesites, por exemplo, são marca-</p><p>dos visualmente por arranhadura e pelos sinais olfativos, decorrentes da</p><p>demarcação urinária. Já os caminhos que interligam essas homesites são</p><p>geralmente marcados por sinais olfativos, decorrentes de esfregamentos</p><p>faciais (Figura 2).</p><p>Os gatos domiciliados convivem, muitas vezes, em ambientes minús-</p><p>culos, repletos de pessoas ou superlotados de gatos, sendo difícil delimitar</p><p>o pouco espaço. Não se sabe ao certo como eles ocupam esse espaço, e é</p><p>possível que, em lares humanos, a área domiciliar e o território representem a</p><p>mesma coisa. Gatos domiciliados que acessam o ambiente externo fazem um</p><p>compartilhamento do espaço, em função do tempo, ou seja, gatos vizinhos</p><p>não saem de casa no mesmo horário (BBC HORIZON, 2013). Logo, saindo em</p><p>horários distintos, não se encontram nem brigam.</p><p>O mais importante de tudo isso é que aos bichanos seja propiciado</p><p>um ambiente saudável, livre de superlotação e enriquecido de elementos que</p><p>compõem os seus ambientes e atividades naturais, ou seja, áreas de descanso,</p><p>áreas de isolamento altas, esconderijos no solo, áreas para brincadeiras que</p><p>simulem a caça, banheiros e pontos de alimentação apropriados (ELLIS et al.,</p><p>2013). Todos devem estar em multiplicidade e estrategicamente espalhados,</p><p>visto que os gatos apreciam explorar e setorizam o seu ambiente, e cada área</p><p>tem sua função (ELLIS et al., 2013) (Figura 3). É fundamental ainda que eles</p><p>possam marcar os locais e, para isto, devemos oferecer superfícies apropria-</p><p>das em pontos estratégicos da casa; marcar para o gato significa reconhecer</p><p>o terreno e se comunicar com o outro a distância, evitar um encontro e pre-</p><p>venir conflitos, coabitar em um mesmo espaço, mesmo que não pertençam</p><p>ao mesmo grupo social.</p><p>210</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Caçando</p><p>aves</p><p>Eliminação</p><p>Brincar</p><p>Brincar</p><p>Legenda</p><p>Arranhadura</p><p>Marcação</p><p>com urina</p><p>Marcação</p><p>Facial</p><p>Caçando</p><p>roedores</p><p>Figura 2 – “Zonas territoriais” e marcações territoriais</p><p>Fonte: cedido por Ceva Saúde Animal Ltda</p><p>ENTRADA</p><p>Legendas</p><p>SALA</p><p>Área de brincadeira</p><p>Área de eliminação</p><p>Área de alimentação Cama Arranhador</p><p>Brinquedos</p><p>Caixa de areia</p><p>Água</p><p>Caixa de papelão</p><p>Alimento</p><p>Prateleiras</p><p>Área de arranhadura</p><p>e esfregamento facial</p><p>(marcação)Área de descanso</p><p>COZINHA</p><p>QUARTO 2</p><p>QUARTO</p><p>PRINCIPAL</p><p>BANHEIRO</p><p>L</p><p>A</p><p>V</p><p>A</p><p>N</p><p>D</p><p>E</p><p>R</p><p>I</p><p>A</p><p>Figura 3 – “Zonas territoriais” em uma residência e os alvos e locais disponíveis para as</p><p>marcações territoriais.</p><p>Fonte: acervo pessoal da autora.</p><p>211</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>COMUNICAÇÃO FELINA</p><p>Os gatos se comunicam entre si e com o mundo, mas, diferentemente</p><p>do cão e de nós, seres humanos, é muito mais observador, e sua comunicação</p><p>ocorre de forma muito sutil. Mais do que ser visto e ouvido, o gato busca ver</p><p>e ouvir muito bem.</p><p>A comunicação dos gatos domésticos se dá pela exibição de posturas</p><p>corporais específicas, incluindo expressões faciais e emissão de sinais vocais.</p><p>Por exemplo, a aproximação frontal com o rabo erguido, quer seja em rela-</p><p>ção a um outro gato ou a uma pessoa, costuma denotar afiliação (CAFAZZO;</p><p>NATOLI, 2009). Da mesma forma, o corpo encolhido, lateralizado, com o</p><p>rabo entre as pernas e pelos eriçados, significa postura defensivo-agressiva,</p><p>buscando afastamento. Rosnados e “assoprões” conferem agressividade,</p><p>enquanto ronronados e chamados ditos “cantarolados” comumente deno-</p><p>tam amizade. Todavia esses são apenas alguns exemplos de um repertório</p><p>comunicativo vasto, complexo e de difícil interpretação para nós, humanos</p><p>(NICASTRO; OWREN, 2003).</p><p>Embora as vocalizações e as posturas corporais sejam parte integrante</p><p>da comunicação utilizada pelos gatos, entre eles, ganha destaque a comu-</p><p>nicação realizada pelas marcas, deixadas no ambiente (visuais e olfativas,</p><p>decorrentes de deposição urinária/fecal, arranhadura e esfregamentos). É</p><p>preciso lembrar que os gatos são indivíduos semi-sociais, e a comunicação</p><p>por marcação tem uma importância enorme para o gato, porque torna pos-</p><p>sível a troca de informações, sem a necessidade de estarem frente a frente.</p><p>É por isso que gatos de temperamento tímido e retraídos estão entre aque-</p><p>les que mais marcam o ambiente. Ao que parece, quanto mais marcas tiver</p><p>o ambiente, mais familiar e apaziguador este será para o gato. O gato, tido</p><p>como corajoso e até intimidador, poderá também marcar, ainda que para</p><p>outros fins, como para expandir e defender o seu território.</p><p>Expressões faciais</p><p>Os principais componentes faciais aos quais devemos nos ater ao inter-</p><p>pretar a comunicação felina são os olhos, as orelhas e as vibrissas (“bigodes”).</p><p>Dependendo de como esses se posicionam, é possível inferir sobre prováveis</p><p>212</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>estados emocionais felinos (p. ex., relaxado, medroso, frustrado) e se desejam</p><p>aproximação ou afastamento. Resumidamente, a combinação do posiciona-</p><p>mento de olhos, orelhas e vibrissas resultam em quatro principais expressões</p><p>faciais felinas: relaxada, alerta, defensiva e ofensiva.</p><p>� Expressão facial relaxada – As orelhas costumam estar aponta-</p><p>das para o alto e com abertura levemente lateralizada. As vibris-</p><p>sas comumente alinham-se ao plano da face. Os olhos estão nor-</p><p>malmente abertos, semiabertos ou fechados, sendo que as pupilas</p><p>dilatam-se ou contraem-se, dependendo da luz (p. ex., pupilas</p><p>dilatadas no escuro e contraídas no claro). Piscadelas são também</p><p>bastante comuns em situações de relaxamento, desde que estejam</p><p>devidamente acompanhadas de posturas corporais e vocalizações</p><p>relaxadas (Figura 4).</p><p>à Quando manifestam expressão facial relaxada, os gatos encon-</p><p>tram-se calmos, vivenciando estados emocionais positivos (p.</p><p>ex., contentamento, satisfação), e geralmente aceitam aproxima-</p><p>ções. Quando sonolentos, também apresentarão expressão facial</p><p>relaxada e, nesse momento,</p><p>talvez não apreciem aproximações.</p><p>Figura 4 – Expressão</p><p>facial e postura</p><p>corporal relaxada</p><p>Fonte: acervo pessoal da</p><p>autora.</p><p>� Expressão facial alerta – As orelhas costumam estar apontadas para</p><p>o alto, eretas, com abertura para a frente. As orelhas e as vibrissas</p><p>comumente direcionam-se ao estímulo que desencadeia o estado</p><p>alerta, geralmente posicionado à frente do gato. Os olhos estão</p><p>normalmente abertos, sendo que as pupilas, parcialmente dilatadas</p><p>(dependendo, é claro, da quantidade de luz ambiental) (Figura 5).</p><p>213</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>à Quando manifestam expressão facial alerta, os gatos encon-</p><p>tram-se menos relaxados, ainda que possam estar vivenciando</p><p>estados emocionais positivos; no geral, em alerta, eles não apre-</p><p>ciam aproximações, já que o seu foco está totalmente no estí-</p><p>mulo à sua frente. Quando em atividade de caça (real ou lúdica),</p><p>poderão apresentar expressão facial alerta (p. ex., na espreita,</p><p>na perseguição ou, até mesmo, na tocaia) e, nesse contexto, por</p><p>certo, preferirão afastamento de quem se aproxima, com exce-</p><p>ção da presa a qual desejam atacar.</p><p>Figura 5 – Expressão</p><p>facial e postura</p><p>corporal alerta</p><p>Fonte: acervo pessoal da</p><p>autora.</p><p>� Expressão facial defensiva – As orelhas costumam estar aponta-</p><p>das para o alto, porém, com abertura lateralizada ou para baixo;</p><p>neste caso, estarão apontadas para o lado. Caso o gato esteja pres-</p><p>tes a atacar, as orelhas poderão estar rebatidas para trás. Vibrissas</p><p>comumente lateralizam-se rente às bochechas ou mostram-se</p><p>espalhadas no plano da face. Os olhos estão normalmente abertos,</p><p>com pupilas dilatadas (podem diferir disso, dependendo da quan-</p><p>tidade de luz ambiental) (Figura 6).</p><p>à Quando manifestam expressão facial defensiva, os gatos encon-</p><p>tram-se ansiosos ou medrosos, por vezes, incomodados e/ou</p><p>frustrados, no geral, vivenciando estados emocionais negativos</p><p>(p. ex., medo, dor) e, portando, desejando afastamento e possível</p><p>isolamento.</p><p>à Expressão facial ofensiva – Orelhas costumam estar eretas,</p><p>apontando e abertas para a frente, podendo se movimentar.</p><p>Caso o gato esteja prestes a atacar, as orelhas poderão estar</p><p>214</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>rebatidas para trás. Vibrissas comumente posicionam-se para</p><p>frente. Os olhos estão normalmente abertos, sendo que as pupi-</p><p>las podem estar dilatadas ou contraídas (dependendo, é claro, da</p><p>quantidade de luz ambiental) (Figura 6).</p><p>à Quando manifestam expressão fácil ofensiva, encontram-se</p><p>impulsivos, ansiosos ou medrosos, por vezes, incomodados e/</p><p>ou frustrados, inquisitivos, possivelmente vivenciando estados</p><p>emocionais negativos (p. ex., medo, frustração), porém optam</p><p>pelo ataque, ou seja, ainda que desejem afastamento, o fazem</p><p>mediante uma atitude ativa de atacar.</p><p>Figura 6 – Expressão</p><p>facial e postura</p><p>corporal ofensiva</p><p>(gato preto, à direita)</p><p>e defensiva (gato</p><p>tigrado, à esquerda)</p><p>Fonte: acervo pessoal da</p><p>autora.</p><p>Posturas corporais</p><p>O posicionamento do tronco, da cabeça e cauda (incluindo a sua movi-</p><p>mentação), interpretado em conjunto, resulta em quatro principais posturas</p><p>corporais felinas: relaxada, alerta, defensiva e ofensiva, as quais acompanham</p><p>respectivamente as expressões faciais relaxada, alerta, defensiva e ofensiva,</p><p>descritas anteriormente.</p><p>� Postura corporal relaxada – O gato encontra-se sentado, deitado</p><p>ou em pé, relaxado e, estando deitado, sua barriga pode estar para</p><p>baixo, exposta lateralmente ou para cima. O gato pode ainda estar</p><p>agachado, inclusive, com as patas dobradas embaixo do corpo. A</p><p>cauda mostra-se parada, repousada no chão, ao lado do corpo ou</p><p>afastada. Quando em pé, a cauda pode estar curvada para cima ou</p><p>totalmente para o alto. Em situações de aproximação relaxada,</p><p>contudo, ativa, geralmente denota contentamento (p. ex., quando o</p><p>215</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>dono chega em casa), e o gato pode erguer a cauda e tremê-la, mas,</p><p>sem borrifar urina (p. ex., “marcação fantasma”) (Figura 4).</p><p>� Postura corporal alerta – O gato encontra-se geralmente em pé ou</p><p>agachado (neste caso, com as patas encolhidas embaixo do corpo,</p><p>não dobradas). A cauda encontra-se parada ou com movimentos</p><p>leves de um lado para o outro (ou apenas em sua ponta), repousada</p><p>no chão ou, até mesmo, curvada para cima (cauda em “gancho”)</p><p>(Figura 5).</p><p>� Postura corporal defensiva – O gato encontra-se em pé ou aga-</p><p>chado, com as patas encolhidas (não dobradas) embaixo do corpo;</p><p>encolhido, por vezes com o corpo lateralizado; e os pelos do dorso</p><p>e da cauda estão geralmente eriçados. A cauda encontra-se para</p><p>baixo, ao lado do corpo ou entre os membros, com leves movimen-</p><p>tos, ou parada (Figura 6).</p><p>� Postura corporal ofensiva – O gato encontra-se em pé, erguido,</p><p>por vezes, com o dorso arqueado; e os pelos do dorso e da cauda</p><p>podem estar eriçados. A cauda exibe movimentos vigorosos de um</p><p>lado para o outro ou pode estar parada, posicionada para baixo,</p><p>inclusive podendo apresentar-se em formado côncavo (Figura 6).</p><p>Vocalizações</p><p>Os sinais vocais felinos se enquadram em três tipos de padrões aos</p><p>quais devemos nos ater, ao interpretar a comunicação felina: padrões de mur-</p><p>múrio, padrões vocálicos e padrões de intensidade forçada (BEAVER, 2005).</p><p>� Padrões de murmúrio – Constituem-se em vocalizações, emitidas</p><p>pelo gato, com a boca fechada. Destacam-se o ronronado (purr) e o</p><p>gorjeio ou trinado (chirrupp ou thrill). Quanto aos últimos, são con-</p><p>siderados sinais vocais cantarolados e, com frequência, emitidos em</p><p>contexto de reencontros e brincadeiras; no geral, denotam desejo</p><p>de aproximação e vivência de emoções positivas. Já o ronronado,</p><p>ainda que comumente emitido em contextos positivos, denotando</p><p>intensa satisfação felina, já foi relatado em contexto de dor e sofri-</p><p>mento, tal como na eminência de morte. Diversas teorias já foram</p><p>propostas para a função do ronronar inclusive autoapaziguamento,</p><p>216</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>estimulação muscular e óssea, além de solicitação direcionada ao</p><p>humano (MCCOMB et al., 2009).</p><p>� Padrões vocálicos – Constituem-se em vocalizações, emitidas pelo</p><p>gato, com a boca aberta, e, nesta categoria, destacam-se os mia-</p><p>dos. Miados diferenciam-se em suas características acústicas e do</p><p>contexto em que são emitidos, podendo denotar estados emocio-</p><p>nais diversos: desejo de afastamento ou de aproximação, contenta-</p><p>mento, dor ou sofrimento, chamamento, direcionado a outro gato</p><p>ou ao dono; neste caso, dependendo do processo de condiciona-</p><p>mento que se deu no histórico de interação entre eles, podem surgir</p><p>dialetos, inclusive, com miados bastante incomuns e até inusitados.</p><p>Miados entrecortados (chattering), emitidos pelos gatos, em situa-</p><p>ções de aparente inibição ou até mesmo frustração (p. ex., diante</p><p>do latido próximo de um cão ou da proximidade de um pássaro) são</p><p>muito comuns.</p><p>� Padrões de intensidade forçada – Constituem-se em vocalizações,</p><p>emitidas pelo gato com a boca aberta, e denotam estados emocio-</p><p>nais extremos. Destacam-se os miados intensos de aproximação</p><p>sexual e acasalamento (emitidos por machos e fêmeas). Rosnados</p><p>(growl), assoprões (hiss) e até mesmo um sinal peculiar que lembra</p><p>o som de uma cuspida (spit), emitidos durante interações agressi-</p><p>vas, os quais, geralmente, denotam emoções negativas e desejo de</p><p>afastamento.</p><p>Quando em contexto lúdico, comunicando um desejo de brincar ou</p><p>aceitando um convite para a brincadeira, a postura corporal, a expressão</p><p>facial e as vocalizações exibidas pelo gato dependerão do tipo de brincadeira</p><p>(p. ex., de luta, de perseguição etc.), com quem se brinca (p. ex., com um gato</p><p>ao qual ele seja muito afiliado ou com um gato recém-chegado no grupo) e</p><p>que papel se assume na brincadeira (p. ex., perseguidor ou perseguido). Por</p><p>exemplo, durante uma brincadeira de luta, com um indivíduo recém conhe-</p><p>cido (felino ou humano) e perante o qual o gato ainda não se sinta plenamente</p><p>seguro, a brincadeira poderá</p><p>envolver posturas corporais, expressões faciais</p><p>e vocalizações defensivas ou ofensivas momentâneas. Porém, elas virão inter-</p><p>caladas, com claros momentos de relaxamento e sinais comunicativos de</p><p>aproximação positiva.</p><p>217</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>Marcações</p><p>A deposição de marcas no ambiente, quer sejam visuais (decorrentes</p><p>principalmente de arranhadura) ou olfativas (decorrentes principalmente de</p><p>esfregamentos e da deposição de fezes e urina), é talvez a forma comunicativa</p><p>mais relevante para o felino, desempenhada de forma frequente e metódica</p><p>tanto por gatos ferais quanto domiciliados.</p><p>As marcas olfativas, depositadas no ambiente, são, no geral, compostas</p><p>por feromônios, além de outros elementos odoríferos, eliciadores de reco-</p><p>nhecimento por indivíduos da espécie felina (PAGEAT; GAULTIER, 2003). Em</p><p>conjunto, tais marcações constituem-se em sinais químicos (semioquímicos),</p><p>envolvidos na comunicação entre os indivíduos. O termo “feromônios” foi pri-</p><p>meiramente utilizado por Karlson, Luscher e Butenand, em 1959 (BRENNAN;</p><p>MENINI, 2010). Feromônios são produzidos e liberados no ambiente, tendo</p><p>o potencial de desencadear respostas fisiológicas e comportamentais em</p><p>indivíduos que entram em contato com elas e as reconhecem em nível</p><p>neurológico.</p><p>A produção dos feromônios nos mamíferos ocorre em estruturas epi-</p><p>teliais, espalhadas pelo corpo. Dentre as principais regiões de produção, des-</p><p>tacam-se a face (p. ex., região perioral e bochecha em gatos), coxins palmares</p><p>e plantares, região mamária, área perianal (p. ex., glândula supracaudal em</p><p>gatos) e região urogenital. Funcionalmente, diferentes tipos de feromônios</p><p>são produzidos, podendo ser identificados de acordo com a região que os</p><p>produz. Por exemplo, feromônios, liberados pela região perianal e coxins,</p><p>estão geralmente envolvidos em marcação de alarme, ou seja, informam</p><p>outros indivíduos e/ou relembram o próprio indivíduo do perigo existente</p><p>naquele dado local ou circunstância. Já os feromônios, liberados pela região</p><p>mamária de gatas lactantes, possuem efeito apaziguador nos filhotes.</p><p>Uma vez liberados no ambiente, os feromônios são detectados pelo</p><p>organismo de uma maneira específica, distinta daquela que geralmente</p><p>ocorre em relação aos odores de modo geral. A primeira etapa, após a pene-</p><p>tração dessas substâncias, via inspiração pela cavidade nasal e também pela</p><p>cavidade oral, envolve a detecção pelo órgão vomeronasal, ou de Jacobson,</p><p>localizado na cavidade nasal.</p><p>218</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Órgão Vomeronasal</p><p>Boca</p><p>Órgão</p><p>Vomeronasal</p><p>Cavidade Nasal</p><p>Mucosa olfatória</p><p>Hipotálemo</p><p>Lobo olfatório</p><p>Humano</p><p>Nervos</p><p>olfatórios</p><p>Hipotálamo Trato</p><p>olfatório</p><p>Órgão</p><p>vomeronasal</p><p>Língua</p><p>Gato</p><p>Figura 7 – Esquema da estrutura cranial de um felino, com demonstração do órgão</p><p>vomeronasal na cavidade nasal</p><p>Fonte: www.maxshouse.com</p><p>Para a melhor penetração e posterior efeito do feromônio na modu-</p><p>lação fisiológica e comportamental, o receptor manifesta um ato específico,</p><p>denominado “reflexo de Flehmen” que, no gato, envolve uma semiabertura da</p><p>boca e manutenção deste estado estático por alguns segundos, permitindo,</p><p>assim, a penetração do ar e maior acessibilidade ao órgão de Jacobson. Uma</p><p>vez o feromônio, sendo detectado pelo órgão vomeronasal, que é parte do sis-</p><p>tema olfatório acessório, a informação é, então, transmitida, principalmente</p><p>pelo bulbo olfatório, acessório ao sistema límbico, que é o “cérebro emocio-</p><p>nal”, sem a necessidade de processamento via córtex cerebral.</p><p>A detecção e o reconhecimento dos feromônios, pelo sistema límbico,</p><p>resulta em uma rápida moderação da fisiologia e do comportamento emo-</p><p>cional, sem evocar uma consciência do sinal olfativo reconhecido ou da razão</p><p>para a modulação comportamental consequente. Por exemplo, em se tra-</p><p>tando da detecção de um feromônio sexual, serão automaticamente eliciados</p><p>comportamentos sexuais no indivíduo que os detectou, ou seja, no receptor</p><p>do sinal comunicativo. Caso sejam detectados feromônios apaziguadores,</p><p>serão induzidos comportamentos relaxados ou até mesmo afiliativos.</p><p>Nos gatos domésticos, os principais feromônios são produzidos em</p><p>estruturas epiteliais faciais. Assinala-se que cinco frações de feromônios</p><p>219</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>faciais felinos já foram detectadas até o momento (F1 a F5). Três delas (F2, F3</p><p>e F4) possuem função comunicativa detectada, sendo que duas destas (F3 e</p><p>F4) já são produzidas em versões sintéticas. A principal delas (F3) é indicada</p><p>no manejo de diversas situações estressantes para os gatos, tais como trans-</p><p>porte, mudança de residência, hospitalização e convalescência, bem como</p><p>para o controle de determinados comportamentos problemáticos, como, por</p><p>exemplo, arranhadura inapropriada e marcação urinária.</p><p>Quadro 1 – As cinco frações de feromônios faciais felinos já detectadas</p><p>Feromônios</p><p>faciais felinos</p><p>Função</p><p>F1 Desconhecida</p><p>F2 Marcação sexual por machos inteiros (atração sexual)</p><p>F3 Marcação de locais e objetos (familiaridade e reconhecimento espacial)</p><p>F4 Marcação de pessoas e animais afiliados (familiaridade e</p><p>reconhecimento do grupo)</p><p>F5 Desconhecida</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>Além dessas cinco frações faciais, já são conhecidos dois outros impor-</p><p>tantes feromônios naturais, produzidos pelos gatos domésticos, em outras</p><p>regiões corpóreas: os feromônios interdigitais (“FIS” – feline interdigital</p><p>semiochemicals) e os feromônios apaziguadores maternais (produzidos pela</p><p>fêmea lactante). A comercialização de seus análogos sintéticos já existe em</p><p>diversos países.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BBC HORIZON. The secret life of the cat. BBC, 2013. Disponível em: https://</p><p>www.bbc.co.uk/programmes/b02xcvhw. Acesso em:</p><p>BEAVER, B. V. Feline behaviour: a guide for veterinarians. 2 ed. New York:</p><p>Elsevier Inc., 2005.</p><p>BRENNAN, P. A; MENINI, A. (eds). The Neurobiology of Olfaction. Boca Raton</p><p>(FL): CRC Press/Taylor & Francis; 2010. Capítulo 6. 2010.</p><p>https://www.bbc.co.uk/programmes/b02xcvhw</p><p>https://www.bbc.co.uk/programmes/b02xcvhw</p><p>220</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>CAFAZZO, S.; NATOLI, E. The social function of tail up in the domestic cat</p><p>(Felis silvestris catus). Behavioural Processes, v. 80, n. 1, p. 60-66, 2009.</p><p>CROWELL-DAVIS, S. L.; CURTIS, T. M.; KNOWLES, R. J. Social organization</p><p>in the cat: a modern understanding. Journal of Feline Medicine and</p><p>Surgery, v. 6, p. 19-28, 2004.</p><p>DOWNEY, H.; ELLIS, S. ‘Tails’ of acquisition: the incorporation of the feline</p><p>into the family. Journal of Business Research, v. 61, p. 434-441, 2008.</p><p>ELLIS, S. L. H; CARNEY, H. C.; HEATH, S.; ROCHLITZ, I.; SHEARBURN, L. D.;</p><p>SUNDAHL, E.; WESTROPP, J. L. AAFP and ISFM feline environmental</p><p>needs guidelines. Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 15, n. 3, p.</p><p>219-230, 2013.</p><p>ELLIS, S. L. H; THOMPSON, H.; GUIJARO, C., et al. The influence of body</p><p>region, handler familiarity and order of region handled on the domes-</p><p>tic cat’s response to being stroked.Appl Anim Behav Sci;v. 173, p. 60-67,</p><p>2015.</p><p>EUROMONITOR. Latest analyst insight. Euromonitor. Disponível em: . Acesso em: 1 out. 2004.</p><p>MCCUNE, S. W. Temperament and the welfare of caged cats. These de Doutorado</p><p>da University of Cambridge, Cambridge, United Kingdom, 1992.</p><p>MCCOMB, K; TAYLOR, A.M.; WILSON, C.; CHARLTON, B.D. The cry embedded</p><p>within the purr. Current Biology, v. 19, n. 13, p. 507-508, 2009.</p><p>NICASTRO, N.; OWREN, M. J. Classification of domestic cat (Felis catus) voca-</p><p>lizations by naive and experienced human listeners. J Comp Psychol, v.</p><p>117, p. 44-52, 2003.</p><p>PAGEAT, P.; GAULTIER E. Current research in canine and feline pheromones.</p><p>Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 33, n. 2,</p><p>p.187-211, 2003.</p><p>POTTER, A.; MILLS, D.S. Domestic cats (Felis silvestris catus) Do not show</p><p>signs of secure attachment to their owners. PlosOne, v.10, n. 9, 2015.</p><p>STELLA, J. L.; LORD, L. K.; BUFFINGTON,</p><p>experiência divertida e recompensadora</p><p>Estimular apenas as brincadeiras adequadas. Parar de brincar imediatamente, caso sejam</p><p>verificados comportamentos inadequados</p><p>Divertir-se é importante, mas evite estímulos excessivos e atividades que simulam a caça, em</p><p>particular, quando crianças estiverem envolvidas</p><p>Manter a brincadeira no nível do solo, para evitar saltos</p><p>Fonte: Sandra McCune</p><p>NOTA PARA GATOS QUE VIVEM EXCLUSIVAMENTE NO INTERIOR DA</p><p>RESIDÊNCIA</p><p>Os gatos podem passar, em média, entre 16 e 20 horas diárias dor-</p><p>mindo. Desde que, tenham acesso adequado ao alimento, água, lugares para</p><p>dormir e se esconder, além de caixa sanitária. Eles podem ser capazes de</p><p>viver com muita felicidade, no interior da residência ( JONGMAN, 2007).</p><p>Outras considerações para enriquecimento ambiental incluem oportunida-</p><p>des para atividade física, estímulo mental e expressão de comportamentos</p><p>naturais: exploração, brincadeiras e comportamento predatório, como pode</p><p>ser observado na Figura 5 (ELLIS etal., 2013). Plataformas elevadas, lugares</p><p>para se esconder e superfícies para arranhar estimularão o seu comporta-</p><p>mento natural. Atividades que envolvam a alimentação, como brincadeiras</p><p>para encontrar alimentos e alimentadores interativos, podem também esti-</p><p>mular os seus instintos naturais ( JONGMAN, 2007)21.</p><p>5. Cuidado preventivo com a saúde</p><p>Reduzir o risco do animal desenvolver uma série de problemas com-</p><p>portamentais é possível por cuidado preventivo com a saúde. A abordagem</p><p>completa sobre este tema está resumida no Quadro 7. As avaliações de saúde</p><p>regulares, realizadas a cada seis meses por serviço veterinário, asseguram o</p><p>sucesso no controle de doenças.</p><p>23</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>Quadro 7 – Componentes essenciais de um programa preventivo de saúde (ver Figura 5)</p><p>Área em foco Função preventiva</p><p>Papel do tutor</p><p>(fundamental para o sucesso)</p><p>Vacinação</p><p>e controle</p><p>parasitário</p><p>Controle de doenças infecciosas</p><p>(SCHERK et al, 2013; WELBORN,</p><p>L.V. et al., 2011) e parasitárias (p.ex.,</p><p>dirofilariose e outras verminoses,</p><p>toxoplasmose, dermatofitoses)</p><p>� Tratamentos conforme as</p><p>instruções do fabricante e</p><p>receita veterinária individualizada</p><p>� Isolamento adequado dos indiví-</p><p>duos acometidos de doenças</p><p>� Padrão elevado de higiene e des-</p><p>carte de resíduos</p><p>Cuidado</p><p>dentário</p><p>Reduzir dores, halitose e infecções</p><p>entre outros quadros orais</p><p>� Rotina de cuidado dentário nas</p><p>casas: escovação diária, mastigar</p><p>produtos funcionais, seleção ali-</p><p>mentar apropriada</p><p>� Revisões dentárias a cada seis meses</p><p>Nutrição Como discutido antes, muitas</p><p>condições de saúde podem ser</p><p>influenciadas pela nutrição.</p><p>Destaca-se o manejo do peso</p><p>saudável (ALEXANDER, 2012;</p><p>GERMAN, 2006), já que a obesidade</p><p>aumenta o risco de outras doenças</p><p>e reduz a expectativa de vida do</p><p>animal (GERMAN, 2006; SALT;</p><p>MORRIS, 2017)</p><p>� Considerar o gasto de energia,</p><p>seleção dos alimentos apropria-</p><p>dos apropriados e quantidade de</p><p>alimento necessário para cada</p><p>indivíduo</p><p>� Recompensa com petisco deve</p><p>ser limitada e com respaldo</p><p>veterinário</p><p>� Pesagem regular e Escore de</p><p>Condição Corpórea</p><p>Comportamento Oferecer as necessidades espécie-</p><p>específicas contribui para evitar o</p><p>estresse, a frustração e os conflitos</p><p>emocionais que levam a problemas</p><p>comportamentais</p><p>� Compreender e permitir compor-</p><p>tamentos naturais ligados à sua</p><p>ancestralidade (Figuras 6 e 7)</p><p>� Entender a linguagem corporal e</p><p>expressões faciais</p><p>� Monitorar as alterações, p. ex.,</p><p>vocalização, mudanças do apetite,</p><p>eliminação inadequada (particu-</p><p>larmente nos gatos)</p><p>� Fornecer rotina estável, previ-</p><p>sível, com recursos disponíveis</p><p>adequados</p><p>� Aceitar orientações de Veterinário</p><p>especialista em Comportamento</p><p>Fonte: adaptado do relatório PSDA-2017</p><p>24</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Figura 5 – Componentes essenciais do Programa de Cuidado Preventivo de Saúde de gatos e</p><p>cães (dos Hospitais Banfield)</p><p>Fonte: adaptadas do Relatório PSDA 2017</p><p>Predação Atividade de brincadeiras Locais para arranhar</p><p>Figura 6 – Comportamentos felinos naturais: predação, atividade de brincadeiras e locais</p><p>para arranhar</p><p>Fonte: acervo de Sandra McCune</p><p>Figura 7 – Comportamentos</p><p>caninos naturais: brincadeira</p><p>social, exercício</p><p>Fonte: acervo de Sandra McCune</p><p>25</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>Principais sintomas de estresse</p><p>Aumento da atividade</p><p>Diminuição</p><p>da atividade,</p><p>comportamento</p><p>retraído</p><p>Carência</p><p>Fricção excessiva</p><p>nos móveis</p><p>Arranhadura</p><p>excessiva</p><p>Marcação</p><p>com fezes</p><p>Pulverização</p><p>de urina</p><p>Figura 8 – Sinais de estresse felino: linguagem corporal</p><p>Fonte: Royal Canin®</p><p>RESPEITO ÀS NECESSIDADES DO BEM-ESTAR DO ANIMAL DE COMPANHIA</p><p>O papel definitivo da família no relacionamento especial que se desen-</p><p>volve, quando um animal é trazido para casa, é prover as suas necessidades</p><p>básicas de bem-estar (Figura 9). O bem-estar animal vai além de oferecer os</p><p>cuidados básicos e inclui enriquecimentos para melhorar a qualidade de vida</p><p>e, consequentemente, a sua relação com o tutor.</p><p>Figura 9 – As cinco necessidades para o bem-estar dos animais de companhia</p><p>Fonte: https://www.slideshare.net/WalthamCPN/community-friendly-pet-ownership-76376501</p><p>26</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quadro 8 – Resumo: orientação para propiciar o bem-estar animal</p><p>Categoria de bem-estar Necessidades</p><p>Ambiente disponível Espaço e abrigo adequados, sem temperaturas extremas,</p><p>iluminação adequada, níveis baixos de ruído, limpeza, apenas</p><p>ambiente interno ou acesso ao exterior, provisão de sombra</p><p>adequada quando for ambiente externo</p><p>Água e alimento Dieta balanceada para as necessidades do animal em cada estágio de</p><p>vida, fornecida apropriadamente. Acesso ilimitado de água fresca</p><p>Comportamento natural Oportunidades para expressar o comportamento normal,</p><p>incluindo o direcionado a outros animais e aos seres humanos</p><p>Segurança Companheirismo e proteção nas situações prováveis de medo e</p><p>distresse; identificação (microchip, coleira)</p><p>Cuidado da saúde Vacinação, controle de parasitas internos e externos, visitas/controles</p><p>veterinários de rotina, acesso imediato ao cuidado do veterinário</p><p>Fonte: Sandra McCune</p><p>O veterinário pode ajudar o tutor a compreender a complexidade das</p><p>dimensões de saúde, estrutura social e comportamento necessárias para o</p><p>animal. Nesse contexto, as orientações, apresentadas no Quadro 8 acima,</p><p>podem auxiliar nessa tarefa, gerando resultados bastante positivos. Também,</p><p>é preciso lembrar que vínculos sociais duradouros são criados a partir de</p><p>fortes ligações emocionais e psicológicas, as quais devem ser observadas, em</p><p>razão das diferenças entre nossas espécies.</p><p>Os benefícios de saúde e a melhora da qualidade de vida da população de</p><p>tutores é bastante pesquisada e reconhecida (SERPELL; MCCUNE, 2012), além</p><p>de seus aspectos positivos para a sociedade, como um todo. A saúde humana,</p><p>a economia e a interação social são impactados positivamente por nossas inte-</p><p>rações com os animais. De forma contrária, a guarda irresponsável de um ani-</p><p>mal incorre em custo social significativo (SERPELL; MCCUNE, 2018). Limpar os</p><p>dejetos de cães, controlar animais indesejados e cães agressivos ou incontro-</p><p>láveis são as críticas comuns aos animais e seus tutores. Estas situações é que</p><p>levam a estereótipos negativos sobre a convivência com animais de companhia.</p><p>Quando se pensa sobre animais e o seu lugar na família, é importante</p><p>perceber todos os pontos em que a experiência veterinária pode ajudar.</p><p>Compartilhar os conselhos e as experiências é uma atitude que pode melho-</p><p>rar muito a qualidade das interações entre o tutor e o animal. Assim, é fun-</p><p>damental ter em mente a promoção da guarda responsável pelo tutor em</p><p>relação ao animal. Desde os primeiros momentos em que se considera um</p><p>gato ou um cão como um membro da família, estes devem ser bem cuidados,</p><p>27</p><p>Animais de companhia: ciclo familiar, papéis e tipos de interação</p><p>do início da convivência até o final</p><p>C. A. T. Sickness behaviors in</p><p>response to unusual external events in healthy cats and cats with</p><p>feline interstitial cystitis. Journal of the American Veterinary Medical</p><p>Association, v. 238, n. 1, 67-73, 2011.</p><p>TURNER, T. C.; BATESON, P. The domestic cat: the biology of its behavior. 2. ed.</p><p>Cambridge: Cambridge University Press, 2000.</p><p>http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.238.1.67</p><p>http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.238.1.67</p><p>http://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.238.1.67</p><p>221</p><p>Comunicação: intra e interespecífica em gatos domésticos</p><p>LEITURA SUGERIDA</p><p>TURNER, D.C; BATESON, P. The domestic cat. Cambridge: Cambridge</p><p>University Press, 2000.</p><p>BEAVER, B. Comportamento Felino – um guia para veterinários. São Paulo:</p><p>Roca, 2005.</p><p>BRADSHAW, J. The cat sense. New York: Basic Books, 2014.</p><p>BRADSHAW, J.; Ellis, S. The trainable cat. New York: Basic Books, 2016.</p><p>RODAN, I.; HEATH, S. Feline behavioural health and welfare. St. Louis: Elsevier</p><p>Inc, 2016.</p><p>ELLIS, S.; SPARKS, A (eds.). Pocket Guide to Feline Stress and Health. ISFM,</p><p>2016.</p><p>HIPERATIVIDADE E COMPORTAMENTO</p><p>DESTRUTIVO EM CÃES E GATOS</p><p>Capítulo 7</p><p>Guilherme Marques Soares – Brasil</p><p>224</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>A relação mais próxima entre humanos e cães e gatos, principalmente</p><p>devido à redução do tamanho das moradias nos grandes centros urbanos, tem</p><p>levado muitos tutores desses animais a se queixarem de comportamentos</p><p>hiperativos e destrutivos dos animais com os quais convivem. Muitos médicos</p><p>veterinários identificam tais comportamentos como quadros de hiperativi-</p><p>dade e encaminham esses animais a especialistas em comportamento. Mas</p><p>seriam todos eles realmente hiperativos? Todo comportamento destrutivo é</p><p>consequência de hiperatividade?</p><p>HIPERATIVIDADE</p><p>No ser humano, a hiperatividade é um componente de uma</p><p>doença conhecida pela sigla TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e</p><p>Hiperatividade), que se caracteriza por alterações neurológicas na relação</p><p>entre neurotransmissores e receptores, em diversas áreas do cérebro. O</p><p>diagnóstico humano ainda se baseia no histórico, na anamnese e no des-</p><p>carte de outras lesões neurológicas detectáveis, visto que não há exame pre-</p><p>ciso para o diagnóstico do TDAH. Normalmente, o TDAH é identificado em</p><p>crianças em idade escolar, pois elas apresentam intensa inquietação e baixa</p><p>capacidade de concentração, o que leva ao decréscimo do rendimento dessas</p><p>crianças na escola, e muitos pais interpretam esse comportamento de forma</p><p>errada, como se fosse descaso ou desinteresse.</p><p>Quando se fala em hiperatividade animal, por analogia, entende-se</p><p>esta como sendo a mesma relação defeituosa entre neurotransmissores e</p><p>receptores em determinadas áreas do cérebro que levam o animal a compor-</p><p>tamentos de inquietação, destrutividade (como consequência da inquietação)</p><p>e dificuldade de aprender. O mesmo quadro é chamado por Beaver (2001) e</p><p>Landsberg et al. (2004) como Hipercinesia. Contudo, possivelmente um per-</p><p>centual muito pequeno de animais inquietos e destrutivos seja portador de</p><p>hiperatividade, devido a essas alterações neurológicas. É raro serem encon-</p><p>tradas em cães, mais raro ainda em gatos (OVERALL, 1997).</p><p>O termo “hiperatividade” traz intrinsecamente uma confusão que</p><p>justifica o fato de muitos tutores e médicos veterinários identificarem no</p><p>225</p><p>Hiperatividade e comportamento destrutivo em cães e gatos</p><p>comportamento dos animais quadros de hiperatividade, porque o termo é</p><p>a soma do prefixo “hiper”, que significa “muito”, com a palavra “atividade”.</p><p>Ou seja, não seria errado dizer que cães, com níveis de atividade exacerba-</p><p>dos, seriam hiperativos, no sentido estrito da palavra. Entretanto, é essen-</p><p>cial separar as coisas, para que se busque o diagnóstico preciso e que se</p><p>recomende o tratamento correto para o problema de comportamento, apre-</p><p>sentado pelo animal, mais especificamente pelos cães, já que os gatos, se</p><p>forem neurologicamente hiperativos, terão um comportamento próximo ao</p><p>dos gatos ferais e podem ser erroneamente assim considerados, classificação</p><p>muito comum nos felinos. Gatos ferais são aqueles que evitam a aproximação</p><p>humana e são, de maneira agressiva, reativos ao toque e à contenção.</p><p>Para fazer a diferenciação entre cães, com base neurológica para hipe-</p><p>ratividade, e cães que sejam apenas ativos em excesso, os termos serão dife-</p><p>renciados, neste capítulo, em neuro-hiperatividade (NH) e atividade exces-</p><p>siva (AE). O primeiro é o que possui componente neurológico, e o segundo,</p><p>apenas a atividade em excesso.</p><p>Cães que desenvolvem AE, no geral, são animais que têm demanda de</p><p>atividade aumentada por diversos aspectos, principalmente a sua raça. Border</p><p>Collie, Boiadeiro Australiano, todos os terriers, por exemplo, são raças de cães</p><p>muito ativas e demandam atenção especial por parte dos tutores, para que</p><p>executem atividades e atendam a essa demanda. Cães com AE vão apresentar</p><p>inquietação, excitabilidade, latidos excessivos ou comportamento destrutivo,</p><p>devido à frustração, por não ter sido atendida a sua demanda de atividade.</p><p>DIAGNÓSTICO</p><p>A fim de diferenciar NH e AE, na anamnese, é preciso verificar se o</p><p>cão tem facilidade de aprender truques ou comandos de adestramento. Se o</p><p>tutor deixar claro que sim, descarta-se a NH; se não, é possível que o tutor</p><p>não tenha usado as técnicas corretas para trabalhar os comandos. Nesse caso,</p><p>deve-se tentar ensinar o cão um comando simples, como o “senta”, por exem-</p><p>plo, e avaliar o nível de atenção e o tempo para assimilação do comando. Se</p><p>perceber que o cão assimilou o comando rapidamente (aspecto que varia de</p><p>animal para animal), descarta-se a NH. Outra forma de concluir o diagnóstico</p><p>é observar a resposta do cão ao tratamento com anfetaminas. Os cães com NH</p><p>226</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>apresentam efeito paradoxal, ou seja, as anfetaminas, que normalmente são</p><p>excitantes do sistema nervoso central, causam redução dos comportamentos</p><p>excitados do cão, com redução das frequências cardíaca e respiratória. Mas, é</p><p>importante ter o apoio de um Neurologista para descartar quadros mórbidos</p><p>neurológicos que possam levar às alterações de comportamento.</p><p>Inquietação e</p><p>comportamento</p><p>destrutivo</p><p>Anamnese –</p><p>O cão é capaz</p><p>de aprender?</p><p>ATIVIDADE</p><p>EXCESSIVA</p><p>Aprendeu o</p><p>comando</p><p>“Senta”?</p><p>NEURO-HIPERATIVIDADE</p><p>Não</p><p>Não</p><p>Sim</p><p>Sim</p><p>Figura1 – Algoritmo para diferenciação de hiperatividade em cães – tratamento para NH</p><p>Fonte: elaborado pelo autor</p><p>O tratamento para NH consiste na administração de medicamentos</p><p>alfa adrenérgicos do grupo das anfetaminas, e o mais comum é o metilfeni-</p><p>drato (0,05 – 0,25mg/Kg BID). Após o início da medicação, deve-se começar</p><p>os tratamentos específicos para os comportamentos indesejáveis, baseados</p><p>em técnicas de modificação comportamental, como a dessensibilização e o</p><p>contracondicionamento, além dos mesmos recursos a serem indicados para</p><p>o tratamento de AE.</p><p>TRATAMENTO PARA AE</p><p>Como são cães muito ativos, a primeira medida a ser tomada é atender à</p><p>demanda de atividade do animal. Passeios mais longos e acelerados podem ser</p><p>227</p><p>Hiperatividade e comportamento destrutivo em cães e gatos</p><p>o início de proposta de tratamento. Se o tutor tem dificuldade para andar com</p><p>o cão na rua, recomenda-se o auxílio de um adestrador. Normalmente, cães</p><p>mais velhos são mais rebeldes para começar a andar na rua, se não desenvol-</p><p>veram esse hábito desde filhotes. Caso os passeios na rua sejam incompatíveis</p><p>com a rotina do tutor, pode-se contratar um passeador ou, até mesmo, adotar</p><p>uma esteira de caminhada para o cão usar com a supervisão do tutor.</p><p>Brincadeiras, supervisionadas pelo tutor, como jogar bolinha para o</p><p>cão, pegar e devolver, ou atividades de busca a objetos escondidos, também</p><p>contribuem para o tratamento. Além disso, devem ser indicados itens de enri-</p><p>quecimento alimentar, como: brinquedos que vão liberando alimentos aos</p><p>poucos, ossos bovinos in natura e comedouros que retardem a alimentação.</p><p>de vida. O zelo sobre o gato ou o cão é</p><p>conferido aos tutores e veterinários, como sentinelas da saúde do animal.</p><p>AGRADECIMENTO</p><p>Agradeço à Jennifer West pelo auxílio com as referências. Parte do con-</p><p>teúdo foi adaptado de Serpell, J.; McCune, S. The WALTHAM pocketbook of</p><p>Responsible Pet Ownership, 2018</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALEXANDER, L.; BUCKLEY, C; MERRYL, R.; MORRIS, P.; STEVENSON, A. Top tips</p><p>for healthy body weight. In: GERMAN, A; BUTTERWICK, R. (ed). WALTHAM</p><p>pocketbook of healthy weight maintenance for cats and dogs. 2 ed, Mars, Inc,</p><p>2012a Coloquei como um capítulo dentro do livro. Seria isto?</p><p>AVMA. Human-Animal Bond. 2018. Disponível em: www.avma.org/KB/Resources/</p><p>Reference/human-animal-bond/Pages/Human-Animal-Bond-AVMA.aspx.</p><p>BECK, A. The biology of the human-animal bond. Animal Frontiers, v. 4, n. 3,</p><p>p. 32-36, 2014.</p><p>DEFRA. Code of practice for the welfare of cats. p. 1-14. 2013.</p><p>Disponível em: https://www.gov.uk/government/publications/</p><p>code-of-practice-for-the-welfare-of-cats.</p><p>ELLIS, S. L. et al. AAFP and ISFM feline environmental needs guidelines.</p><p>J Feline Med Surg, v. 15, n. 3, p. 219-230, 2013.</p><p>GERMAN, A. J. The growing problem of obesity in dogs and cats. J Nutri,</p><p>v. 136, p. 1940S-1946S, 2006.</p><p>GERMAN, A. et al. Dangerous trends in pet obesity, Vet Rec. v. 182, n. 1, p.1-25, 2018.</p><p>GERMAN, A; BUTTERWICK, R. (ed). WALTHAM pocketbook of healthy weight main-</p><p>tenance for cats and dogs. 2 ed, Mars, Inc, 2012 2 ed. Mars, Inc, 2012.</p><p>HILL, R.; BUTTERWICK, R. WALTHAM pocketbook of puppy nutrition and care:</p><p>Mars Inc; 2012b.</p><p>HOUPT, K.A.; SEKSEL, K. (1997) Puppy Socialization Classes. Veterinary Clinics of</p><p>North America: Small Animal Practice, v. 27, n. 3, p. 465-477, 1997.</p><p>JONGMAN, E.C. Adaptation of domestic cats to confinement. Journal of Veterinary</p><p>Behavior: Clinical Applications and Research, v. 2, n. 6, p. 193-196, 2007.</p><p>JULIUS, H., BEETZ, A., KOTRSCHAL, K., TURNER, D.; UVNÄS-MOBERG,</p><p>K.Attachment to Pets. New York: Hogrefe, 2013.</p><p>http://www.avma.org/KB/Resources/Reference/human-animal-bond/Pages/Human-Animal-Bond-AVMA.aspx</p><p>http://www.avma.org/KB/Resources/Reference/human-animal-bond/Pages/Human-Animal-Bond-AVMA.aspx</p><p>https://www.gov.uk/government/publications/code-of-practice-for-the-welfare-of-cats</p><p>https://www.gov.uk/government/publications/code-of-practice-for-the-welfare-of-cats</p><p>28</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>MCCUNE, S. The impact of paternity and early socialisation on the development</p><p>of cats’ behaviour to people and novel objects. Applied Animal Behaviour</p><p>Science, v. 45, p. 109-124, 1995.</p><p>MCCUNE, S. et al. Avoiding problems: the importance of socialization.</p><p>In: The WALTHAM book of Human-Animal Interaction: Benefits and res-</p><p>ponsibilities of pet ownership. Edited by Robinson I; 71-86, 1995.</p><p>MCMILLAN, F.D. et al. Differences in behavioral characteristics between</p><p>dogs obtained as puppies from pet stores and those obtained from</p><p>noncommercial breeders. J Am Vet Med Assoc, v. 242, n. 10, p. 1359-1363, 2013.</p><p>MARS PETCARE & PET BRANDS. Mars, Incorporated, Mars, Incorporated, 2018,</p><p>Disponível em: www.mars.com/global/brands/petcare.</p><p>PDSA. PAW Report, 2017: The essential insight into the wellbeing of UK pets.</p><p>Disponível em: https://www.pdsa.org.uk/media/3291/pdsa-paw-</p><p>report-2017_printable-1.pdf.</p><p>SALT, C.; MORRIS, P. Associations between longevity and body condition in</p><p>domestic dogs. In: WALTHAM International Nutritional Sciences Symposium</p><p>proceedings: 52, Mars Incorporated, 2013.</p><p>SCHERK, M.A. et al. AAFP feline vaccination advisory panel report. Journal of</p><p>Feline Medicine and Surgery, v. 15, p. 785-808, 2013.</p><p>SERPELL, J.; JAGOE, J.A. Early experience and the development of behaviour.</p><p>In: SERPELL, J (ed.). The domestic dog: its evolution, behavior and inte-</p><p>ractions with people. Cambridge, England: Cambridge University Press,</p><p>p. 179-102, 1995.</p><p>SERPELL, J.; MCCUNE, S (eds.). The WALTHAM pocketbook of Human-Animal</p><p>Interaction, 2012. Disponível em: https://www.waltham.com/resources/</p><p>waltham-booklets/.</p><p>SERPELL, J.; MCCUNE, S. The WALTHAM pocketbook of Responsible Pet Ownership.</p><p>2018. Disponível em https://www.waltham.com/dyn/_assets/_pdfs/</p><p>WCPNResponsiblePetOwnershipBook.pdf.</p><p>TUBER D.S. et al. Dogs in animal shelters: Problems, suggestions and needed</p><p>expertise. Psychological Science, v. 10, p. 379-386, 1999.</p><p>WSAVA - Global Nutrition Committee. Pet Selecting on Recommendations.</p><p>Nutrition Toolkit. 2013.Disponível em: [http://www.wsava.org/WSAVA/</p><p>media/PDF_old/WSAVA-Global-Nutrition-Toolkit_0.pdf].</p><p>WELBORN, L.V. et al. AAHA canine vaccination guidelines. J Am Anim Hosp Assoc.</p><p>v. 47, n. 5, p. 1-42, 2011. DOI: https://doi.org/10.5326/JAAHA-MS-4000.</p><p>ZULCH, H.; MILLS, D. Life Skills for Puppies. Laying the foundation for a loving,</p><p>lasting relationship. Dorchester (UK): Veloce Publishing Limited, 2012.</p><p>http://www.mars.com/global/brands/petcare</p><p>https://www.pdsa.org.uk/media/3291/pdsa-paw-report-2017_printable-1.pdf</p><p>https://www.pdsa.org.uk/media/3291/pdsa-paw-report-2017_printable-1.pdf</p><p>https://www.waltham.com/resources/waltham-booklets/</p><p>https://www.waltham.com/resources/waltham-booklets/</p><p>https://www.waltham.com/dyn/_assets/_pdfs/WCPNResponsiblePetOwnershipBook.pdf</p><p>https://www.waltham.com/dyn/_assets/_pdfs/WCPNResponsiblePetOwnershipBook.pdf</p><p>https://doi.org/10.5326/JAAHA-MS-4000</p><p>BEM-ESTAR ANIMAL E A MEDICINA</p><p>VETERINÁRIA COMPORTAMENTAL:</p><p>CONEXÕES</p><p>Capítulo 2</p><p>O BEM-ESTAR DOS CÃES,</p><p>MEMBROS DA FAMÍLIA HUMANA</p><p>Ceres Berger Faraco – Brasil</p><p>32</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Abordar o bem-estar dos cães, considerados pets, é uma iniciativa inova-</p><p>dora. Durante muitos anos, esse foi um assunto que não despertou o interesse</p><p>por parte dos pesquisadores, da sociedade e dos demais profissionais envolvidos</p><p>com animais1 de estimação. Um dos motivos para isso era a crença de que a exis-</p><p>tência do laço afetivo, demonstrado pelos responsáveis, bastaria para assegurar</p><p>o bem-estar desses animais. Devido a essa ideia inicial, o foco das pesquisas se</p><p>concentrou nos animais que não mantinham relacionamentos estáveis com as</p><p>pessoas, tais como: a maioria dos cães utilizados para pesquisas em laboratório,</p><p>os que estavam em situação de rua e os que eram mantidos em abrigos.</p><p>É importante ressaltar, no entanto, que o vínculo afetivo que se estabe-</p><p>lece com os pets, aquele sentimento idealizado que “vem do coração”, embora</p><p>admirável, na sua origem e intenção, se mostra, muitas vezes, insuficiente ou</p><p>inadequado, para que os cães tenham as suas necessidades essenciais com-</p><p>preendidas e supridas. Um elemento relevante desse contexto é a natureza</p><p>complexa do ambiente em que os cães vivem e que, inevitavelmente, desafia</p><p>os seus sistemas sensoriais, com estímulos emocionais novos, resultando em</p><p>estados frequentes ou crônicos de estresse (expressos na ansiedade, no medo</p><p>e na agressividade), que podem comprometer a qualidade de vida desses ani-</p><p>mais (MILLS; DUBE; ZULCH, 2012).</p><p>A diversidade de ambientes e circunstâncias em que se encontram é</p><p>fator que contribuiu para o menor número de estudos até o momento. Eles</p><p>convivem com tutores, que se distinguem em habilidades, atitudes, expec-</p><p>tativas, crenças, ambientes e oportunidades. Nesse cenário, é um imenso</p><p>desafio obter informações consistentes, confiáveis e válidas a respeito de seu</p><p>bem-estar (STAFFORD, 2012; MCGREEVY; BENNETT, 2010).</p><p>À medida que o vínculo entre pessoas e animais de estimação se forta-</p><p>leceu e passou a ser uma temática integrada à família humana, foi ampliada a</p><p>preocupação da sociedade e da ciência em desvendar a sua natureza e pecu-</p><p>liaridades. Houve um aumento de interesse no sentido de saber o que acon-</p><p>tece com os pets, como vivem, por que são estabelecidos os vínculos com os</p><p>humanos e quais os benefícios para os parceiros humanos dessa convivência.</p><p>Assim, aos poucos, o interesse por este tema assumiu proporções inusitadas e</p><p>1 No texto utilizamos a palavra animal com o significado de animal não-humano.</p><p>33</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>resultou em mudanças no que diz respeito às maneiras aceitas, na sociedade,</p><p>sobre como manter e tratar os animais.</p><p>Em meio a isso, houve propostas para revisar conceitos e, inclusive, a</p><p>sugestão de ampliar o conceito sobre o que é família (COHEN, 2002). Nesse</p><p>sentido, apresentei uma nova possibilidade de configuração, denominada</p><p>“família multiespécie”, que demanda o devido reconhecimento da transfor-</p><p>mação de práticas e costumes sociais (Figura 1). Diante do reconhecimento</p><p>dessa nova configuração familiar, é natural que surjam questionamentos sobre</p><p>o tipo de vida que esses cães levam e se eles usufruem ou não de bem-estar.</p><p>Pensando a respeito da relação dos cães com pessoas, percebe-se que,</p><p>independentemente da variabilidade morfológica e da diversidade de carac-</p><p>terísticas comportamentais e contextos em que vivem, no geral, todos pare-</p><p>cem estar de alguma forma adaptados ao comportamento humano. Isso signi-</p><p>fica que estão aptos a compreender e a responder aos parceiros humanos, de</p><p>forma única e ainda não alcançada pela maioria das demais espécies animais.</p><p>Essa habilidade foi adquirida no processo evolutivo da espécie, que os tornou</p><p>mais responsivos aos gestos humanos (BUTTERWORTH, 2018; KAMINSKI;</p><p>NITZSCHNER, 2013).</p><p>É importante destacar, entretanto, que essas conformações morfoló-</p><p>gicas das raças, alteradas pela seleção humana, podem afetar a capacidade</p><p>de comunicação dos cães de companhia e, por consequência, a forma como</p><p>os seus estados emocionais são expressos. É difícil reconhecer ou gene-</p><p>ralizar necessidades, válidas para todas as raças e indivíduos (ROONEY;</p><p>SARGAN, 2010).</p><p>Figura 1 – Família multiespécie</p><p>A expressão foi criada para</p><p>caracterizar o grupo familiar</p><p>que reconhece ter como seus</p><p>membros os humanos e os</p><p>animais de estimação, em</p><p>convivência respeitosa (FARACO,</p><p>2008).</p><p>Fonte: banco de imagens da Royal</p><p>Canin®.</p><p>34</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Quando ocorre o ajuste interespécie entre pessoas e cães, há, porém,</p><p>uma forma de “contágio” emocional entre ambos (Figura 2), e os níveis de</p><p>cortisol dos tutores e cães, em condição de estresse, tanto a curto como a</p><p>longo prazo, mostram sincronização. Outra constatação é a de que os traços</p><p>de personalidade dos tutores influenciam os cães. Assim, características das</p><p>pessoas, como o neuroticismo2, os afetam negativamente, enquanto atribu-</p><p>tos, como a conscienciosidade e abertura para experiências, podem produzir</p><p>impactos positivos (SUNDMAN; POUCKE; HOLM, 2019).</p><p>Por outro lado, a sintonia humano-cão, em alguns casos, é tão intensa</p><p>que se torna disfuncional. Nesse sentido, é turva a distinção entre ambos,</p><p>ou seja, eles se fusionam, se confundem e, na perspectiva do tutor, funcio-</p><p>nam como se fossem apenas um indivíduo. Trata-se de uma das manifesta-</p><p>ções de antropomorfismo (Figura 3), que se constitui na mais grave ameaça</p><p>ao bem-estar dos cães, podendo ser considerado o “pecado” imperdoável</p><p>nessa relação. Por isso mesmo, a clara individualização entre pessoas e cães</p><p>é essencial para lançar as bases de saúde e bem-estar, adequadas para ambos</p><p>(SKTEKETEE; GIBSON; FROST, 2011; FOSTER, 2018).</p><p>Considerando o que fora dito, é fator de máxima relevância, para a</p><p>compreensão das necessidades dos cães, a sua longa associação e convivên-</p><p>cia com pessoas. Esse relacionamento, por sua vez, influenciou e redefiniu o</p><p>comportamento canino e a qualidade de vida dos pets. É o que pode ser bem</p><p>2 Neuroticismo – tendência humana a experimentar facilmente emoções negativas ante</p><p>eventos comuns da vida.</p><p>Conscienciosidade – tendência humana para mostrar autodisciplina, orientação para os</p><p>deveres e para atingir os objetivos.</p><p>Abertura para experiências – é o interesse humano pela arte, emoção, aventura e variedade</p><p>de experiências. Esse traço distingue as pessoas imaginativas das convencionais.</p><p>Figura 2 – Sincronização</p><p>emocional e cognitiva entre</p><p>tutores e cães</p><p>Pessoas e cães têm sincronização</p><p>do nível de concentração de</p><p>cortisol em situações de estresse.</p><p>Fonte: Banco de imagens da</p><p>Royal Canin®.</p><p>35</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>visto, ao longo das últimas décadas, através do controle exercido pelos huma-</p><p>nos, ao determinarem a maioria dos aspectos da vida dos cães, tais como:</p><p>quem se reproduzirá, qual será a sua dieta, como será o ambiente no qual</p><p>viverão, estarão com companhia ou em isolamento, qual o nível de assistência</p><p>médica recebida e, até mesmo, se permanecerão vivos ou não.</p><p>Tal poder delimita a problematização do bem-estar dos cães à decisão</p><p>humana na grande parte dos casos. Isso se verifica, porque esse bem-estar</p><p>dependerá, essencialmente, de como cada tutor, de forma individual, percebe</p><p>as necessidades caninas. Assim, tem-se a demanda urgente e fundamental</p><p>da orientação veterinária, para que os responsáveis adotem as decisões mais</p><p>acertadas sobre o que os animais realmente precisam (BUTTERWORTH, 2018).</p><p>Ainda, quanto à importância da qualidade das decisões tomadas, cabe</p><p>lembrar que as condições da vida canina serão determinantes para a estru-</p><p>turação das habilidades individuais e da sua sociabilidade, assim como defi-</p><p>nidoras da qualidade de integração aos grupos sociais com os quais o cão</p><p>conviverá (sejam caninos ou humanos) (HARDING; PAUL; MENDL, 2004).</p><p>Não há como negar que a maior parte das pessoas que convive com os</p><p>cães deseja que estes estejam saudáveis e felizes, estas pessoas geralmente</p><p>têm boas intenções. Apesar disso, é muito fácil cometer equívocos e entender</p><p>mal as necessidades dos cães, o que resulta em diferentes graus de sofri-</p><p>mento para eles. Com efeito, embora sejam reconhecidos como membros</p><p>da família humana, não são humanos, e o que necessitam, com frequência,</p><p>difere do que as pessoas, com as quais eles coabitam, elegem como priori-</p><p>dade (YEATES, 2019). Por isso, é crucial o amplo entendimento do que signi-</p><p>fica bem-estar e suas particularidades.</p><p>Figura 3 – Unificação entre cães e pessoas.</p><p>O Antropomorfismo é um marco teórico</p><p>que tem sido proposto para explicar a</p><p>atribuição de estados mentais humanos</p><p>(pensamentos, sentimentos, motivações</p><p>e crenças) aos animais não humanos</p><p>(SERPELL, 2002).</p><p>Fonte: arquivo pessoal da autora.</p><p>36</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>SOBRE O BEM-ESTAR</p><p>Entende-se o bem-estar de um indivíduo como o seu estado, a partir</p><p>das tentativas de lidar com o meio ambiente, correspondendo à qualidade</p><p>de vida. O bem-estar ocorre não apenas no sucesso e em situações positivas,</p><p>mas também, na potência de lidar com os desafios e independe dos desfe-</p><p>chos. Isso se constata, até porque ele não é linear, mas é o que resulta da soma</p><p>de suas experiências negativas e positivas. É óbvio que situações negativas</p><p>crônicas vão conduzir a níveis baixos ou inexistentes de bem-estar. Na Figura</p><p>4, apresenta-se um modelo utilizado para compreensão de sua forma.</p><p>Bem-estar</p><p>neutro</p><p>Bem-estar</p><p>positivo</p><p>Bem-estar</p><p>negativo</p><p>Figura 4 – Espectro do bem-estar</p><p>O conceito geral de bem-estar, demonstrado na forma de uma escala contínua entre bem-</p><p>estar negativo/fraco e positivo/bom</p><p>Fonte: Wsava (2019, p. 13)</p><p>Resulta dos sistemas de enfrentamento do indivíduo, incluindo aqueles</p><p>que respondem com alterações patológicas ou com respostas comportamen-</p><p>tais e fisiológicas e processos cognitivos diversos, associados ao sofrimento</p><p>ou ao prazer. Portanto, tanto o bem-estar quanto a qualidade de vida incluem</p><p>o estado de saúde, bem como os sentimentos positivos e negativos, que são</p><p>experimentados (BROOM, 2007).</p><p>A partir dessa compreensão, foi elaborada uma proposta sobre as áreas</p><p>com possíveis problemas relacionados ao bem-estar. São áreas chamadas “os</p><p>Cinco Domínios”, nos quais são distinguidos os fatores físicos ou funcionais</p><p>em relação aos fatores mentais, que contribuem para compor o estado de</p><p>bem-estar de um animal.</p><p>Os domínios demarcam as necessidades básicas dos animais, que</p><p>devem ser consideradas, ao ser avaliado o seu nível de qualidade</p><p>de vida.</p><p>Uma síntese pode ser vista, a seguir, na Figura 5.</p><p>37</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>Nutrição Ambiente</p><p>Sentimentos</p><p>Emoções</p><p>BEM-ESTAR</p><p>Saúde Comportamento</p><p>Com</p><p>ponente</p><p>físico/funcional</p><p>Com</p><p>ponente</p><p>m</p><p>ental</p><p>Figura 5 – Caracterização do bem-estar animal, em Cinco Domínios</p><p>Fonte: adaptada de Mellor (2016)</p><p>Dessa maneira, o que o próprio animal experimenta representa a sua</p><p>condição de bem-estar. Considera-se que as experiências ou emoções posi-</p><p>tivas (saciedade, recompensa, curiosidade e diversão) são indicadores tão</p><p>importantes quanto as negativas (sede, dor, fome, medo, entre outras), que</p><p>sempre foram o foco dos instrumentos de avaliação, anteriormente aplicados.</p><p>Essa abordagem abre espaço para podermos pensar acerca da rele-</p><p>vância das “experiências mentais positivas” e destina-se a direcionar maior</p><p>atenção para a promoção de estados positivos de bem-estar. Trata-se de con-</p><p>dições atingidas, ao fornecer para os animais, as oportunidades específicas,</p><p>dotadas de experiências prazerosas (Figuras 6 e 7).</p><p>Figura 6 – Interação social entre cães</p><p>Fonte: arquivo pessoal da autora</p><p>Figura 7 – Brincadeiras entre cães</p><p>Fonte: banco de imagens Royal Canin®</p><p>38</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Nessa lógica, alinham-se as diretrizes para avaliar o bem-estar dos</p><p>animais de companhia, preconizadas pela Associação Mundial de Veterinários</p><p>de Pequenos Animais (World Small Animal Veterinary Association – WSAVA). As</p><p>métricas sugeridas servem como indicadores simples, fáceis de compreender</p><p>e utilizar, como pode ser verificado no Quadro 1, abaixo.</p><p>Quadro 1 – Diretrizes para avaliar o bem-estar dos animais de companhia</p><p>Necessidade de dieta adequada: a dieta dos cães deve suprir as suas necessidades fisiológicas</p><p>e comportamentais. É possível avaliar se a nutrição é adequada, mediante a variação do peso</p><p>e/ou dos níveis de condição corporal/muscular e a verificação da ingesta adequada de alimento</p><p>e água. Deve-se notar que o bem-estar pode ser negativo na ingestão insuficiente de alimento,</p><p>conduzindo à subnutrição, ou, se for ingerido alimento em excesso, origina-se a obesidade.</p><p>Necessidade de um ambiente adequado: o ambiente a que um cão está exposto, seja em casa</p><p>ou na clínica veterinária, necessita proporcionar proteção e conforto, disponibilizando um</p><p>local de repouso tranquilo; permitir acesso regular a locais para eliminação dos dejetos; e</p><p>oferecer a possibilidade de movimento e exercício em instalações higiênicas.</p><p>Necessidade de ser alojado com ou afastado de outros animais: alguns dos animais de com-</p><p>panhia desenvolveram comportamentos que lhes exigem a vida em grupos sociais, enquanto</p><p>outros têm um estilo de vida preferencialmente solitário. Os cães podem viver felizes com</p><p>outro cão, mas isto deverá ser avaliado, com base no indivíduo, e depende do seu grau de</p><p>sociabilização, de sua genética e experiência prévia. É provável que os cães que vivem sozi-</p><p>nhos necessitem de maior contato com humanos.</p><p>Necessidade de poder expressar padrões normais de comportamento: esta necessidade inclui</p><p>a manifestação de comportamentos normais ou característicos da espécie, como a higiene, a</p><p>privacidade e a interação com humanos ou com outros animais. Caso um animal permaneça</p><p>confinado em um local de pequenas dimensões ou acorrentado em um recinto pequeno, isto</p><p>representará uma limitação à sua capacidade para explorar o ambiente e exercitar-se.</p><p>Necessidade de ser protegido da dor, sofrimento, trauma e doença: ausência de lesões, tais</p><p>como lacerações ou abrasões, e de doenças infecciosas, parasitárias e outras. Na presença</p><p>de dor, deve ser proporcionada uma analgesia adequada.</p><p>Fonte: Wsava (2019, p. 20-21)</p><p>O valor prático dessas diretrizes é inegável, já que os veterinários</p><p>dependem de padrões, de recomendações mínimas e de indicadores aces-</p><p>síveis, para orientar os tutores no sentido de aprimorar a percepção destes.</p><p>Como fora mencionado anteriormente, embora a ciência do bem-estar tenha</p><p>39</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>evoluído nos últimos 30 anos, a compreensão das pessoas a respeito é, mui-</p><p>tas vezes, inconsistente ou até mesmo contraditória. Para alcançar um outro</p><p>olhar sobre essa questão, é preciso qualificar as informações que os profis-</p><p>sionais compartilham, através da perspectiva dos cães, com a sua individua-</p><p>lidade, os seus interesses e as suas motivações.</p><p>Acesso ao bem-estar individual dos cães, mantidos como pets</p><p>Os métodos para medir, objetivamente, as experiências mentais,</p><p>determinantes para o bem-estar dos cães, ainda são incipientes, portanto é</p><p>um desafio encontrar indicadores confiáveis de bem-estar para os animais</p><p>de companhia. Quanto mais os cães são exigidos pelas pessoas a enfrenta-</p><p>rem situações para as quais não foram preparados, biológica e/ou psicologi-</p><p>camente, maior probabilidade de estarem sujeitos ao esgotamento de seus</p><p>recursos biológicos e ao distresse (desgaste emocional extremo).</p><p>A avaliação do bem-estar deve levar em consideração a grande varie-</p><p>dade de sistemas orgânicos, envolvidos no enfrentamento de desafios, e as</p><p>estratégias, utilizadas pelo animal. Isso inclui análise do comportamento, dos</p><p>parâmetros fisiológicos, das patologias, da função cerebral, da função do sis-</p><p>tema imunológico e de outras possíveis alterações.</p><p>Sob a perspectiva de identificar os fatores de impacto no bem-estar</p><p>animal, um indicador robusto são as doenças que ocorrem em nível popu-</p><p>lacional. Isso se verifica, pois oferecem uma estrutura quantitativa e cen-</p><p>trada na priorização de distúrbios de forma objetiva. Mas as aplicações prá-</p><p>ticas para pets têm sido limitadas, devido às poucas evidências confiáveis</p><p>sobre prevalência, gravidade e duração, específicas das doenças caninas</p><p>(SUMMERS, 2019).</p><p>Em um estudo com a população canina do Reino Unido, os oito dis-</p><p>túrbios mais frequentes, apresentados nas raças avaliadas, foram: doenças</p><p>do saco anal, conjuntivite, doença dentária, dermatite, sobrepeso/obesidade,</p><p>lipoma, osteoartrite e otite externa. Destes, os distúrbios dentários, osteoar-</p><p>trite e sobrepeso/obesidade demonstraram um impacto particular no bem-es-</p><p>tar, com base em combinações de sua alta prevalência, duração e gravidade.</p><p>Assim, emergem como áreas prioritárias para promover o bem-estar dos cães</p><p>naquele país. Trabalhos futuros, com base nas métricas nacionais brasileiras</p><p>40</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>desses indicadores, podem oferecer instrumentos objetivos sobre o nível de</p><p>bem-estar populacional, relacionado à saúde e às áreas sensíveis, para ações</p><p>de maior magnitude, em prol da qualidade de vida dos cães (SUMMERS, 2019).</p><p>Somam-se às patologias de outros sistemas orgânicos, os muitos pro-</p><p>blemas de comportamento, que dão origem aos conflitos entre caninos e</p><p>seres humanos e que representam uma ameaça para a permanência dos cães</p><p>nos locais onde vivem. Esses critérios têm, como potência, o fato de a obser-</p><p>vação de comportamento ser o indicador sensível e não invasivo de bem-es-</p><p>tar (SONNTAG; OVERALL, 2014; SERPELL, 2017).</p><p>Cabe ressaltar ainda que a facilidade ou a dificuldade de lidar com dife-</p><p>rentes situações deve ser interpretada, conforme a estrutura das habilidades</p><p>de cada animal. Isso quer dizer que animais, com funcionamento cognitivo</p><p>mais sofisticado, podem ter melhores habilidades para lidar com problemas</p><p>e desafios do que outros.</p><p>Nessa mesma linha, na rotina de filhotes e adultos, há problemas efeti-</p><p>vos nos casos em que ocorre a falta de estímulo mental apropriado, a guarda</p><p>irresponsável, a punição, o isolamento ou convivências estressoras e a expo-</p><p>sição a condições ambientais inadequadas (espaço, temperatura, iluminação).</p><p>No que concerne aos ambientes, são extremamente prejudiciais os res-</p><p>tritivos, incontroláveis ou monótonos, porque não permitem o controle e a</p><p>previsibilidade, essenciais para a segurança e o equilíbrio comportamental</p><p>dos cães (HENNESSY; DAVIS; WILLIAMS, 1997). Por outro lado, as mudan-</p><p>ças abruptas ou</p><p>a inconsistência nos hábitos rotineiros causam frustração e</p><p>alteram a capacidade de enfrentamento aos novos desafios por parte dos ani-</p><p>mais, além de, possivelmente, proporcionarem o aumento de agressividade,</p><p>de excitação e de insegurança (MEERS; NORMANDO; ODBERG; BONO, 2004).</p><p>Na contínua busca por compreender certas questões vinculadas ao</p><p>bem-estar, especialistas revisaram uma lista de problemas pré-definidos</p><p>sobre o tema e elencaram critérios para estimar a ordem prioritária de ações</p><p>estratégicas para intervenções. As bases para essa definição consideraram</p><p>algumas características: a significância do problema, a proporção de cães afe-</p><p>tados, a duração e a gravidade da experiência, os benefícios e a possibilidade</p><p>de resolução (Gráficos 1 e 2).</p><p>41</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>300</p><p>250</p><p>200</p><p>150</p><p>100</p><p>50</p><p>0</p><p>1 2</p><p>P</p><p>B</p><p>EA</p><p>3 4 5 6 7</p><p>Gráfico 1 – Problemas de bem-estar animal (PBEA), baseados no julgamento de especialistas</p><p>1. Cuidados inadequados 2. Conhecimento do tutor 3. Comportamentos indesejáveis</p><p>4. Socialização inapropriada 5. Doenças genéticas 6. Distúrbios relacionados às alterações físicas</p><p>7. Obesidade e sobrepeso.</p><p>Fonte: adaptado de Buckland et al. (2014)</p><p>700</p><p>600</p><p>500</p><p>400</p><p>300</p><p>200</p><p>100</p><p>0</p><p>1 2</p><p>P</p><p>S</p><p>3 4 5 6 7</p><p>Gráfico 2 – Prioridades Estratégicas (PS) para questões de bem-estar</p><p>1. Doenças derivadas de problemas anatômicos 2. Socialização inapropriada</p><p>3. Doenças hereditárias 4. Criação inapropriada 5. Conhecimento por parte do tutor.</p><p>6. Comportamentos indesejáveis 7. Produção de filhotes. As barras azuis indicam um aumento</p><p>na priorização da classificação PS (em comparação com a classificação PBEA), enquanto as</p><p>cinzas indicam uma diminuição na priorização do problema em OS.</p><p>Fonte: adaptado de Buckland et al. (2014)</p><p>Considerando que os aspectos comportamentais representam um ins-</p><p>trumento relevante e acessível, para avaliação tanto na prática profissional</p><p>como no ambiente doméstico, é oportuno abordar esses sinalizadores e esta-</p><p>belecer critérios fundamentados nessa verificação.</p><p>42</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Indicadores comportamentais, como fatores preditivos do nível de bem-estar</p><p>Com efeito, os animais usam o comportamento, para responder</p><p>rapidamente às mudanças em seu ambiente, evitar agentes estressores ou</p><p>expressar as suas preferências. Portanto, faz sentido que as medidas com-</p><p>portamentais de bem-estar sejam destacadas, a fim de que sejam utilizadas</p><p>como referência.</p><p>Esse modelo utiliza as observações dos comportamentos, manifestados</p><p>em diferentes situações de manejo e ambiente. Permite comparações sobre a</p><p>qualidade do ambiente e o impacto ou a validade de opções alternativas para</p><p>o enriquecimento ambiental.</p><p>Soma-se a isso, a possibilidade de identificar padrões de comporta-</p><p>mento de cada cão, por meio dos seguintes aspectos: quantificação de tempo</p><p>que dedica a diferentes comportamentos, prevalência de comportamentos</p><p>desejáveis (brincadeiras, comportamento social, uso de enriquecimentos),</p><p>assim como presença e duração de comportamentos indesejáveis. Esses últi-</p><p>mos são considerados indicativos de baixo nível de bem-estar.</p><p>Para exemplificar, existe um repertório de respostas que é indicador</p><p>de estados negativos, vivenciados pelos cães, quando submetidos a estímulos</p><p>estressores, agudos ou crônicos, e que sinaliza o comprometimento da qua-</p><p>lidade de vida (Quadro 2).</p><p>Quadro 2 – Respostas dos cães, quando expostos a estímulos agudos e crônicos</p><p>Desafio: estímulo agudo</p><p>(sonoro: ruído súbito e intenso)</p><p>Desafio: estímulo crônico</p><p>(ambiente empobrecido)</p><p>Diminuição do tamanho corporal Diminuição do tamanho corporal</p><p>Tremores corporais Auto grooming intensificado</p><p>Ficar agachado Levantar uma pata (Figuras 8 e 9)</p><p>Língua exposta, lambedura do focinho,</p><p>deglutição após lambeduras</p><p>Vocalização</p><p>Inquietude Coprofagia</p><p>continua...</p><p>43</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>Desafio: estímulo agudo</p><p>(sonoro: ruído súbito e intenso)</p><p>Desafio: estímulo crônico</p><p>(ambiente empobrecido)</p><p>Bocejo Relação cortisol/creatinina urinária elevada</p><p>Alteração da frequência cardíaca Catecolaminas elevadas</p><p>Cortisol elevado Proteínas de fase aguda elevadas</p><p>Leucocitose periférica Diminuição da resposta imune</p><p>Quando ocorre estímulo no ambiente</p><p>empobrecido:</p><p>Atividade motora intensa</p><p>Tremores</p><p>Bocejos</p><p>Posturas ambivalentes</p><p>Comportamento deslocado</p><p>Fonte: tradução livre, realizada pela autora, a partir de Serpell (2017, p. 273)</p><p>Figura 8 – Cão com ansiedade, levantando</p><p>a pata dianteira, sinalizando seu</p><p>desconforto</p><p>Fonte: arquivo pessoal da autora.</p><p>Figura 9 – Levantar da pata na interação</p><p>com outros cães</p><p>Fonte: arquivo pessoal da autora.</p><p>Quadro 2 – Continuação</p><p>44</p><p>Bem-estar dos cães e gatos e medicina comportamental</p><p>Cabe destacar que a coleta de dados sobre o histórico dos animais é</p><p>talvez o procedimento mais simples desse processo, mas a interpretação e</p><p>análise do impacto dessas informações no bem-estar são muito mais comple-</p><p>xas e específicas para cada contexto e animal. Por exemplo, quanto à intensi-</p><p>ficação da atividade motora ou aos bocejos, há uma dificuldade adicional em</p><p>identificar quando representam algo bom ou mau para o animal.</p><p>Por outro lado, há comportamentos que sempre são qualificados</p><p>como preocupantes ou disfuncionais, como é o caso dos repetitivos, quais</p><p>sejam, andar em círculos, lambeduras excessivas ou automutilações. No caso</p><p>de estereotipias, por exemplo, estas indicam que há severos problemas de</p><p>bem-estar, associados ao déficit de funcionamento dos gânglios da base</p><p>no cérebro e que pode repercutir em outras alterações de comportamento</p><p>(GARNER; MASON, 2002).</p><p>Adiciona-se a esse cenário, o reconhecimento de vieses cognitivos,</p><p>que foram identificados nos cães e que são elementos relevantes para avaliar</p><p>suas respostas às diversas situações. É o caso de um aumento da frustração,</p><p>exacerbação da sensibilidade frente a perda de recompensas, como o cari-</p><p>nho, a atenção, os petiscos ou o acesso a determinados locais (MENDL, 2010;</p><p>BURMAN; PARKER; PAUL, 2008).</p><p>Diante disso, ressalta-se que as estratégias, para otimizar ações,</p><p>visando ao bem-estar, devem levar em consideração o fato de nem todas as</p><p>preocupações prioritárias poderem ser resolvidas com facilidade. Nesse sen-</p><p>tido, deve-se iniciar com as que têm foco na prevenção precoce de proble-</p><p>mas, na adequação do local e no manejo das reais necessidades da espécie</p><p>canina. Isso já é um bom começo.</p><p>Plano de ação para orientações, visando ao bem-estar</p><p>As orientações prioritárias devem estar relacionadas ao período de</p><p>desenvolvimento do cão e às ações que podem influenciar o seu comporta-</p><p>mento, a sua capacidade de lidar com diversos ambientes, a sua relação com</p><p>as pessoas e o seu bem-estar por toda a vida futura (SERPELL, 2017).</p><p>Dessa maneira, é preciso que o período mais sensível para a socializa-</p><p>ção, que se estrutura entre a 3ª a 14ª semanas de idade, ofereça oportunida-</p><p>des para que o filhote se familiarize com outros animais e pessoas variadas</p><p>45</p><p>O bem-estar dos cães, membros da família humana</p><p>(crianças, homens, mulheres, idosos, entre outros). Além disso, ele deve</p><p>conhecer estímulos no ambiente doméstico e externo, que, potencialmente,</p><p>poderão gerar medo, ansiedade e agressividade. São os distúrbios mais</p><p>comuns e podem ser prevenidos. Ruídos de eletrodomésticos, do tráfego e</p><p>de pessoas estranhas costumam ser experiências problemáticas, quando os</p><p>cães não foram treinados, de forma precoce, para isto.</p><p>Cães, criados em condições de privação social, têm elevado potencial</p><p>para desenvolver comportamentos aversivos e agressivos, direcionados às</p><p>pessoas. Existe uma forte associação entre as experiências após os três meses</p><p>de idade, em ambientes distintos do materno, e a agressividade para com os</p><p>veterinários, durante exames de rotina. (APPLEBY; BRADSHAW; CASEY, 2002).</p><p>Assinala-se ainda o equívoco de alguns tutores, ao considerar como</p><p>problemáticos apenas aqueles comportamentos caninos que afetam direta-</p>
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